Homem
O homem da Bíblia é carne -Espírito, mas a unidade "carne" — chamada a ressuscitar é corpo e alma tudo junto.
O homem bíblico é criado "alma viva"; deste fato a alma compreende o homem individual em sua integralidade; o verbo ter não tem sentido no tocante a alma, sendo o vivente humano denominado indiferentemente Nephesh (alma) ou Bschr (carne).
O Verbo divino não se fez "corpo" (soma) ou "alma" (psyche) mas "carne" (sarx), e não se fez hindu, chines ou grego, mas judeu .
Todo vivente é carne (alma e corpo) por recepção do "sopro de vida"; eis uma terceira noção: o Espírito ou o sopro. (E de toda a carne, em que havia espírito de vida, entraram de dois em dois para junto de Noé na arca. Gen 7:15)
de vida | sopro | em ele | este que | em carne | tudo |
Haim | Ruah | Bo | Ascher | Ba char | Mikol |
Assim a alma identificada ao homem vive e morre; não é imortal, o que não significa que não possa "se prolongar" de certa maneira até o juízo final, como veremos.
O Ruah divino nunca é dito “à morte”.
A alma bíblica experimenta paixões (pathos ) e preenche funções orgânicas:
- a alma ama, odeia, se apega, come e bebe, se agita e pode até possuir bens;
- a alma detém funções corporais, em revanche o corpo e seus órgãos desempenham papeis "psicológicos"; elas exultam, são cruéis, como os rins que "advertem" e "exultam" também, em lugar da alma!...
O elemento “sobrenatural” do homem bíblico que resta é o “Ruah”, “Rouach”, traduzido por Espírito na tradução dos Setenta (Pneuma divino). O Nabi (profeta é um Ish ha Ruah (Oseias IX,7). Pelo pneuma pode o homem passar da ordem individual à ordem principial ou universal ; o homem essencial é assim um homem de passagem (Páscoa = Pessah). O Pneuma se torna o signo conjuntivo, o "Vav", do homem a Deus .
Distinção entre a "manifestação" e seu "Princípio divino", o homem (carne-alma) e Deus (conhecido pelo Espírito); este Ruah é o fator de deiformidade tornado possível pela “encarnação” da Palavra "concebida pelo Espírito Santo e nascida carnalmente da Virgem de Israel ", e pela Ressurreição dos mortos do Crucificado, ulteriormente "subido aos céus", etc. Todos os termos aqui são confirmação da doutrina . “Vós sois todos Deuses”, dirá a Escritura. Esta divisão se estabelece assim entre dois triângulos simbólicos: o de baixo, identificado à natureza humana, o do alto, identificado à natureza divina. Triângulos separados pelo ramo horizontal da cruz mas unidos pelo ramo vertical da cruz, o “Vav” hebraico de copulação espiritual. Eis o escudo de Davi e a “dupla natureza” do Cristo Jesus [1].
O Ruah no homem é participação no Espírito de Deus; esta presença no homem do Espírito de Deus é possível pela existência do Ruah no homem: "Se ... lhe retiras o sopro (Neshama ) e seu espírito (Ruah)... o homem retorna ao pó" (Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras o fôlego , morrem, e voltam para o seu pó. Sal 104:29).
Donde o aviso no Eclesiastes: “E o pó volte à terra , como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” (Ecle 12:7)
Mais uma vez: nenhuma imortalidade da alma nisso!
Deus é chamado "Deus dos espíritos de toda carne" (Mas eles se prostraram sobre os seus rostos, e disseram: O Deus, Deus dos espíritos de toda a carne, pecará um só homem, e indignar-te-ás tu contra toda esta congregação? Num 16:22)
O Espírito ou Ruah Hayyim é também qualificado de "Espírito de Vida" e jamais de "Espírito vivente", logo mortal. A alma ou "Nephesh Hayya" é também qualificada de "Alma vivente " e jamais de "Alma de vida", logo imortal.
Vê-se que em termos bíblicos se encontra uma constante metafísica que as doutrinas orientais põem em evidência.
A alma é o "eu biológico" que só pode "viver " com o corpo “pela transformação da corrupção em incorruptibilidade” (“E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus , nem a corrupção herdar a incorrupção.” 1Co 15:50)
- Esta "trans-formação" (passagem além da forma) é uma exigência do Espírito, Ruah, pois "o que nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito é Espírito" (O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. Jo 3:6-7)
A referência ao judaísmo para compreensão da mensagem evangélica é necessária especialmente quanto aos fundamentos da estrutura do homem: a carne é "alma vivente ", corpo e alma, e sem confusão entre "carne" e "Espírito", logo entre a ordem psicossomática e a ordem espiritual.
Individualidade humana
Do exterior para o interior, o homem é constituído por:
- o corpo — "gouf";
- a alma vital e mortal — "nephesh";
- o Espírito de Deus — Ruah, "vento ", "contendo" em si em estado principial, o mental do ego (a participação ao Si mantém o "eu" na consciência humana e lhe confere sua realidade e em certo sentido sua "eternidade ".
A partir do Ruah desenvolvem-se três possibilidades próprias da individualidade humana, mas não "despertas" em todos — dependendo do "chamado" do Caminho , do desejo de "Conhecimento", da influência dos "ritos", da compreensão dos "símbolos" e da atração do "sagrado ".
Estas possibilidades são também, denominadas “Almas”:
- Neshamah, alma divina ou sopro sagrado espiritual
- Yehida, fina ponta celeste da precedente
- Haya, Princípio Supremo de Vida animando a precedente, a "capaz de vida eterna"
Alguns autores veem por outro lado a Nephesh (alma vital e mortal), a Ruah (alma “mental” do ego), a Neshamah (alma sagrada espiritual) e a Hayah (a alma capaz de vida eterna), como contidas no estado principial na Yehida, “a alma única e quintessencial”. Daí decorre a denominação global de alma, enquanto distinção de corpo ou “gouf”, que pode levar à confusão.
Levando-se em conta outras considerações poderia se entrever na unidade do estado humano uma “participação” em diferentes zonas do estado individual humano total segundo a decomposição:
- o gouf (corpo grosseiro), comum aos minerais, vegetais, animais e homens;
- Nephesh (alma vital e mortal, corpo anímico sensitivo), comum aos vegetais, animais e homens;
- Ruah (alma "mental" do ego, princípio do ego vindo de Deus), comum aos animais e homens;
- Neshamah (alma sagrada espiritual), Haya (alma capaz de vida eterna), contidas em estado principial na Yehida (alma única e quintessencial); próprias apenas aos homens.
A divisão clássica da alma humana na tradição judaica é a seguinte:
- a alma corporal (terra celeste original denominada Nephesh)
- a alma mental (a água suscetível de perturbar e denominada Ruah)
- a alma espiritual (aérea, ponta fina da individualidade psicossomática e sopro divino — o espírito na descrição paulina, denominado Neshamah)
- a alma de vida eterna (luz e fogo divino, denominado Hayah, a vivente)
- a alma de unidade (Éter ou quintessência dos quatro elementos anímicos precedentes, na qual elas se concentram harmoniosamente na origem, e denominada Yehidah); ela contém primordialmente as outras alma.
A atribuição de Ruah aos animais é contestada pelos doutores, os integristas negam que o animal possa ser dotado de uma “alma”, sem poder precisar a princípio de que alma se trata posto que eles só conhecem uma modalidade.
O homem se encontra assim posto no “centro ” do estado individual humano do qual recapitula e detém todas as possibilidades, de tal forma que “todas as ‘existências’ deste estado se juntam no homem” para reencontrar o “criador” divino. Se verificam assim duas afirmações: aquela relativa à unidade do “macrocosmo”, o universo do estado humano, e do “microcosmo”, o pequeno universo que é o homem individual e aquela concernente à “salvação do mundo” que “passa pelo homem” — a “redenção universal” como escrever ão alguns teólogos.
Também se poderia estabelecer uma espécie de correspondência simbólica entre os modo de “descida” dos mundos no Zohar , e as “camadas” enroladas depois desenroladas das formas do “ser” denominadas a constituir “a individualidade humana” grosseira:
Mundos (Olamim) | Natureza | Nível de ser | Constituição do homem | Gênesis |
sephiroth Olam ha Azilut (Kether -Hokhmah ) | Emanação em princípio de ser | O ser não criado em si (ageneton) | Yehida Hayah Neshamah | Be... |
sephiroth Olam ha Beriah (Hokhmah-Binah -Tiphereth ) | Pensamento gerador prototípico | Determinação do Si no ego-spiritus | Ruah | Reschit |
sephiroth Olam ha Yezirah (Hesed -Geburah-Tiphereth) | Forma-modalidade sutil | Anima | Nephesh | Bara |
sephiroth Olam ha Asiyah (Tiphereth-Netsah -Hod-Yesod-Malkut | Fazer sensorial e grosseiro | a ação | Corpus — Gouf (estado individual humano na sua modalidade corporal) | ...Va Yomer |
Alma
De fato a mística judaica é complexa e as estruturas interiores da “alma” foram em grande parte perdida no cristianismo, especialmente as sutilezas de tudo aquilo que não é corpo elementar “grosseiro”, que recebia o nome de “alma”. Mesmo o judaísmo teve perdas nesta descrição analítica se comparada a doutrina rabínica oficial e os comentários dos “Mekoubalim”.
Segundo alguns, é a alma mortal Nephesh, “funcional”, que, situada em baixo e separada de Neschamah pelo sopro divino, é pecadora. Neschamah “mais ou menos desenvolvida” preexistiria à vida individual e seria impecável por natureza. Sutilidades que conduzem grosseiramente a reduzir o homem a uma parte mortal e uma parte imortal?
Se reterá a definição judaica que contempla três forças que habitam o que se chama “alma” do homem:
- Nephesh: aderente ao corpo, instrumento sensorial, princípio de sensação e de movimento
- Ruah: de origem divina
- Neschamah: percepção espiritual, abertura à apreensão espiritual, receptividade à luz.
As perspectivas às quais se faz alusão se referem às modalidades da Revelação divina e de suas teofanias assim como ao devir póstumo dos participantes destas Tradições. Com efeito tudo está centrado aqui sobre a “Vida”. Por seu lado a Vida está ligada ao sangue e ao elemento Ígneo. A mais fina ponta da alma, aquela que corresponde ao Éter quintessencial e que é a Unitiva Yehida, é seguido pela Alma Haya, a Vivente, simbolizada pelo elemento Ígneo.
- A Vida: é a saudação que se dá nos “saúde!”” quando das refeições (o Haïm!); os votos de Rosch ha Schannah, ano novo judaico, são aqueles da inscrição do Nome no Livro de Vida.
- O Deus Vivente: O Deus de Israel é um Deus Vivente. Mas também o Deus da Nova Aliança como testemunham os Evangelhos e particularmente Mateus : “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos.” (Mt 22,32)
- A Vida Eterna: que diz “Deus Vivente”, diz “Vida Eterna”, expressão que reaparece ao longo do Novo Testamento mas decorre do Antigo. Encontra-se principalmente no Evangelho de João.
- Os componentes anímicos do Homem vivente, estão ligados como elos em uma corrente que se prendem uns aos outros; uma estrutura concêntrica, como “peles de cebola” é característica do pensamento místico judaico.
Segundo Maurice Grinberg em sua «Introdução ao Zohar», esta seria a fórmula chave desta estrutura som ática em “peles de cebola”, que transpassa a cosmologia judaica:
- Ehad (uno)
- Be — Ehad (no uno)
- Ke — Gladi (como pele)
- Be — Tselim (de cebolas)
Betsel, Batsal: é o bulbo, a cebola, lírio dos vales no Cântico dos Cânticos (Betseleth: rosa , narciso ). Quando se diz no Gênesis que o homem foi criado à imagem de Deus, este termo imagem (Tsalem), tem sua raiz Tsel como evocadora de sombra, marca , película, o negativo impresso, a imagem, etc...