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Eco – Simpatia

quarta-feira 9 de novembro de 2022

      

Umberto Eco  : Excertos de "ARTE E BELEZA NA ESTÉTICA MEDIEVAL"

Para a tradição hermética, o cosmo é dominado pelos astros. Também a Idade Média teve crenças astrológicas, mas de maneira não oficial (cf. Thorndike 1923). A ideia de que os vários astros sejam potências intermediárias entre Deus   e o mundo sublunar leva à convicção da simpatia universal  , isto é, da interdependência e mútua influência de todas as partes do cosmo, e, em particular, da ação dos astros sobre os acontecimentos do universo   sublunar.

Além disso — e convergem para essa visão influências herméticas, neoplatônicas e especialmente gnósticas (cf. Filoramo   1983) — no universo astrológico dependente da cadeia emanacionista que do Uno vai até os aspectos ínfimos da criação, se estabelece aquela que foi chamada uma burocracia do invisível, uma cadeia ininterrupta de coortes angélicas, arconte  s, demônios, uma densa hierarquia de mediadores que unem o mundo espiritual ao mundo celeste e ao mundo sublunar. Quer estes mediadores sejam identificados com forças naturais ou com verdadeiras entidades sobrenaturais, o homem   poderá agir sobre essa pluralidade de deuses e de demônios somente se conseguir, de qualquer modo, suscitar sua atenção e orientar sua influência através de práticas teúrgicas.

Veja-se, no Renascimento já avançado, esta citação do De magia  , de Giordano Bruno  :

Os magos têm por axioma   que em toda obra é necessário não esquecer o fato de que Deus age sobre os deuses, os deuses sobre os corpos celestes ou astros, que são divindades corpóreas, os astros sobre os demônios, que são habitantes e curadores dos astros (um dos quais é a Terra  ), os demônios sobre os elementos  , os elementos sobre os compostos, os compostos sobre os sentidos, os sentidos sobre o ânimo, o ânimo sobre todo ser vivente  : e esta é a descida da escala. Mas eis que o ser   vivo ascende aos sentidos através do ânimo, aos compostos através dos sentidos, aos elementos através dos compostos, e através deles aos demônios, através dos demônios aos astros, através destes últimos aos deuses incorpóreos, ou de substância e corporeidade etérea, através destes à alma   do mundo ou espírito do universo, e enfim através deste à contemplação do único, simplérrimo, máximo incorpóreo  , absoluto e suficiente a si mesmo  . Assim, a partir de Deus há a descida do ser vivente através do mundo, e do ser vivente há a ascensão através do mundo até Deus. Entre o degrau mais baixo e o mais alto existem ainda as espécies intermediárias, as superiores que participam mais da luz, do ato e da capacidade ativa, enquanto as inferiores participam mais das trevas, da potência e da capacidade passiva. (De magia; tr. it. pp. 12-13.)


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