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Cristo preexistente

terça-feira 29 de março de 2022

      

Capítulo 1.— O Cristo   pré-existente
O problema inicial no tocante à pessoa   de Cristo se põe desde o arranque da economia  . Praticamente desde a vontade primeira em Deus   de revelar-se a outros.

O silêncio absoluto, eterno, se reduz nEle a um ato imanente simplicíssimo, prévio a toda dualidade   e superior a todo conhecimento (fórmula feliz dos Oráculos caldeus: “O Pai   se subtraiu a si próprio, sem incluir sequer em sua potência intelectiva ao seu fogo  ”; vide também The Chaldean Oracles of Julianus).

A cristologia se inaugura quando Deus rompe o silêncio, dando subsistência à potência intelectiva e concebendo em si o Intelecto   - nous -; entendido o silêncio divino como absoluto e eterno, que Nele se reduz a um ato imanente simplicíssimo, prévio a toda dualidade e superior a todo o conhecimento-ciência — episteme   (Analogias com Numênio e outros)

Vide Xenofanes: A essência de Deus era esferoidal e nada tem semelhante com o homem  . Todo ele vê e todo ouve...; em sua totalidade é intelecto, e mente  , e eterno.

A simplicidade de Deus passa aos escritores eclesiásticos:

Frente à simplicidade de Deus contrapõe-se a composição peculiar do Filho (vide Tratado Tripartite).

Em linguagem ou ideologia gnósticas, a pessoa do Filho está integrada pela soma das perfeições, que o constituem mediador   entre o Pai, simplicíssimo, e as criaturas. Deste modo a pessoa do Filho se define por uma multidão de eões - aion   - (virtudes, formas,...).

Os valentinianos caracterizavam o Cristo mediante os 30 aion - eões do Pleroma  , enquanto expressão bivalente (topológica e cronológica) do Filho. Não contentes de enumerá-los e distingui-los por ordem   de aparição e dignidade  , acentuaram a comunhão que reinava entre eles ao nível do Intelecto. As 30 perfeições do Filho derivam do Intelecto, por meio deste conhecem o Pai, sem deixar de orientar-se para a criação. Todas realizam a unidade   no Filho e se comunicam mutuamente, fisicamente, suas propriedades. Ptolomeu chega a uma formulação que evoca a fórmula de Xenofanes.

Vide Irineu I, 2,6 e Tertuliano Adv valent. 12,1.

O que Deus Pai em simplicidade, vem a ser o Filho por comunhão pessoal de eões. Deus não consente predicação estrita, pois nada pode-se afirmar Dele; nenhuma forma nem noção. Enquanto, o Filho sofre tantas predicações quantas são as formas (noções, aion - eões) de que se compõe, e vem a ser todas e cada uma delas sem confusão, por "igualdade".

O Pleroma das perfeições (30 aion - eões, entre os valentinianos, muito mais entre outros gnósticos) admite um variedade de denominações, entre as quais Cristo.

Os valentinianos aplicam o termo Unigênito   ao Filho, imanente ao Pai, síntese dos 30 eões, e em modo particular ao Intelecto, primeiro dos estritos aion - eões (Irineu I, 1,1). Propositalmente deixaram sem denominação especial a segunda pessoa, para atribuir-lhe, com título igual ou parecido, um qualquer dos 30 nomes; desde o mais filosófico nous - Nous e de sabor   contemporâneo, até o bíblico de Sofia. De todas as denominações vinculadas aos 30 eões e conhecidos por dupla via, nenhum dos 30 responde à eficácia estritamente salvífica do Filho. Os que melhor respondem a ela são “Cristo” e “Espírito Santo”, que somados aos 30 anteriores, fazem o número   32, característico dos deuses de Valentino   (vide Atos de Tomé). Somente eles conferem ao Pleroma a gnosis, em que consiste a saúde. Na vida de Jesus também se passarão 30 anos (respectivamente eões) de Nazaré antes que desçam sobre a humanidade, como sizígia de eões, o Cristo e o Espírito Santo para comunicar-lhe a gnose e habilitar-lhe salvificamente.

Nenhum dos dois - Cristo e Espírito Santo - constitui, como os 30, a pessoa do Filho. São, melhor dizendo, a expressão da essência (Espírito paterno) de Deus, derramada, como unção (chrisma  ), no Filho para batizar  -lhe em sua pessoa e capacitá-lo, em acordo ao Espírito (paterno), extra-muros de Deus.

O estudo da pessoa do Filho, caberia melhor junto às 30 denominações dos eões, pois estes são "pessoas", enquanto Cristo e Espírito Santo são comuns ao Pai, e denunciam uma forte   dependência   Dele. Pode-se falar de cristologia enquanto termo aplicável ao mundo da preexistência divina do Salvador   e sua existência futura no cosmos.

As denominações de nous - Nous, logos   - Logos, anthropos - Anthropos ... evocam ideias mais concretas e delimitam, sem querer o campo   a determinadas esferas. O nous - Nous é carregado de filosofia, sublinhando a mediação suprema do Filho como princípio do reino superior (noético) e enlace imediato com Deus Pai. logos - Logos acentua a missão criadora daquele pelo qual DEUS fez as coisas e fundou o reino dos "racionais". anthropos - Anthropos desperta o pensamento da forma ou paradigma   do homem. Unigênito (Primogênito) e Filho dirigem a mente para a Trindade  . Por outro lado, Cristo, apesar dos equívocos entre sectários, reúne boa parte da economia do Filho, exaltando o destino salvífico.

As acepções fundamentais do Cristo são duas: 1) Cristo (superior), Salvador, caracterizado pela "unção" (= Espírito virginal do Pai) sobreposta a sua pessoa (= Logos); 2) Cristo (psíquico), Messias hebraico  , filho do criador, definível por uma unção sui generis (= espírito animal   de Jeová, seu pai), aditada, assim mesmo, a sua pessoa.

O estudo de sophia   - Sophia, em suas variadas acepções, pode esclarecer em tese alguns pontos da preexistência de Cristo. Na prática há o perigo de complicar o tema. Sophia exige uma análise prévia, só bem sucedida se feita para o termo e suas figuras equivalentes.


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