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Fernandes (FC:33-35) – Sabedoria se ensina?

sexta-feira 23 de setembro de 2022

      

Excertos de Sergio L. de C. Fernandes, "Filosofia e Consciência"

O relato da Iluminação, ou Grande Sabedoria   (Mahaprajna) do Buda   Vipassi — o primeiro dos seis Budas que haviam florescido em éons anteriores — pelo próprio Buda Siddhartha ("o que realizou seu objetivo") Gautama, o Sakyamuni (sábio do reino Sakya), no Sutta Brahmajala, começa com a questão de se é possível ensinar   ao homem   comum algo mais do que regras morais. Lembra-se o leitor, certamente, do que há pouco conversávamos sobre a Filosofia como exclusão da Sabedoria, "destronamento do sábio", e sobre como o filosofar nasce, no Ocidente, como ironia  , ou seja, como a dissimulação da Sabedoria, o fingir não ser   sábio, para testar o pronunciamento do deus   Apolo  , como "obediência" à voz do daimonion   interior, questionando os outros, numa dialética negativa. Pois bem, embora o homem comum, questionava-se a si mesmo   Vipassi, não pudesse apreciar a Sabedoria como tal, poderia ele, ao menos, reconhecer   seu reflexo, convivendo com o Sábio na vida diária? Poderia a pessoa   comum fazer alguma conexão entre a compreensão suprema [a Sabedoria] e as regras morais ordinárias [a forma de "amizade  " que chamamos de "Ética" normativa]? No Suttanta Mahapadana, ocorre ao Buda Vipassi: "E se eu agora ensinasse a Doutrina   (Dhamma  ), a Verdade?":

Atingi essa Verdade, profunda, difícil de discernir, difícil de compreender, de pacífico e excelente alcance, não da ordem da dedução lógica (attakavacara), sutil  , que só os sábios podem apreciar. No entanto, esta geração está apegada ao prazer e delicia-se no apego, e por causa   disso é difícil para ela compreender esses assuntos ... Se eu ensinasse a Doutrina e os outros não me compreendessem, isso seria enfadonho; seria para mim um vexame.

Nesse momento, o Grande Brahma  , o Criador do Mundo, apareceu ao Sábio e pediu-lhe que ensinasse a Doutrina, pois existiam uns poucos seres, com apenas algumas falhas, que, sem a Sabedoria, definhariam. Ora, Brahma era um dos seres brilhantes (devas), a personificação de Brahman  , feita de matéria sutil (Rupavacara Deva, Atman  ). Embora o mais perfeito, ainda criava no plano das formas e, portanto, ainda estava sujeito ao nascimento e à morte. Perguntado sobre onde cessariam completamente os elementos   (terra  , água, fogo   e ar), Brahma não soube responder e encaminhou a pergunta ao Buda. "Está claro", afirma Saddhatissa, "que a elevação do mundo acima da sua condição atual devia ser tarefa para alguém, ou algo, maior que seu próprio Criador". Quem pariu Mateus  , hélas, não o embala. A Filosofia reserva-se a si própria uma missão supradivina, muito além do que podem todas as religiões instituídas. Mas pode a Sabedoria ser ensinada?

Ao pedido de Brahma, o Sábio respondeu que já havia considerado a hipótese de pregar a Doutrina, e expôs suas razões para ter decidido não fazê-lo. Brahma então pediu-lhe, pela segunda vez, e recebeu pela segunda vez uma recusa. Quando pediu pela terceira vez, o Sábio "sentiu compaixão por todos os seres e, com sua visão búdica, viu seres de vários graus de impureza, agudeza e faculdades  , de várias disposições, de diferentes capacidades para aprender, para viver   no mal e no medo, com apenas um pequeno vislumbre de algo além disso". Conforme o relato de Gautama, Vipassi pôs-se a ensinar a Sabedoria e "em circunstâncias similares, assim fez o Buda Gautama":

Enquanto o prospecto era ensinar a umas poucas pessoas, em estágios comparativamente avançados, o Buda recusou-se a ensinar; mas quando ele considerou a massa   total da humanidade heterogênea e seus sofrimentos, ele decidiu, sem hesitação, que ensinaria seu Dhamma.

SEGUE:


Ver online : Sergio L. de C. Fernandes