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CRISTIANISMO CAPADÓCIO

Gregório de Nissa

Século IV

domingo 31 de julho de 2022, por Cardoso de Castro

      

S. Gregório de Nissa permaneceu sempre na sombra de seu irmão   mais velho, Basílio Magno. Nascido em Cesaréia da Capadócia, cerca do ano 335, teve sua educação orientada por Basilio. Entregou-se primeiramente à vida secular, como professor de retórica e contraiu matrimônio com a jovem Teosebeia. Sob a influência de amigos, sobretudo de Gregório Nazianzeno, retirou-se para o mosteiro fundado por Basilio. Em 371, seu irmão o fez bispo da pequena cidade de Nissa, onde muito sofreu pela incapacidade na administração dos bens materiais e pela perseguição dos arianos. Em 371 participou do segundo concilio ecumênico, de Constantinopla, ao lado de Gregório de Nazianzo. Morreu em 395 ou pouco depois.

No entanto, se Basilio foi maior que seu irmão como bispo da Igreja   e como legislador da vida monástica, Gregório supera-o imensamente como teólogo e como mestre da vida espiritual. Seu pensamento   atinge uma profundidade e amplidão desconhecidas de Basilio e, também, de Gregório Nazianzeno. Gregório de Nissa tentou uma síntese entre o pensamento grego, sobretudo platônico e estoico, e a mensagem cristã. Sua obra dogmática mais importante, a Grande Catequese, constitui a primeira tentativa de uma teologia sistemática, depois do De Principiis   de Orígenes, seu grande mestre. Mas, Gregório de Nissa é também um grande mestre de vida espiritual, o que lhe mereceu o título de "Pai da Teologia Mística". Se Basilio, através de suas Regras, deu ao monaquismo oriental sua organização, Gregório de Nissa inspirou-lhe sua espiritualidade característica.

Três são as obras estritamente monásticas de S. Gregório de Nissa. A primeira delas, que foi também o primeiro escrito do santo é o Tratado sobre a Virgindade  , composto logo após sua nomeação episcopal, em 370. Usando termos filosóficos, demonstra que a vida ascética é a realização   do sonho   dos filósofos da Grécia antiga a respeito da vida contemplativa. Esta obra ainda está esperando um tradutor que a torne acessível aos leitores da língua portuguesa.

Mas é no De Instituto Christiano (O DESÍGNIO DE DEUS   e os ensinamentos sobre a vida cristã), provavelmente escrito vinte anos depois do Tratado sobre a Virgindade, onde o pensamento espiritual de Gregório atinge o seu pleno   desenvolvimento. Aí ele realiza a união   harmoniosa entre o conceito de graça do cristianismo com a tradição ética do helenismo e com o ideal clássico de virtude. Num tempo como o nosso, em que tanto se fala de aculturação do Evangelho, Gregório de Nissa muito nos pode inspirar. O De Instituto Christiano (O DESÍGNIO DE DEUS e os ensinamentos sobre a vida cristã) foi escrito a pedido dos monges, para ensinar  -lhes o verdadeiro objeto da vida contemplativa e os meios para consegui-la. Outras informações sobre esta obra poderão ser   obtidas na Nota Explicativa de D. Joaquim Zamith, no início de sua tradução deste escrito.

Paulo VI, na Evangelii Nuntiandi, afirma que "o homem   contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas" (n° 41). Este era também o pensamento de Gregório de Nissa, expresso na introdução do Tratado sobre a Virgindade: "abraçamos com maior entusiasmo   um gênero   de vida quando vemos alguém que se tornou conhecido levando esta vida". Coerente com esta ideia, Gregório escreveu a vida de sua irmã Macrina "para que não caia no esquecimento  , mas sirva de proveito a todos, aquela que alcançou o cume da humanidade". É a primeira biografia cristã de uma mulher. Macrina é apresentada como modelo da perfeição cristã e da mãe espiritual da sua comunidade. A obra é uma joia da literatura hagiográfica. O último diálogo   entre Macrina e seu irmão é uma das páginas que são lidas com profunda emoção e jamais esquecidas. [D. Paulo Rocha, abade de S. Bento da Bahia]



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