Nunes
XXI – Consideremos o assunto sob novo aspecto, o terceiro. Se o uno é tal como o descrevemos: um e múltiplo, e também nem um nem múltiplo, além de participar do tempo, não ser á de toda a necessidade que haja um momento em que ele, como Uno, participe do ser, e outro momento em que, por não ser Uno, deixe de participar?
Necessariamente.
E ser-lhe-á possível não participar no momento em que participa, ou então participar quando não participa?
Não é possível.
Num determinado tempo, então, ele participa, e noutro, diferente do primeiro, não participa. É a única maneira de participar e não participar da mesma coisa.
Certo.
Então, terá de haver um tempo em que ele toma parte do ser e outro em que deixa de tomar. Pois, como seria possível participar e não participar da existência sem um instante determinado em que ele comece a existir e outro em que pára de existir?
Não há jeito.
Começar a existir não é o que denominamos nascer?
Sem dúvida.
E deixar de existir, não é parecer?
Isso também.
O Uno, por conseguinte, como parece, começando a existir e deixando de existir, nasce e morre.
Necessariamente.
Mas, por ser ele Uno e múltiplo não significa para ele, necessariamente, combinar e separar-se?
Sem a menor dúvida.
E tornar-se semelhante e dissemelhante, não é assimilar e desassimilar?
Sim.
E tornar-se maior, menor ou igual, não será crescer, decrescer ou igualar-se?
Isso mesmo.
Mas, parar quando em movimento , ou passar da imobilidade para o movimento, só poderá fazê-lo se não se encontrar num determinado tempo.
Como assim?
Passar do repouso para o movimente ou mover-se primeiro para depois imobilizar-se, é o que não pode ocorrer sem mudança,
Como seria possível?
Por outro lado, não há um determinado tempo que a mesma coisa pode estar em repouso e em movimento.
Sem dúvida.
Mas, existirá essa coisa estranha em que se diz que ele está quando muda de posição?
Que coisa?
O Instante. O vocábulo Instante parece significar algo assim como o ponto da mudança em direções opostas. Sim, não será da imobilidade, enquanto imóvel, que ele se mudar á, nem do estado de movimento, como tal. Essa coisa de natureza inapreensível, o Instante, se encontra situada entre o movimento e o repouso, sem estar em nenhum tempo, sendo que a transição converge para ele e dele parte, da coisa em repouso para o movimento e do movimento para o repouso.
É possível.
Sendo assim, dado que o Uno esteja em repouso e em movimento, terá de mudar-se, na passagem de um desses estados para o outro, pois somente em tais condições chegará a fazer ambas as coisas. Mas, ao mudar-se, muda instantaneamente, e no instante preciso da mudança não poderá estar em nenhum tempo, muito menos em movimento ou em repouso.
Sem dúvida.
O mesmo ocorre com as outras mudanças, quando passa da existência para a morte ou da não existência para o nascimento, encontrando-se num estado intermediário entre certas formas de movimento e de repouso, de sorte que nessa ocasião nem é existente nem não-existente, nem nasce nem morre.
Parece que é assim mesmo.
Pelas mesmas razões, passando do Uno para o múltiplo para o Uno, não será nem uma nem múltiplo, nem se combina nem se desagrega. Assim, também, na passagem do semelhante para o dissemelhante ou na do dissemelhante para o semelhante, não é nem semelhante nem dissemelhante, como não se acha no estado de assimilação nem no de desassimilação. O mesmo se passa na transição de pequeno para o grande e o igual, e na de sentido contrário: não poderá ser nem pequeno nem grande nem igual, como não estará crescendo nem decrescendo nem ficando igual.
Parece mesmo que não.
Eis tudo o que pode acontecer com o Uno, no caso de existir.
Sem dúvida.
XXII – E agora, passaremos a considerar o que ocorre com os outros, no caso de existir o Uno?
Consideremos.
Digamos, então: admitindo-se que o Uno exista, que acontecerá com as coisas que não são o Uno?
Sim, perguntemos isso mesmo.
Visto serem outras que não o Uno, essas outras coisas não serão o Uno, sem o que não seriam outras que não o Uno.
Certo.
Por outro lado, as coisas não poderão estar totalmente privadas do Uno, devendo, de certo modo, participar dele.
De que jeito?
Porque as outras coisas que não o Uno só são outras por serem constituídas de partes; se não tivessem partes, seriam simplesmente um.
Certo.
Porém só há partes, é o que afirmamos, com relação a algum todo.
Sim, afirmemo-lo.
Porém o todo terá, por força, de ser uma unidade de muitas coisas, cujas partes são, precisamente, partes, pois cada parte terá de ser parte não de muitas coisas, mas de um todo.
Como assim?
É o seguinte: se alguma coisa fosse parte de uma pluralidade na qual também ela estivesse incluída, passaria a ser parte de si mesma, o que não é possível, e também de cada uma das outras partes, por sê-lo de todas. Porque, se não fosse parte de uma, sê-lo-ia de todas, com exceção dessa uma, e assim não seria parte de cada uma das partes, e não sendo parte de nenhuma, não o seria de nenhuma das dessas pluralidade. Ora, não sendo de nenhuma, não poderia ser parte ou o que quer que seja de todas essas coisas com as quais ela não tem nenhuma relação.
É evidente .
Assim, a parte não é parte nem da pluralidade nem de todas as suas partes, porém de uma certa ideia ou de certa unidade a que damos o nome de todo, unidade perfeita nascida desse todo. Disso, apenas, é que a parte é parte.
De inteiro acordo.
Se os outros, pois, têm partes, participarão também do todo e do Uno.
Exato.
Por isso, as outras coisas que não o Uno terão necessariamente de ser um todo perfeito, com partes.
Forçosamente.
O mesmo argumento vale para cada parte em separado, que terão forçosamente de participar do Uno. Se cada uma delas é parte, a expressão Cada uma implica unidade, distinta do resto e existente por si mesma, visto ser parte.
Certo.
Mas é obvio que para participar do Uno terá de ser diferente, sem o que não participaria dele: seria o próprio Uno. Porém tirante a própria unidade, nada mais pode ser unidade.
Nunca!
Assim, o todo e as partes terão necessariamente de participar do Uno; aquele seria o todo do qual as partes seriam partes, e cada uma destas, por sua vez, uma parte do todo, parte una e individual desse todo.
Certo.
Porém as coisas que participam do Uno não terão de ser diferentes do Uno de que elas participam?
Como não?
Mas as coisas diferentes do Uno não terão de ser múltiplas, pois se não fossem um nem mais de um, nada seriam.
Nada, realmente.
Por serem mais numerosas do que o Uno, tanto as coisas participam do Um-parte como do Um-todo, não serão forçosamente de número infinito pelo próprio fato de participarem do Uno?
Como assim?
Examinemos o problema do seguinte modo. Não é evidente que no instante preciso em que vão participar do Uno, nem são ainda o Uno, nem dele participam?
Claro.
Logo, terão de ser múltiplas, por ainda não estar nelas o Uno.
Múltiplas, sem dúvida.
E então? E se nos decidíssemos a eliminar mentalmente a menor porção possível de conceber-se, essa partícula assim retirada, visto não participar do Uno não seria forçosamente multiplicidade, não unidade?
Necessariamente.
Assim, insistindo em considerar dessa maneira e em si mesma a natureza estranha à ideia, tudo o que nela viermos a perceber não será de número infinito?
Perfeitamente.
Então, quando cada parte, uma após a outra, se tornou parte, passam todas a apresentar limites tanto entre elas próprias como em relação com o todo, o mesmo acontecendo com o todo em relação às partes.
É muito certo.
Desse modo, a consequência para as outras coisas que não o Uno, quando na companhia do Uno, parece ser a aquisição de algo novo que lhes confere limites em suas relações recíprocas; ma, por sua própria natureza, elas são ilimitadas.
É possível.
Por isso, as coisas outras que não o Uno, como todo e como partes, são infinitas e participam de limite.
Perfeitamente.
E porventura não serão também semelhantes e dissemelhantes, tanto em suas relações recíprocas como com elas mesmas?
De que jeito?
Do seguinte: se por sua própria natureza todas forem ilimitadas, todas apresentam o mesmo caráter.
Perfeitamente.
Por outro lado, pelo próprio fato de todas participarem de limite, todas são afetadas de igual modo.
Sem dúvida.
Mas, por isso mesmo que é da condição de todas serem simultaneamente limitadas e ilimitadas, apresentam caracteres contrários entre si.
Certo.
Porém, todos os contrários são tão dissemelhantes quanto possível.
Como não?
Logo, com respeito a cada um dos caracteres, as outras coisas que não o Uno são semelhantes a ela mesmas e entre si, e em virtude dos dois , inteiramente contrárias e de todo em todo dissemelhantes.
Certo.
Sendo assim, as outras coisas serão ao mesmo tempo semelhantes e dissemelhantes a elas mesmas e entre si.
É possível.
Como serão reciprocamente idênticas e diferentes, em movimento e em repouso, não nos sendo, ademais, difícil demonstrar que as coisas que não o Uno estão sujeitas a todas as afecções contrárias, visto se nos terem revelado como passíveis das mesmas afecções.
Falaste com muito acerto.
XXIII – Deixando de lado essas questões, por evidentes, voltemos a perguntar se, existindo o Uno, serão diferentes as consequências para as coisas que não serão o Uno, ou apenas as que acabamos de considerar?
Sim, façamos isso mesmo.
Então, comecemos de novo e perguntemos: Se o Uno existe, que se passará com as outras coisas diferentes do Uno?
Sim, perguntemos.
Porém, tirante eles, não há um terceiro, distinto do Uno e distinto dos outros, pois diz-se tudo com dizer o Uno e os outros.
Tudo, realmente.
Além deles, nada há em que o Uno e os outros possam estar juntos.
Não de fato.
Logo, o Uno e os outros nunca estão juntos na mesma coisa
Parece mesmo que não.
Estarão, pois, separados?
Sim.
Como também já dissemos que o que é verdadeiramente o Uno não tem partes.
Como poderia ter?
Desse modo, o Uno não poderá estar nem inteiro nem por parte nas outras coisas, se estiver separado das demais coisas e carecer de partes.
Como o poderia?
Então, de jeito nenhum as outras coisas poderão participar do Uno, por não participarem dele nem por alguma de sua partes nem pelo todo.
Parece mesmo que não.
Logo, sob nenhum aspecto as outras coisas são um, e não contêm unidade de qualquer espécie.
Não, realmente.
As outras, também, não poderão ser múltiplas: se o fossem, cada uma delas seria uma parte do todo. O certo é que as outras coisas diferentes do Uno nem são múltiplas nem uma, nem todo nem partes, por não participarem do Uno sob nenhum aspecto.
É justo.
Outrossim, as outras coisas que não o Uno não serão dois nem três, nem contêm dois nem três, por serem inteiramente privadas do Uno.
Isso mesmo.
Como também, em si mesmas, as outras coisas não serão nem semelhantes nem dissemelhantes, não havendo nelas semelhança nem dissemelhança, pois se fossem semelhantes e dissemelhantes ou contivessem semelhança e dissemelhança, as coisas diferentes do Uno conteriam em si mesmas duas ideias reciprocamente contrárias.
É evidente.
Mas é de todo em todo impossível participar do dois o que não participa de nada.
Impossível.
Logo, as outras coisas não são nem semelhantes nem dissemelhantes, nem ambas as coisas ao mesmo tempo. Se fossem semelhantes ou dissemelhantes, participariam de uma dessas duas ideias, e se fossem uma e outra coisa, de duas ideias contrárias, o que já vimos não ser possível.
É muito certo.
Como não serão idênticas nem diferentes, nem móveis nem imóveis, e também não nascem nem parecem; não são nem maiores, nem menores, nem iguais, como não são passíveis de nenhuma afecção de qualquer espécie, pois se o fossem participariam do um, do dois, do três, do par e do ímpar, o que já vimos não ser possível, por serem inteiramente privadas do Uno.
É muito certo.
A esse modo, se o Uno é, terá de ser tudo, como também, não será nada, tanto em referência a ele mesmo como às outras coisas.
Exatíssimo.
Cousin
— Incontestablement. Maintenant arrivons à notre troisième point : l’un étant tel que nous l’avons montré, s’il est un et multiple, et s’il n’est ni un ni multiple, et qu’il participe du temps, n’est-il pas nécessaire qu’en tant qu’il est un, il participe quelque jour de l’être, et que, en tant qu’il n’est pas un, il n’en participe jamais?
— C’est nécessaire.
— Lorsqu’il en participe, est-il possible qu’il n’en participe pas ; et est-il possible qu’il en participe alors qu’il n’en participe pas?
— C’est impossible.
— C’est donc dans un certain temps qu’il participe de l’être, et dans un autre qu’il n’en participe pas ; car ce n’est que de cette manière qu’il peut participer et ne pas participer de la même chose. [156a]
— Oui.
— Il y a donc un temps où l’un prend part à l’être, et un autre où il l’abandonne ; car comment serait-il possible que tantôt on eût, tantôt on n’eût pas une même chose, si on ne la prenait et ne la laissait tour à tour?
— Cela ne serait pas possible.
— Prendre part à l’être, n’appelles-tu pas cela naître?
— Oui.
— Et l’abandonner, n’est-ce pas-périr?
— Certainement.
— Dans ce cas, l’un, prenant et laissant l’être, naît [156b] et périt.
— Nécessairement.
— Or, étant un et multiple, puis naissant ! et périssant, ne périt-il pas comme multiple, lorsqu’il devient un, et comme un, lorsqu’il devient multiple?
— Oui.
— Quand il devient un et multiple, n’est-il pas nécessaire qu’il se divise et qu’il se réunisse ? — Sans aucun doute,
— Quand il devient semblable et dissemblable, il faut qu’il ressemble et qu’il ne ressemblé pas.
— Oui.
— Et quand il devient plus grand, plus petit et égal, il faut qu’il augmente, qu’il diminue, et qu’il s’égalise?
— Encore. [156c]
— Et lorsqu’il change du mouvement au repos et du repos au mouvement, est-il possible que ce soit dans le même temps?
— Non, évidemment.
— Se reposer [d]’abord, puis se mouvoir, ou [d]’abord se mouvoir et se reposer ensuite, tout cela peut-il se faire sans, changement?
— Comment serait-ce possible?
— Il n’y a aucun temps où une chose puisse être à la fois en mouvement et en repos.
— Non.;
— Et rien ne change sans être dans le changement.
— Bien.
— Quand donc a lieu le changement ? car on ne change ni quand on est en repos, ni quand on est en mouvement, ni quand [156d] on est dans le temps.
— Certainement non.
— Ce où l’on est quand on change, n’est-ce pas cette chose étrange?
— Laquelle?
— L’instant. Car l’instant semble désigner le point où on change en passant [d]’un état à un autre. Ce n’est pas pendant le repos que se fait le changement dû repos au mouvement, ni pendant le mouvement que se fait le changement du mouvement au repos ; mais cette chose étrange qu’on appelle l’instant, se trouve au milieu entre le mouvement et le repos ; [156e] sans être dans aucun temps, et [c]’est dé là que part et là que se termine le changement, soit du mouvement au repos, soit du repos au mouvement.
— Il y a apparent
— Si donc l’un est en repos et en mouvement, il change de l’un à l’autre état ; car [c]’est la seule manière [d]’entrer dans l’un et dans l’autre ; mais s’il change, il change dans un instant, et quand il change, il n’est ni dans le temps, ni en mouvement, ni en repos.
— Soit.
— Maintenant, en est-il de même pour les autres changements ? Lorsque l’un change de l’être [157a] au néant, ou du néant à la naissance, est-il vrai de dire alors qu’il tient te milieu entre le mouvement et le repos, qu’il ne se trouve ni être ni ne pas être, qu’il ne naît ni ne périt?
— Selon toute apparence.
— Par la même raison, l’un, en passant de l’un au multiple et du multiple à l’un, n’est ni un ni multiple, ne se divise ni ne se réunit, et en passant du semblable au dissemblable et du dissemblable au semblable, il ne devient ni semblable ni dissemblable, et en passant [157b] du petit au grand, de l’inégal à l’égal, et réciproquement, il n’est ni petit, ni grand, ni égal, il n’augmente, ni ne diminue, ni ne s’égalise.
— Il paraît.
— Ainsi donc, tout cela est vrai de l’un, s’il existe.
— Assurément. Voyons à présent ce qui doit arriver aux autres choses, si l’un existe.
— Voyons.
— Posons donc que l’un existe, et examinons ce qui arrivera dans cette hypothèse aux choses autres que l’un.
— Examinons.
— S’il y a [d]’autres choses que l’un, ces autres choses ne sont pas l’un, [157c] car, autrement, elles ne seraient pas autres que l’un.
— Certainement.
— Cependant, les autres choses ne sont pas tout-à-fait privées de l’un, et elles en participent en quelque manière.
— Comment?
— Parce que les autres choses ne sont autres que si elles ont des parties ; car si elles n’avaient pas de parties, elles ne feraient absolument qu’un.
— C’est juste.
— Or, nous avons dit qu’il n’y a de parties que des parties [d]’un tout.
— Oui.
— Mais le tout est nécessairement l’unité formée de plusieurs choses et dont les parties sont ce que nous appelons des parties ; car chacune des parties est la partie non de plusieurs choses, mais [d]’un tout.
— Comment cela?
— Si une chose faisait partie de plusieurs choses [157d] parmi lesquelles elle serait comprise elle-même, elle serait une partie [d]’elle-même, ce qui est impossible, et de chacune des autres choses, si elle était réellement une partie de toutes. Car s’il y en avait une dont elle ne fit pas partie, elle ferait partie de toutes, à l’exception de celle-là, et de la sorte elle ne ferait pas partie de chacune [d]’elles ; et si elle n’était pas une partie de chacune, elle ne le serait [d]’aucune ; et dans ce cas, il serait impossible qu’elle fût rien de toutes ces choses, parmi lesquelles il n’y eu aurait aucune dont elle fût ni la partie ni quoi que ce fût.
— Évidemment.
— Ainsi donc, la partie ne fait partie ni de plusieurs choses, ni de toutes, mais [d]’une certaine idée [157e] et [d]’une certaine unité que nous appelons un tout, unité parfaite, formée par la réunion de toutes les parties ensemble. Voilà ce dont fait partie ce que nous appelons partie.
— Incontestablement.
— Donc, si les autres choses ont des parties, elles participeront et du tout et de l’un.
— Assurément.
— Par conséquent, les autres choses différentes de l’un forment nécessairement un tout un et parfait, composé de parties.
— Nécessairement.
— Et il en faut dire autant de chaque partie ; chacune doit participer [158a] de l’un ; car si chacune des parties est une partie, ce mot chacun signifie sans doute ce qui est un, séparé des autres choses et existant en soi.
— Justement.
— Mais si chaque partie peut participer de l’un, évidemment [c]’est qu’elle est autre chose que l’un ; autrement elle n’en participerait pas, elle serait l’un lui-même ; or, rien ne peut être un que l’un lui-même.
— Non, rien.
— Ainsi le tout et la partie doivent nécessairement participer de l’un ; le premier sera un tout, dont les parties sont ce que nous appelons parties, et chacune des parties sera une partie [158b] du tout auquel elle appartient.
— En effet.
— Ainsi donc, ce qui participe de l’un ne peut. en participer qu’en étant autre que l’un.
— Sans doute.
— Or, si ce qui est autre que l’un n’était ni un, ni en plus grand nombre que l’un, ce ne serait rien du tout.
— Assurément.
— Mais, puisque ce qui participe de l’un comme partie, et de l’un comme tout, est en plus grand nombre que l’un, ne faut-il pas bien que toutes ces choses qui participent de l’unité soient infinies en nombre?
— Comment?
— Le voici. Lorsque les choses reçoivent l’un, ne le reçoivent-elles pas comme des choses qui ne sont pas encore l’un et qui n’en participent pas encore?
— Évidemment. [158c]
— N’est-ce pas comme des pluralités dans lesquelles est l’un sans qu’elles soient l’un?
— Oui, comme des pluralités.
— Eh bien, si nous voulions en enlever par la pensée la portion la plus petite qu’il soit possible, n’est-il pas nécessaire que cette portion enlevée, si elle ne participe pas de l’un, soit une pluralité et non une unité?
— Oui, [c]’est, nécessaire.
— Donc, en considérant toujours de cette manière et en soi-même cette sorte [d]’être qui est autre que l’idée (17), n’y trouverons-nous pas, tant que nous y regarderons, une pluralité infinie?
— Sans aucun doute.
— Mais lorsque [158d] chacune des parties est devenue une partie, les parties ont des limites les unes à l’égard des autres et à l’égard du tout, et le tout à l’égard des parties. — Évidemment :
— Dans les choses autres que l’un, il naît, ce semble, de leur commerce avec l’un, quelque chose de différent qui leur donne des limites les unes à l’égard des autres ; tandis que leur nature propre ne donne par elle-même qu’illimitation.
— Eh bien?
— Ainsi les choses autres que l’un, sont, comme le tout et comme les parties, illimitées et participant de la limite.
— Tout-à-fait. [158e]
— Ne sont-elles pas aussi semblables et dissemblables à elles-mêmes et entre elles?
— Comment?
— Par cela seul qu’elles sont toutes illimitées par leur nature, elles ont toutes la même qualité.
— Assurément.
— Et par cela seul qu’elles sont toutes limitées, elles ont encore toutes la même qualité.
— Soit.
— Et, par cela même qu’elles sont à la fois limitées et illimitées, elles ont les mêmes qualités les unes que les autres, [159a] et les qualités contraires.
— Oui.
— Or, les contraires sont ce qu’il y a de plus dissemblable.
— A coup sûr.
— Donc, elles seraient semblables à elles-mêmes et les unes aux autres par rapport à ces deux qualités, et en même temps par rapport à ces deux mêmes qualités, tout ce qu’il y a de plus contraire et de plus dissemblable soit à elles, mêmes soit aux autres.
— Je le crains.
— Ainsi les autres choses sont à la fois semblables et dissemblables et à elles-mêmes et les unes aux autres.
— Oui.
— Après avoir une fois montré que les choses autres que l’un sont susceptibles à la fois de ces qualités opposées, il ne nous serait pas difficile de faire voir qu’elles sont et les mêmes et autres les unes que les autres, en mouvement et en repos, [159b] et qu’elles réunissent ainsi tous les contraires.
— Tu as raison.
— Laissons donc cela comme suffisamment éclairci, et voyons si, en supposant que l’un existe, il en sera différemment des choses autres que l’un ou s’il n’en peut être que ce que nous venons de voir.
— Volontiers.
— Reprenons donc du commencement, et exposons ce qui doit arriver, si l’un existe, aux choses autres que l’un.
— Exposons-le. L’un n’est-il pas à part des autres choses, et les autres choses à part de l’un
— Pourquoi cela?
— Parce qu’il n’y a rien qui puisse, outre l’un et les autres choses, être autre que l’un, et autre que les choses autres que l’un. [159c] On a tout dit quand on a dit : l’un et les autres choses.
— Assurément.
— Il n’existe donc rien autre où se trouvent à la fois l’un et les autres choses?
— Non.
— L’un et les autres choses ne sont donc jamais dans une même chose?
— Jamais.
— Ils sont donc séparés?
— Oui.
— Et nous sommes convenus que ce qui est véritablement un n’a pas de parties?
— Sans doute.
— Si donc l’un est en dehors des autres choses, et sans parties, il ne peut être dans les autres choses, ni tout entier, ni par parties. [159d]
— Soit.
— Les autres choses ne participent donc de l’un en aucune manière, puisqu’elles n’en participent ni dans ses parties ni dans son tout?
— Cela est clair.
— Les autres choses ne sont donc jamais rien [d]’un, et n’ont rien [d]’un en elles?
— Évidemment.
— Les autres choses ne sont donc pas plusieurs ; car si elles, étaient plusieurs, chacune [d]’elles serait une partie du tout. Or, les choses autres que l’un ne sont ni une, ni plusieurs, ni tout, ni parties, puisqu’elles ne participent aucunement de l’un.
— C’est juste.
— Elles ne sont donc elles-mêmes ni deux, ni trois, ni ne contiennent deux ou trois en elles, [159e] s’il n’y a en elles rien de l’un.
— Fort bien. Les choses autres que l’un ne sont ni semblables ni dissemblables elles-mêmes à l’un, et il n’y a en elles ni ressemblance ni dissemblance ; car si elles étaient elles-mêmes semblables et dissemblables et avaient en elles de la ressemblance et de la dissemblance, elles auraient en elles deux idées contraires l’une à l’autre.
— C’est évident.
— Or, il est impossible que ce qui ne participe de rien participe de deux choses.
— Impossible.
— Les autres choses ne sont donc ni semblables ni dissemblables, ni l’un ni l’autre à la fois ; [160a] car si elles étaient semblables ou dissemblables, elles participeraient [d]’une de ces idées contraires, et de toutes les deux, si elles étaient semblables et dissemblables à la fois ; or, [c]’est ce que nous avons trouvé impossible.
— II est vrai.
— Elles ne sont donc ni mêmes ni autres, ni en mouvement ni en repos ; elles ne naissent ni ne périssent ; elles ne sont ni plus grandes, ni plus petites, ni égales ; bref, elles n’ont aucune de ces qualités ; car, si elles en admettaient quelqu’une, elles participeraient de l’un, du double, du triple, de l’impair, du pair, [160b] ce que nous avons vu être impossible, dès qu’elles sont entièrement privées de l’un.
— Très vrai.
— Ainsi donc, si l’un existe, l’un est toutes choses, et il n’est plus un ni pour lui, ni pour les autres choses.
— Incontestablement.
Jowett
Yet once more and for the third time, let us consider: If the one is both one and many, as we have described, and is neither one nor many, and participates in time, must it not, in as far as it is one, at times partake of being, and in as far as it is not one, at times not partake of being?
Certainly.
But can it partake of being when not partaking of being, or not partake of being when partaking of being?
Impossible.
The one must therefore partake of being and not-being and assume and relinquish them at different times.
Then the one partakes and does not partake of being at different times, for that is the only way in which it can partake and not partake of the same.
True.
156And is there not also a time at which it assumes being and relinquishes being—for how can it have and not have the same thing unless it receives and also gives it up at some time?
Impossible.
And the assuming of being is what you would call becoming?
I should.
How does the change take place ?
And the relinquishing of being you would call destruction?
I should.
The one then, as would appear, becomes and is destroyed by taking and giving up being.
Certainly.
And being one and many and in process of becoming and being destroyed, when it becomes one it ceases to be many, and when many, it ceases to be one?
Certainly.
And as it becomes one and many, must it not inevitably experience separation and aggregation?
Inevitably.
And whenever it becomes like and unlike it must be assimilated and dissimilated?
Yes.
And when it becomes greater or less or equal it must grow or diminish or be equalized?
True.
And when being in motion it rests, and when being at rest it changes to motion, it can surely be in no time at all?
How can it?
But that a thing which is previously at rest should be afterwards in motion, or previously in motion and afterwards at rest, without experiencing change, is impossible.
Impossible.
And surely there cannot be a time in which a thing can be at once neither in motion nor at rest?
There cannot.
But neither can it change without changing.
True.
When then does it change; for it cannot change either when at rest, or when in motion, or when in time?
It cannot.
As the one is always partaking of one of two opposites, the transition takes place in a moment.
And does this strange thing in which it is at the time of changing really exist?
What thing?
Nature of the moment.
The moment. For the moment seems to imply a something out of which change takes place into either of two states; for the change is not from the state of rest as such, nor from the state of motion as such; but there is this curious nature which we call the moment lying between rest and motion, not being in any time; and into this and out of this what is in motion changes into rest, and what is at rest into motion.
So it appears.
And the one then, since it is at rest and also in motion, will change to either, for only in this way can it be in both. And in changing it changes in a moment, and when it is changing it will be in no time, and will not then be either in motion or at rest.
It will not.
And it will be in the same case in relation to the other 157changes, when it passes from being into cessation of being, or from not-being into becoming—then it passes between certain states of motion and rest, and neither is nor is not, nor becomes nor is destroyed.
Very true.
And on the same principle, in the passage from one to many and from many to one, the one is neither one nor many, neither separated nor aggregated; and in the passage from like to unlike, and from unlike to like, it is neither like nor unlike, neither in a state of assimilation nor of dissimilation; and in the passage from small to great and equal and back again, it will be neither small nor great, nor equal, nor in a state of increase, or diminution, or equalization.
True.
All these, then, are the affections of the one, if the one has being.
Of course.
The affections of the others, if the one is.
i. aa. But if one is, what will happen to the others—is not that also to be considered?
Yes.
Let us show then, if one is, what will be the affections of the others than the one.
Let us do so.
Things other than one are not the one, and yet they participate in the one; for the others are parts of a whole which is one.
Inasmuch as there are things other than the one, the others are not the one; for if they were they could not be other than the one.
Very true.
Nor are the others altogether without the one, but in a certain way they participate in the one.
In what way?
Because the others are other than the one inasmuch as they have parts; for if they had no parts they would be simply one.
Right.
And parts, as we affirm, have relation to a whole?
So we say.
And a whole must necessarily be one made up of many; and the parts will be parts of the one, for each of the parts is not a part of many, but of a whole.
How do you mean?
If anything were a part of many, being itself one of them, it will surely be a part of itself, which is impossible, and it will be a part of each one of the other parts, if of all; for if not a part of some one, it will be a part of all the others but this one, and thus will not be a part of each one; and if not a part of each one, it will not be a part of any one of the many; and not being a part of any one, it cannot be a part or anything else of all those things of none of which it is anything.
Clearly not.
Then the part is not a part of the many, nor of all, but is of a certain single form, which we call a whole, being one perfect unity framed out of all—of this the part will be a part.
Certainly.
Again, each part is not only a part but also a perfect whole in itself.
If, then, the others have parts, they will participate in the whole and in the one.
True.
Then the others than the one must be one perfect whole, having parts.
Certainly.
And the same argument holds of each part, for the part must participate in the one; for if each of the parts is a part, 158this means, I suppose, that it is one separate from the rest and self-related; otherwise it is not each.
True.
But when we speak of the part participating in the one, it must clearly be other than one; for if not, it would not merely have participated, but would have been one; whereas only the one itself can be one.
Very true.
The whole and the part are both one, and therefore they must participate in the one and be other than the one, and more than one and infinite in number.
Both the whole and the part must participate in the one; for the whole will be one whole, of which the parts will be parts; and each part will be one part of the whole which is the whole of the part.
True.
And will not the things which participate in the one, be other than it?
Of course.
And the things which are other than the one will be many; for if the things which are other than the one were neither one nor more than one, they would be nothing.
True.
But, seeing that the things which participate in the one as a part, and in the one as a whole, are more than one, must not those very things which participate in the one be infinite in number?
How so?
Let us look at the matter thus:—Is it not a fact that in partaking of the one they are not one, and do not partake of the one at the very time when they are partaking of it?
Clearly.
They do so then as multitudes in which the one is not present?
Very true.
And if we were to abstract from them in idea the very smallest fraction, must not that least fraction, if it does not partake of the one, be a multitude and not one?
It must.
The others unlimited and also limited in their nature,
And if we continue to look at the other side of their nature, regarded simply, and in itself, will not they, as far as we see them, be unlimited in number?
Certainly.
And yet, when each several part becomes a part, then the parts have a limit in relation to the whole and to each other, and the whole in relation to the parts.
Just so.
The result to the others than the one is that the union of themselves and the one appears to create a new element in them which gives to them limitation in relation to one another; whereas in their own nature they have no limit.
That is clear.
both as whole and parts.
Then the others than the one, both as whole and parts, are infinite, and also partake of limit.
Certainly.
Wherefore also they are like and unlike.
Then they are both like and unlike one another and themselves.
How is that?
Inasmuch as they are unlimited in their own nature, they are all affected in the same way.
True.
And inasmuch as they all partake of limit, they are all affected in the same way.
Of course.
But inasmuch as their state is both limited and unlimited, they are affected in opposite ways.
Yes.
159And opposites are the most unlike of things.
Certainly.
Considered, then, in regard to either one of their affections, they will be like themselves and one another; considered in reference to both of them together, most opposed and most unlike.
That appears to be true.
Then the others are both like and unlike themselves and one another?
True.
And they are the same and also different from one another, and in motion and at rest, and experience every sort of opposite affection, as may be proved without difficulty of them, since they have been shown to have experienced the affections aforesaid?
True.
A reversal of former conclusions.
i. bb. Suppose, now, that we leave the further discussion of these matters as evident, and consider again upon the hypothesis that the one is, whether the opposite of all this is or is not equally true of the others.
By all means.
Then let us begin again, and ask, If one is, what must be the affections of the others?
Let us ask that question.
Must not the one be distinct from the others, and the others from the one?
Why so?
Why, because there is nothing else beside them which is distinct from both of them; for the expression ‘one and the others’ includes all things.
Yes, all things.
One and the others are never in the same, for there is nothing outside them in which they can jointly partake, and therefore they must be always distinct.
Then we cannot suppose that there is anything different from them in which both the one and the others might exist?
There is nothing.
Then the one and the others are never in the same?
True.
Then they are separated from each other?
Yes.
And we surely cannot say that what is truly one has parts?
Impossible.
Then the one will not be in the others as a whole, nor as part, if it be separated from the others, and has no parts?
Impossible.
Then there is no way in which the others can partake of the one, if they do not partake either in whole or in part?
It would seem not.
Then there is no way in which the others are one, or have in themselves any unity?
There is not.
And the others being separated from the one cannot be either one or many.
Nor are the others many; for if they were many, each part of them would be a part of the whole; but now the others, not partaking in any way of the one, are neither one nor many, nor whole, nor part.
True.
Then the others neither are nor contain two or three, if entirely deprived of the one?
True.
Nor can they be opposites; for they cannot partake of two things if they cannot partake of one.
Then the others are neither like nor unlike the one, nor is likeness and unlikeness in them; for if they were like and unlike, or had in them likeness and unlikeness, they would have two natures in them opposite to one another.
That is clear.
But for that which partakes of nothing to partake of two things was held by us to be impossible?
Impossible.
The others without the one = o.
160Then the others are neither like nor unlike nor both, for if they were like or unlike they would partake of one of those two natures, which would be one thing, and if they were both they would partake of opposites which would be two things, and this has been shown to be impossible.
True.
Therefore they are neither the same, nor other, nor in motion, nor at rest, nor in a state of becoming, nor of being destroyed, nor greater, nor less, nor equal, nor have they experienced anything else of the sort; for, if they are capable of experiencing any such affection, they will participate in one and two and three, and odd and even, and in these, as has been proved, they do not participate, seeing that they are altogether and in every way devoid of the one.
The one is all things; but also nothing (141 E. 142).
Very true.
Therefore if one is, the one is all things, and also nothing, both in relation to itself and to other things.
Certainly.
ii. a. Well , and ought we not to consider next what will be the consequence if the one is not?
Yes; we ought.
If the one is not, what then?
What is the meaning of the hypothesis—If the one is not; is there any difference between this and the hypothesis—If the not one is not?
There is a difference, certainly.
Is there a difference only, or rather are not the two expressions—if the one is not, and if the not one is not, entirely opposed?
They are entirely opposed.
And suppose a person to say:—If greatness is not, if smallness is not, or anything of that sort, does he not mean, whenever he uses such an expression, that ‘what is not’ is other than other things?
To be sure.
What is the meaning of ‘the one which is not’?
And so when he says ‘If one is not’ he clearly means, that what ‘is not’ is other than all others; we know what he means—do we not?
Yes, we do.
It sometimes means other than or different from other things; and therefore has difference, etc.
When he says ‘one,’ he says something which is known; and secondly something which is other than all other things; it makes no difference whether he predicate of one being or not-being, for that which is said ‘not to be’ is known to be something all the same, and is distinguished from other things.
Certainly.