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Edith Stein: A Significação da fenomenologia como concepção do mundo: O que é a fenomenologia? (I)

quarta-feira 23 de março de 2022, por Cardoso de Castro

  

Nos perguntemos inicialmente o que se deve entender por "fenomenologia", sem que seja questão de reter todas as significações que este termo recebeu nos sistemas filosóficos do passado. Quando se fala hoje em dia de fenomenologia, entende-se uma importante corrente filosófica de nossa época, que teve nascimento faz uns trinta anos - há dez ou quinze anos escreveria este sensaio sem hesitar: que foi criada por Edmund Husserl   quando publicou as Logische Untersuchungen, cuja primeira edição remonta aos anos 1900-1901. E teria me contentado em caracterizar a fenomenologia de Husserl. Mas, hoje em dia, a situação mudou: para um conjunto grande de pessoas interessadas em filosofia, o nome de Husserl está fortemente ofuscado por aqueles de Max scheler   e Martin Hiedegger, que exerceram sobre este conjunto, mas também sobre filósofos de profissão, uma maior fascinação do que fizeram as pesquisas sóbrias e rigorosas de Husserl.

Só para constatar fatos históricos: o termo fenomenologia foi escolhido por Husserl para designar o método filosófico que conseguiu por em marcha por conta de um duro trabalho intelectual perseguido durante longos anos, e que foi apresentado pela primeira vez nas Logische Untersuchungen sob uma forma amplamente eficaz. Nos anos consagrados a esta obra - os doze anos que viveu em Halle como docente -, esteve em relação estreita com Max Scheller, que então estava em Iena. Scheler sempre insistiu sobre o fato que não foi discípulo de Husserl, que descobriu por ele mesmo o método fenomenológico, e que só houve encontro com Husserl nos resultados. disto estava certamente convencido com toda honestidade. Mas para quem conhece os dois homens - Husserl sempre mergulhado em seu pensar a ponto de não poder se distrair, falando dificilmente de outra coisa e recebendo ainda mais dificilmente as ideias de outro, e Scheler cujo trabalho era no fundo impressionista, que recebia do que ouvia e lia as mais fecundas impressões, e que as apropriava tão facilmente que nem notava mais e não sabia mais de onde provinham suas ideias -, a prioridade neste affaire não deixa dúvidas.

O círculo de discípulos que se reunia em Göttingen ao redor de Husserl depois que ela aí foi chamado recebeu igualmente fortes influência de Scheler; e é a esta influência que Husserl atribui o fato que a maior parte de seus discípulos de Göttingen não o seguiram em sua evolução ulterior. Heidegger  , vindo de uma outra escola, se aproximou dele em Freiburg desde 1918 e foi introduzido por ele ao método fenomenológico, que dominava admiravelmente. Mas sobre questões de princípio, sobre questões decisivas- às quais acordavam um e outro grande importância -. Heidegger, ele também, se separou de Husserl. Estes últimos anos, Heidegger desfrutou de uma grande audiência não somente junto aos filósofos de profissão, mas junto aos espíritos abertos e receptivos, audiência comparável àquela de Scheler durante a guerra e o após-guerra.

Se se quer falar hoje em dia da fenomenologia e de sua significação como concepção do mundo, não é possível negligenciar estes nomes (mesmo se se decidiu deixar de lado outros representantes importantes da investigação fenomenológica). Eu me encontro assim diante de uma tarefa, no fundo impossível de levar a contento, de caracterizar, em um estreito quadro, as três orientações que se ligam a estes nomes. Vou tentar ter sucesso esboçando a fenomenologia de Husserl, e nisto mostrando sobre que pontos os dois outros filósofos dela se distinguem.