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apatheia

quinta-feira 24 de março de 2022

      

apatheia: não afetado, sem pathe  

1. O conceito aristotélico de virtude, fundado, como é, na doutrina   do meio (meson  ), não tem lugar para o estado   de apatheia. Contudo ele tem de fato um significado na sua psicologia: é a aparente apatheia do nous que sugere que esta faculdade, ao contrário da psyche  , seja incorpórea e imortal, visto que os pathe estão sempre associados com a matéria (De anima 403a, 408b).

2. A situação com Epicuro   é um tanto ou quanto mais. complexa. Uma vez que tanto o prazer como a dor   são pathe (D. L. X,34), não se pode pôr o problema de a apatheia constituir uma virtude nesta filosofia hedonística. Mas o tipo mais elevado de prazer é para Epicuro precisamente estático (ver hedone  ), e este estado de equilíbrio ou libertação da perturbação (ataraxia  ) tem pelo menos uma semelhança   superficial com a apatheia.

3. A diferença   radical entre Epicuro e os estoicos   a este respeito reside na insistência destes de que todos os pathe são movimentos irracionais contra a natureza, pelo menos como Zenão os definiu (SVF I, 205, 206; ver horme  ). Isto criou dificuldades a Crisipo   que não conseguiu ver como as afeições irracionais podiam ocorrer na faculdade racional (hegemonikon  ; ver SVF, III, 459, 461). Mas embora fossem discutidas as dificuldades disto, a Stoa foi unânime em concordar que os pathe eram violentos e não naturais e por isso deviam ser extirpados (ver Sêneca, De ira   I, 8, 2-3; SVF I, 207, III, 389). Assim podia parecer que os estoicos estão empenhados em erradicar os pathe, os peripatéticos em moderá-los e os epicuristas em descriminar o bem e o mal que existe entre eles (ver Sêneca, Ep. 116, 1), atitudes reminiscentes das diferentes aproximações da katharsis   como harmonização e purificação.

4. O uso, se não a enunciação da apatheia teve as suas origens nos cínicos e nos movimentos relacionados que precederam imediatamente Zenão, e era frequentemente acompanhado da acusação   de que os que a usavam estavam pura é simplesmente a resvalar para a insensibilidade (Sêneca, Ep. I, 9, 1). Os estoicos viram-se em apuros para distinguir   a sua versão de apatheia da insensibilidade ou da mera estupidez   (D. L. VII, 117; Sêneca, Ep. I, 9, 3). De fato, é provável que fosse precisamente deste tipo de crítica que resultou a distinção, em geral com pouca consistência, entre os pathe bons (eupatheiai) e os maus (D. L. VII, 116) na Stoa tardia. [Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters  ]