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Studies in Words

C. S. Lewis (Words) – Natureza

Nature

terça-feira 25 de outubro de 2022, por Cardoso de Castro

      

A palavra "natureza", que emprego porque não há outra em francês (ou português), é imprópria, sendo derivada do latim "natus", nascido, enquanto que o que caracteriza a "natureza" do homem  , segundo a "Bíblia das Origens", é justamente de não ser nascido  .

A "natureza" que será questão constantemente neste livro de Nothomb   nada tem a ver com "o estado   de natureza" dos filósofos. [Paul Nothomb, em Túnicas de Cego  ]

      

C.S. Lewis   (1960), professor de inglês medieval e renascentista na Universidade de Cambridge, percorre em um de seus livros menos conhecido, o labirinto de sentidos e usos de algumas palavras inglesas, reencontrando suas genealogias e seus ancestrais — vocábulos gregos, latinos e ingleses em seus sentidos originais.

Dentre essas palavras, o termo natureza (ing. nature) é dos mais analisados, tendo como origem de seus significados os vocábulos: natura   (latim), kind (inglês) e physis (grego) [1]. Por sua vez, natura e kind guardam uma raiz comum, que se reflete no termo natureza com o significado de: espécie, qualidade   e característica. Já, do vocábulo grego physis, descende um outro conjunto   de significados para o termo natureza, dividido em dois   ramos principais: um, na linha de habitar  , viver  , morar, estar em um lugar ou em uma condição; outro, na de crescer, tornar-se, devir, “vir-a-ser”.

A natureza, neste sentido de geração (que guarda o próprio verbo physein), representa em conjunto com os demais significados, uma conexão íntima entre as noções de totalidade, essencialidade e nascimento. Deste modo, o termo natureza, “na sua acepção mais geral indica o conjunto das coisas que existem, referindo-se particularmente, mais do que a uma configuração determinada, objetiva (neste caso a designação mais exata é a de mundo), aos seus princípios constitutivos essenciais; todas as coisas quando nascem, realizam-se sempre segundo uma característica própria e imanente.” [Micheli, 1990].

Os filósofos gregos, anteriores a Sócrates, considerados como os primeiros a romper, por meio da própria Razão, com o domínio dos mitos sobre o pensamento  , instituindo uma filosofia natural ou da natureza, empregavam este termo em uma acepção associada à ideia de totalidade conhecida ou acreditada; tornando esta coleção heterogênea e amorfa, constituída por todas as coisas, em um objeto ou pseudo-objeto, referenciado no próprio título de algumas de suas obras, por exemplo: Sobre a Natureza de Parmênides e A Natureza das coisas que são de Empédocles.

Este sentido, que C.S. Lewis considera perigoso, por se referir a tudo e portanto a nada em particular, sofreu após uma ou duas gerações de filósofos gregos, uma primeira redução importante, ao se afirmar a existência de algo mais, além da natureza. Este movimento   determinou e delimitou doravante o domínio e o campo   de ideias e significados do termo natureza, com base em duas linhas de pensamento, gêmeas em sua origem: a platônica e a aristotélica.

Na platônica, a natureza enquanto aparência, é um produto, uma cópia das Ideias, por intermediação dos Números, das matemáticas. Esta visão integrada guardava as ideias de totalidade, essencialidade e nascimento (geração), dentro de um único corpo filosófico; delimitando, sem, no entanto, compartimentalizar na teoria  , o domínio a que se refere o termo natureza.

Na linha de pensamento aristotélica, a natureza é definida como aquilo que contém em si mesmo   o princípio do movimento: “o estudo da natureza se refere ao movimento” (De Caelo IV) [apud Granger, 1976]. A filosofia é dividida segundo seu objeto teórico, em metafísica, matemática e física: “Porque a física trata de objetos concretos mas não imóveis; pelas matemáticas são tratados os objetos imóveis, e sem dúvida, não concretos, mas existentes na matéria; a filosofia primeira (a metafísica) trata de objetos ao mesmo tempo concretos e imóveis.” (Metaphysica, livro E) [apud Granger, 1976].

Em retrospectiva, constatamos que os pré-socráticos, enquanto filósofos da natureza, a tomaram como base original para o nascimento da Razão ocidental, dando o primeiro passo decisivo na passagem da visão mítica à concepção racional do mundo, e elaborando o conceito de natureza (physis) como princípio intrínseco do ser e do devir de todas as coisas não só animadas como inanimadas. Na evolução deste conceito até Aristóteles, a natureza concebida como força (dynamis  ), uma capacidade operativa (energeia  ), tem seu domínio delimitado pela manifestação, união   da matéria (hyle  ) e da forma (eidos  ) [Selvaggi, 1988].


Ver online : C. S. Lewis


[1NT: Excertos de "Les Notions philosophiques". PUF, 1990.

Do latim Natura (nascor: nascer, ter sua origem), o termo Natureza pode designar:

  • a totalidade
    • daquilo que tem em si seu princípio de desenvolvimento
    • este todo enquanto ordenado (Natureza em geral)
    • enquanto se deixa conhecimento - conhecer (as "leis" da Natureza)
  • Aquilo que faz que uma coisa seja aquilo que ela é (essência).

Enfim Natureza e natural são opostos àquilo que é História e Cultura.