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EVANGELHO DE JESUS

Segue-me (Mt 8,18-22; Lc 9,56-62)

LOGIA JESUS

sábado 13 de agosto de 2022, por Cardoso de Castro

      

O que significa a ordem   de Jesus   "segue-me  "? Que sentido pode ter como injunção através dos tempos? O dito apresenta duas versões até a injunção "segue-me", segundo dois   contextos diferentes...

      
18 Mas Iéshoua vê multidões numerosas à sua volta e ordena que passem para o outro lado. 19 Um Sophér se aproxima e lhe diz: «Rabi, eu te seguirei por onde quer que fores.» 20 Iéshoua lhe diz: «As raposas têm covis, os pássaros do céu, ninhos; mas o filho   do homem   não tem onde repousar a cabeça.» 21 Outro dos adeptos lhe diz: «Adôn, permite-me ir primeiramente sepultar meu pai.» 22 Iéshoua diz: «Segue-me  ! Deixa os mortos sepultarem seus mortos!» (tr. Chouraqui  ) (tr. Almeida: Mt 8:18-22)
56 Eles dirigem-se a um outro vilarejo. 57 Eles vão pela estrada. Alguém lhe diz: «Eu te seguirei aonde quer que vás.» 58 Iéshoua lhe diz: «As raposas têm covis, os pássaros do céu, ninhos; mas o filho do homem   não tem onde repousar a cabeça.» 59 Ele diz a um outro: «Segue-me!» Ele diz: «Permite-me primeiro que vá enterrar meu pai.» 60 Iéshoua lhe diz: «Deixa os mortos enterrarem seus mortos! Mas tu, vai anunciar o reino de Elohíms.» 61 Um outro ainda diz: «Eu te seguirei, Adôn; mas permite-me primeiro despedir-me dos de minha casa  .» 62 Mas Iéshoua lhe diz: «Aquele que põe a mão no arado olhando para trás de si não é bom para o reino de Elohíms.» (tr. Chouraqui) (Tr. Almeida: Lc 9:56-62)

O que significa a ordem   de Jesus   "segue-me"? Que sentido pode ter como injunção através dos tempos? O dito apresenta duas versões até a injunção "segue-me", segundo dois   contextos diferentes:
  • diante de "multidões" opta-se "pelo outro lado", porém alguns aparentemente ainda dentre as "multidões" se manifestam: um se dispõe a seguir, outro se interessa mas tem um enterro a atender.
  • dirigindo-se de um lugar a outro pela estrada, alguns se aproximam com falas similares, exceto por um, disposto a seguir mas que precisa se despedir...

A todos a ordem é uma só "segue-me", a mesma palavra grega Άκολουθέω (akoloutheou) usada pelo evangelho para se referir aos que seguem Jesus em outras passagens (90 ao todo), como a conhecida "toma sua cruz e segue-me". Tantas vezes mencionada, mas que pode significar além da ordem ou convite ou disposição   dos que seguiram? O que é "seguir" quem não mais está presente   corporalmente? "Seguir", "ir atrás", "acompanhar" Jesus aqui e agora?

Ao que está disponível para seguir, Jesus alerta: o filho do homem não tem onde repousar a cabeça. Ao que Jesus comanda "segue-me": ele se mostra não disponível no momento. O que se quer indicar?

Poderia "segue-me" ser entendido como "persegue-me", "incansavelmente busca-me", pois o filho do homem não tem onde repousar a cabeça, e o atendimento às exigências da cultura, da sociedade, não importam. A "única coisa necessária" (outro dito de Jesus), o que importa, é "per-seguir-me", ou seja, "seguir-me por mim   mesmo".

O interessante é que os comentários abaixo citados focam apenas nas locuções adicionais sobre o filho do homem e sobre os mortos.


Roberto Pla

Por outro lado, estão mortos os que não ouvem a Palavra, os que não escutam a voz do Filho de Deus  . Deles se diz que “habitam em trevas e sombra da morte” (Is 9,1; Lc  , 1,79) e se os considera como mortos àqueles que há que deixar com tarefa única “que enterrem a seus mortos” (Mt   8,22; Lc 9,60), e isso certifica que o Adão   psíquico-hílico   vive somente para a morte. Evangelho de Tomé - Logion 11


A duas classes de “mortos” se refere Jesus na ocasião daquele discípulo que pedia uma moratória para enterrar seu pai antes de seguir a Jesus. O “rabi” utiliza aqui para sua resposta   o duplo sentido do vocábulo “mortos”, que no logion sintético dado pelo evangelhos   vem soar muito duro   nos ouvidos de quem só tem presente os mortos “manifestos”, mas que serve muito bem para o objeto de diferenciar as dua classes de mortos as quais se refere o evangelho: “Deixa que os mortos (vivos) enterrem a seus mortos (manifestos)” (Mt 8,22).

Os mortos vivos não são outra coisa que os filhos da luz que esperam na catividade que a alma  , a consciência psíquica do homem, se dê conta de que deles, de sua essência, lhes vem o sopro da Palavra neles semeada. Para esta classe de mortos está reservado passar da morte à vida — à claridade da consciência do homem — sem incorrer na necessidade   de juízo (Jo 5,24). É por estes que diz Jesus que alguns “não saborearão a morte até que vejam ao Filho do homem vir em seu Reino”. Evangelho de Tomé - Logion 51


O que pede Jesus ao dizer: “sede transeuntes”, é uma identificação da consciência com o espírito eterno, infinito  , semelhante a uma esfera   com o centro em todas as partes, ou em nenhuma, segundo se interprete e, em consequência, privado de lugar próprio no mundo de baixo. Isto é o que explica Jesus quando em resposta ao escriba que quer seguir seus passos, o adverte: “O Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20; Lc 9,58); e algo similar o dirá a Nicodemo, na ocasião de seu memorável diálogo   com o magistrado judeu   relatado no evangelho joanico (vide Nascer do Alto): “O vento   (espírito) sopra onde quer e ouves sua voz, mas não sabes de onde vem nem a onde vai” (Jo 3,8). Evangelho de Tomé - Logion 42-43 (veja também Evangelho de Tomé - Logion 86)

Mario Satz

Sendo a cabeça imagem do céu, da abóbada celeste, bem disse Jesus em Mateus 8,20: "As raposas têm suas tocas, e as aves do céu seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça".

Como devemos interpretar as alusões de Jesus? Negativa ou positivamente? Queixa-se ele ou antes celebra a não existência de um ponto de apoio? A versão grega diz kephalen kline. Esta última palavra significa "leito", "cama", "reclinatório", mas também "féretro" ou "ataúde" (menção lembrada a seguir no dito dos "mortos enterrarem seus mortos"). Podemos suspeitar, então, que deter-se é, de certo modo, morrer  ; porém, precisamente porque sabe disso, há no Filho do Homem algo imortal, din  âmico, criador porque viageiro, eterno porque livre.


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