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EVANGELHOS CANÔNICOS

Nascer do Alto (Jo 3,1-21)

LOGIA JESUS

quinta-feira 21 de julho de 2022, por Cardoso de Castro

      

Evangelho de Tomé - Logion 4; Evangelho de Tomé - Logion 38; Evangelho de Tomé - Logion 94

      

Chouraqui

1 Há um homem   entre os Peroushíms
de nome Naqdimôn, um chefe dos Iehoudíms.
2 Ele vem, de noite, e lhe diz:
«Rabbi, sabemos que, de Elohîms, vieste como instrutor.
Não, ninguém pode realizar esses sinais   que fazes se Elohîms não estiver com ele.»
3 Iéshoua responde e lhe diz:
«Amèn, amèn, eu te digo, ninguém, se não nascer do alto, pode ver o reino de Elohîms.»
4 Naqdimôn lhe diz:
«Como um homem pode nascer se ele é velho?
Pode ele, uma segunda vez,
entrar no ventre de sua mãe   e nascer?»
5 Iéshoua responde: «Amèn, amèn, eu te digo, ninguém, se não nascer da água e do sopro, pode entrar no reino de Elohîms.
6 O que nasce da carne   é carne; o que nasce do sopro é sopro.
7 Não te surpreendas que eu te diga: vós deveis nascer do alto.
8 O sopro sopra onde quer e ouves a sua voz.
Mas não sabes de onde vem nem para onde vai; assim, também, com os que nascem do sopro.»
9 Naqdimôn responde e lhe diz:
«Como pode isto acontecer?»
10 Iéshoua responde-lhe e diz:
«És um instrutor em Israel   e não sabes!
11 Amèn, amèn, eu te digo, aquilo que sabemos, dizemos; aquilo que vemos, testemunhamos; mas não aceitais nosso testemunho.
12 Se vos falo a propósito da terra  , não aderis. Como aderirieis
se vos falasse do céu?
13 Ninguém subiu ao céu,
senão aquele que desceu do céu, o filho do homem  .
14 E como Moshè levantou a serpente   no deserto  , assim o filho do homem deve ser levantado,
15 para que todo homem que a ele aderir tenha vida em perenidade  
16 Sim, Elohîms ama tanto o universo  
que deu seu único filho, a fim de que todo homem que a ele aderir não pereça, mas tenha vida em perenidade.
17 Não, Elohîms não enviou o filho ao universo para julgar o universo,
mas para que o universo seja salvo por ele.
18 Quem adere a ele não é julgado;
mas quem não adere a ele já está julgado,
por que não aderiu
ao nome do filho único de Elohîms.
19 E eis o julgamento  :
a luz   veio ao universo; os homens amaram mais as trevas do que a luz.
Sim, suas obras eram criminosas.
20 Sim, todo faltoso de mal odeia a luz; ele não vem para a luz, com medo de que suas obras sejam reprovadas.
21 Mas o artesão da verdade vem para a luz, para que seja manifesto  
que suas obras são feitas em Elohîms.

Almeida

1 Ora, havia entre os fariseus   um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus  . 2 Este foi ter com Jesus  , de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus  ; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. 3 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus  . 4 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? 5 Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. 6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. 7 Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo. 8 O vento   sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito. 9 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode ser isto? 10 Respondeu-lhe Jesus: Tu és mestre em Israel, e não entendes estas coisas? 11 Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testemunhamos o que temos visto; e não aceitais o nosso testemunho! 12 Se vos falei de coisas terrestres, e não credes, como crereis, se vos falar das celestiais? 13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem. 14 E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; 15 para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna. 16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. 18 Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigénito Filho de Deus. 19 E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más. 20 Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. 21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus.


Joaquim Carreira das Neves

A pessoa   de Nicodemos aparece três vezes em João (3,1.4.9.; 7,50; 19, 39), mas é completamente desconhecida dos Sinópticos. Esta anotação pessoal reforça a tradição histórica do quarto evangelho. Em 7, 5 Nicodemos aconselha o Sinédrio a ter cuidado   em não julgar Jesus sem primeiro "o ouvir   e averiguar o que ele anda a fazer". Em 19,39 aparece juntamente com José de Arimateia para sepultarem Jesus. Como José de Arimateia é conhecido dos três Sinópticos (Mc   15,43; Mt   27,57; Lc   23, 51), também Nicodemos não é nenhuma invenção da tradição joanica. E os dois   são descritos pelo autor de João de maneira semelhante:"Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente por medo das autoridades judaicas... Nicodemos, aquele que antes tinha ido ter com Jesus de noite..." (19,38-39). Trata-se de pessoas importantes entre os judeus, mas levaram tempo a decidirem-se a favor de Jesus.

Regressando ao nosso texto de 3, 1-21, a narrativa pode dividir-se em três subunidades literárias e temáticas:

1) 3,1-8 com o tema do ALTO e com o diálogo   entre Jesus e Nicodemos na primeira pessoa ("eu"Jesus) e segunda pessoa ("tu" Nicodemos) do singular, de mistura com a segunda pessoa do plural (v. 7: "Não te admires por eu te ter dito: Vós tendes de nascer do ALTO").

2) 3, 9-15 com o tema da dialéctica entre o Céu e a terra. O autor usa os tempos verbais pronominais ora na segunda ora na terceira pessoa: "Tu és mestre em Israel e não sabes esta coisas? Nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não aceitais. Se vos falei das coisas da terra e não credes, como é que haveis de crer quando vos falar das coisas do Céu? Pois ninguém subiu ao Céu a não ser   aquele que desceu do céu, o Filho do Homem." Esta mudança   de tempos verbais e de pronomes pessoais é típico do nosso evangelho e significa que Jesus tanto se dirige à pessoa concreta ("tu") como aos destinatários do mesmo evangelho de todos os tempos, a começar pelos primeiros destinatários.

3) 3,14-21 com o tema central do Filho do Homem, elevado ao alto na Cruz, para que todos os que nele acreditam sejam salvos e tenham a vida eterna. Jesus é chamado "Filho do Homem" e "Filho Unigênito  ", passando-se da exaltação da Cruz para a escatologia realizada da vida eterna neste mundo, consoante a fé ou não-fé. A fé e consequente escatologia realizada é classificada com a metáfora da LUZ (5 vezes em três versículos, 19-21) e a não-fé e consequente condenação com a das TREVAS.

O autor começa por descrever a figura de Nicodemos: "Entre os fariseus havia um homem chamado Nicodemos, um chefe dos judeus. Veio ter com Jesus de noite e disse-lhe: ‘Rabi, nós sabemos que tu vieste da parte de Deus, como Mestre, porque ninguém pode realizar os sinais portentosos que tu fazes, se Deus não estiver com ele" (1, 1-2). Como resposta  , o Jesus joanico estabelece com Nicodemos o primeiro dos muitos diálogos   "teológicos" que iremos encontrar ao longo do evangelho. Como bem classifica José Luis Espinel Marcos: "No encontro de Jesus com Nicodemos temos a confrontação de Jesus com o rabinismo. E um momento de cortesia, de diálogo, mas onde o rabino reconhece a autoridade   espiritual de Jesus" [1]. Depois da confrontação de Jesus com o Templo   é lógica, na retórica do autor, a confrontação com o rabinismo farisaico.

A resposta de Jesus não é uma resposta "ad hominem",mas de fundamentação teológica: "Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer do Alto não pode ver o Reino de Deus." A volta desta afirmação desenrola-se, depois, todo o grande diálogo em que a "incompreensão" de Nicodemos leva Jesus a expor uma e outra vez, sempre em tom crescente, o seu parecer. Já vimos que se trata dum estilo retórico do autor.

O conceito ALTO (anôthen) aparece cinco   vezes no evangelho (3,3. 7.31; 19,11.23) e quatro vezes com sentido teológico, ao contrário dos Sinópticos em que só aparece uma vez (Mt 27,51 e par.) e com sentido normal espacial: "Então o véu do Templo rasgou-se em dois, de alto a baixo" (cf. com o mesmo sentido em Jo 19, 23: "A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo...").

O qualificativo ALTO relaciona-se com Jesus no grande diálogo com Nicodemos:

"Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer do ALTO não pode ver o Reino de Deus" (3, 3).

"Não te admires por eu te ter dito:Vós tendes de nascer do ALTO" (3,7).

"Aquele que vem do ALTO está acima de tudo".

"Não terias nenhum poder sobre mim se não te fosse dado do ALTO".

Dizer que Jesus vem do ALTO, é dizer o mesmo que "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus" (1,1). Afirma-se a preexistência do Verbo-Jesus. Se vem do "Alto" e se é "preexistente", não pode vir da terra, ao contrário de Nicodemos e de todos os demais humanos.

O grande diálogo entre Jesus e o rabino ou entre Jesus e o judaísmo rabínico consiste nesta dialéctica. Nascer do "Alto" é nascer da "água e do Espírito, porque o que nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito é espírito" (3, 5). E Jesus remata a primeira parte do diálogo com esta afirmação: "Ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do Céu" (3, 13).

No diálogo, Jesus refere o REINO DE DEUS por duas vezes, a primeira com o verbo "ver" (v.3: "Quem não nascer do Alto não pode ver o Reino de Deus") e a segunda com o verbo "entrar" (v. 5: "Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus"). Os verbos são interdependentes. Convém observar   que só aqui aparece o sintagma "Reino de Deus", o qual, nos Sinópticos, é o centro   de toda a vida de Jesus.

O diálogo tem em vista o sacramento cristão do batismo  , pela água e pelo Espírito, e não somente pela água como era o de João Batista e dos rituais comuns dos judeus. Basta lembrar as Bodas   de Caná. Jesus espanta-se que Nicodemos não perceba isto: "Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas?" (v. 10). Mas como é que Nicodemos poderia saber, se ainda não lhe tinha sido revelado? Jesus, na sua retórica típica antecede a afirmação para, em seguida, lhe dar a fundamentação: "Em verdade, em verdade te digo: nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não aceitais o nosso testemunho" (v. 11). Em João, a duplicação da fórmula: "Em verdade, em verdade..." é comum e significa que Jesus está a revelar verdades desconhecidas. No caso concreto, trata-se dum "saber" e dum "ver" só agora revelados. Como dissemos, Jesus utiliza o plural: "nós falamos... sabemos... damos testemunho... vimos" para se confundir com a sua comunidade joanica crente. O Reino de Deus realiza-se pelo batismo na água e no Espírito enquanto que nos Sinópticos se realiza na fé em Jesus. As duas afirmações: "Vós tendes de nascer do ALTO... Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito" (vv. 7-8) dizem o mesmo. A oposição entre "carne" e "Espírito" nada tem a ver com o dualismo grego, mas com a família do "sangue  " e a família da "fé". Corresponde à metáfora de Jesus nos Sinópticos ("Quem são minha mãe e meus irmãos?... Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3, 33-34 e par.) e à afirmação de Jo 1, 13: "Estes não nasceram de laços de sangue, / nem de um impulso da carne, / nem da vontade de um homem, / mas sim de Deus."

Na segunda subunidade, o centro temático gira à volta da figura do FILHO DO HOMEM, que desceu do Céu e há-de subir   ao Céu. E uma outra maneira de falar do ALTO.

Tanto nos Sinópticos como em João, o epíteto FILHO DO HOMEM só aparece na boca de Jesus [2]. E o epíteto preferido de Jesus. Muito se tem escrito, investigado e discutido sobre este epíteto. No AT aparece em Dn 7, 13-14, como figura misteriosa, sentada à direita do "Antigo dos Dias" (Deus), a quem Deus entrega "as soberanias, a glória   e a realeza e a quem todos os povos, gentes e nações de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído."

O Deus YHWH   abre uma brecha "apocalíptica" neste intermediário, Filho do Homem, entregando-lhe o governo das nações. Contrariamente a muitos autores, que julgam tratar-se dum epíteto criado pela Igreja   primitiva, pensamos que Jesus escolheu conscientemente este epíteto desconcertante para si próprio pela carga misteriosa que acarreta. É fato que aparece também na literatura apocalíptica intertestamentária, sobretudo no lHenoc, mas como alguém "divino" que castiga os inimigos de Israel, destrona tronos e desfaz com os seus dentes   todos os pecadores (cf. lHenoc 46). Jesus nunca manifestou semelhante atitude. É importante revisitarmos os textos de João onde aparece Jesus como Filho do Homem:

1, 51: "Vereis abrir-se o céu e os anjos   de Deus a subir e a descer sobre o Filho do Homem"

3, 13: "Ninguém subiu ao céu a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem"

3, 14: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, convém que o Filho do Homem seja levantado"

5, 27: "(Deus) deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem"

6, 27: "Procurai o alimento   que dura até à vida eterna, aquele que o Filho do Homem vos dá"

6, 53: "Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós"

6, 62: "Isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes?"

8, 28: "Quando levantardes o Filho do Homem, então conhecereis que EU SOU  "

9, 35: (Jesus ao cego   de nascença) "Crês no Filho do Homem?"

12, 23: "Jesus respondeu: chegou a hora em que o Filho do Homem será glorificado"

12, 34:"Como dizes tu que é preciso que o Filho do Homem seja levantado? Quem é esse Filho do Homem?"

13, 31:"...Jesus disse:"agora o Filho do Homem vai ser glorificado" [3]

Como também acontece com os Sinópticos, a natureza do Filho do Homem tem a ver 1) com a sua morte-elevação na Cruz, 2) com a sua autoridade e poder em dar a vida, e 3) com a sua glorificação. É importante notarmos que o epíteto só aparece na primeira parte do Livro — o dos SINAIS — em que o Filho do Homem se apresenta a judeus, discípulos, amigos e inimigos. Na segunda parte — o livro da GLORIA — , voltada exclusivamente para os discípulos, Jesus anuncia o seu regresso ao Pai, sem as diversas modalidades de natureza deste Filho do Homem.

Regressando ao nosso texto, as duas vezes em que Jesus se apresenta como Filho do Homem, a primeira tem a ver com a sua natureza de preexistência (3,13) e a segunda de exaltação na Cruz (3,14).

Na terceira subunidade (3,16-21),Jesus aparece como "Filho Unigênito" (cf. 1,18), que Deus mandou ao mundo "para que todo aquele que crê nele não se perca, mas tenha a vida eterna" (v. 16). O autor regressa aos temas do prólogo com as imagens da fé e não-fé, luz e trevas e correspondentes salvação e condenação. É uma das catequeses recorrentes do quarto evangelho que implica a fé-luz e respectiva resposta, pela positiva — salvação — ou pela negativa — condenação.


Depois do sinal de NICODEMOS, o autor apresenta o segundo testemunho de João Batista (3, 22-30), que já estudamos. Em seguida, nos vv. 31-36, deparamo-nos com um dos problemas redacionais do quarto evangelho. A literalidade e conteúdos do texto referem a literalidade e conteúdos do sinal NICODEMOS: "Aquele que vem do ALTO está acima de tudo. Quem é da TERRA... Aquele que vem do CÉU... dá testemunho daquilo que VIU e OUVIU.... dá o ESPÍRITO sem medida. O Pai ama o Filho e tudo põe na sua mão. Quem crê no filho tem a VIDA ETERNA; quem se nega a crer no Filho não verá a VIDA, mas sobre ele pesa a ira   de Deus."

Logicamente é João Batista que continua a dar o seu testemunho, mas a letra   e o conteúdo teológico correspondem com o Jesus do sinal NICODEMOS.

A única grande novidade, que a distingue do sinal NICODEMOS, consiste no fato do autor, pela primeira vez, depois do prólogo sobre o LOGOS (cf. 1, 14. 18), referir a pessoa do PAI, que em seguida irá apresentar continuamente na sua relação PAI-FILHO e acentuar também o tema da VIDA relacionado com a fé em Jesus.

Nós pensamos que não é nem Jesus nem o Batista, mas o autor a apresentar o seu parecer pessoal, isto é, sem monólogo nem diálogo, mas em primeira pessoa, sobre tudo quanto se disse até agora. Seria uma espécie de resumo doutrinal. Ao longo do evangelho iremos encontrar estas reflexões "pessoais" do autor.
["Escritos de São João"]

Coomaraswamy

El problema lo sugiere directamente la doctrina del nacimiento doble, temporal y eterno, del Hijo de Dios. Recordemos que es imposible considerar éstos como si hubieran sido dos acontecimientos diferentes en la vida divina, la cual es intrínsecamente inaconteciente. Ciertamente, como dice Santo Tomás mismo, «Por parte del hijo no hay sino una única filiación en realidad, aunque haya   dos en aspecto» (Summa Theologica   III.35.5 ad 3). Todo esto sugiere que debe haber habido tanto una Madonna [4] eterna como una Madonna temporal. Y eso es claramente lo que implica el Maestro Eckhart  : «Su nacimiento en la María espiritual fue para Dios más gozoso que su natividad de ella en la carne» (ed. Evans, I, 418). Si Santo Tomás dice que «la filiación eterna no depende de una Madre temporal» (Summa Theologica III.35.5 ad 2), ¿no estamos nosotros autorizados a agregar, «sino de una Madre eterna»? ¿Quién es entonces la «María espiritual» del Maestro Eckhart sino «esa Naturaleza divina por la cual el Padre engendra» (Summa Theologica I.45.5.6), Natura   naturans, Creatrix?

En caso de que pareciera que nosotros estamos forzando el sentido de Santo Tomás, consideremos la doctrina tomista de la procesión divina. «La procesión de la Palabra in divinis se llama una generación [5]. Generación significa el origen   de una cosa viva desde un principio conjunto   vivo (a principio vivente conjuncto); y a esto se le llama acertadamente "natividad". Así, pues, la procesión de la Palabra in divinis es de la naturaleza de una generación. Pues procede a la manera de un acto inteligible, que es una operación vital (operatio vitae). Por lo tanto, Él es llamado acertadamente engendrado, e Hijo. De aquí, también, que todas estas cosas que pertenecen a la generación de las cosas vivas se usen en la Escritura para denotar la procesión de la Sabiduría divina; es decir, por vía de concepción y nacimiento (conceptione et partu); pues, como se ha dicho de la persona de la Sabiduría Divina, "Cuando no había valles, yo fui concebida (concepta). Antes de que las colinas fueran, yo fui parida (parturiebar)"» (Summa Theologica I.27.2C y ad 2, citando Proverbios 8:24, 25).

Todo el texto de Proverbios 8 recuerda Rg Veda   Samhita X.125. Compárese, por ejemplo, «A vosotros, oh hombres, yo os llamo. Escuchad; pues quiero hablar de cosas excelentes; y la apertura de mis labios será para cosas rectas. yo soy comprensión; yo tengo fuerza. Por mí reinan los reyes. yo amo a quienes me aman. El Senor me poseyó en el comienzo de su vía, antes de sus obras de antiguo. Yo fui establecida desde siempre, desde el comienzo, antes de que la tierra fuera. Cuando Él preparó los cielos yo estaba allí. yo estaba junto a Él, como crecida junto con Él: y yo era diariamente su delicia, regocijándome siempre ante Él, regocijándome en las partes habitables de su tierra; y mis delicias eran con los hijos de los hombres. Todos los que me odian aman la muerte  », con «yo iba con los Rudras, Vasus, Adityas y la multitud de los ángeles; yo soy el soporte de Mitravarunau, Indragni y los Asvins emparejados... yo soy la Reina, en quien todos los bienes tienen su custodia, sapientísima. A través de mí todos comen el pan de la vida, quienquiera que ve, o respira, u oye; aunque insapientes, todos éstos moran en mí. Escuchad mi dicho fidedigno. Yo, nadie sino yo, pronuncia lo que es más deleitable, tanto a los hombres como a los ángeles: aquel a quien yo amo, hago de él un Poder terrible, un Brahman  , o Profeta  , o Comprehensor. Yo que soy la matriz en las Aguas y el Mar, doy a luz al Padre (es decir, como el Hijo), cuando origino, y soy su cabeza. Mi soplo es, ciertamente, el que insufla al Viento, mientras tomo en la mano los múltiples mundos para formarlos: tan lejos alcanza mi dominio, que yo prevalezco más allá de estos cielos y de esta ancha tierra». En la primera de estas citas es Sophia   quien habla, en la segunda Vac [6].

Está suficientemente claro, por el texto de Santo Tomás citado arriba, que su «principio conjunto» in divinis corresponde a las nociones de Esencia y Naturaleza («esa Naturaleza por la que el Padre engendra», Summa Theologica I.41.5C); y que él identifica esta Naturaleza con la «Sabiduría» de los Proverbios, la Sophia de Dante   Alighieri, a quien (Dante Alighieri) llama «la esposa del Emperador del Cielo  , y no sólo esposa, sino hermana e hija amadísima», y de quien dice que «Ella existe en él de manera verdadera y perfecta como si estuviera eternamente casada con Él» (Convito III.12) [7].

Puede citarse una autoridad mayor en Génesis 1:26, 27, «Y Dios dijo, Hagamos al hombre en nuestra propia imagen, según nuestra semejanza. Así pues, creó Dios al hombre en su propia imagen, en la imagen de Dios le creó; macho y hembra los creó» [8]. La semejanza es ejemplar. La forma de la humanidad creada no es la de este hombre en tanto que se distingue de la de esta mujer, sino la de su humanidad común: «Él llamó a su nombre (de ellos) Adán  », Génesis 5:2. Este hombre (Adán) es, de hecho, una sicigia, hasta que la Deidad saca a la mujer de él, a fin de que él no esté solo [9]: «Ella será llamada Mujer debido a que fue sacada del Hombre», Génesis 2:23 [10]. Así pues, nunca podría haberse dicho «En esta semejanza» si no hubiera habido ya un arquetipo de esta polaridad en Dios —es decir, por supuesto, in principio, pues nosotros no estamos hablando de una composición in divinis [11]. Además, la doctrina cristiana, como la india, considera una reunión última de los principios divididos, allí donde «no hay macho ni hembra: pues vosotros sois todos uno (sánscrito eki-bhuta) en Cristo Jesús» (Gálatas 3:28) [12]. Es decir, donde ya no se trata de este hombre o esta mujer, sino sólo de ese Hombre Universal   de quien dice Boehme   que «este campeón o león no es hombre o mujer, sino ambos» (Signatura Rerum   XI.43).

Si se objeta, finalmente, que toda esta fraseología sexual es una suerte de retórica y que no ha de tomarse literalmente, diremos que no se trata de retórica en ningún sentido «literario», sino de analogía y de simbolismo: como es explícito en ambos pasajes de la Brhadaranyaka Upanishad  , citados arriba, no se trata de un hombre y de una mujer de hecho, ni de ninguna existencia, sino de la forma del ser que es «por así decir (yatha) la de un hombre y mujer estrechamente abrazados». Toda nuestra intención ha sido indicar que un adecuado simbolismo de este tipo se ha empleado universalmente en la tradición ortodoxa y unánime y, más específicamente, dentro de los límites del presente   artículo, mostrar de qué manera se ha empleado en las formas hindú y cristiana de la revelación transmitida.

Roberto Pla

Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito. (Jo 3:1-8)

  • Em todas as religiões autênticas distingue-se o “nascimento do alto” co “nascimento de baixo”, o nascimento espiritual do homem de seu nascimento corporal.
  • Nascer do Espírito, é nascer ao Espírito: ligação formal do homem ao Princípio transcendente de onde veio a “Deus que é Espírito” e que também é a finalidade do ser humano, como de todos os seres e de todas as coisas.
    • A religio sendo precisamente o que “recolhe de novo” (relegere) o homem em Deus ou que o “recolhe de novo” (relegere) com Ele, após sua parente separação   de Ele, devida não somente ao seu nascimento corporal, a seus estado   de criatura.
  • Antes de sua criação o ser humano não era nada mas essência incriada (ageneton), oculta na Essência divina, unida eternamente a Ela.

  • Quando o Cristo diz a Nicodemo que é preciso “renascer da água e do espírito”, ele responde a um dos doutores de Israel, logo a um homem que não somente associado a uma religião, mas profundamente enraizado nela, sem no entanto em ter realizado as implicações espirituais decisivas. Neste caso, “nascer da água e do espírito” significa o nascimento espiritual efetivo, sobre a base de uma associação formal ao Divino pelo batismo.
  • Este nascimento espiritual do cristão no pleno sentido do termo é prefigurado e operado eternamente pelo engendramento do Filho in divinis.
    • Prefigurado na exegese   esotérica judaica: “Filho” (bem ou Bar) representa ao mesmo tempo a “Beleza” (Tiphereth  ), a “Misericórdia” (Rahamim) e a “Omniciência” (Da’ath) criadora, reveladora e salvadora, nascida do divino “Pai” (Aw ou Abba) — denominado também a eterna Sabedoria (Hokhmah  ) — e de Sua Receptividade própria, a suprema “Mãe” (Em ou Immah) — a “Inteligência” (Binah  ) transcendente.
  • ”Falarei do decreto do Senhor; ele me disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei.” (Sl 2:7) (hbr.: YHVH amar   elaï benni attah ani hayom yelidtikha)
    • Interpretada esotericamente: YHVH (a “Essência” divina, enquanto que Ela se revela como Pessoa suprema) amar elaï (me disse, em me engendrando por aí mesmo como seu Verbo e Filho) hayom (“hoje em dia”, no eterno Instante  ) yelidtikha (“Eu te engendrei ou “conceberei”, — engendramento, filiação: eterna revelação da única Essência para Ela mesma e a tudo aquilo que decorre de Ela, a tudo aquilo que é).

[1Marcos, José Luis Espinel, Ibidem, p.89.

[2A temática bíblico-teológica do "Filho do Homem" já foi tratada na segunda parte do nosso estudo. O leitor vai encontrar algumas repetições.

[3Esta listagem foi retirada da obra de Marcos,J. L. E., Ibidem p. 92.

[4(Sobre las dos Afroditas, una Ourania, la hija mayor del Cielo (Ouranos), y la otra, la más joven, hija de Zeus y Dione, llamada Pandemos (= Vaisvanara), cf. Banquete 180D).

[5Puede destacarse que es una doctrina cardinal del cristianismo que no hay ninguna potencialidad o pasividad en Dios, que está todo en acto. Por otra parte, aunque para Santo Tomás «El poder de generación pertenece a Dios» (Summa Theologica I.41.5, y como debe asumirse también del uso general de gignomai lado a lado con poieon en el Nuevo Testamento griego), también dice que «En todo acto de generación hay un principio activo y un principio pasivo» (Summa Theologica I.98.2C). Puede efectuarse una reconciliación de estas dos proposiciones, si consideramos que los principios conjuntos in divinis no son dos seres separados; de la misma manera que en el caso de las Tres Personas, de quienes pueden predicarse funciones características sin impugnar su co-esencialidad. No hay ninguna potencialidad irrealizada en Dios; al mismo tiempo, Su potencialidad inagotable permanece intacta sin disminución: como en Brhadaranyaka Upanishad V.1, «Cuando el plenum se toma del ple-num, el plenum permanece». Los principios conjuntos in divinis son los de una Esencia estática (bhutata) y un Poder dinámico (sakti) (Maestro Eckhart, ed. Evans, p. 276, «La Esencia, cuando es activa en el Padre, es la Naturaleza»; cf. Hermes, Asclepius III.21); cuando éstos están efectivamente divididos, estático y dinámico devienen activo y pasivo, y éste es uno de los sentidos en los que puede decirse que «La Naturaleza recede de la semejanza a Dios», en tanto que Ella deviene el recipiente de la forma; y entonces puede decirse, con Dante Alighieri, «cima nel mondo, in che puro atto fu produtto. Pura potenza tenne la parte ima» (Paradiso XXIX.32-34), «Cima del mundo, donde el acto puro vino al ser; la potencialidad pura estaba en la parte inferior». (Sobre Mathnawi I.2437, «Ella es un rayo de Dios, ella no es tu bien amada: ella es creativa, tú podrías decir que ella no es creada»; Wali Muhammad en su Sharh-i-Mathnawi (Lucknow, 1894), p. 156, comenta: «pues los atributos, agens y patiens, pertenecen a la esencia del Creador y ambos se manifiestan en la mujer». Nótese también Rg Veda Samhita III.31.2, anyah karta. anya rndhan).

[6(Cf. Chandogya Upanishad VI.1.4, vaca arambhana, causa sólo de la variedad de las apariencias; sobre Hokhmah (= Sophia) como «esposa» o «hija» de Dios, cf. D. Nielsen, «Die altsemitische Muttergötten», Zeitschrift der deutschen morgenlandischen Gesellschaft, XCII (1938), 550).

[7A quien también Dante Alighieri se dirige como «Virgen Madre, hija de tu Hijo» (Paradiso XXXIII.1). Una confusión de relaciones similarmente «incestuosas» se encuentra también en las formulaciones indias e inclusive islámicas (cf. Coomaraswamy, «El Lado Más Obscuro de la Aurora», 1935, p. 5, y Una Nueva Aproximación a los Vedas, 1933, p. 3 y notas 9 y 10); en otras palabras, la polaridad de los principios conjuntos no es meramente análoga a la de macho y hembra en una relación particular y marital, sino en todas las relaciones recíprocas posibles.

[8Sobre este pasaje ver el Comentario en el Zohar I, 90-92, «el Padre dijo a la Madre por medio de la Palabra» y «el Hombre de emanación era a la vez macho y hembra, por ambos lados Padre y Madre».

[9Obsérvese el paralelo en Brhadaranyaka Upanishad I.4, donde Prajapati se divide a sí mismo, deseando un segundo, debido a que «para el que está solo no hay ningún deleite». Otro paralelo que puede observarse aparece en conexión con la descripción bíblica de Eva como habiendo sido hecha de la costilla de Adán (Génesis 2:21-22), de la misma manera que en Rg Veda Samhita X.85.23 la hija de Manu se llama la «costilla» (parsu), «a través de quien (bajo el nombre de Ida o Ila) él generó esta raza de hombres» (Satapatha Brahmana I.8.1.10). Esta Ila es también un nombre de la madre de Agni (Rg Veda Samhita III.29).

[10«Todas las criaturas vivas, que habían sido hasta entonces bisexuales, fueron partidas en dos, y el hombre con el resto; y vinieron a ser así machos por una parte, e igualmente hembras por la otra» (Hermes, Lib. I.18).

[11Cf. el Apocalypse of John (citado por Baynes, tr., A Coptic Gnostic Treatise, p. 14), «Los Tres, el Padre, la Madre y el Hijo, el Poder perfecto», y Sankhayana Aranyaka VII.15, «Todo eso se declara ser Uno. Pues la Madre y el Padre y el Hijo son este todo».

[12(Gálatas 3:28 es citado por Santo Tomás, Summa Theologica I.93.6 ad 2, en ilustración de su propia afirmación, «la imagen de Dios pertenece a ambos sexos, puesto que ella está en la mente, donde no hay ninguna distinción sexual»; Omne quod generatur, generatur ex contrario, Summa Theologica I.46.1 ad 3).