RESUMO DA INTRODUÇÃO
Para Evagrio a doutrina espiritual se compõe de três partes: “O cristianismo é a doutrina do Cristo , nosso salvador , que se compõe da prática, da física e da teologia”.
- A contemplação das naturezas criadas (física) e a ciência de Deus (teologia) formam juntas o gnostike, segundo tratado de Evagrio que acompanha o praktike .
- Este esquema tripartita se inspira da divisão escolar, de origem estoica, da filosofia em três partes: naturalem, moralem e rationalem (Sêneca); physikon, ethikon e logikon .
- Orígenes põe cada uma das ciências em relação com os três livros atribuídos a Salomão:
- Provérbios
- Eclesiastes
- Cântico
- Para Evagrio, “a praktike é o método espiritual que purifica a parte apaixonada da alma ”, em suas próprias palavras.
- Seu fim é a apatheia , por sua vez, condição da ciência espiritual, via de acesso ao gnostike.
- Sob esta forma e soba forma de praktikos, praktikon, este termo tem uma uma grande história, antes de Evagrio adotá-lo dando uma significação técnica precisa, que por ele e depois dele, se tornou clássica na literatura espiritual bizantina.
- Histórico anterior a Evagrio:
- O par praktike-gnostike remonta a Platão, que divide as ciências em duas partes: (a praktike (episteme ) e gnostike (episteme).
- A praktike episteme lida com as artes manuais
- A gnostike episteme trata da atividade do espírito
- A oposição praktikos-theoretikos (e não mais gnostikos) é aristotélica
- O nous praktikos raciocina sobre o contingente e visa a ação
- O nous gnostikos encontra seu fim em sua própria atividade e deduz de um princípio suas consequências necessárias
- Decorre daí a definição de formas de vida : bios praktikos e bios theoretikos
- O praktikos ganha mais amplitude em Aristóteles, além das artes manuais se estendendo à ação em geral, incluindo a atividade política.
- Os estoicos seguem Aristóteles, definindo o praktikon como abarcando as coisas humanas, tendo por finalidade a felicidade da vida humana, que o político se aplica em realizar; quanto ao theoretikon tem por questão as coisas divinas e por finalidade a felicidade teorética, contemplativa.
- O sábio deve ser um ativo e um contemplativo , ideal resumido na palavra logikos: “Entre os três gêneros de vida que existem, o theoretikos, o praktikos e o logikos, deve-se escolher o terceiro; pois o vivente que é logikos, a natureza o torna apto ao mesmo tempo à contemplação e à ação” (Crisipo , segundo Diógenes Laércio).
- Entre os filósofos gregos a palavra praktikos refere-se sempre a uma atividade de caráter profano.
- Philon , pela primeira vez, se refere a uma atividade especificamente moral e religiosa.
- A melhor das coisas o theoretikos bios sucedendo, na velhice, ao praktikos bios levado durante a juventude .
- Por “vida prática”, ele entende a askesis que praticou Jacó, o “asceta” por excelência, antes de se tornar Israel , quer dizer “aquele que vê Deus”; esta ascese consiste em nada negligenciar dos affaires humanos, em conformidade ao ideal estoico, mas também não fugir de qualquer esforço, qualquer combate sustentado com vistas à verdade.
- Nos autores cristãos o termo desenvolve-se no sentido aristotélico e estoico, e no sentido de Philon.
- O sentido mais comum é aquele que se refere à “vida ativa”, em contraposição à “vida contemplativa”, sendo Orígenes o primeiro a vê-las simbolizadas em Marta e Maria. Orígenes defende o ideal de sua união .
- Em Orígenes destaca-se o emprego da palavra praxis que Philon usou para designar uma etapa da vida espiritual.
- Orígenes ordena a atividade espiritual em primeiramente praktikon, “fazer o que é justo”, vindo em seguida o theoretikon. O praktikon define-se como “retitude das ações”, ligada à contemplação, theoretikon, da qual é a condição: “Venham e vejam” (Jo 1,39), seria o vir uma exortação ao praktikon, e o ver a contemplação decorrente da retitude das ações.
- Esta oposição praxis e theoria, ação e contemplação, de Orígens passa para Gregorio de Nazianzo e Gregorio de Nissa, que também adotam as expressões aristotélicas: philosophia prkatike e philosophia theoretike.
- Recebem novas conotações dado o aparecimento da vida monástica
- O sentido mais comum é aquele que se refere à “vida ativa”, em contraposição à “vida contemplativa”, sendo Orígenes o primeiro a vê-las simbolizadas em Marta e Maria. Orígenes defende o ideal de sua união .
- O par praktike-gnostike remonta a Platão, que divide as ciências em duas partes: (a praktike (episteme ) e gnostike (episteme).
- Evagrio herda a palavra praktikos mas lhe dá uma nova significação, que se pode dizer paradoxal, em relação às precedentes.
- Aquele que Evagrio denomina praktikos é um monge , mais exatamente uma anacoreta, que se retira do mundo e renuncia não apenas se ocupar dos affaires humanos, mas até assumir funções ativas na Igreja , em outros termos alguém que vive na hesychia .
- A praktike implica em uma anacorese prévia e já estabelecida: a hesychia.
- Seu Tratado Prático é destinado aos monges que vivem uma vida anacorética e não aos cenobitas.
- Na trilha de Philon e de Orígenes, acentua na praktike seu caráter ascético e adaptado a vida anacorética, definindo-a de acordo com sua meta a impassibilidade, a apatheia.
Em que consiste a praktike? O tradutor siríaco traduzindo como “prática dos mandamentos”, seguiu de perto o pensamento de Evagrio que afirma: A caridade é filha da impassibilidade; a impassibilidade é a flor da prática; a prática repousa sobre a observância dos mandamentos...”. Mas a praktike não se confunde com a observância dos mandamentos.
- De certo modo a praktike é o exercício das virtudes, que Evagrio define como cinco fundamentais, constituindo uma cadeia: “A fé (pistis ) é fortalecida pelo temor (phobos ) de Deus, e este, por sua vez, pela abstinência (enkrateia ); esta tornada inflexível pela perseverança (hypomone ) e pela esperança (elpis ), das quais nasce a impassibilidade (apatheia), que tem por filha a caridade, e a caridade é a porta da ciência natural a qual sucedem a teologia e por fim a beatitude”.
Esta forma encadeada parece provir de Clemente de Alexandria : “Assim a fé (pistis) nos aparece como primeiro movimento que inclina à salvação; após a qual o temor (phobos), a esperança (elpis) e o arrependimento (metanoia ), se desenvolvendo com a abstinência (enkrateia) e a perseverança (hypomone), nos conduzindo até a caridade e a gnose”. (Stromates II, 31)
A praktike consiste principalmente na luta contra os “pensamentos” (logismos - logismoi). A análise dos pensamentos, particularmente dos oito principais pensamentos, o exame de sua origem e de suas características respectivas, a exposição dos remédios apropriados a cada um deles, formam quase todo o conteúdo do Tratado Prático de Evagrio.