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Morente – Interpretação realista das idéias platônicas.

quinta-feira 24 de março de 2022

      

Excertos de Manuel García Morente  , Fundamentos de Filosofia

Estas palavras, "realismo   das ideias", podem surpreender aos que cultivam a filosofia e leram histórias da filosofia e livros sobre Platão  . Pode surpreendê-los que eu empregue, para designar a metafísica de Platão esta expressão de "realismo das ideias". Com ela quero eu sublinhar a interpretação que me parece mais justa da filosofia platônica.

Esta interpretação, que é a tradicional do platonismo, que é a que Aristóteles   dá do platonismo, que é aquela que através dos séculos perdurou classicamente acerca das ideias platônicas, foi modernamente combatida pelos historiadores da filosofia que procedem da escola de Marburgo, e principalmente por Natorp.

Frente a esta interpretação de Natorp convinha-me acentuar a interpretação clássica, e por isso chamei-a "realismo das ideias".

Segundo a interpretação clássica, que é, ao meu juízo, a exata, Platão considerou as ideias como entes reais, que existem em si e por si, que constituem o mundo inteligível, distinto e separado do mundo sensível  ; que constituem um mundo do ser contraposto ao mundo sensível, que é o mundo do não ser  , da aparência, do phainomenos, como se diz em grego, do fenômeno  . As ideias são, pois, para Platão "transcendentes" às coisas. A palavra "transcendente" tem na técnica filosófica esse sentido: de ser a designação de algo que está separado de outra coisa. Pelo contrário, a interpretação dada modernamente por Natorp converte as ideias em unidades lógicas do pensamento   científico; faz delas pontos de vista desde os quais o pensador, defrontando-se com as coisas, organiza suas sensações para conferir-lhes objetividade, realidade.


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