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O MASNAVI

Rumi (Masnavi:I-2) – O Azeiteiro e seu Papagaio

História II

sexta-feira 30 de setembro de 2022

      

RUMI  , Jalaluddin. Masnavi. Versão inglesa abreviada de E.H. Whinfield. Tr. Mônica Cromberg e Ana Maria Sarda. São Paulo  : Attar  , 1992

      

Um azeiteiro tinha um papagaio que costumava diverti-lo com sua tagarelice e que vigiava a loja quando ele saía. Certo dia, quando o papagaio estava sozinho na loja, um gato derrubou uma das talhas de azeite. Quando o azeiteiro voltou, pensou que o papagaio é que tivesse feito o estrago e, em sua fúria, desferiu tal golpe na cabeça do papagaio que todas as suas penas caíram, deixando-o tão atordoado que perdeu a fala por vários dias.

Um dia, porém, o papagaio viu passar pela loja um homem   careca e, recobrando a fala, gritou: “Por favor, de quem era a talha de azeite que derrubaste?” Os passantes riram do engano   do papagaio, que confundira a calvície provocada pela idade com a perda de suas próprias penas devido a um safanão.

CONFUSÃO DE SANTOS COM HIPÓCRITAS

Os sentidos mundanos são a escada   da terra  ,
Os sentidos espirituais são a escada do céu.
A saúde daqueles busca-se junto ao médico,
A saúde destes, junto ao Amigo.
A saúde daqueles se obtém cuidando do corpo,
A destes, mortificando a carne  .
A alma   nobre arruina o corpo
E, depois de sua destruição, o constrói de novo.

Feliz a alma que por amor a Deus  
Abandonou família, riqueza   e bens!
Destruiu sua casa   para encontrar o tesouro escondido,
E com esse tesouro reconstruiu-a mais bela;
Represou as águas e limpou o canal,
Depois desviou novas águas para dentro do canal;
Cortou sua carne para extrair a ponta de uma lança,
Fazendo uma nova pele crescer sobre a ferida;
Arrasou a fortaleza para expulsar o infiel que a guardava,
E depois reconstruiu-a com cem torres e baluartes.

Quem pode descrever o trabalho   singular da Graça?
Fui forçado a ilustrá-lo por estas metáforas
Ora sob uma aparência, ora sob outra.
Sim, as coisas da religião são só perplexidade;
Não como ocorre quando se dá as costas a Deus,
E sim como afogar-se e ser absorvido n’Ele.
O que assim o faz tem o rosto sempre voltado a Deus,
Enquanto o do outro mostra sua indisciplinada obstinação.

Observa o rosto de cada um, olha-os bem.
Pode ser que, como servo  , reconheças o rosto da Verdade.
Já que existem muitos demônios com rosto de homens,
É um erro   dar a mão a todo mundo.
Quando o passarinheiro faz soar seu pio traiçoeiro,
Para com esse ardil   seduzir os pássaros,
Eles ouvem esse chamado, que seu próprio canto   simula
E, baixando à terra, encontram rede e punhal.
Assim os vis hipócritas roubam a linguagem dos dervixes,
Para enganar a gente simples com seus truques.
As obras dos justos são luz e calor,
As obras dos maus, traição e impudor.
Fazem leões empalhados para assustar os simples,
Dão título de Mohammed   ao falso Mussailima.
Mas Musailima guardou o nome de “Mentiroso”,
E Mohammed o de “Mais sublime dos seres”.
O vinho   de Deus exala perfume de almíscar,
Outro vinho está reservado para punição e penas.


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