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Masui: a experiência de Daumal e a Índia (literatura)
domingo 11 de setembro de 2022
A maneira de produzi-la (literatura) tem, verdadeiramente, pátrias , pelo menos duas:
I.- O ocidental como eu, dá o «tom» por uma projeção direta de seu estado interior sobre o magma caótico das imagens e das palavras: estes elementos se ordenam um pouco ao azar sob este sopro; se são, neste momento, como a areia seca da praia
- bastante ricos, numerosos
- bastante independentes uns dos outros e assim bem definidos os contornos
- bastante móveis
o vento doador do tom os esculpirá em dunas bem ritmadas, cuja ondulação evocará de novo o «tom» no espírito do espectador ou do leitor.
Mas repito é um pouco ao azar.
II.- O oriental prepara então sua «areia» por uma longa e difícil técnica que tem suas leis e seus cânones. O «tom» brota espontaneamente (no verdadeiro sentido da palavra), mas não arrisca se perder por nada: as vias lhe são traçadas. Assim, na arte dramática hindu (Bharata), a expressão tem oito «sabores» principais: erótico, cômico, patético, furioso, heroico, terrível, desgostante, surpreendente (adiciona-se às vezes: passível e parental — sentimento paternal ou maternal).
Estes sabores se realizam nas «manifestações do ser»: há oito «manifestações permanentes» (que duram durante a obra inteira) e 33 «manifestações temporárias» (cito ao azar: embriaguez — suor — lágrimas — morte — dúvida — despertar — remorso — vergonha — esforço de memória...). Há quatro maneiras de pô-las em jogo : verbal, grandiosa, encantadora, violenta... etc. etc.. Cada um se subdivide ainda, e todos (sejam de ordem psíquica, fisiológica, melódica, rítmica, pictural, mímica, gramatical, etc.) estão ligados por sistemas de correspondências fechados e intrincados de maneira a ter instantaneamente à mão quando se tem necessidade . Ainda não falo senão do «tom», do estado afetivo, do «sabor » geral. Não ouso falar de ideia: isso queima. Mas, como dizia, elas não têm pátria.
Ver online : René Daumal