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Icons and the Mystical Origins of Christianity

Richard Temple (Icons:104-107) – Cosmas Indicopleustes

11. Cosmas Indicopleustes e o Diagrama do Universo

domingo 9 de outubro de 2022, por Cardoso de Castro

      

É da “Topografia Cristã” que um número de temas tradicionais cristãos aparece pela primeira vez como ilustrações. Vemos que um número de cenas familiares em iconografia originam de Cosmas Indicopleustes. É também através dela que a visão neoplatônica do universo   foi lançada em esquemas e diagramas que serviram como veículos para representar “eventos” tais como o “Juízo Final” ou a “Ascensão de Elias  ”.

      

Vimos que a Doutrina dos Graus e da Cadeia do Ser dos gnósticos se tornaram, no Raio   Divino de Dionísio o Areopagita, a fundação do pensamento   cosmológico cristão.

Tentaremos ver agora como estas ideias, que demonstram onde no universo   é o Lugar do homem  , ganharam forma diagramática e passaram para o simbolismo pictórico na Iconografia cristã.

Preservada no Vaticano está uma cópia do século VII século de um manuscrito do século VI chamado “Topografia Cristã”. É o trabalho   de um escolástico alexandrino Cosmas Indicopleustes e demonstra a combinação de erudição helenística e teologia cristã alexandrina. A obra nos mostra como o plano do universo platônico e neoplatônico foram introduzidos no cânon da imagística cristã. Isto é ilustrado na obra de pintores cujas imagens acompanham o texto sobre os Dias da Criação em dois   antigos Saltérios bizantinos, o Octateuco Vaticano n. 746 e o Octateuco Vaticano n. 747 reproduzidos pelo escolástico russo D. V. Ainilov.

Vimos que de acordo com a tradição transmitida por Plotino   o universo inteiro pode ser definido como uma oitava ou escada   de oito degraus conectando Deus  , ou Ser Absoluto, com Escuridão Exterior ou nível do Absoluto Não-Ser. Este plano pode ser observada em dois manuscritos ilustrando a Criação.

Na aplicação do pensamento cosmológico neoplatônico ao mito   do Gênesis alguma alteração de detalhe ocorreu, notadamente na nomenclatura que define os diferentes graus que dividem o mais alto do mais baixo. Por exemplo, o “Absoluto Não-Ser” de Plotino se tornou o “Reino da Escuridão”; a “Matéria” se tornou a “Terra  ”; o “Universo Inteligível” e os “Celestiais” são agora   o “Firmamento” e o “Absoluto” é agora graficamente representado como a mão de Deus. O princípio da emanação   ou radiação, que é fundamental tanto em Plotino como Dionísio o Areopagita, é ilustrado aqui na forma de raios reais emitidos por Deus. Teologicamente, estes eram compreendidos pelos filósofos cristãos como representando as “energias” de Deus.

Da maneira alexandrina, Cosmas ofereceu uma ilustração do Primeiro Dia que corresponde tanto aos primeiros oito versos do Livro do Gênesis e à Doutrina   dos Graus neoplatônica. Veremos mais tarde que esta combinação entrou na linguagem dos ícones onde sua forma permanece, mesmo se o significado nem sempre fosse lembrado.

É da “Topografia Cristã” que um número   de temas tradicionais cristãos aparece pela primeira vez como ilustrações. Vemos que um número de cenas familiares em iconografia originam de Cosmas Indicopleustes. É também através dela que a visão neoplatônica do universo foi lançada em esquemas e diagramas que serviram como veículos para representar “eventos” tais como o “Juízo Final” ou a “Ascensão de Elias  ”.

É de Cosmas que vemos como, em ícones, os personagens e os eventos são todos apresentados como tendo lugar dentro de uma arma  ção e não de algo terrestre.

Mas aparte Ainilov, Cosmas recebeu pouca consideração   dos historiadores modernos e é geralmente visto como obscuro  ; talvez porque seu diagrama do universo, que ele mostra como uma caixa oblonga com uma tampa arqueada parece, à primeira vista, ser absurdamente ingênua. Realmente, este diagrama mostra que Cosmas, apesar de talvez não estar consciente disto, trabalhou dentro da tradição dos antigos. O caso foi posto por Giorgio de Santillana   e Hertha von Dechend, que os sábios da antiguidade   remota conheciam a Precessão dos Equinócios (pelo qual o eixo   da terra se desloca como um pilar oscilante em períodos   de 2.600 anos) e que eles entenderam que a medição real do mundo deve ser feita de acordo com as associações cósmicas das quatro estações.

De Santillana e von Dechend mostraram isso em seu notável livro Hamlet’s Mill, do qual o seguinte é citado.

Na faixa zodiacal, há quatro pontos essenciais que dominam as quatro estações do ano. Eles são, de fato, na liturgia da igreja   os quattuor tempora marcados com abstinências especiais. Correspondem aos dois solstícios e aos dois equinócios. O solstício é a "volta" do sol no ponto mais baixo do inverno e no ponto mais alto do verão. Os dois equinócios, vernal e outonal, são os que cortam o ano pela metade, com igual equilíbrio de noite e dia, pois são as duas interseções do equador com a eclíptica. Esses quatro pontos juntos compunham os quatro pilares, ou cantos, do que foi chamado de terra "quadrangular".

Os autores desta obra (que deve ser vista como uma contribuição ímpar em nossos tempos para a teoria   da Filosofia Perene mostram que os antigos compreendia a “terra” como quadrangular porque o plano ideal passando através dos quatro pontos do ano, os equinócios e os solstícios, é medido pelas quatro correspondentes constelações que regram seus quatro “cantos”. Mas isto não significa que pensavam (como Cosmas) que a terra era quadrada ou plana: “a geografia em nosso sentido nunca teve sentido para eles, mas uma cosmografia do tipo daquela necessária mesmo agora para navegadores. Ptolomeu, o grande geógrafo da antiguidade, não pensava nada diferente disto, Sua “Geografia” é um conjunto   de coordenadas traçadas dos céus”.

O conhecimento de Cosmas era incompleto, como visto em seus escritos onde justifica sua crença que a terra era plana, e inferior   àquele dos antigos cujos conceitos ele apesar de tudo perpetuava em seus desenhos esquemáticos e diagramas. Assim as imagens que deveriam formar a fundação da Iconografia para os próximos mil anos estavam “corretas” mesmo quando o pensamento que as justificava estava errado. O pensamento científico de hoje em dia, incapaz de apreender as realidade cósmicas e espirituais do mundo, dispensaria tanto só diagramas como o pensamento.


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