Página inicial > Antiguidade > Amor filho de Pobreza e Expediente
Amor filho de Pobreza e Expediente
quinta-feira 24 de março de 2022
O Sócrates do Banquete (203 b-c) conta o relato que lhe fez a sacerdotisa Diotima , do dia que os deuses do Olimpo celebrando o nascimento de Afrodite, a dama Pobreza (Penia) compartilhou alguns restos de néctar com o vagabundo Expediente (Poros [1] De seu furtivo casamento nasceu este Eros que Plotino descreve como um insaciável semideus, "razão advinda nisto que não é razão" (Tratado 50) aspiração sem repouso para impossíveis satisfações, gosto de uma vagabundagem que no entanto pode conduzir o amante nas vias do que Platão (Filebo 30 c-d) denominava a "Alma real de Zeus ", muito próximo da Inteligência para que se possa descrevê-la como já repousando no jardim dos deuses (III,5 9).
A este nível, pelo menos filho adotivo da Afrodite "celeste", nascida ela mesma de Uranos ou de Cronos [2], figura desta Alma, que por intermédio da Inteligência, procede do Princípio único de toda fecundidade, não é certamente o filho de Pobreza, "sem leito, sem sapatos e sem casa " (Enéada III-5), todas as fórmulas vindas do Fedro e do Banquete, mas todavia o amante deste Psique que, por uma espécie de sublime incesto, se une a seu genitor para se tornar ela mesma a Afrodite celeste. Relendo o grande Tratado 8 não esqueçamos no entanto que esta ascensão erótica permanece frágil, constantemente ameaçada de quedas (Enéada VI, 9 , 9).
[1] Significando a princípio passagem, meio de acesso, esta palavra designa em seguida uma espécie de "jeitinho").
[2] Plotino se preocupa tão pouco de uma mitologia tomada por puro símbolo que se vê aqui, e muitas vezes, hesitar entre a pessoa do pai e aquela do avô.