Roberto Pla
Evangelho de Tomé - Logion 15; Evangelho de Tomé - Logion 30; Evangelho de Tomé - Logion 38; Evangelho de Tomé - Logion 40; Evangelho de Tomé - Logion 47; Evangelho de Tomé - Logion 56
Paulo Apóstolo faz seu este ensinamento da vivificação da alma e o repete em várias ocasiões, inclusive quando dá aos coríntios sua definição sobre os dois "adãos" que foi tão mal entendida. O Apóstolo diz: "Foi feito o primeiro homem , Adão , alma vivente; o último Adão, espírito que dá vida".
Levados pela importância que para as teses da antropologia manifesta — a qual propunha um homem dicótomo, de alma e corpo — tinha que o primeiro homem, segundo a Escritura, não fosse o espírito feito à imagem de Deus no sexto dia [Gen 1,27], senão a alma plasmada pelas mãos de YHWH-Deus no Paraíso (Gen 2,7), poucos parecem ter reparado em que o essencial do texto paulino era a diferença que se aponta entre dar vida e ser vivente.
Quando se dá a vida é, em puro sentido neotestamentário, porque se tem a vida em propriedade, para sempre. Ao contrário, ter vida por vivificação credita uma maneira transitória de ser vivente que não exime de ser mortal , quer dizer, não libera de morrer quando a vivificação conclui.
Por outra parte, dado que o espírito se revela como o Ser real do Adão último, o Adão completo , se indica na definição paulina a glorificação da imortalidade que aguarda à consciência psíquica se se essencializa a si mesma, por virtude da fé no Cristo preexistente, no Espírito de Deus, até o ponto de união com ele, e alcançar assim seu verdadeiro e eterno Ser pneumático.
René Guénon
Nas doutrinas tradicionais, porém, uma teoria física (no sentido antigo dessa palavra ) jamais pode ser considerada como auto-suficiente. Ela é apenas um ponto de partida, um "suporte" que permite, por meio de correspondências analógicas, elevar-se ao conhecimento das ordens superiores; aí está, como se sabe, uma das diferenças essenciais entre o ponto de vista da ciência sagrada ou tradicional e o da ciência profana, tal como é concebida pelos modernos. Não é portanto apenas o éter , no sentido próprio da palavra, que reside no coração ; na medida em que o coração é o centro do ser humano considerado em sua integralidade, e não apenas em sua modalidade corporal, o que se encontra nesse centro é a "alma vivente" (Jivatma) que contém em princípio todas as possibilidades que se desenvolvem no curso da existência individual, da mesma forma que o éter contém em princípio todas as possibilidades da manifestação corporal ou sensível . É notável, sob o ângulo das concordâncias entre as tradições orientais e ocidentais, que Dante fale também do "espírito da vida que habita a mais secreta câmara do coração, [1] ou seja, precisamente a mesma "cavidade" de que se trata na doutrina hindu. E o que talvez seja o mais singular, é que a expressão por ele empregada a esse respeito, spirito della vita , é uma tradução literal, tão rigorosa quanto possível, do termo sânscrito Jivatma, do qual no entanto é muito pouco provável que tenha tomado conhecimento por uma via qualquer.
Isso não é tudo: o que diz respeito à "alma vivente" que reside no coração, refere-se apenas, ao menos diretamente, a um domínio intermediário , que constitui na verdade o que se pode chamar de ordem psíquica (no sentido original da palavra grega psyche) e não ultrapassa a consideração da individualidade humana como tal. Daí, portanto, é necessário elevar-se ainda a um sentido superior, ou seja, o sentido puramente espiritual ou metafísico; apenas devemos notar que a superposição desses três sentidos corresponde exatamente à hierarquia dos "três mundos". Assim, o que reside no coração, de um primeiro ponto de vista, é o elemento etéreo, mas não consiste apenas nisso; de um segundo ponto de vista, é a "alma vivente" e que também não se resume a isso, pois o coração representa essencialmente o ponto de contato do indivíduo com o universal , ou, em outros termos, do humano com o Divino , ponto de contato este que se identifica naturalmente com o próprio centro da individualidade. Por conseguinte, faz-se necessária aqui a intervenção de um terceiro ponto de vista, que se pode dizer "supra-individual", pois ao exprimir as relações do ser humano com o Princípio, ultrapassa por isso mesmo os limites da condição individual, e é desse ponto de vista que se diz por fim que o próprio Brahma reside no coração, ou seja, o Princípio divino do qual procede e depende inteiramente toda existência, e que, do interior , penetra, sustenta e ilumina todas as coisas. O éter, no mundo corporal, pode também ser considerado como o que tudo produz e tudo penetra; é por isso que os textos sagrados da Índia e seus comentários autorizados o apresentam como um símbolo de Brahma. [2] O que se designa como "o éter no coração", no sentido mais elevado, é portanto Brahma, e, por conseguinte, o "conhecimento do coração", quando alcança o seu grau mais profundo, identifica-se na verdade ao "conhecimento divino" (Brahma-vidya). [3]