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Os Mestres do Tao

Normand – os cinco elementos

sexta-feira 2 de setembro de 2022, por Cardoso de Castro

      

Situando os Cinco   Soberanos no tempo, esse preâmbulo demonstra que a ancestralidade não depende de uma gênese propriamente dita, mas de uma lógica inerente ao pensamento   chinês, uma quase representação sistemática da Natureza.

      

Situando os Cinco   Soberanos no tempo, esse preâmbulo demonstra que a ancestralidade não depende de uma gênese propriamente dita, mas de uma lógica inerente ao pensamento   chinês, uma quase representação sistemática da Natureza. O Universo  , o tempo, o espaço, o corpo humano, em suma, tudo o que pode ser imaginado é tributário dos elementos  , que, seguindo o trajeto do Sol, são os seguintes:

Quadro das Correspondências com os Cinco Elementos

Universo/ElementosMadeira  Fogo  Terra  MetalÁgua
Pontos cardeais   Leste Sul Centro   Oeste Norte
Emblemas Estrelas Sol Terra Casas Lua  
Estações Primavera Verão   Outono Inverno
Elaborações Embelezamento Exuberância Abundância Retração Severidade
Climas Vento   Calor Umidade Seca Frio
Funções Reaquecer Aquecer Conciliar Refrescar Gelar
Intempéries Tempestade Incêndio Inundação Secura Granizo
Alterações Tormenta Fogueira Fluxo Rigor   Gelo
Ações Abrandar Crescer Fartar Amadurecer Endurecer
Gênios dos Pontos Cardeais Keou-mang Tchou-jong Heou-t’ou Jou-Cheou Hiuan ming
Soberanos Fou-hi Chen-nong Houang-ti Chao-hao Tchouan-hiu
Números 8 7 5 9 6
Homem  /Vísceras(quatro correspondências) Fígado Baço Fígado Coração   Coração Pulmões Pulmões Baço Baço Coração Coração Pulmões Pulmões Fígado Bílis Rins Rins Rins Rins Fígado
Fisiologia Músculos Sangue   Carne   Epiderme Ossos e Medula
Atividades Humanas Visão Fala Vontade Audição Gesto
Estados Sabedoria   Ordem   Santidade   Entendimento Gravidade  
Sabores Ácido Amargo Doce Azedo Salgado
Cores Verde Vermelho Amarelo Branco Preto
Reações Comprimir Agitar-se Arrotar Tossir Tremer
Odores Rançoso Queimado Perfumado de carne crua de podridão
Humores Chamar Rir Cantar Lamentar-se Gemer
Notas Kio Tche Kong Chang Yu
Sentidos Olhos Língua Boca Nariz Orelhas
Sentimentos Cólera Alegria   Reflexão, Vontade Melancolia, Tristeza   Temor
Paixões Alegria Prazer   Pena   Cólera
Ações Distribuir Esclarecer Acalmar Estimular Imobilizar
Virtudes Conciliação Exuberância Impregnação Integridade Frio
Virtudes Bondade Espírito ritual Santidade, Boa Intenção Equidade Sabedoria, Sapiência
Animais   Peludos Emplumados Nus Encouraçados Providos de Escamas
Animais Escamas Penas De pele nua Com pelos Revestimentos Sólidos
Animais domésticos Carneiro Frango Boi Cão Porco
Vegetais Trigo   Feijão Painço branco Sementes Oleaginosas Painço amarelo
Partes da casa   Porta   interna Sala de espera Implúvio Grande porta Alameda (ou poços)

Esse quadro só foi apresentado a título indicativo, pois não é possível separar o jogo   dos elementos do contexto que os situa em um plano determinado. Por exemplo, o capítulo XIX do Nei jing su wen indica que a ’cólera’ age em detrimento do ’fígado’, a ’alegria’, em detrimento do ’coração’, a ’melancolia’, em detrimento dos ’pulmões’, a ’reflexão’, em detrimento do ’baço’ e o ’temor’, em detrimento dos ’rins’. Da mesma forma, os gostos se destroem entre si segundo um sistema de associação: o que é azedo combate   o ácido, o ácido combate o doce, o doce combate o salgado, o salgado combate o amargo e o amargo combate o que é azedo. Esse sistema pode ser apresentado de forma esquemática:

Mas a função dos gostos ultrapassa essa questão. O que é azedo fere a epiderme, o ácido fere os músculos, o doce fere o baço, o salgado prejudica o sangue e o amargo, o K’i (respiração).

Na realidade, cada correspondência deve ser estudada de maneira atenta e as contradições aparentes precisam ser elucidadas, a fim de que se compreenda o seu mecanismo interno. Percebemos, por exemplo, que os animais dotados de penas são enquadrados na categoria do elemento fogo. Sabendo que o ar não existe no contexto chinês, torna-se necessário, por conseguinte, situarmo-nos nesse ponto de vista. Mas, se o pássaro de fogo se aproxima da fénix, é possível, neste caso, conceber o pássaro em relação com o elemento água, em seguida, com o elemento terra, e assim por diante. Cada aspecto assume então um   valor   complementar. Por último, estando a virtude em concordância com a própria Natureza, esta continua a ser a pedra   de toque de maior validade: o Sol   se levanta a leste, assim como a primavera desperta os rebentos adormecidos pelo inverno.

— a leste ... a madeira,

— ao sul ... o fogo,

— a oeste ... o metal,

— ao norte ... a água,

— no centro ... a terra.

Não se deve confundir esses elementos com os de outras tradições representadas pelo fogo, pela terra, pelo ar e pela água! Como o éter   central não é composto, não pode constituir um elemento; ele é, ao mesmo tempo, centro intangível de coesão e meio ambiente. Portanto, a China impôs aos elementos uma modificação que lhe é característica: o ar é substituído pela madeira, e o éter, pelo metal — dois   aspectos que dependem do domínio do céu. Evidentemente, a descrição ’elementar’ chinesa se dirige apenas para a manifestação terrestre e, para acentuar esse ponto, a terra (o Imperador Amarelo Houang-ti) se encontra situada no centro. Tal fato subentende que o céu tem, por sua vez, elementos que marcam o tríplice tempo — passado  , presente e futuro —, apresentando, além disso, a sua unidade simbolizada pela água.

Por conseguinte, só é possível interpretar os textos chineses através da consideração   dos dois métodos de leitura (Céu e Terra), assim como através da sobreposição desses dois métodos, já que são indissociáveis; a relação entre eles é constituída pelo tempo e pelo espaço. A descrição tardia dos cinco elementos chineses, mais particularmente desenvolvida nos séculos IV e III a.C, permite pressupor a existência de uma influência anterior   — provavelmente vinda da Índia —, o que parece confirmar a presença de elementos comuns (como o fogo, a terra e a água) que não sofreram nenhuma variação em sua denominação. No tratado de acupuntura   Nei jing su wen, colocado sob a égide de Houang-ti, certas passagens só se tornam compreensíveis através do jogo dos elementos metafísicos, tais como são utilizados na Índia.

Por seu grafismo, o ideograma primitivo Tchin (o metal) conserva o simbolismo do éter, guardando a pureza   original do princípio dos elementos. Ele é constituído por três níveis horizontais unidos por uma linha vertical, abrindo, dessa forma, quatro setores; cada um desses setores é ilustrado por um ponto e o conjunto   é recoberto por um ’telhado’ da casa. Assim sendo, o metal resume todo o jogo dos elementos; quanto ao quinto ponto, está fundido, invisível no centro do símbolo, refletindo com clareza   o éter ao qual substituiu. Os três níveis, a exemplo dos Três Augustos, marcam a tríade Céu-Homem-Terra, sobre a qual se aplicam os quatro elementos. Os oito trigramas   de Fou-hi — assim como os do rei Wen — põem em prática o jogo dos três níveis e dos quatro elementos, desenvolvendo uma infinidade de combinações que podem ser reencontradas no I Ching   (O livro das mutações).

No sistema chinês, a terra pode ser fonte de confusões. Para o bom entendimento dos textos, é necessário distinguir   o elemento situado no centro do conceito quaternário oposto ao céu, sendo este último composto de todos os elementos ao mesmo tempo, como vimos na descrição do ’altar do Sol’. Somente o contexto permite que se distingam as duas funções que eventualmente se fundem, fusão essa que dificulta a abordagem.

Como os elementos constituem os princípios reveladores, os Soberanos, no uso de suas funções, não são heróis épicos ou deuses, mas sábios que — dotados de tantas qualidades que mantêm correspondência com o número   cinco — asseguram a felicidade   do povo. Contudo, cada Soberano (ou elemento) se encontra ligado aos outros à medida que exerce uma prevalência sobre o seu sucessor imediato e à medida que se sujeita a uma dominação de seu predecessor — a exemplo da madeira que queima em contato com o fogo, fogo que toma rubro o metal, que é temperado na água, que nutre a terra, sobre a qual se desenvolve a madeira, etc. Trata-se, na verdade, de uma abordagem alquímica que, no decorrer dos séculos, assumiu uma importância crescente. Esse modo de pensamento quinário, físico e fundamentado na metafísica, devia inevitavelmente desembocar em ciências materiais: metais, porcelanas, cores, música, governo, estratégia e muitas outras.

Por conseguinte, não se trata, para os chineses, de seus ancestrais históricos, mas dos ’ancestrais, os elementos’. Consequentemente, se está desprovida da noção simbólica, a tradição chinesa é inteiramente hermética; a veracidade e o bom-senso  , segundo o procedimento antigo da metáfora, devem ser procurados atrás do enunciado.

Diz-se a propósito de Yu, o fundador da Dinastia dos Hia:

’Sua voz era o padrão dos sons e seu corpo, o padrão das medidas de comprimento. Ele dispunha de modo perfeito os seis domínios da Natureza. Ele percorreu os quatro pontos cardeais, a fim de assinalar os limites do mundo e da China.’

Narrações como essa recorrem necessariamente à imagem, outra particularidade do caráter chinês.


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