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EVANGELHOS CANÔNICOS

Bodas Reais

PARÁBOLAS

terça-feira 29 de março de 2022, por Cardoso de Castro

      

EVANGELHO DE JESUS  : Mt 22:1-14

Cristologia
Tomas de Aquino  : Catena aurea - Mateus


Gnosticismo   Roberto Pla  : Evangelho de Tomé - Logion 23; Evangelho de Tomé - Logion 64 Na Parabola do Semeador   - Parábola do Semeador se explica que a Verbo - Parábola — já se sabe, “a luz   verdadeira que ilumina a todo homem   que vem a este mundo” — foi semeada em “todo homem” pelo semeador (o Pai  ), e na parábola que agora nos ocupa e que poderia denominar-se, se se atende à dupla visão de Mateus   e Lucas  , “da ceia   (gr. deipnon) para muitos” (convidados - chamados) e “do banquete   (gr. ariston  ) para poucos” (eklektos   - eleitos), o que nela se descreve são os diversos resultados obtidos pelo homem com a centelha   - semente de luz — a Verbo - Palavra — vindo nele habitar  . Desde os lugares onde se assenta a semente o chega à alma   o alimento   de luz verdadeira do qual falava Jesus quando disse: “Eu tenho para comer um alimento que vós não sabeis” (Jo 4,32).

Isso do alimento, o dizia Jesus sem dúvida, a quem ainda não tinha começado a discernir a presença em si mesmo   dessa “pedra   angular - pedra eleita, angular, preciosa e fundamental”, posta por Deus   no centro  , no Eu Sou de cada homem como essência pura do Ser, anunciada abertamente por Isaías e levantada depois com insistência na memória e percepção de todos por Jesus, que advertia que pode ser desprezada, não tomada em consideração  , mas é a pedra angular da realização   do homem.

Na parábola que agora tentamos esclarecer, fala desta pedra interior que não é outra que a Verbo - Palavra semeada. Os possuidores dessa semente são todos os homens, mas a parábola os classifica, segundo o fruto   obtido desta semente, em três grandes espécies ou famílias resultantes, que por sua vez podem ser matizadas em várias espécies. Assim vejamos:

Os convidados que se desculpam

Não é difícil descobrir em todos os que por distintas causas se escusam para a ceia, aqueles que por não reconhecerem a semente neles semeada, passam pelo mundo sem dar fruto de salvação; se poderia dizer que tais homens não recebem em sua consciência de adão   psíquico os resplendores da luz verdadeira que têm depositada muito próxima deles, no pneumático - homem pneumático que habita em sua mesma morada. Posto que não percebem a luz, carecem de fé na luz, e na falta de fé recusam assistir ao festim de imortalidade   ao qual o Senhor os chamada - chama. Sua cegueira   os autoexclui, e é neste sentido no qual se deve entender a afirmação em Lucas: “Nenhum daqueles convidados provará minha ceia”.

Os diferentes pretextos dados pelos muitos chamados que se desculpam, vêm a significar, na brevidade da alegoria   parabólica, as causas do desvio, que se englobam na sentença dada pelo logion: “são compradores e mercadores que não entrarão nos lugares de meu Pai”. Esta expressão remete sem dúvida à passagem joanica da Purificar Templo   - purificação do Templo: “Não façais da Casa de meu Pai uma casa de mercado  ”; mas também remete, na Parabola do Semeador - parábola do semeador, à minuciosa casuística com que se tenta descrever aos muitos que por motivos diferentes permitem que se perca a Verbo - Palavra semeada neles.

Uns estavam, segundo se diz, “fora do caminho  ”, outros recebem a Verbo - Palavra com “alegria  ” mas como carecem de raiz são inconstantes e não perseveram em cuidar do crescimento da semente, e para outros, enfim, caiu a semente “entre espinhos” (entre outras coisas que despertam seu interesse  ) e ainda que percebessem a Verbo - palavra que “neles estava”a sufocaram por culpa   da sedução do mundo; preferiram “casar-se” com as coisas deste mundo. Como resume o evangelista: Todos eles, “restam sem fruto”.

Deve ficar bem esclarecido a ordem   das coisas. Todo homem que vem a este mundo é “chamado” desde que nasce; é a densidade de sua consciência o que o impede de descobrir com a atenção voltada para si mesmo (metanoia  ), que o Espírito Santo, o da voz de línguas de fogo  , mora nele como semente - semente da luz semeada pelo Pai. Como não conhece o Espírito (seu espírito), não crê no Filho do qual vem enviado como um “sopro” incerto, sem origem nem fim, e por isto, tal homem, não conhece o alimento que lhe é oferecido. Está convidado à ceia messiânica, mas se escusa dela. Outras são as coisas de “abaixo” que demandam a atenção de sua consciência; coisas que não levam à ressurreição e à vida. Por isto dizia Jesus: “Se não credes que Eu Sou, morrereis em vossos pecados”. Ou o que é o mesmo, tal como se diz na parábola: sua “cidade”, os hábitos maculados onde habitam, serão arrojados ao fogo, posto que “matar  ão e escarnecerão” todas as gotas de chuva - chuva mensageira da Verbo - Palavra, que desde dentro de si mesmos pretendiam chegar até a superfície de sua consciência.

Os convidados no caminho

Há homens em quem a semente semeada em seu interior dá fruto; ouvem a Verbo - Palavra e a acolhem e vivificam. O fruto é segundo a medida de cada um e esta medida é a que proporciona por si mesmo o julgamento   que os destina a três morada - mansões diferentes.

Também adverte o evangelho que há três medidas diferentes de dar fruto quando a semente está na terra   boa, e que essas são as medidas reais da alma, de sua mutação (v. allasso  ) em pneuma  ; mas duas destas medidas, as que qualificam de “trinta” e “sessenta”, são ainda medidas de imperfeição e somente uma medida, a que se estima   em “cem” é a que vem dada pelo fruto perfeito.

Das almas incursas nas duas medidas de fruto na imperfeição se ocupa a versão de Lucas da parábola. Dos de menor medida, valorizada “trinta”, se diz que estão nas ruas e praças da cidade”. como se se explicasse que já saíram em busca do caminho mas ainda não alcançaram a fonte   da luz. Em consequência, já são qualificados como “pobres”, quer dizer, pneumáticos, por ser limpos de coração   e padecer fome e sede de justiça própria do espírito (v. Pobres de Espírito); não obstante, estes neo-pneumáticos se acham na eventual condição de “aleijados, cegos e coxos”, assim denominados por dar ainda uma medida imperfeita. Em verdade, sobre estes “imperfeitos” que parecem vislumbrar a luz do Verbo - Logos   com um só pé, ou sem vê-la, com a fé do que não vê mas pressente, torna-se mais forte   a obra da Boa Nova, segundo se relata nos evangelhos  .

De uma ordem mais avançada são as almas mandadas a buscar pelo Senhor “nos caminhos e valados” do processo de espiritualização (estar no caminho é ir para a unidade   com Cristo que disse: “Eu sou o caminho”). Aos servos, quer dizer, às línguas pentecostais (v. Pentecostes) que desde o Espírito inundam de conhecimento a alma que mede em si mesma a segunda medida (sessenta) do fruto, os pede o Senhor que “obriguem” a entrar a tais almas e isto de uma maneira a referir-se a essa intensidade diligente   do espírito que às vezes pode sentir a alma “enamorada de Deus” e que no evangelho se expressa por meio da ânsia de Cristo quando disse: “Vim lançar um fogo sobre a terra e como desejaria que já estivesse incendiada!” Destas almas, já muito próximas a dar a medida perfeita, é de quem se espera segundo se disse, que ocupem as morada - mansões preparadas para os perfeitos.

VIDE: CONVIDADOS; EKLEKTOS - OS ELEITOS

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