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Evangelho de Jesus

Logia Jesus: Autoridade (Mt 21,23-27; Mc 11,27-33; Lc 20,1-8)

LOGIA JESUS

sexta-feira 12 de agosto de 2022, por Cardoso de Castro

      

Quem é aquele então cujas palavras sobre si mesmo  , em ruptura com tudo o que sabemos do mundo, permanecem inconcebíveis sob a luz   deste último? Uma única resposta  : é com a condição de escapar  , com efeito, às estruturas fenomenológicas do mundo que Cristo   pode dizer de si tudo o que diz. [Michel Henry  , tr. Carlos Nougué]

      

Lc 20,1-8

lk  .20.1 και [AND] εγενετο [IT CAME TO PASS] εν [ON] μια των [ONE] ημερων εκεινων [OF THOSE DAYS,] διδασκοντος [AS WAS TEACHING] αυτου [HE] τον [THE] λαον [PEOPLE] εν [IN] τω [THE] ιερω [TEMPLE] και [AND] ευαγγελιζομενου [ANNOUNCING THE GLAD TIDINGS,] επεστησαν [CAME UP] οι [THE] αρχιερεις [CHIEF PRIESTS] και [AND] οι [THE] γραμματεις [SCRIBES] συν [WITH] τοις [THE] πρεσβυτεροις [ELDERS,]

lk.20.2 και [AND] ειπον [SPOKE] προς [TO] αυτον [HIM,] λεγοντες [SAYING,] ειπε [TELL] ημιν [US] εν [BY] ποια [WHAT] εξουσια [AUTHORITY] ταυτα [THESE THINGS] ποιεις [THOU DOEST,] η [OR] τις [WHO] εστιν [IT IS] ο [WHO] δους [GAVE] σοι την [TO THEE] εξουσιαν ταυτην [THIS AUTHORITY?]

lk.20.3 αποκριθεις δε [AND ANSWERING] ειπεν [HE SAID] προς [TO] αυτους [THEM,] ερωτησω [WILL ASK] υμας [YOU] καγω [I ALSO] ενα [ONE] λογον [THING,] και [AND] ειπατε [TELL] μοι [ME,]

lk.20.4 το [THE] βαπτισμα   [BAPTISM] ιωαννου [OF JOHN] εξ [FROM] ουρανου [HEAVEN] ην [WAS IT] η [OR] εξ [FROM] ανθρωπων [MEN?]

lk.20.5 οι δε [AND THEY] συνελογισαντο [REASONED] προς [AMONG] εαυτους [THEMSELVES,] λεγοντες οτι [SAYING,] εαν [IF] ειπωμεν [WE SHOULD SAY] εξ [FROM] ουρανου [HEAVEN,] ερει [HE WILL SAY] διατι [WHY] ουν ουκ [THEN] επιστευσατε [DID YE NOT BELIEVE] αυτω [HIM?]

lk.20.6 εαν δε [BUT IF] ειπωμεν [WE SHOULD SAY] εξ [FROM] ανθρωπων [MEN,] πας [ALL] ο [THE] λαος [PEOPLE] καταλιθασει [WILL STONE] ημας [US;] πεπεισμενος γαρ εστιν [FOR THEY ARE PERSUADED "THAT"] ιωαννην [JOHN] προφητην [A PROPHET] ειναι [WAS.]

lk.20.7 και [AND] απεκριθησαν μη [THEY ANSWERED] ειδεναι [THEY KNEW NOT] ποθεν [WHENCE.]

lk.20.8 και ο [AND] ιησους [JESUS  ] ειπεν [SAID] αυτοις [TO THEM,] ουδε [NEITHER] εγω [I] λεγω [TELL] υμιν [YOU] εν [BY] ποια [WHAT] εξουσια [AUTHORITY] ταυτα [THESE THINGS] ποιω [I DO.]

Michel Henry

A fim de expor de maneira correta o discurso à primeira vista estupendo que o Cristo tem sobre ele mesmo e que constitui o coração   do Novo Testamento  , convém responder claramente à questão prévia: quem tem este discurso e enfim de que direito? É precisamente a questão que os judeus   colocam ao Cristo.

Eis portanto a questão dos “judeus”: «Como (Jesus) circulava no templo  , os grandes sacerdotes  , os escribas e os Anciãos vieram a ele e eles lhe disseram: “De que direito fazes isso, ou quem te deu este direito aí, para isso fazer?”» (Mc   11,27-30). Sabe-se por qual desvio, os remetendo a uma questão que os embaraçava: «O batismo de João era do Céu ou dos homens?» — a ponto que eles preferem se calar: «Nós não sabemos» —, o Cristo se dispensa esta vez de lhes responder ele mesmo: «Eu também, não vos direi de que direito faço isso». Dois   traços, neste enfrentamento que se repetirá sob uma forma mais e mais tensa e finalmente trágica, são particularmente notáveis: por um lado, a pertinência da demanda que remete infalivelmente do direito de fazer o que faz o Cristo à natureza daquele que tem ou que não tem este direito; por outro lado, a esquiva do Cristo diante desta interrogação no entanto essencial: logo quem és tu, e isso para te arrogar um tal direito? Ou ainda: «Quem pretendes ser?» (Jo 8,53). E enfim, na sua última formulação por Pilatos   desta vez: «De onde és tu?» (Jo 19,9).

Que a resposta   seja em um primeiro tempo eludida e depois sem cessar diferida, envelopada em parábolas, entregue de maneira fragmentária, indireta, enigmática, antes de ser acenada de um golpe em uma brutalidade extrema, pode-se ser tentado a explicá-la por motivações que pertencem ao mundo e à ordem   dos afazeres humanos. Formulada em sua nudez  , tornada enfim transparente na medida que se possa fazer e privada de equívoco, o dizer do Cristo sobre ele mesmo significará sua condenação à morte. Compreende-se então que este dizer sobre si tenha sido retardado tanto tempo quanto o Cristo o estimou necessário para realizar sua missão. Somente, explicado desta maneira na luz do mundo e esclarecido por ela, o dizer sobre si do Cristo se torna grandemente ininteligível  . E isso porque a Verdade da qual fala o Cristo e que ele a apresenta bem mais como sua própria essência, não é precisamente aquela do mundo mas uma Verdade que nada tem a ver com este.

Do ponto de vista do mundo a condenação do Cristo é perfeitamente compreensível, bem mais ela é legítima. Do ponto de vista do mundo, o Cristo é um homem   e, na medida que seu discurso sai de sua dissimulação inicial para se produzir em plena luz, o que ele afirma sobre ele mesmo aparece insensato ou escandaloso. Eis um homem que declara ser nascido   antes de um outro, na ocorrência   Abraão, que o precede de alguns séculos na história; que pretende poder fazer que o que é não seja, que o que não é seja — perdoar os pecados, ressuscitar os mortos; que pretende jamais morrer   e, para completar, que se identifica simplesmente a Deus  . Proposições insensatas não porque contradizem o senso comum   ou as crenças de uma sociedade dada. Mas porque desafiam as estruturas fenomenológicas do mundo ele mesmo, a maneira pela qual ele se faz mundo em aparecendo como tal, por exemplo a temporalidade deste mundo, sua irreversibilidade — o Cristo dizendo não estar preocupado nem pela primeira nem pela segunda.

Quem é portanto este cujo dizer sobre ele mesmo, em ruptura com tudo o que sabemos do mundo, permanece inconcebível sobre o esclarecimento deste último? Uma única resposta: é na condição de escapar  , com efeito, às estruturas fenomenológicas do mundo que o Cristo pode dizer dele tudo o que diz. Somente sua condição de Arquifilho transcendental co-gerado na auto-geração da Vida absoluta é suscetível de legitimar asserções que não convém em todo rigor   senão a Deus. E é bem o que nós temos sob os olhos, em João notadamente. A auto-designação do Cristo como Filho   de Deus só faz em efeito comentar sua condição de Arquifilho tal que uma fenomenologia radical da vida por estabelecê-la, enquanto que, aplicada a um homem deste mundo e vindo dele, ela apareceria simplesmente absurda e demente, como ela o foi ao olhos dos religiosos de seu tempo e como ela o seria ainda bastante para os homens de hoje em dia se por acaso lhes viesse à ideia lhe prestar atenção. A que ponto a auto-designação do Cristo como o Arquifilho só é a transcrição imediata de sua condição, é o que é possível estabelecer ponto por ponto. Surgem então uma série de tautologias fundamentais, as tautologias fundadoras da vida que chamaremos também as implicações decisivas do cristianismo e que se trata aqui de pô-las na ordem que as torna compreensíveis. [EU SOU A VERDADE]


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