Chouraqui
1 Há um homem entre os Peroushímsde nome Naqdimôn, um chefe dos Iehoudíms.2 Ele vem, de noite, e lhe diz:«Rabbi, sabemos que, de Elohîms, vieste como instrutor.Não, ninguém pode realizar esses sinais que fazes se Elohîms não estiver com ele.»3 Iéshoua responde e lhe diz:«Amèn, amèn, eu te digo, ninguém, se não nascer do alto, pode ver o reino de Elohîms.»4 Naqdimôn lhe diz:«Como um homem pode nascer se ele é velho?Pode ele, uma segunda vez,entrar no ventre de sua mãe e nascer?»5 Iéshoua responde: «Amèn, amèn, eu te digo, ninguém, se não nascer da água e do sopro, pode entrar no reino de Elohîms.6 O que nasce da carne é carne; o que nasce do sopro é sopro.7 Não te surpreendas que eu te diga: vós deveis nascer do alto.8 O sopro sopra onde quer e ouves a sua voz.Mas não sabes de onde vem nem para onde vai; assim, também, com os que nascem do sopro.»9 Naqdimôn responde e lhe diz:«Como pode isto acontecer?»10 Iéshoua responde-lhe e diz:«És um instrutor em Israel e não sabes!11 Amèn, amèn, eu te digo, aquilo que sabemos, dizemos; aquilo que vemos, testemunhamos; mas não aceitais nosso testemunho.12 Se vos falo a propósito da terra , não aderis. Como aderirieisse vos falasse do céu?13 Ninguém subiu ao céu,senão aquele que desceu do céu, o filho do homem .15 para que todo homem que a ele aderir tenha vida em perenidade .»16 Sim, Elohîms ama tanto o universoque deu seu único filho, a fim de que todo homem que a ele aderir não pereça, mas tenha vida em perenidade.17 Não, Elohîms não enviou o filho ao universo para julgar o universo,mas para que o universo seja salvo por ele.18 Quem adere a ele não é julgado;mas quem não adere a ele já está julgado,por que não aderiuao nome do filho único de Elohîms.19 E eis o julgamento :a luz veio ao universo; os homens amaram mais as trevas do que a luz.Sim, suas obras eram criminosas.20 Sim, todo faltoso de mal odeia a luz; ele não vem para a luz, com medo de que suas obras sejam reprovadas.21 Mas o artesão da verdade vem para a luz, para que seja manifestoque suas obras são feitas em Elohîms.
Almeida
1 Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus . 2 Este foi ter com Jesus , de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus ; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. 3 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus . 4 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? 5 Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. 6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. 7 Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo. 8 O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito. 9 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode ser isto? 10 Respondeu-lhe Jesus: Tu és mestre em Israel, e não entendes estas coisas? 11 Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testemunhamos o que temos visto; e não aceitais o nosso testemunho! 12 Se vos falei de coisas terrestres, e não credes, como crereis, se vos falar das celestiais? 13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem. 14 E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; 15 para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna. 16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. 18 Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigénito Filho de Deus. 19 E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más. 20 Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. 21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus.
Joaquim Carreira das Neves
A pessoa de Nicodemos aparece três vezes em João (3,1.4.9.; 7,50; 19, 39), mas é completamente desconhecida dos Sinópticos. Esta anotação pessoal reforça a tradição histórica do quarto evangelho. Em 7, 5 Nicodemos aconselha o Sinédrio a ter cuidado em não julgar Jesus sem primeiro "o ouvir e averiguar o que ele anda a fazer". Em 19,39 aparece juntamente com José de Arimateia para sepultarem Jesus. Como José de Arimateia é conhecido dos três Sinópticos (Mc 15,43; Mt 27,57; Lc 23, 51), também Nicodemos não é nenhuma invenção da tradição joanica. E os dois são descritos pelo autor de João de maneira semelhante:"Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente por medo das autoridades judaicas... Nicodemos, aquele que antes tinha ido ter com Jesus de noite..." (19,38-39). Trata-se de pessoas importantes entre os judeus, mas levaram tempo a decidirem-se a favor de Jesus.
Regressando ao nosso texto de 3, 1-21, a narrativa pode dividir-se em três subunidades literárias e temáticas:
1) 3,1-8 com o tema do ALTO e com o diálogo entre Jesus e Nicodemos na primeira pessoa ("eu"Jesus) e segunda pessoa ("tu" Nicodemos) do singular, de mistura com a segunda pessoa do plural (v. 7: "Não te admires por eu te ter dito: Vós tendes de nascer do ALTO").
2) 3, 9-15 com o tema da dialéctica entre o Céu e a terra. O autor usa os tempos verbais pronominais ora na segunda ora na terceira pessoa: "Tu és mestre em Israel e não sabes esta coisas? Nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não aceitais. Se vos falei das coisas da terra e não credes, como é que haveis de crer quando vos falar das coisas do Céu? Pois ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem." Esta mudança de tempos verbais e de pronomes pessoais é típico do nosso evangelho e significa que Jesus tanto se dirige à pessoa concreta ("tu") como aos destinatários do mesmo evangelho de todos os tempos, a começar pelos primeiros destinatários.
3) 3,14-21 com o tema central do Filho do Homem, elevado ao alto na Cruz, para que todos os que nele acreditam sejam salvos e tenham a vida eterna. Jesus é chamado "Filho do Homem" e "Filho Unigênito ", passando-se da exaltação da Cruz para a escatologia realizada da vida eterna neste mundo, consoante a fé ou não-fé. A fé e consequente escatologia realizada é classificada com a metáfora da LUZ (5 vezes em três versículos, 19-21) e a não-fé e consequente condenação com a das TREVAS.
O autor começa por descrever a figura de Nicodemos: "Entre os fariseus havia um homem chamado Nicodemos, um chefe dos judeus. Veio ter com Jesus de noite e disse-lhe: ‘Rabi, nós sabemos que tu vieste da parte de Deus, como Mestre, porque ninguém pode realizar os sinais portentosos que tu fazes, se Deus não estiver com ele" (1, 1-2). Como resposta , o Jesus joanico estabelece com Nicodemos o primeiro dos muitos diálogos "teológicos" que iremos encontrar ao longo do evangelho. Como bem classifica José Luis Espinel Marcos: "No encontro de Jesus com Nicodemos temos a confrontação de Jesus com o rabinismo. E um momento de cortesia, de diálogo, mas onde o rabino reconhece a autoridade espiritual de Jesus" [1]. Depois da confrontação de Jesus com o Templo é lógica, na retórica do autor, a confrontação com o rabinismo farisaico.
A resposta de Jesus não é uma resposta "ad hominem",mas de fundamentação teológica: "Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer do Alto não pode ver o Reino de Deus." A volta desta afirmação desenrola-se, depois, todo o grande diálogo em que a "incompreensão" de Nicodemos leva Jesus a expor uma e outra vez, sempre em tom crescente, o seu parecer. Já vimos que se trata dum estilo retórico do autor.
O conceito ALTO (anôthen) aparece cinco vezes no evangelho (3,3. 7.31; 19,11.23) e quatro vezes com sentido teológico, ao contrário dos Sinópticos em que só aparece uma vez (Mt 27,51 e par.) e com sentido normal espacial: "Então o véu do Templo rasgou-se em dois, de alto a baixo" (cf. com o mesmo sentido em Jo 19, 23: "A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo...").
O qualificativo ALTO relaciona-se com Jesus no grande diálogo com Nicodemos:
"Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer do ALTO não pode ver o Reino de Deus" (3, 3).
"Não te admires por eu te ter dito:Vós tendes de nascer do ALTO" (3,7).
"Aquele que vem do ALTO está acima de tudo".
"Não terias nenhum poder sobre mim se não te fosse dado do ALTO".
Dizer que Jesus vem do ALTO, é dizer o mesmo que "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus" (1,1). Afirma-se a preexistência do Verbo-Jesus. Se vem do "Alto" e se é "preexistente", não pode vir da terra, ao contrário de Nicodemos e de todos os demais humanos.
O grande diálogo entre Jesus e o rabino ou entre Jesus e o judaísmo rabínico consiste nesta dialéctica. Nascer do "Alto" é nascer da "água e do Espírito, porque o que nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito é espírito" (3, 5). E Jesus remata a primeira parte do diálogo com esta afirmação: "Ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do Céu" (3, 13).
No diálogo, Jesus refere o REINO DE DEUS por duas vezes, a primeira com o verbo "ver" (v.3: "Quem não nascer do Alto não pode ver o Reino de Deus") e a segunda com o verbo "entrar" (v. 5: "Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus"). Os verbos são interdependentes. Convém observar que só aqui aparece o sintagma "Reino de Deus", o qual, nos Sinópticos, é o centro de toda a vida de Jesus.
O diálogo tem em vista o sacramento cristão do batismo , pela água e pelo Espírito, e não somente pela água como era o de João Batista e dos rituais comuns dos judeus. Basta lembrar as Bodas de Caná. Jesus espanta-se que Nicodemos não perceba isto: "Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas?" (v. 10). Mas como é que Nicodemos poderia saber, se ainda não lhe tinha sido revelado? Jesus, na sua retórica típica antecede a afirmação para, em seguida, lhe dar a fundamentação: "Em verdade, em verdade te digo: nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não aceitais o nosso testemunho" (v. 11). Em João, a duplicação da fórmula: "Em verdade, em verdade..." é comum e significa que Jesus está a revelar verdades desconhecidas. No caso concreto, trata-se dum "saber" e dum "ver" só agora revelados. Como dissemos, Jesus utiliza o plural: "nós falamos... sabemos... damos testemunho... vimos" para se confundir com a sua comunidade joanica crente. O Reino de Deus realiza-se pelo batismo na água e no Espírito enquanto que nos Sinópticos se realiza na fé em Jesus. As duas afirmações: "Vós tendes de nascer do ALTO... Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito" (vv. 7-8) dizem o mesmo. A oposição entre "carne" e "Espírito" nada tem a ver com o dualismo grego, mas com a família do "sangue " e a família da "fé". Corresponde à metáfora de Jesus nos Sinópticos ("Quem são minha mãe e meus irmãos?... Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3, 33-34 e par.) e à afirmação de Jo 1, 13: "Estes não nasceram de laços de sangue, / nem de um impulso da carne, / nem da vontade de um homem, / mas sim de Deus."
Na segunda subunidade, o centro temático gira à volta da figura do FILHO DO HOMEM, que desceu do Céu e há-de subir ao Céu. E uma outra maneira de falar do ALTO.
Tanto nos Sinópticos como em João, o epíteto FILHO DO HOMEM só aparece na boca de Jesus [2]. E o epíteto preferido de Jesus. Muito se tem escrito, investigado e discutido sobre este epíteto. No AT aparece em Dn 7, 13-14, como figura misteriosa, sentada à direita do "Antigo dos Dias" (Deus), a quem Deus entrega "as soberanias, a glória e a realeza e a quem todos os povos, gentes e nações de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído."
O Deus YHWH abre uma brecha "apocalíptica" neste intermediário, Filho do Homem, entregando-lhe o governo das nações. Contrariamente a muitos autores, que julgam tratar-se dum epíteto criado pela Igreja primitiva, pensamos que Jesus escolheu conscientemente este epíteto desconcertante para si próprio pela carga misteriosa que acarreta. É fato que aparece também na literatura apocalíptica intertestamentária, sobretudo no lHenoc, mas como alguém "divino" que castiga os inimigos de Israel, destrona tronos e desfaz com os seus dentes todos os pecadores (cf. lHenoc 46). Jesus nunca manifestou semelhante atitude. É importante revisitarmos os textos de João onde aparece Jesus como Filho do Homem:
1, 51: "Vereis abrir-se o céu e os anjos de Deus a subir e a descer sobre o Filho do Homem"
3, 13: "Ninguém subiu ao céu a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem"
3, 14: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, convém que o Filho do Homem seja levantado"
5, 27: "(Deus) deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem"
6, 27: "Procurai o alimento que dura até à vida eterna, aquele que o Filho do Homem vos dá"
6, 53: "Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós"
6, 62: "Isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes?"
8, 28: "Quando levantardes o Filho do Homem, então conhecereis que EU SOU "
9, 35: (Jesus ao cego de nascença) "Crês no Filho do Homem?"
12, 23: "Jesus respondeu: chegou a hora em que o Filho do Homem será glorificado"
12, 34:"Como dizes tu que é preciso que o Filho do Homem seja levantado? Quem é esse Filho do Homem?"
13, 31:"...Jesus disse:"agora o Filho do Homem vai ser glorificado" [3]
Como também acontece com os Sinópticos, a natureza do Filho do Homem tem a ver 1) com a sua morte-elevação na Cruz, 2) com a sua autoridade e poder em dar a vida, e 3) com a sua glorificação. É importante notarmos que o epíteto só aparece na primeira parte do Livro — o dos SINAIS — em que o Filho do Homem se apresenta a judeus, discípulos, amigos e inimigos. Na segunda parte — o livro da GLORIA — , voltada exclusivamente para os discípulos, Jesus anuncia o seu regresso ao Pai, sem as diversas modalidades de natureza deste Filho do Homem.
Regressando ao nosso texto, as duas vezes em que Jesus se apresenta como Filho do Homem, a primeira tem a ver com a sua natureza de preexistência (3,13) e a segunda de exaltação na Cruz (3,14).
Na terceira subunidade (3,16-21),Jesus aparece como "Filho Unigênito" (cf. 1,18), que Deus mandou ao mundo "para que todo aquele que crê nele não se perca, mas tenha a vida eterna" (v. 16). O autor regressa aos temas do prólogo com as imagens da fé e não-fé, luz e trevas e correspondentes salvação e condenação. É uma das catequeses recorrentes do quarto evangelho que implica a fé-luz e respectiva resposta, pela positiva — salvação — ou pela negativa — condenação.
Depois do sinal de NICODEMOS, o autor apresenta o segundo testemunho de João Batista (3, 22-30), que já estudamos. Em seguida, nos vv. 31-36, deparamo-nos com um dos problemas redacionais do quarto evangelho. A literalidade e conteúdos do texto referem a literalidade e conteúdos do sinal NICODEMOS: "Aquele que vem do ALTO está acima de tudo. Quem é da TERRA... Aquele que vem do CÉU... dá testemunho daquilo que VIU e OUVIU.... dá o ESPÍRITO sem medida. O Pai ama o Filho e tudo põe na sua mão. Quem crê no filho tem a VIDA ETERNA; quem se nega a crer no Filho não verá a VIDA, mas sobre ele pesa a ira de Deus."
Logicamente é João Batista que continua a dar o seu testemunho, mas a letra e o conteúdo teológico correspondem com o Jesus do sinal NICODEMOS.
A única grande novidade, que a distingue do sinal NICODEMOS, consiste no fato do autor, pela primeira vez, depois do prólogo sobre o LOGOS (cf. 1, 14. 18), referir a pessoa do PAI, que em seguida irá apresentar continuamente na sua relação PAI-FILHO e acentuar também o tema da VIDA relacionado com a fé em Jesus.
Nós pensamos que não é nem Jesus nem o Batista, mas o autor a apresentar o seu parecer pessoal, isto é, sem monólogo nem diálogo, mas em primeira pessoa, sobre tudo quanto se disse até agora. Seria uma espécie de resumo doutrinal. Ao longo do evangelho iremos encontrar estas reflexões "pessoais" do autor.
["Escritos de São João"]
Coomaraswamy
El problema lo sugiere directamente la doctrina del nacimiento doble, temporal y eterno, del Hijo de Dios. Recordemos que es imposible considerar éstos como si hubieran sido dos acontecimientos diferentes en la vida divina, la cual es intrínsecamente inaconteciente. Ciertamente, como dice Santo Tomás mismo, «Por parte del hijo no hay sino una única filiación en realidad, aunque haya dos en aspecto» (Summa Theologica III.35.5 ad 3). Todo esto sugiere que debe haber habido tanto una Madonna [4] eterna como una Madonna temporal. Y eso es claramente lo que implica el Maestro Eckhart : «Su nacimiento en la María espiritual fue para Dios más gozoso que su natividad de ella en la carne» (ed. Evans, I, 418). Si Santo Tomás dice que «la filiación eterna no depende de una Madre temporal» (Summa Theologica III.35.5 ad 2), ¿no estamos nosotros autorizados a agregar, «sino de una Madre eterna»? ¿Quién es entonces la «María espiritual» del Maestro Eckhart sino «esa Naturaleza divina por la cual el Padre engendra» (Summa Theologica I.45.5.6), Natura naturans, Creatrix?
En caso de que pareciera que nosotros estamos forzando el sentido de Santo Tomás, consideremos la doctrina tomista de la procesión divina. «La procesión de la Palabra in divinis se llama una generación [5]. Generación significa el origen de una cosa viva desde un principio conjunto vivo (a principio vivente conjuncto); y a esto se le llama acertadamente "natividad". Así, pues, la procesión de la Palabra in divinis es de la naturaleza de una generación. Pues procede a la manera de un acto inteligible, que es una operación vital (operatio vitae). Por lo tanto, Él es llamado acertadamente engendrado, e Hijo. De aquí, también, que todas estas cosas que pertenecen a la generación de las cosas vivas se usen en la Escritura para denotar la procesión de la Sabiduría divina; es decir, por vía de concepción y nacimiento (conceptione et partu); pues, como se ha dicho de la persona de la Sabiduría Divina, "Cuando no había valles, yo fui concebida (concepta). Antes de que las colinas fueran, yo fui parida (parturiebar)"» (Summa Theologica I.27.2C y ad 2, citando Proverbios 8:24, 25).
Todo el texto de Proverbios 8 recuerda Rg Veda Samhita X.125. Compárese, por ejemplo, «A vosotros, oh hombres, yo os llamo. Escuchad; pues quiero hablar de cosas excelentes; y la apertura de mis labios será para cosas rectas. yo soy comprensión; yo tengo fuerza. Por mí reinan los reyes. yo amo a quienes me aman. El Senor me poseyó en el comienzo de su vía, antes de sus obras de antiguo. Yo fui establecida desde siempre, desde el comienzo, antes de que la tierra fuera. Cuando Él preparó los cielos yo estaba allí. yo estaba junto a Él, como crecida junto con Él: y yo era diariamente su delicia, regocijándome siempre ante Él, regocijándome en las partes habitables de su tierra; y mis delicias eran con los hijos de los hombres. Todos los que me odian aman la muerte », con «yo iba con los Rudras, Vasus, Adityas y la multitud de los ángeles; yo soy el soporte de Mitravarunau, Indragni y los Asvins emparejados... yo soy la Reina, en quien todos los bienes tienen su custodia, sapientísima. A través de mí todos comen el pan de la vida, quienquiera que ve, o respira, u oye; aunque insapientes, todos éstos moran en mí. Escuchad mi dicho fidedigno. Yo, nadie sino yo, pronuncia lo que es más deleitable, tanto a los hombres como a los ángeles: aquel a quien yo amo, hago de él un Poder terrible, un Brahman , o Profeta , o Comprehensor. Yo que soy la matriz en las Aguas y el Mar, doy a luz al Padre (es decir, como el Hijo), cuando origino, y soy su cabeza. Mi soplo es, ciertamente, el que insufla al Viento, mientras tomo en la mano los múltiples mundos para formarlos: tan lejos alcanza mi dominio, que yo prevalezco más allá de estos cielos y de esta ancha tierra». En la primera de estas citas es Sophia quien habla, en la segunda Vac [6].
Está suficientemente claro, por el texto de Santo Tomás citado arriba, que su «principio conjunto» in divinis corresponde a las nociones de Esencia y Naturaleza («esa Naturaleza por la que el Padre engendra», Summa Theologica I.41.5C); y que él identifica esta Naturaleza con la «Sabiduría» de los Proverbios, la Sophia de Dante Alighieri, a quien (Dante Alighieri) llama «la esposa del Emperador del Cielo , y no sólo esposa, sino hermana e hija amadísima», y de quien dice que «Ella existe en él de manera verdadera y perfecta como si estuviera eternamente casada con Él» (Convito III.12) [7].
Puede citarse una autoridad mayor en Génesis 1:26, 27, «Y Dios dijo, Hagamos al hombre en nuestra propia imagen, según nuestra semejanza. Así pues, creó Dios al hombre en su propia imagen, en la imagen de Dios le creó; macho y hembra los creó» [8]. La semejanza es ejemplar. La forma de la humanidad creada no es la de este hombre en tanto que se distingue de la de esta mujer, sino la de su humanidad común: «Él llamó a su nombre (de ellos) Adán », Génesis 5:2. Este hombre (Adán) es, de hecho, una sicigia, hasta que la Deidad saca a la mujer de él, a fin de que él no esté solo [9]: «Ella será llamada Mujer debido a que fue sacada del Hombre», Génesis 2:23 [10]. Así pues, nunca podría haberse dicho «En esta semejanza» si no hubiera habido ya un arquetipo de esta polaridad en Dios —es decir, por supuesto, in principio, pues nosotros no estamos hablando de una composición in divinis [11]. Además, la doctrina cristiana, como la india, considera una reunión última de los principios divididos, allí donde «no hay macho ni hembra: pues vosotros sois todos uno (sánscrito eki-bhuta) en Cristo Jesús» (Gálatas 3:28) [12]. Es decir, donde ya no se trata de este hombre o esta mujer, sino sólo de ese Hombre Universal de quien dice Boehme que «este campeón o león no es hombre o mujer, sino ambos» (Signatura Rerum XI.43).
Si se objeta, finalmente, que toda esta fraseología sexual es una suerte de retórica y que no ha de tomarse literalmente, diremos que no se trata de retórica en ningún sentido «literario», sino de analogía y de simbolismo: como es explícito en ambos pasajes de la Brhadaranyaka Upanishad , citados arriba, no se trata de un hombre y de una mujer de hecho, ni de ninguna existencia, sino de la forma del ser que es «por así decir (yatha) la de un hombre y mujer estrechamente abrazados». Toda nuestra intención ha sido indicar que un adecuado simbolismo de este tipo se ha empleado universalmente en la tradición ortodoxa y unánime y, más específicamente, dentro de los límites del presente artículo, mostrar de qué manera se ha empleado en las formas hindú y cristiana de la revelación transmitida.
Roberto Pla
Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito. (Jo 3:1-8)
- Em todas as religiões autênticas distingue-se o “nascimento do alto” co “nascimento de baixo”, o nascimento espiritual do homem de seu nascimento corporal.
- Nascer do Espírito, é nascer ao Espírito: ligação formal do homem ao Princípio transcendente de onde veio a “Deus que é Espírito” e que também é a finalidade do ser humano, como de todos os seres e de todas as coisas.
- Antes de sua criação o ser humano não era nada mas essência incriada (ageneton), oculta na Essência divina, unida eternamente a Ela.
- Quando o Cristo diz a Nicodemo que é preciso “renascer da água e do espírito”, ele responde a um dos doutores de Israel, logo a um homem que não somente associado a uma religião, mas profundamente enraizado nela, sem no entanto em ter realizado as implicações espirituais decisivas. Neste caso, “nascer da água e do espírito” significa o nascimento espiritual efetivo, sobre a base de uma associação formal ao Divino pelo batismo.
- Este nascimento espiritual do cristão no pleno sentido do termo é prefigurado e operado eternamente pelo engendramento do Filho in divinis.
- Prefigurado na exegese esotérica judaica: “Filho” (bem ou Bar) representa ao mesmo tempo a “Beleza” (Tiphereth ), a “Misericórdia” (Rahamim) e a “Omniciência” (Da’ath) criadora, reveladora e salvadora, nascida do divino “Pai” (Aw ou Abba) — denominado também a eterna Sabedoria (Hokhmah ) — e de Sua Receptividade própria, a suprema “Mãe” (Em ou Immah) — a “Inteligência” (Binah ) transcendente.
- ”Falarei do decreto do Senhor; ele me disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei.” (Sl 2:7) (hbr.: YHVH amar elaï benni attah ani hayom yelidtikha)
- Interpretada esotericamente: YHVH (a “Essência” divina, enquanto que Ela se revela como Pessoa suprema) amar elaï (me disse, em me engendrando por aí mesmo como seu Verbo e Filho) hayom (“hoje em dia”, no eterno Instante ) yelidtikha (“Eu te engendrei ou “conceberei”, — engendramento, filiação: eterna revelação da única Essência para Ela mesma e a tudo aquilo que decorre de Ela, a tudo aquilo que é).