Aquele que deseja se consagrar a prece de Jesus (Kyrie Eleison ) sem cometer erros deve se controlar a si mesmo , assim como a maneira de agir (praxis ) com a prática (praktike), por uma leitura assídua dos seguintes escritos patrísticos : as Centúrias sobre a sobriedade (hesychia) e a virtude (arete ) de Hesiquio, Padre em Jerusalém; os Capítulos sobre a sobriedade (hesychia) e a vigilância de S. Filoteu o Sinaita; as Instruções dobre a atividade oculta no Cristo de S. Teolepto, metropolita de Filadélfia; os escritos de S. Simeão o Novo Teólogo e de S. Gregório o Sinaita; o Tratado da vigilância (nepsis) e da guarda do coração de Niceforo o Solitário; as obras dos santos Callisto e Ignácio Xanthopoulos; a Tradição de S. Nilo da Sora; a Antologia do hieronimo Doroteo, etc.
Na Filocalia no Tratado sobre os três modos de oração de S. Simeão o novo Teólogo, no Tratado de Nicéforo o Solitário e nos escritos dos santos Ignácio e Callisto Xanthopoulos , o leitor encontra um ensinamento sobre a arte de introduzir o espírito no coração por meio da respiração natural , ou seja, a técnica que ajuda a alcançar a oração mental (euche). Não se atenha tanto as instruções, forçando sua natureza, mas entenda que o essencial e que o espírito se uma ao coração durante a oração, mas é a graça (kharis ) de Deus que realiza isto, a seu tempo.
Outra maneira de fazer a oração (euche), equivalente à técnica mencionada consiste em pronunciar a prece sem pressa, respeitando breves pausas, a respiração calma e lenta, fixando o espírito nas palavras da prece. Isto leva a certo grau de atenção (epimeleia ), onde a o coração começa a entrar em harmonia com a atenção do espírito. Esta harmonia se transforma pouco a pouco em união do espírito com o coração, e o método proposto pelos Padres se revela por si mesmo.
O atributo essencial, indispensável da prece é a atenção (epimeleia). Sem atenção não há oração. A verdadeira atenção dada pela graça nos chega quando mortificamos os desejos de nosso coração a respeito do mundo. Os suportes adicionais nada mais são suportes. Os próprios Padres dizem que uma vez criado o hábito desta união do espírito com o coração, pelo dom e ação da graça, nenhuma técnica se faz mais necessária. Esta união pela graça nos dá um movimento único e corretamente orientado para Deus.
Essa união proporciona também as condições de resistir aos pensamentos (logismos ) e as paixões (pathos ), pelo efeito da graça, como fruto do Espírito Santo que cobre por sua sombra invisível o trabalho ascético (askesis ) do atleta de Cristo.
Quanto ao “lugar do coração” (kardia), os Padres designam como tal a potência contemplativa do coração (o olho do coração que é o “órgão” de contemplação de Deus — “Bem aventurados os que têm o coração puro, pois verão Deus” - Mat. 5,8), alojada na parte superior do coração. Esta potência é o diferencial entre o coração humano e animal , pois estes possuem, como os homens, a força da vontade (thelema), ou potência concupiscível e a força do zelo , ou potência irascível. A potência contemplativa manifesta-se pela consciência moral ou pela intuição direta (sem intervenção da razão), pelo temor (phobos ) a Deus, pelo amor espiritual a Deus e ao próximo, por um sentimento de arrependimento (metanoia ), de humildade e de doçura, pela contrição de nosso espírito (ou profundo lamento por nossos pecados) e por outros sentimentos, desconhecidos nos animais. A potência da alma (psyche) é o espírito (intelecto — nous, e sendo imaterial tem sua sede no cérebro.
A união do espírito e do coração é a união dos pensamentos espirituais, do espírito (intelecto, nous) com os sentimentos espirituais do coração. Pela Queda os pensamentos (logismos) e sentimentos, de espirituais se tornaram carnais (sarx ) e psíquicos, devendo ser reconduzidos à esfera espiritual de onde provêm. Curados de sua “enfermidades” os pensamentos e sentimentos se reúnem ao Senhor, formando na parte do coração onde se encontra a potência contemplativa o templo de Deus, “não feito da mão do homem ” mas espiritual, o Santo dos Santos: onde o espírito ordenado padre e consagrado bispo vai adorar Deus em Espírito e em Verdade. “Pois somos, nós, o templo do Deus Vivente, como Deus disse: No meio deles habitarei e andarei, serei seu Deus e eles serão meu povo” (2Cor 6,16).
Abaixo da potência contemplativa, no meio do coração, se situa a potência irascível (thymikon); e acima dela, na parte inferior do coração, encontra-se a sede da potência concupiscível (epithymia ) ou vontade. Nos animais estas potências agem de modo grosseiro sem a presença de uma potência contemplativa. Nos homens sua ação depende do grau de desenvolvimento da potência contemplativa. No cristão, enquanto àquele que se submete à sabedoria de Cristo, o espírito e o coração se unem pelo Espírito e pela Verdade, na renúncia à natureza caída para atrair a graça (kharis) do Espírito Santo, e assim alcançar as condições de exercício de sua cura .