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Hulin (PEPIC:42-43) – O budismo e a negação do atman (anatman)

sábado 30 de julho de 2022

      

tradução

Enquanto a mente   é acompanhada da ideia de Eu, a série dos nascimentos não pode cessar; a ideia de Eu não se afasta do coração   enquanto exista a visão que há uma alma  . Ora não há no mundo mestre que ensine a inexistência da alma, exceto tu. Não há portanto outro caminho   de libera  ção senão tua doutrina  . Esta estrofe citada por Yashomitra em seu comentário do Abhidharmakosha resume admiravelmente a posição budista em sua singularidade. Esta, com efeito, consiste fundamentalmente em identificar a ideia de Si mesmo   e aquela de ego, mas de maneira a reconduzir a primeira ao nível da segunda. Em outros termos o budismo   retoma e acentua esta desvalorização do ego que estava timidamente em gérmen nos Upanixades  , ao mesmo tempo que suprime o termo de referência transcendente em relação ao qual o ego   podia ser depreciado. Notável é a reviravolta pela qual o fenômeno   reputado «natural  » do ego é apresentado como um artefato, como o subproduto psíquico de uma construção especulativa gratuita. O budismo não deixará então e retorno de identificar o atman   «especulativo» ao ego psicológico indevidamente hipostasiado. Neste círculo vicioso de uma ilusão psicológica e de uma construção especulativa repousando uma sobre a outra reconhece-se sem dificuldade   o ciclo   mesmo da transmigração, da servidão. E conclui-se que os dois   termos devem ser abandonados juntos para que se produza a liberação. Mas quem constrói, quem está preso pela ilusão, quem é liberado, se não existe nenhum ego, nem nenhum Si mesmo? Estes paradoxos, sobre os quais as filosofias bramânicas não deixarão jamais de insistir, podem parecer inerentes à doutrina do anatman, sobretudo quando ela é examinada isoladamente, como uma espécie de curiosidade metafísica. Tendem a se dissipar, ou pelo menos se atenuar, assim que, além da letra   desta doutrina, busca-se determinar a intenção religiosa específica da qual procede e o lugar que ocupa no conjunto   da visão budista do mundo.

Original

«Aussi longtemps que l’esprit   est accompagné de l’idée de Je, la série des naissances ne peut s’arrêter ; l’idée de Je ne s’écarte pas du cœur aussi longtemps qu’existe la vue qu’il l’a une âme. Or il n’y a pas dans le monde de maître qui enseigne l’inexistence de l’âme, excepté toi. Il n’y a donc pas d’autre voie de délivrance que ta doctrine d1. Cette strophe citée par Yasomitra dans son commentaire de l’ Abhidharmakosha résume admirablement la position bouddhique dans sa singularité. Celle-ci, en effet, consiste fondamentalement à identifier l’idée du Soi et celle de l’ego, mais de manière à ramener la première au niveau de la seconde. En d’autres termes, le bouddhisme reprend et accentue cette dévalorisation de l’ego qui était timidement en germe dans les Upanishad, tout en supprimant le terme de référence transcendant par rapport auquel l’ego pouvait être déprécié. Remarquable est le renversement par lequel le phénomène réputé « naturel » de l’ego est présenté comme un artefact, comme le sous-produit psychique d’une construction spéculative gratuite. Le bouddhisme ne manquera d’ailleurs pas en retour d’identifier l’atman « spéculatif » à l’ego psychologique indûment hypostasié. Dans ce cercle vicieux d’une illusion psychologique et d’une construction spéculative reposant l’une sur l’autre on reconnaîtra sans peine le cycle même de la transmigration, de la servitude. Et l’on devine aisément que les deux termes devront être abandonnés ensemble pour que se produise la délivrance. Mais qui construit, qui est en proie à l’illusion, qui est délivré, s’il n’existe aucun ego ni aucun Soi? Ces paradoxes, sur lesquels les philosophies brahmaniques ne manqueront jamais d’insister, peuvent paraître inhérents à la doctrine de l’anatman, surtout lorsqu’elle est examinée isolément, comme une sorte de curiosité métaphysique. Ils tendent à se dissiper, ou du moins à s’atténuer, aussitôt que, par-delà la lettre de cette doctrine, on cherche à déterminer l’intention religieuse spécifique dont elle procède et la place qu’elle occupe dans l’ensemble de la vision bouddhique du monde.


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