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O MASNAVI

Rumi (M:Prólogo) – Escuta a flauta...

Proêmio

segunda-feira 19 de setembro de 2022, por Cardoso de Castro

      
Escuta a flauta de bambu, como se queixa,
Lamentando seu desterro:
"Desde que me separaram de minha raiz,
Minhas notas queixosas arrancam lágrimas de homens e mulheres.
Meu peito se rompe, lutando para libertar meus suspiros,
E expressar os acessos de saudade de meu lugar.
Aquele que mora longe de sua casa  
Está sempre ansiando pelo dia em que há de voltar.
      

português

Escuta a flauta de bambu, como se queixa,
Lamentando seu desterro:
"Desde que me separaram de minha raiz,
Minhas notas queixosas arrancam lágrimas de homens e mulheres.
Meu peito se rompe, lutando para libertar meus suspiros,
E expressar os acessos de saudade de meu lugar.
Aquele que mora longe de sua casa  
Está sempre ansiando pelo dia em que há de voltar.
Ouve-se meu lamento por toda a gente,
Em harmonia   com os que se alegram e os que choram.
Cada um interpreta minhas notas de acordo com seus sentimentos,
Mas ninguém penetra os segredos de meu coração  .
Meus segredos não destoam de minhas notas queixosas,
E, no entanto não se manifestam ao olho e ao ouvido sensual.
Nenhum véu esconde o corpo da alma  , nem a alma do corpo,
E, no entanto homem   algum jamais viu uma alma”
O lamento da flauta é fogo  , e não puro ar.
Que aquele que carece desse fogo seja tido como morto!
É o fogo do amor que inspira a flauta,
E o amor que fermenta o vinho  .
A flauta é confidente dos amantes infelizes;
Sim, sua melodia   desnuda meus segredos mais íntimos.
Quem viu veneno e antídoto como a flauta?
Quem viu consolador gentil como a flauta?
A flauta conta a história do caminho  , manchado de sangue  , do amor,
Conta a história das penas de amor de Majnun.
Ninguém sabe desses sentimentos senão aquele que está louco,
Como um ouvido que se inclina aos sussurros da língua.
De pena  , meus dias são trabalho e dor  ,
Meus dias passam de mãos dadas com a angústia.
E, no entanto, se meus dias se esvaem assim, não importa,
Faz tua vontade, ó Puro Incomparável!
Mas quem não é peixe   logo se cansa da água;
E àqueles a quem falta o pão de cada dia, o dia parece muito longo;
Assim o "Verde" não compreende o estado   do "Maduro";
Portanto cabe a mim   abreviar meu discurso.
Levanta-te, ó filho  ! Rompe tuas cadeias e se livre!
Quanto tempo serás cativo da prata e do ouro?
Embora despejes o oceano em teu cântaro,
Este não pode conter mais que a provisão de um dia.
O cântaro do desejo do avidez   - ávido nunca se enche,
A ostra não se enche de pérolas até a saciedade;
Somente aquele cuja veste   foi rasgada pela violência do amor
Está inteiramente puro, livre de avidez e de pecado.
A ti entoamos louvores, ó Amor, doce loucura!
Tu que curas todas as nossas enfermidades!
Que és médico de nosso orgulho   e presunção!
Tu que és nosso Platão e nosso Galeno!
O amor eleva aos céus nossos corpos terrenos,
E faz até os montes dançarem de alegria  !
Ó amante, foi o amor que deu vida ao Monte Sinai,
Quando "o monte estremeceu e Moisés perdeu os sentidos".
Se meu Amado   apenas me tocasse com seus lábios,
Também eu, como a flauta, romperia em melodias.
Mas aquele que se aparta dos que falam sua língua,
Ainda que tenha cem vozes, é forçosamente mudo.
Depois que a rosa   perde a cor e o jardim fenece,
Não se ouve mais a canção do rouxinol.
O Amado é tudo em tudo, o amante, apenas seu véu;
Só o Amado é que vive, o amante é coisa morta.
Quando o amante não sente mais as esporas do Amor,
Ele é como um pássaro que perdeu as asas.
Ai! Como posso manter os sentidos,
Quando o Amado não mostra a luz   de Seu semblante?
O Amor quer ver seu segredo revelado,
Pois se o espelho   não reflete, de que servirá?
Sabes por que teu espelho não reflete?
Porque a ferrugem não foi retirada de sua face.
Fosse ele purificado de toda ferrugem e mácula,
Refletiria o brilho do Sol de Deus  .
Ó amigos, ouvi agora esta narrativa,
Que expõe a própria essência de minha situação.

français

Écoutez le roseau comment il raconte une histoire, se plaignant de séparations ...
En disant: «Depuis que j’ai été séparé du lit de roseau, ma plainte a fait gémir l’homme et la femme.
Je veux une poitrine déchirée par la rupture, afin que je puisse dévoiler (à un tel) la douleur du désir d’amour.
Chacun qui reste loin de sa source veut de nouveau le temps où il était uni avec elle.
Dans chaque compagnie, je proférai mes notes goulues, je fréquentais les malheureux et ceux qui se réjouissaient.
Chacun est devenu mon ami de sa propre opinion; aucun n’a cherché mes secrets en moi.
Mon secret n’est pas loin de ma plainte, mais l’oreille et l’œil manquent de lumière (par quoi il faut l’appréhender).
Le corps n’est pas voilé de l’âme, ni l’âme du corps, mais personne n’est autorisé à voir l’âme. "
Ce bruit du roseau est le feu, ce n’est pas le vent: qui n’a pas ce feu, qu’il soit nul!
C’est le feu de l’amour qui est dans le roseau, c’est la ferveur de l’amour qui est dans le vin.
Le roseau est le camarade de tous ceux qui ont été séparés d’un ami: ses tensions ont transpercé nos coeurs.
Qui a jamais vu un poison et un antidote comme le roseau? Qui a jamais vu un sympathisant et un amant amoureux comme le roseau?
Le roseau raconte la Voie pleine de sang et raconte des histoires de la passion de Majnún.
Ce sens n’est confié qu’à l’insensé: la langue n’a de client que l’oreille.
Dans notre malheur, les jours (de la vie) sont devenus inopportuns: nos jours voyagent main dans la main avec des chagrins brûlants.
Si nos jours sont partis, laissez-les aller! - C’est sans importance. Restes-tu, car nul n’est saint comme tu es!
Celui qui n’est pas un poisson est repu avec Son eau; celui qui est sans le pain quotidien trouve le jour long.
Aucun qui est cru ne comprend l’état de l’être mûr: donc mes mots doivent être brefs. Adieu!

Reynold Nicholson

Listen to the reed how it tells a tale, complaining of separations—
Saying, “Ever since I was parted from the reed-bed, my lament hath caused man and woman to moan.
I want a bosom torn by severance, that I may unfold (to such a one) the pain of love-desire.
Every one who is left far from his source wishes back the time when he was united with it.
In every company I uttered my wailful notes, I consorted with the unhappy and with them that rejoice.
Every one became my friend from his own opinion; none sought out my secrets from within me.
My secret is not far from my plaint, but ear and eye lack the light (whereby it should be apprehended).
Body is not veiled from soul, nor soul from body, yet none is permitted to see the soul.”
This noise of the reed is fire, it is not wind: whoso hath not this fire, may he be naught!
’Tis the fire of Love that is in the reed, ’tis the fervour of Love that is in the wine.
The reed is the comrade of every one who has been parted from a friend: its strains pierced our hearts1.
Who ever saw a poison and antidote like the reed? Who ever saw a sympathiser and a longing lover like the reed?
The reed tells of the Way full of blood and recounts stories of the passion of Majnún.
Only to the senseless is this sense   confided: the tongue hath no customer save the ear.
In our woe the days (of life) have become untimely: our days travel hand in hand with burning griefs.
If our days are gone, let them go!—’tis no matter. Do Thou remain, for none is holy as Thou art!
Whoever is not a fish becomes sated with His water; whoever is without daily bread finds the day long.
None that is raw understands the state of the ripe: therefore my words must be brief. Farewell!


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