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Evangelho de Tomé - Logion 9

EVANGELHO DE TOMÉ

quarta-feira 20 de julho de 2022, por Cardoso de Castro

      

Parábola do Semeador

      

Pla

Jesus   disse: uma vez saiu um semeador   a semear com as mãos cheias de sementes que semeou. Umas sementes caíram no caminho  ; vieram os pássaros e as comeram. Outras caíram em pedregal e não firmaram as raízes na terra  .; nem puderam elevar-se   até o céu. Outras caíram entre espinhos   que sufocaram a semente e os vermes a comeram. Outras caíram em terra boa e deram fruto até o céu; sua razão foi de sessenta por medida e cento e vinte por pedida.


JESUS HA DICHO: UNA VEZ SALIO UN SEMBRADOR A SEMBRAR CON LAS MANOS LLENAS DE SEMILLAS QUE SEMBRO. UNAS SEMILLAS CAYERON EN EL CAMINO; VINIERON LOS PAJAROS Y SE LAS COMIERON. OTRAS CAYERON EN PEDREGAL Y NO ARRAIGARON LAS RAICES EN LA TIERRA; NI PUDIERON ELEVARSE HACIA EL CIELO  . OTRAS CAYERON ENTRE ABROJOS QUE AHOGARON LA SEMILLA Y LOS GUSANOS LA COMIERON. OTRAS CAYERON EN TIERRA BUENA Y DIERON FRUTO HACIA EL CIELO; SU RAZON FUE DE SESENTA POR MEDIDA Y DE CIENTO VEINTE POR MEDIDA.

Puech

9. Jésus a dit : Voici que le semeur sortit, emplit sa main, jeta (les semences). Certaines, d’une part, tombèrent sur le chemin; les oiseaux   vinrent, les cueillirent. D’autres tombèrent sur le rocher, et elles ne prirent pas racine dans la terre ni ne firent sortir d’épis vers le ciel. Et d’autres tombèrent sur les épines ; elles étouffèrent la semence et le ver la mangea. Et d’autres tombèrent sur la bonne terre, et elle donna un bon fruit, en haut : elle produisit soixante par mesure et cent vingt par mesure.

Suarez

1 Jésus a dit :
2 voici que le semeur sortit.
3 II remplit sa main de graines et les jeta.
4 Quelques-unes en fait tombèrent sur le chemin;
5 les oiseaux vinrent et les picorèrent.
6 D’autres tombèrent sur la rocaille
7 et ne prirent pas racine dans la terre
8 ni ne firent lever d’épis vers le ciel.
9 Et d’autres tombèrent sur les buissons épineux
10 qui étouffèrent la semence
11 et le ver la mangea.

Meyer

(1) Jesus said, “Look, the sower went out, took a handful of seeds, and scattered them. (2) Some fell on the road, and the birds came and pecked them up. (3) Others fell on rock, and they did not take root   in the soil and did not produce heads of grain. (4) Others fell on thorns, and they choked the seeds and worms devoured them. (5) And others fell on good soil, and it brought forth a good crop. It yielded sixty per measure and one hundred twenty per measure.” [Cf. Matthew   13:3–9; Mark 4:2–9; Luke 8:4–8; Gospel   of Judas   43–44.]

Mt 13,3-9

3 E falou-lhes muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear. 4 e quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e comeram. 5 E outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra: e logo nasceu, porque não tinha terra profunda; 6 mas, saindo o sol  , queimou-se e, por não ter raiz, secou-se. 7 E outra caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram. 8 Mas outra caiu em boa terra, e dava fruto, um a cem, outro a sessenta e outro a trinta por um. 9 Quem tem ouvidos, ouça.

Mc 4,2-9

2 Então lhes ensinava muitas coisas por parábolas, e lhes dizia no seu ensino: 3 Ouvi: Eis que o semeador saiu a semear; 4 e aconteceu que, quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. 5 Outra caiu no solo pedregoso, onde não havia muita terra: e logo nasceu, porque não tinha terra profunda; 6 mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, secou-se. 7 E outra caiu entre espinhos; e cresceram os espinhos, e a sufocaram; e não deu fruto. 8 Mas outras caíram em boa terra e, vingando e crescendo, davam fruto; e um grão produzia trinta, outro sessenta, e outro cem. 9 E disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir  , ouça.

Lc 8,4-8

4 Ora, ajuntando-se uma grande multidão, e vindo ter com ele gente de todas as cidades, disse Jesus por parábola: 5 Saiu o semeador a semear a sua semente. E quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; e foi pisada, e as aves do céu a comeram. 6 Outra caiu sobre pedra  ; e, nascida, secou-se porque não havia humidade. 7 E outra caiu no meio dos espinhos; e crescendo com ela os espinhos, sufocaram-na. 8 Mas outra caiu em boa terra; e, nascida, produziu fruto, cem por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.


Roberto Pla

A parábola do semeador constitui, em sua breve síntese, uma completa e transparente expressão da mensagem de Boa Nova, e justifica a recomendação recolhida por Marcos: "Não entendeis esta parábola? Como então compreendereis todas as parábolas?". Deste modo, os três evangelistas sinóticos coincidem em transmitir não somente a parábola mas sua explicação. Mas para desnudar a verdade totalmente escondida sob as dobras do relato parabólico, quer dizer, para ver e entender o que deve ser visto e entendido através do que se olha e ouve nele, não basta conhecer a explicação da parábola que dão os evangelistas, mas é necessário, ademais, congregar-se com os Doze, ou seja, penetrar com os membros desta instituição no Mistério do Reino de Deus  , e isto, porque seu inteiro ver e entender não depende somente da agudez do intelecto   mas, antes de tudo, da limpeza da consciência, para que esta receba em suas águas sossegadas o fruto da semente interior.

A semente é a "Palavra de Deus  ", a qual, como afirma João, em seu Prólogo: "É a luz   verdadeira que ilumina a todo homem   que vem a este mundo". Isto é o que o semeador semeou com as mãos cheias, no coração   dos homens, em cada homem, segundo o qual, cada homem é, quanto a sua pura essência, esta luz verdadeira que vive eternamente. Por isto se diz que a Palavra veio a sua casa   e pôs sua Morada entre (em) nós, e ali reside, como tesouro   que brilha nas trevas do coração que a ignora, à espera de ser recebida pela consciência purificada.

É possível que esta doutrina   que se resolve no conhecimento de que o homem é em sua essência, como filho   do Ser infinito  , um raio   do Sol ou consciência universal   e eterna a que chamamos Deus, uma centelha   de seu próprio lugar, tenha estado   sempre oculta nos mistérios do povo de Israel  . Só assim se explicam as precauções oraculares e parabólicas com que esta Revelação aparece "vestida" tanto no AT como no NT. Desde os tempos do saltério, quando se anuncia que vai publicar o que está oculto desde a criação, se abre a boca muito fechada para ela nas parábolas, para que, segundo se explica só seja com seus ouvidos que ouçam e com seu coração que entendam, todos aqueles que ainda não podem ou não devem conhecer o mistério. (Is 6,9-10)

Ao que parece tal doutrina capital do conhecimento permaneceu sempre oculta sob capas diferentes e provavelmente muito relacionadas: oculta, porque só podia ser escutada pelos homens que acediam aos mistérios, e oculta, porque os homens de consciência opaca, voltados somente ao exterior, não podem perceber essa luz verdadeira da qual são como templos de seu Deus interior, como vestimentas de si mesmos.

O descobrimento inicial dessa semente interior que é a Palavra, exige um prévio deslizamento sutil   da consciência até as regiões imateriais nas quais a semente se desenvolve; é esta a translação que só se faz necessariamente mediante uma progressiva desvalorização do visível. Na linguagem testamentária a riqueza e a pobreza   são figuras da posse e ou da privação de atributos. Assim se diz: Bem-aventurados os pobres de espírito (Mt 5,3) a respeito daqueles que alcançaram a consciência pura do homem pneumático. Quanto aos graus de percepção do que os evangelistas descrevem como ouvir, pois ouvir ou de não ouvir a Palavra interior se trata, a parábola se entrega a uma casuística muito definida a ao que parece muito conhecedora do coração do homem, por meio da qual se classificam quatro tipos humanos.

  • Os primeiros são os mais afastados, se acham na margem da Palavra, do Cristo interior que disse de si: "Eu sou o caminho"
  • O segundo tipo é formado por aqueles cuja natureza se manifesta sempre inconstante por carecer de raízes...
  • O terceiro tipo é formado por aqueles que pensam incessantemente que a Palavra pode crescer e desenvolver-se em seu interior, enquanto sua consciência se entrega ao gozo das vestimentas, de riquezas.
  • O quarto tipo, a terra boa onde o Cristo pode nascer e de fato nasce, frutificando Deus conosco, manifesto   com Filho no homem segundo um nascimento do alto em Espírito.

Para todos esses tipos de homens que durante sua vida resultam incapazes de por a semente neles semeada em situação de dar fruto, se escrevem as parábolas: Cizânia e Parábola da Rede.


As parábolas da Semente de Mostarda e da "semente que cresce por si só", que só Marcos inclui, são reveladoras de alguns modos   de comportamento   desta semente do Espírito. A primeira descreve seu imprevisível e abundante crescimento, pois como a pedra de que fala o salmista, passa de ser descartada por todos a converter-se em pedra angular (Sl 118,22), e a segunda desta parábolas, explica que uma vez há sido descoberto "a ponto de fé" que o grão está semeado na terra de um mesmo, seu fruto brota e cresce por si só. Sua potência para transmitir o conhecimento do Reino só tem uma pálida imagem na força expansiva da luz solar, a qual chega sem necessidade   de será carregada e penetra no lugar próprio com apenas abrir uma porta   ou janela, que no caso da semente se fundamente somente na fé.

Émile Gillabert

  • Os sinóticos se confundem na explicação da parábola: ou os homens são simbolizados como as sementes ou os terrenos que as recebem seriam os homens...
  • Aparentemente a parábola e sua explicação formam duas camadas de escrita distintas...
  • Para compreender a parábola é preciso ter em conta as afirmações:


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