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Coomaraswamy (AKCcivi:92-93) – psyche não é atman

sábado 12 de novembro de 2022

      

Em todas estas discussões temos de lembrar que "alma  " (psyche anima sem equivalente exato em sânscrito, diferente de narra, que é o nome ou "forma" de uma coisa, forma pela qual uma identidade   fica determinada) é um valor   duplo; as forças superiores da "alma" coincidem com o Espírito (pneuma  ) e/ou Intelecto   (noûs pnemonou noûs), e as forças inferiores coincidem com a sensação   (aisthesis) e com a opinião   (doxa). Daí vem a hierarquia gnóstica dos homens animais  , psíquicos e espirituais em que os primeiros estão destinados a se perder, os intermediários a ser capazes de se libertar e os últimos são praticamente livres e seguros de uma libertação na morte (Códice de Bruce e outro). Por "perder-se" entendemos "desfazer-se no cosmos" (Hermes  , Libellus (Hermes Trismegistus) IX,6) e por "libertar-se" entendemos ficar completamente separado da alma animal e com isso tornar-se o que as forças superiores já são, isto é, divinas. Traduza atman   por "alma". Note que "animal" vem de anima = psyche ou "alma" e animalia = empsycha; portanto, Scott, em Hermetica   I,297, traduz Solum enim animal homo por "homem   e somente o homem, de todos os seres que têm alma"; o homem é distinguido dos animais por noûs e não por psyche. (Hermes, Libellus (Hermes Trismegistus), V111,5). Podemos observar   que a doutrina   averroísta da Unidade   do Intelecto (para a qual "monopsiquismo" parece uma palavra peculiarmente inadequada) repugnava os autores eruditos cristãos de uma época posterior   exatamente porque era incompatível com uma crença na imortalidade   da pessoa   (cf. De Wulf, Histoire... II,361, 1936); por outro lado, a imaginação   (phantasmata) e a memória sobrevivem à morte do corpo, não como são no intelecto passivo (o noesis de Hermes, ou o asuddha manas sanscrítico), mas apenas como são no intelecto possível (o noûs de Hermes ou o suddha manas sanscrítico), que "está em ato quando é identificado com cada coisa como conhecedor dela" (Santo Tomás de Aquino  , Summa Theologica (Tomás de Aquino) I.2.67.2c). Além disso, Santo Tomás acha que "dizer que a alma é da Substância Divina implica uma improbabilidade manifesta" (I.90.1) e Eckhart   está sempre falando das mortes e da última morte da alma. Ao menos está claro que uma imortalidade da "alma" sensível e que raciocina está fora de cogitação, e se a alma pode ser chamada de "imortal" em qualquer sentido, isso só pode ser em relação à "força intelectual da alma" e não em relação à alma em si. A "alma que está ligada ao corpo", mencionada por Hermes (Libellus (Hermes Trismegistus) XI,24a), não pode ser concebida como um princípio imortal, mesmo supondo que depois da morte haja uma coesão temporária de certos elementos   psicofísicos do bhutatman; também não podemos estabelecer uma relação entre a "alma" que Cristo   nos pede que "detestemos" e a "alma imortal do homem". A busca do "homem moderno que procura uma alma" é muito diferente da busca implicada na "alma da alma" de Fílon  ; podemos dizer que a psicologia e a estética modernas têm em vista apenas o subconsciente e a alma animal inferior   que existe no homem. Em Quis rerum divinarum Heres, 48, versão de Goodenough, p. 378, Fílon diz que "a palavra ‘alma’ é usada em dois   sentidos, referindo-se à alma como um todo ou à sua parte dominante (hegemonikon   = anataryamin sanscrítico), sendo esta última a ‘alma da alma’, para usar uma expressão adequada" (psyche psyches; cf. Maitri Upanixade   III.2 bhutatman... amrto’ syatma, "o eu elementar... é um Eu imortal"). O valor da "alma" europeia continuou ambíguo desde então.

Em consequência disso, na análise das doutrinas do renascimento elaboradas pelos neoplatônicos e também por toda a tradição cristã vinda dos Evangelhos  , para Eckhart e para os místicos flamengos é indispensável saber exatamente que "tipo de alma" está sendo mencionado num dado contexto; e na tradução do sânscrito, traduzir atman por "alma" é extremamente perigoso, senão invariavelmente enganador. [AKCcivi  :Nota:92-93]


Ver online : Ananda Coomaraswamy – O que é civilização?