Página inicial > Antiguidade > Platão (V-IV aC) > Platão (Fedro:259e-266c) — Condições gerais de uma obra de arte

Diálogos de Platão

Platão (Fedro:259e-266c) — Condições gerais de uma obra de arte

Fedro

domingo 12 de dezembro de 2021, por Cardoso de Castro

      
    • A. A arte de falar (259d-274b)
      • a) Princípios (259d-266c)
        • Toda arte implica no conhecimento do verdadeiro
          • a retórica só se interessa pelo verossímil
          • o verossímil implica no verdadeiro
        • O conhecimento do verdadeiro depende de um método
          • exigências
            • definição
            • organização
          • procedimentos dialéticos
            • exemplo de loucura
            • descrição dos procedimentos
      

Nunes

SÓCRATES: - Pensemos pois sobre o que há pouco estávamos discutindo; examinaremos o que seja recitar ou escrever   bem um discurso, e o seu contrário, fazê-lo mal.

FEDRO  : - Isso mesmo.

SÓCRATES: - Pois bem: não ser  á necessário que o orador seja bom conhecedor e de fato bem informado sobre a verdade do assunto de que vai tratar?

FEDRO: - A esse respeito, Sócrates  , ouvi o seguinte: para quem quer tornar-se orador consumado não é indispensável conhecer o que de fato é justo, mas sim o que parece justo para a maioria dos ouvintes, que são os que decidem; nem precisa saber tampouco o que é bom ou belo, mas apenas o que parece tal - pois é pela aparência que se consegue persuadir, e não pela verdade.

SÓCRATES: - Não se deve desdenhar, caro Fedro, da palavra hábil, mas antes refletir   sobre seu significado. O que acabas de dizer merece toda a nossa atenção.

FEDRO: - Tens razão.

SÓCRATES: - Examinemos, pois, essa afirmação.

FEDRO: - Sim.

SÓCRATES: - Imagina que eu procuro persuadir-te a comprar um cavalo para defender-te dos inimigos, mas nenhum dos dois   saiba o que seja um cavalo; eu, porém, descobri por acaso uma coisa: “Para Fedro, o cavalo é o animal   doméstico que tem as orelhas mais compridas”...

FEDRO: - Isso seria ridículo, querido Sócrates.

SÓCRATES: - Um momento. Ridículo seria se eu quisesse seriamente persuadir-te a que escrevesses um panegírico do burro, chamando-o de cavalo e dizendo que é muitíssimo útil comprar esse animal para o uso doméstico, bem como para expedições militares; que ele serve para montaria de batalha  , para transportar bagagens e para diversos outros misteres.

FEDRO: - Isso seria ainda ridículo.

SÓCRATES: - Um amigo que se mostra ridículo não é preferível a quem se revela como perigoso e nocivo?

FEDRO: - Não há dúvida.

SÓCRATES: - Quando um orador, desconhecendo o que seja a natureza do bem e do mal, encontra os seus concidadãos na mesma ignorância e os persuade, não a tomar a sombra de um burro por um cavalo, mas o mal pelo bem; quando, conhecedor dos preconceitos da multidão, ele a impele para o mau caminho   - nesses casos, a teu ver, que frutos a retórica poderá recolher daquilo que ela semeou?

FEDRO: - Não pode ser muito bom fruto  .

SÓCRATES: - Mas vejamos, meu caro: não teremos nós sido muito rigorosos em nossas censuras contra a arte retórica? Pode suceder que ela responda: “que estais a tagarelar, homens ridículos? Eu não obrigo ninguém - dirá ela - que ignore a verdade a que aprenda a falar. Mas aquele que seguir o meu conselho tratará de adquirir primeiro os conhecimentos acerca daverdade para, depois, se dedicar a mim  . Mas uma coisa posso afirmar com orgulho  : sem as minhas lições, a posse da verdadede de nada servirá para persuadir”.

FEDRO: - E não teria ela razão dizendo isso?

SÓCRATES: - Reconheço que sim, desde que os argumentos usuais provem que de fato a retórica é uma arte; mas, se não me engano  , tenho ouvido algumas pessoas atacá-la e provar que ela não é arte, mas sim um negócio que nada tem que ver com a arte. O lacônio declara: “não existe arte retórica propriamente dita sem o conhecimento da verdade, nem haverá jamais tal coisa”.

FEDRO: - Para demonstrá-lo, ó Socrates, será necessário apresentar esses argumentos. Traze-os aqui, e vejamos o que eles dizem!

SÓCRATES: - Vinde, nobres criaturas! Convencei a Fedro, pai   de belos filhos, de que, se não estudar convenientemente a filosofia, não poderá dissertar sobre coisa alguma! Mas tu, Fedro, responde!

FEDRO: - Pergunta.

A oratória

SÓCRATES: - Não te parece que a retórica seja a arte de dirigir as almas por meio de palavras, não só nos tribunais e outras reuniões públicas, mas também entre particulares, tanto nos grandes como nos pequenos assuntos? Não te parece ser tão louvável empregá-la, assim como deve ser empregada, nos negócios importantes como nos de pouca monta? Não é o que tens ouvido dizer sobre este assunto?

FEDRO: - Não é bem isso, por Zeus  ! Acima de tudo, fala-se e escreve-se com arte nos julgamentos e nas assembleias do povo. Quanto ao mais, nunca ouvi qualquer referência.

SÓCRATES: - Acaso não ouviste falar nas regras de retórica que Nestor e Ulisses escreveram perto de Ílion durante suas folgas? Não te falaram, também, das regras de Palamedes?

FEDRO: - Por Zeus que não! Nem das de Nestor e de Ulisses, a não ser que o teu Nestor seja Górgias e Trasímaco e Teodoro um Ulisses.

SÓCRATES: - Talvez. Mas deixemos de lado esses homens. Dize-me tu: como procedem nos tribunais os advogados dos litigantes? Não contradizem um ao outro? Ou não será bem assim?

FEDRO: - É exatamente assim.

SÓCRATES: - Eles contradizem pois um ao outro a respeito do justo e do injusto?

FEDRO: - Sim.

SÓCRATES: - E quem fizer isso com arte não conseguirá que a mesma coisa pareça aos mesmos homens ora justa, ou injusta, como melhor lhe convier?

FEDRO: - Sim.

SÓCRATES: - E nas assembleias do povo ele não conseguirá que que mesma coisa pareça aos cidadãos do Estado  , por vezes boa e outras má?

FEDRO: - É justamente o que sucede.

SÓCRATES: - Não sabemos nós que o Palamedes eleático falava com tanta arte que a mesma coisa parecia aos seus ouvintes semelhante e dessemelhante, unidade   e diversidade, imóvel   e em movimento?

FEDRO: - Sim, sabemos.

SÓCRATES: - Ora, não só em tribunais e nas assembleias do povo há discussões e contradições; em toda sorte de discursos a arte, caso exista, deve ser a mesma, permitindo que tudo se possa comparar e lançar luz sobre as comparações, tornar claro o que o adversário procura confundir ou obscurecer.

FEDRO: - Como a entendes tu, Sócrates?

SÓCRATES: - Nossa indagação vai esclarecê-lo. Entre quais coisas é mais fácil que haja engano: nas que diferem muito ou pouco entre si?

FEDRO: - Nas que diferem pouco.

SÓCRATES: - E o engano será menos notado se passarmos gradualmente de uma causa   para o seu contrário, do que se o fizermos de um só salto?

FEDRO: - Evidentemente.

SÓCRATES: - Pois bem: quem quer iludir alguém, sem se deixar iludir, deve conhecer com exatidão e detalhadamente a semelhança   e dessemelhança dos objetos.

FEDRO: - Sim.

SÓCRATES: - Um homem   que não conhece as verdadeiras qualidades de cada coisa será capaz de perceber a maior ou menor semelhança entre um objeto desconhecido   e os que já lhe são familiares?

FEDRO: - É impossível.

SÓCRATES: - Torna-se pois evidente   que aqueles cuja opinião   não corresponde à realidade e que têm dela conceito errôneo, caem em tal erro   porque foram iludidos por certas semelhanças.

FEDRO: - Sim, claro.

SÓCRATES: - E se um homem ignorar as verdadeiras qualidades das coisas não poderá passar pouco a pouco da realidade ao seu contrário, utilizando a sua arte por meio de semelhanças. Ou ser-lhe-á possível defender-se contra isso?

FEDRO: - Nunca.

SÓCRATES: - Logo, meu caro amigo, quem não conhece a verdade, mas só alimenta opiniões, fará naturalmente da arte retórica uma coisa ridícula que não merece o mome de arte.

FEDRO: - Parece que sim.

SÓCRATES: - Queres que procuremos agora, no discurso de Lísias que trazes contigo, bem como nos outros dois que pronunciamos, quais as coisas que chamamos de arte e quais as que não o são?

FEDRO: - Nada me daria maior prazer do que isso, pois até agora estivemos falando em regras abstratas; sem mencionar exemplos.

SÓCRATES: - Parece que, por felicidade  , os dois discursos contêm este exemplo: aquele que possui a verdade pode, facilmente, iludir seus ouvintes. Eu, porém, caro Fedro, atribuo isso aos deuses deste lugar; mas pode ser também que os arautos das Musas  , os cantores acima de nossa cabeça, nos tenham inspirado; porque eu não tenho nenhum conhecimento da arte retórica.

FEDRO: - Pode ser; mas explica o que dizes!

SÓCRATES: - Então lê o exórdio do discurso de Lísias.

FEDRO: - “Conheces os meus sentimentos e, como já me ouviste dizer, acredito que nos será proveitosa a realização   deste desejo. Confio em que meu pedido não será feito em vão, pois não sou teu amante. Os amantes, com efeito, ao saciarem sua concupiscência, arrependem-se...”

SÓCRATES: - Basta. Devemos verificar qual é o erro do autor e em que ponto ele não se mostra à altura de sua arte, não é verdade?

FEDRO: - Sim.

SÓCRATES: - Não é evidente que estamos de acordo em certos pontos e em outros temos opiniões diferentes?

FEDRO: - Acho que entendo o que queres dizer, mas fala com mais clareza  !

SÓCRATES: - Quando alguém usa as palavras “ferro” ou “prata”, não pensamos todos a mesma coisa?

FEDRO: - Naturalmente.

SÓCRATES: - Mas quando alguém diz “justo” ou “bom”, não pensa um numa coisa e outro noutra? Não discordamos a esse respeito uns dos outros e até de nos mesmos?

FEDRO: - Sim, muito.

SÓCRATES: - Muito bem; então em alguns assuntos concordamos; em outros não.

FEDRO: - Assim é.

SÓCRATES: - Em que assuntos podemos ser iludidos com mais facilidade? Em qual dos dois casos a arte retórica tem mais poder?

FEDRO: - Evidentemente, em assuntos incertos e duvidosos.

SÓCRATES: - Segue daí que quem quiser dedicar-se à arte retórica, deve primeiro ter distinguido entre esses dois gêneros de assuntos e compreendido o caráter de cada um deles; deve também saber em que casos a massa   do povo duvida e em que casos a dúvida é impossível.

FEDRO: - O orador que alcançasse isso, caro Sócrates, possuiria por certo muita habilidade  .

SÓCRATES: - Sim, esse homem nunca teria dúvida, perceberia logo a qual dos dois gêneros pertence o assunto sobre que pretende falar.

FEDRO: - É claro.

SÓCRATES: - Mas então, que diremos de Eros  ? Será ele um caso de dúvida, ou não?

FEDRO: - Evidentemente, é um dos assuntos sobre os quais paira dúvida. Ou acreditas que Eros te permitiria dizer o que há pouco disseste dele, afirmando primeiro que é uma desgraça para o amado, e depois descrevendo-o como o maior dos bens?

SÓCRATES: - Falaste muito bem. Mas dize-me ainda uma coisa, pois, devido ao meu entusiasmo   não me recordo bem: no início do meu discurso, dei   uma definição do amor?

FEDRO: - Sim, por Zeus, e uma definição excelente.

SÓCRATES: - Oh! então as ninfas do Aqueloo e o Pã de Hermes   devem possuir muito mais arte quanto a discursos do que Lísias, o filho de Céfalo! Ou porventura estarei enganado? Deu-nos Lísias, no começo do seu discurso sobre o amor, uma definição de Eros? Ordenou ele o discurso de acordo com essa definição para assim o realizar? Queres ver mais uma vez o princípio do discurso?

FEDRO: - Se quiseres, eu o farei; mas o que procuras não está aqui.

SÓCRATES: - Lê, para que eu mesmo ouça o que ele diz!

FEDRO: - “Conheces os meus sentimentos e, como já me ouviste dizer, acredito que nos será proveitosa a realização deste desejo. Confio em que meu pedido não será feito em vão, pois não sou teu amante. Os amantes, com efeito, ao saciarem sua concupiscência, arrependem-se das vantagens que ofereceram...”

SÓCRATES: - Este homem, ao que parece, está muito longe de oferecer  -nos o que procuramos. Não começa o discurso pelo princípio, mas pelo fim, como alguns que tentam nadar de costas. Começa por examinar o que o amante poderia dizer ao amado depois de terminado o amor. Ou não será assim, Fedro?

FEDRO: - Sim, Socrates, ele só trata do fim.

SÓCRATES: - E que mais diremos? Não te parece que as frases do discurso estão mal ordenadas? Nota-se que a segunda frase deveria necessariamente ocupar o segundo lugar, mas que o mesmo se poderia dizer das demais frases. Não sou competente em matéria de discursos, mas este me deu a impressão   de que o autor deitou ao papel sem muito cuidado   o que lhe veio à cabeça. Conheces tu alguma regra   de retórica que possa justificar a ordem   adotada por ele?

FEDRO: - Lisonjeias-me se pensas que eu seja capaz de penetrar todos os artifícios da eloquência de Lísias.

SÓCRATES: - Mas acho que convirás nisto: todo o discurso deve ser constituído como um ser vivo e ter um organismo próprio; não deve lhe faltar a cabeça nem os pés, e tanto os órgãos centrais como os externos devem estar dispostos de modo a se ajustarem uns aos outros, e também ao conjunto  .

FEDRO: - Naturalmente.

SÓCRATES: - Ora, examina o discurso do teu amigo; dize-me se ele é assim! Verás que se assemelha muito à inscrição que, segundo alguns, foi gravada no sepulcro de Midas, rei da Frígia.

FEDRO: - Que inscrição?

SÓCRATES: - Esta: “Sou uma virgem de bronze e repouso no sepulcro de Midas. Enquanto correr a água e as altas árvores voltares a ser verdes. De pé, sobre este túmulo regado de lágrimas, Direi a todos que passam: aqui repousa Midas.” Sem dúvida, já deves ter notado que qualquer desses versos pode ocupar indiferentemente o primeiro ou o último lugar.

FEDRO: - Estás zombando do nosso discurso, caro Sócrates!

SÓCRATES: - Vamos então deixá-lo de lado, para que não te enfades, embora esse discurso oferça vários exemplos cujo exame   poderia ser muito útil a alguém que quisesse imitá-lo. Dirigiremos nossa atenção aos outros discursos, pois, a meu ver, eles contêm uma particularidade importante para os que desejam discutir sobre a arte oratória.

FEDRO: - A que te referes?

SÓCRATES: - Os dois discursos se contradizem. Um afirmava que se devem conceder favores ao apaixonado, e o outro, ao não apaixonado.

FEDRO: - E afirmaram-no com muita habilidade.

SÓCRATES: - Esperava que falasses a verdade, dizendo com muito furor: Não dissemos justamente que o amor é uma espécie de delírio?

FEDRO: - Sim.

SÓCRATES: - Mas há dois tipos de delírio: um nasce de uma moléstia da alma  , o outro de um estado divino que nos leva além das regras habituais.

FEDRO: - Perfeitamente.

SÓCRATES: - Em seguida, classificamos o delírio divino em quatro espécies: um era o sopro profético de Apolo; outro, a inspiração mística de Dionísio; o terceiro, o delírio poético inspirado pelas Musas,e finalmente, a quarta espécie de delírio devia-se à influência de Afrodite   e de Eros. Afirmamos que o delírio causado pelo amor é o melhor de todos. Não só como, nós que também somos atingidos pelo sopro do deus   do amor, afastando e aproximando-nos da verdade ao fazer um discurso ao qual não faltava sentido - pudemos compor um hino mitológico ao amor, o deus dos jovens, o teu, o meu deus.

FEDRO: - Não foi sem prazer que ouvi esse panegírico.

O método dialético

SÓCRATES: - Queres que examinemos, a esse respeito, a questão de como um discurso pode passar da condenação ao elogio?

FEDRO: - Que queres dizer?

SÓCRATES: - Parece-me que tudo o que dissemos até aqui foi mero passatempo. Mas o acaso nos serviu e nos levou a perceber que há duas maneiras   de proceder, que não são sem interesse  , desde que se possa compreender a passagem da condenação ao elogio.

FEDRO: - E quais são tais procedimentos?

SÓCRATES: - O primeiro é este: é abarcar num só golpe de vista todas as ideias esparsas de um lado e do outro, e fundi-las numa só ideia geral a fim de poder compreender, graças a uma definição exata, o assunto de que se deseja tratar. Assim foi que ainda há pouco demos do amor uma definição, que podia ser boa ou má, mas que ao menos trouxe clareza e ordem ao nosso discurso.

FEDRO: - Mas qual é o outro processo?

SÓCRATES: - É saber separar novamente a ideia geral nos seus elementos  , nas suas articulações naturais, sem todavia mutilar qualquer dos elementos primitivos, como faz um mau açougueiro. Os nossos dois discursos de há pouco apresentaram, primeiro, como vimos, uma ideia geral do delírio. A seguir, do mesmo modo que a unidade do nosso corpo abarca, sob o mesmo nome, os membros do lado esquerdo e do lado direito, também esses nossos discursos fizeram derivar dessa definição geral do delírio, duas noções distintas: uma que focalizou tudo que era errado e cumulou o amor infeliz de injúrias bem merecidas. Outra, que tomou o lado direito, certo, e foi ao encontro de um outro amor, que tem o mesmo nome, mas cujo princípio é divino, e que, cumulando-o de elogios, o apresentou como sendo a fonte   dos maiores bens.

FEDRO: - Tu falas com acerto!

SÓCRATES: - Ora, caro Fedro, eu também sou muito amigo desta maneira de compor e decompor as ideias. É a melhor maneira de aprender   a falar e a pensar. E quando me convenço de que alguém é capaz de apreender, ao mesmo tempo o conjunto e os detalhes de um objeto, sigo esse homem como se caminhasse nas pegadas de um deus. E aos que têm esse talento - deus sabe se tenho razão em assim falar - sempre chamei de “dialéticos”. Dize-me, porém, como chamaremos os que aprendem contigo e com Lísias. Talvez seja essa a arte retórica graças à qual Trasímaco e os seus pares se tornaram hábeis oradores, instruindo também a outros que, em troca, lhes ofereceram presentes como se eles fossem reis.

FEDRO: - Esses homens têm com efeito fama de reis, mas sem dúvida alguma ignoram a arte de que falas. Acho que tens razão em chamar ao gênero   por ti discutido de “dialético”. Entretanto, sobre a arte retórica pareces ter fugido à nossa conversa.

SÓCRATES: - Que dizes? Haverá na arte da palavra alguma parte distinta da dialética? Não devemos desprezar   a retórica. Vejamos em que consiste essa retórica da qual ainda não falamos.

FEDRO: - Não são poucos, caro Sócrates, os preceitos contidos nos livros que tratam dela.

SÓCRATES: - Foi bom o teres mencionado! Creio que todo discurso deve começar por uma introdução. Tu te referes aos ornamentos da arte, não é verdade?

FEDRO: - Sim.

SÓCRATES: - Em segundo lugar vem a exposição, acompanhada de depoimentos de testemunhas, em terceiro as provas e em quarto as presunções. Se não me engano, o grande bizantino, o Dédalo dos discursos, fala também numa confirmação e numa pósconfirmação.

FEDRO: - Refere-se ao grande Teodoro?

SÓCRATES: - Justamente. E ele também afirmou que o orador que faz uma acusação   ou uma defesa deve apresentar uma refutação e uma pós-refutação. Não deixemos tampouco de mencionar o admirável Eveno de Paros, que inventou a alusão e os elogios acrescentados. Há quem diga que ele se refere também à “censura acrescentada”, falando ritmicamente para ajudar a memória. Como Eveno é sábio! Mas deixaremos de lado Tísias e Górgias? Esses descobriram que o provável deve ser mais respeitado que o verdadeiro, e chegaram até a provar, pela força da palavra, que as coisas miúdas são grandes e que as grandes são pequenas, que o novo é antigo e que o velho é novo. Mostraram finalmente como se fala com poucas palavras e como se pode pronunciar um discurso de tamanho infinito  . Quando contei isso a Pródico, o grande orador riu e afirmou que ele estava de posse do melhor método da arte retórica. É mister, segundo ele, evitar a concisão e a prolixidade; o que se deve fazer é ficar sempre nos limites convenientes.

FEDRO: - Falou com muita sabedoria  , Pródico!

SÓCRATES: - E não mencionaremos Hípias? Creio que até o amigo eleata concorda com ele.

FEDRO: - Como não?

SÓCRATES: - E que diremos das regras retóricas de Polos? Ele fala em consonância, em repetições, em abuso de provérbios, alegorias, e demais termos recolhidos nas lições de Licínio, que o ensinaram a fazer belos discursos.

FEDRO: - E Protágoras, caro Sócrates? Não formulou também regras semelhantes?

SÓCRATES: - Sim, meu rapaz. Protágoras era notável pela habilidade no falar e ainda por outras qualidades. Mas quanto à arte de suscitar piedade   em favor da velhice e da pobreza   - ninguém ultrapassou nesse ponto o eloquente Calcedônio, pois a todos levou a palma. Sabia despertar   a ira dos ouvintes para depois acalmá-los com suas fórmulas mágicas, como dizia ele. Tinha o talento de caluniar e desfazer as calúnias que tivessem sido levantadas. Quanto ao fim do discurso, alguns o chamam “peroração” e outros lhe dão outros nomes, mas a mim se afigura ser um simples amontoado de frases.

FEDRO: - Tu te referes à recapitulação final, em que os ouvintes são lembrados de tudo que se disse.

SÓCRATES: - Isso mesmo. Mas talvez possas dizer mais alguma coisa sobre a arte retórica.

FEDRO: - Além do que dissemos, só sei coisas sem importância. Não vale a pena   falar nelas.

SÓCRATES: - Deixaremos de lado as coisas sem importância, e traremos à luz outra questão: que poder resulta do exercício dessa arte e em que ocasiões ele se revela?

FEDRO: - Esse poder é imenso, Sócrates, sobretudo nas grandes aglomerações populares.

SÓCRATES: - É verdade. Mas, meu divino amigo, reflete e dize-me se o tecido que ali tecem te parece tão frouxo quanto a mim.

FEDRO: - Explica-te!

SÓCRATES: - Ouve: se alguém viesse procurar teu amigo Erixímaco ou o pai dele, Acumeno, e lhes dissesse: “eu sei fazer muitas coisas com o organismo de um homem; sou capaz de fazer com que ele transpire ou sinta frio, sei provocar võmitos quando isso me parece oportuno e obrigá-lo a evacuar quando quero; sei fazer muitas outras coisas desse gênero, e por isso acho que sou médico e julgo-me capaz de ensinar a medicina   a outros, transmitindo-lhes os conhecimentos que mencionei” - que supões tu que responderiam eles?

FEDRO: - De que modo poderiam responder, senão perguntando se ele também sabia a que pessoas devia aplicar esses tratamentos e quando e durante quanto tempo?

SÓCRATES: - Mas que diriam os médicos se esse homem respondesse: isso não sei, mas exijo que os meus alunos sejam capazes de determinar por si mesmos o modo de aplicação desses tratamentos.

FEDRO: - Creio que os médicos o considerariam louco, por julgar que se tornou médico depois de haver estudado essas coisas num livrinho ou descoberto por acaso alguns remédios, embora realmente nada conheça sobre medicina.

SÓCRATES: - E se alguém viesse ter com Sófocles e Eurípides, dizendo-se capaz de fazer longos discursos em verso sobre pequenos fatos, ou pequenos poemas sobre grandes coisas, compor à vontade poemas que despertem compaixão ou medo, poemas ameaçadores e muitas outras coisas desse gênero? Se um homem desses afirmasse estar convencido de que ensina a arte de fazer tragédias transmitindo tais conhecimentos a outras pessoas?

FEDRO: - Também esses luminares escarneceriam, segundo penso, de quem acreditasse que compor uma tragédia nada mais é que ajuntar tais veros de modo que se encaixem uns nos outros, formando assim um todo orgânico.

SÓCRATES: - Creio, entretanto, que não os brindariam com ofensas grosseiras. Também um músico que encontrasse por acaso um homem convencido de ter competência na arte da harmonia  , só porque aprendeu a afinar uma corda para obter a nota mais aguda e a mais grave - também esse não lhe falaria com rudeza, exclamando: “Palerma, tu não regulas bem da bola!” Admoestá-lo-ia com brandura, deste modo: “Meu caro amigo, quem quer tornar-se músico deve saber também isso, mas alguém que tenha a tua habilidade pode ser que ignore completamente a teoria da harmonia; tu tens os conhecimentos preliminares necessários para aprender essa teoria, mas quanto à teoria da harmonia, tu não a conheces.”

FEDRO: - Exatamente.

SÓCRATES: - Com certeza  , também Sófocles assim diria ao homem que lhe viesse mostrar os seus trabalhos. Diria que tais coisas são os preliminares da tragédia, mas não a arte trágica propriamente dita; e Acumeno responderia ao outro que os seus conhecimentos são tão só preparatórios da medicina, mas não a medicina.

FEDRO: - De pleno   acordo.

SÓCRATES: - E que mais? Que pensaremos de Adrasto, cujos discursos são doces como o mel? E de Péricles? Se eles ouvissem o que nós dissemos há pouco sobre as belas regras, a grandeza   do discurso, as imagens de que convém orná-lo e as outras coisas que resolvemos trazer à luz, falariam com pouca delicadeza, assim como nós aos que escreveram tais regras e as ensinaram oralmente? Pronunciariam eles uma palavra rude ou grosseira contra os que chamam a isso retórica? Ou, sendo mais inteligentes, diriam: “Caro Fedro e caro Sócrates! Não se deve blasfemar, mas perdoar, se alguns que não sabem pensar não souberem definir   o que é retórica; esses homens, pela sua falta de discernimento, só adquiriram o saber introdutório indispensável a essa arte, e acreditam ter aprendido a própria retórica; ensinam esse saber a outros e julgam poder formar oradores perfeitos, achando que os seus pupilos devem tentar falar sobre qualquer coisa de modo convincente e compor um todo orgânico nos seus discursos, como se nisso não houvesse dificuldade   alguma”.

FEDRO: - Sim, caro Sócrates, parece ser mais ou menos essa a arte que os homem de quem falaste ensinam como sendo a retórica, e sobre a qual escrevem livros didáticos. Acredito que disseste a verdade. Mas como e onde poderia alguém adquirir a arte do verdadeiro orador?

ARCIS

SÓCRATES. —Nos propusimos antes examinar lo que constituye un buen o mal discurso, escrito o improvisado. Comencemos este examen, si gustas.

FEDRO. —Muy bien.

SÓCRATES. —¿No es necesario para hablar bien conocer la verdad sobre aquello de que se intenta tratar?

FEDRO. —He oído decir con este motivo, mi querido Sócrates, que el que ha de ser orador no necesita saber lo que es verdaderamente justo, sino lo que parece tal a la multitud encargada de decidir; ni tampoco lo que es verdaderamente bueno y bello, sino lo que tiene las apariencias de la bondad y de la belleza. Porque es la verosimilitud, no la verdad, la que produce la convicción.

SÓCRATES. —No hay que desechar las palabras de los sabios,[18] mi querido Fedro, pero también es preciso examinar lo que ellas significan. Y lo que acabas de decir debe llamar toda nuestra atención.

FEDRO. —Tienes razón.

SÓCRATES. —Procedamos de esta manera.

FEDRO. —Veamos.

SÓCRATES. —Si yo te aconsejase que compraras un caballo para servirte de él en los combates, y ni tú ni yo hubiéramos visto caballos, pero supiese yo, que Fedro llama caballo al que mejor oído tiene entre los animales domésticos…

FEDRO. —Quieres reírte, Sócrates.

SÓCRATES. —Aguarda. La cosa sería mucho más ridícula, si, queriendo persuadirte seriamente, compusiese un discurso, en el que hiciese el elogio del asno, dándole el nombre de caballo, y si dijese que es un animal muy útil para la casa   y para el ejército, que puede cualquiera defenderse montado en él, y que es muy cómodo para la conducción de efectos y bagajes.

FEDRO. —Sí, eso sería el colmo del ridículo.

SÓCRATES. —Pero ¿no vale más ser ridículo, pero inofensivo, que peligroso y dañino?

FEDRO. —Sin duda.

SÓCRATES. —Cuando un orador, ignorando la naturaleza del bien y del mal, encuentra a sus conciudadanos en la misma ignorancia, y les persuade, no a tomar por caballo la sombra de un asno,[19] sino el mal por el bien; cuando, apoyado en el conocimiento que tiene de las preocupaciones de la multitud, la arrastra por malas sendas, ¿qué frutos podrá recoger la retórica de lo que haya sembrado?

FEDRO. —Frutos bien malos.

SÓCRATES. —Pero quizá, mi querido amigo, hemos tratado el arte oratorio con poco respeto, y quizá nos podría responder que de nada sirven todos nuestros razonamientos, que él no fuerza a nadie a aprender a hablar, sin conocer la naturaleza de la verdad, pero que si se le da crédito, es conveniente conocerla antes de recibir sus lecciones, si bien no duda en proclamar muy alto que, sin sus lecciones de bien hablar, de nada sirve el conocimiento de la verdad para persuadir.

FEDRO. —Y ¿no tendría razón para hablar así?

SÓCRATES. —Yo convendría en ello si las voces que se levantan por todas partes, confesasen que la retórica es un arte. Pero se me figura oír a algunos que protestan en contra y que afirman que no es un arte, sino un pasatiempo y una rutina frívola. «No hay, dice un laconio,[20] verdadero arte de la palabra, fuera de la posesión de la verdad, ni lo habrá jamás».

FEDRO. —También yo oigo esos rumores, mi querido Sócrates. Haz comparecer estos adversarios de la retórica, y veamos lo que dicen.

SÓCRATES. —Venid, apreciables jóvenes, cerca de mi querido Fedro, padre de los demás jóvenes que se os parecen; venid a persuadirle de que, sin conocer a fondo la filosofía, nunca será capaz de hablar bien sobre ningún objeto. Que Fedro os responda.

FEDRO. —Interrogad.

SÓCRATES. —En general, la retórica ¿no es el arte de conducir las almas por la palabra, no solo en los tribunales y en otras asambleas públicas, sino también en las reuniones particulares, ya se trate de asuntos ligeros, ya de grandes intereses? ¿No es esto lo que se dice?

FEDRO. —No, ¡por Zeus!, no es precisamente eso; el arte de hablar y de escribir sirve, sobre todo, en las defensas del foro, y también en las arengas políticas. Pero no he oído que se extienda a más.

SÓCRATES. —Tú no conoces más que los tratados de retórica de Néstor y de Odiseo, que compusieron en momentos de ocio durante el sitio de Ilión. ¿Nunca has oído hablar de la retórica de Palamedes?

FEDRO. —No, ¡por Zeus!, ni tampoco las retóricas de Néstor y Odiseo, a menos que tu Néstor sea Gorgias, y tu Odiseo Trasímaco o Teodoro.

SÓCRATES. —Quizá, pero dejémoslos. Dime, en los tribunales, ¿qué hacen los adversarios? ¿No sostienen el pro y el contra? ¿Qué dices a esto?

FEDRO. —Nada más cierto.

SÓCRATES. —¿Pelean y abogan por lo justo y lo injusto?

FEDRO. —Sin duda.

SÓCRATES. —Por consiguiente, el que sabe hacer esto con arte hará parecer la misma cosa y a las mismas personas justa o injusta, según él quiera.

FEDRO. —¿Y qué?

SÓCRATES. —Y cuando hable al pueblo, sus conciudadanos juzgarán las mismas cosas ventajosas o funestas a gusto de su elocuencia.

FEDRO. —Sí.

SÓCRATES. —¿No sabemos que el Palamedes de Elea[21] hablaba con tanto arte que presentaba a sus oyentes las mismas cosas semejantes y desemejantes, simples y múltiples, en reposo y en movimiento?

FEDRO. —Ya lo sé.

SÓCRATES. —El arte de sostener las proposiciones contradictorias no es solo del dominio de los tribunales y de las asambleas populares, sino que, al parecer, si hay un arte que tiene por objeto el perfeccionamiento de la palabra, abraza toda clase de discursos, y hace capaz al hombre para confundir siempre todo lo que puede ser confundido, y de distinguir todo lo que el adversario intenta confundir y oscurecer.

FEDRO. —¿Cómo lo entiendes tú?

SÓCRATES. —Creo que la cuestión se ilustrará si tú sigues este razonamiento. ¿Se producirá más fácilmente esta ilusión en las cosas muy diferentes o en las que se diferencian muy poco?

FEDRO. —En estas últimas, evidentemente.

SÓCRATES. —Si mudas de lugar y quieres hacerlo sin que se aperciban de ello, ¿deberás desviarte poco a poco o alejarte a paso largo?

FEDRO. —La respuesta no es dudosa.

SÓCRATES. —El que se propone engañar a los demás, sin tenerse él mismo por engañado, ¿será capaz de reconocer exactamente las semejanzas y diferencias de las cosas?

FEDRO. —Es de toda necesidad que las reconozca.

SÓCRATES. —¿Pero es posible, cuando se ignora la verdadera naturaleza de cada cosa, reconocer lo que en las otras cosas se parece poco o mucho a aquella que se ignora?

FEDRO. —Eso es imposible.

SÓCRATES. —¿No es evidente que toda opinión falsa procede solo de ciertas semejanzas que existen entre los objetos?

FEDRO. —Ciertamente.

SÓCRATES. —¿Y que no se puede poseer el arte de hacer pasar poco a poco a sus oyentes de semejanza en semejanza, de la verdadera naturaleza de las cosas a su contraria, evitando por su propia cuenta semejante error, si no se sabe a qué atenerse sobre la esencia de cada cosa?

FEDRO. —Eso no puede ser.

SÓCRATES. —Por consiguiente, el que pretende poseer el arte de la palabra sin conocer la verdad, y se ha ocupado tan solo de opiniones, toma por un arte lo que no es más que una sombra risible.

FEDRO. —Gran riesgo corre de ser así.

SÓCRATES. —En el discurso de Lisias, que tienes en la mano, y en los que nosotros hemos pronunciado, ¿quieres ver qué diferencia hacemos entre el arte y lo que solo tiene la apariencia de tal?

FEDRO. —Con mucho gusto, tanto más cuanto que nuestros razonamientos tienen algo de vago, no apoyándose en algún ejemplo positivo.

SÓCRATES. —En verdad es una fortuna   la casualidad de haber pronunciado dos discursos muy acomodados para probar que el que posee la verdad puede, mediante el juego de palabras, deslumbrar a sus oyentes. Yo, mi querido Fedro, no dudo en achacarlos a las divinidades que habitan estos sitios; quizá también los cantores inspirados por las musas[22] que habitan por encima de nuestras cabezas, nos han comunicado su inspiración; porque he sido siempre absolutamente extraño al arte oratorio.

FEDRO. —Pase, puesto que te place decirlo; pero pasemos al examen de los dos discursos.

SÓCRATES. —Lee el principio del discurso de Lisias.

FEDRO. —«Conoces todos mis sentimientos, y sabes que miro la realización de mis deseos como provechosa a ambos. No sería justo rechazar mis votos, porque no soy tu amante. Porque los amantes desde el momento en que se ven satisfechos…»

SÓCRATES. —Detente. Es preciso examinar en qué se engaña Lisias y en qué carece de arte; ¿no es cierto?

FEDRO. —Sí.

SÓCRATES. —¿No es cierto que estamos siempre de acuerdo sobre ciertas cosas, y que sobre otras estamos siempre discutiendo?

FEDRO. —Creo comprender lo que dices, pero explícamelo más claramente.

SÓCRATES. —Por ejemplo, cuando delante de nosotros se pronuncian las palabras hierro o plata, ¿no tenemos todos la misma idea?

FEDRO. —Sin duda.

SÓCRATES. —Pero que se nos hable de lo justo y de lo injusto y estas palabras despiertan ideas diferentes, y nos ponemos en el momento en desacuerdo con los demás y con nosotros mismos.

FEDRO. —Ciertamente.

SÓCRATES. —Luego hay cosas sobre las que todo el mundo conviene, y otras sobre las que todo el mundo disputa  .

FEDRO. —Es cierto.

SÓCRATES. —¿Cuáles son las materias en que más fácilmente podemos extraviarnos, y en las que la retórica tiene la mayor influencia?

FEDRO. —Evidentemente en las cosas inciertas y dudosas.

SÓCRATES. —El que se propone abordar el arte oratorio, deberá haber hecho antes metódicamente esta distinción, y haber aprendido a distinguir, según sus caracteres diferentes, las cosas sobre las que fluctúa naturalmente la opinión del vulgo, y sobre las que la duda es imposible.

FEDRO. —El que sepa hacer esta distinción será un hombre hábil.

SÓCRATES. —Hecho esto, yo creo que antes de tratar un objeto particular, debe ver con ojo penetrante, y evitando toda confusión, a qué especie pertenece este objeto.

FEDRO. —Sin dada.

SÓCRATES. —Y el amor ¿es de las cosas sujetas a disputa o no?

FEDRO. —Es de las cosas disputables, ciertamente. De no ser así, ¿hubieras podido hablar como hablaste, sosteniendo tan pronto que el amor es un mal para el amante y para el objeto amado, como que es el más grande de los bienes?

SÓCRATES. —Perfectamente. Pero dime (porque en el furor divino que me poseía he perdido el recuerdo), ¿comencé mi discurso definiendo el amor?

FEDRO. —¡Por Zeus!, sí; no pudo ser mejor la definición.

SÓCRATES. —¿Qué dices?, las ninfas hijas de Aqueloo y Pan, hijo de Hermes[23] ¿son más hábiles en el arte de la palabra que Lisias, hijo de Céfalo? ¿O bien yo me engaño, y Lisias, comenzando su discurso sobre el amor nos ha precisado a aceptar una definición a la que ha referido toda la trabazón de su discurso y la conclusión misma? ¿Quieres que volvamos a leer el principio?

FEDRO. —Como quieras. Sin embargo, lo que buscas no se halla allí.

SÓCRATES. —Lee sin parar. Quiero oírle no obstante.

FEDRO. —«Conoces todos mis sentimientos, y sabes que miro la realización de mis deseos como provechosa a ambos.

»No sería justo rechazar mis votos, porque no soy tu amante. Porque los amantes, apenas se ven satisfechos, cuando sienten ya todo lo que han hecho por el objeto de su pasión».

SÓCRATES. —Estamos muy distantes de encontrar lo que buscábamos. No comienza por el principio, sino por el fin, como un hombre que nada de espaldas contra la corriente. El amante, que se dirige a la persona que ama, ¿no comienza por dónde debería concluir, o me engaño yo, Fedro, mi muy querido amigo?

FEDRO. —Ten presente, Sócrates, que no ha querido hacer más que el final de un discurso.

SÓCRATES. —Sea así; ¿pero no ves que sus ideas aparecen hacinadas confusamente? Lo que dice en segundo lugar, ¿debe estar en el punto que ocupa, o más bien en otro lugar de su discurso? Yo, si bien confieso mi ignorancia, creo, que el autor, muy a la ligera, ha arrojado sobre el papel cuanto le ha venido al espíritu. ¿Pero tú has descubierto, en su composición, un plan, según el que ha debido disponer todas las partes en el orden en que se encuentran?

FEDRO. —Me haces demasiado favor al creerme en estado de penetrar todos los artificios de la elocuencia de un Lisias.

SÓCRATES. —Por lo menos me concederás, que todo discurso debe, como un ser vivo, tener un cuerpo que le sea propio, cabeza y pies y medio y extremos exactamente proporcionados entre sí y en exacta relación con el conjunto.

FEDRO. —Eso es evidente.

SÓCRATES. —¡Y bien!, examina un poco el discurso de tu amigo, y dime si reúne todas estas condiciones. Confesarás que se parece mucho a la inscripción que dicen se puso sobre la tumba de Midas, rey de Frigia.

FEDRO. —¿Qué epitafio es ese, y qué tiene de particular?

SÓCRATES. —Helo aquí:

Soy una virgen de bronce, colocada sobre la tumba de Midas;

Mientras las aguas corran y los árboles reverdezcan,

De pie sobre esta tumba, regada de lágrimas,

Anunciaré a los pasajeros que Midas reposa en este sitio.[24]

Ya ves que se puede leer indiferentemente esta inscripción, comenzando por el primer verso que por el último.

FEDRO. —Tú te burlas de nuestro discurso, Sócrates.

SÓCRATES. —Dejémosle, pues, para que no te enfades, aunque en mi opinión encierra gran número   de ejemplos útiles, que deben estudiarse, para huir a todo trance de imitarlos. Hablemos de los demás discursos. En ellos encontraremos enseñanzas, que podrán aprovechar al que quiera instruirse en el arte oratorio.

FEDRO. —¿Qué quieres decir?

SÓCRATES. —Estos dos discursos se contradicen; porque el uno tendía a probar que se deben conceder sus favores al hombre enamorado, y el otro al no enamorado.

FEDRO. —El pro y el contra son sostenidos con calor.

SÓCRATES. —Creía que ibas a usar de la palabra propia que es «con furor». Ésta es la palabra que yo esperaba; ¿no hemos dicho, en efecto, que el amor era una especie de furor?

FEDRO. —Sí.

SÓCRATES. —Hay dos especies de furor o de delirio: el uno, que no es más que una enfermedad del alma; el otro, que nos hace traspasar los límites de la naturaleza humana por una inspiración divina.

FEDRO. —Conforme.

SÓCRATES. —Hemos distinguido cuatro especies de delirio divino, según los dioses que lo inspiran, atribuyendo la inspiración profética a Apolo, la de los iniciados a Dionisio, la de los poetas a las Musas, y en fin, la de los amantes a Afrodita y a Eros; y hemos dicho, que el delirio del amor es el más divino de todos. Inspirados nosotros por el soplo del dios del amor, tan pronto aproximándonos como alejándonos de la verdad, y formando un discurso plausible, yo no sé cómo hemos llegado a componer, como por vía de diversión, un himno, decoroso sí, pero mitológico al Amor, mi dueño, como lo es tuyo, Fedro, que es el dios que preside a la belleza.

FEDRO. —Yo estuve encantado al oírlo.

SÓCRATES. —Sirvámonos de este discurso para ver cómo se puede pasar de la censura al elogio.

FEDRO. —Veamos.

SÓCRATES. —Todo lo demás no es en efecto más que un juego de niños. Pero hay dos procedimientos que la casualidad nos ha sugerido sin duda, pero que convendrá comprender bien y en toda su extensión al aplicarlos al método.[25]

FEDRO. —¿Cuáles son esos procedimientos?

SÓCRATES. —Por lo pronto deben abrazarse de una ojeada todas las ideas particulares desparramadas acá y allá, y reunirlas bajo una sola idea general, para hacer comprender, por una definición exacta, el objeto que se quiere tratar. Así es como dimos antes una definición del amor, que podrá ser buena o mala, pero que por lo menos ha servido para dar a nuestro discurso la claridad y el orden.

FEDRO. —¿Y cuál es el otro procedimiento?

SÓCRATES. —Consiste en saber dividir de nuevo la idea general en sus elementos, como otras tantas articulaciones naturales, guardándose, sin embargo, de mutilar ninguno de estos elementos primitivos, como acostumbra un mal cocinero cuando trincha. Así es como en nuestros dos discursos dimos primeramente una idea general del delirio; en seguida, a la manera que la unidad de nuestro cuerpo comprende bajo una misma denominación los miembros que están a la izquierda y los que están a la derecha, en igual forma nuestros dos discursos han deducido de esta definición general del delirio dos nociones distintas: el uno ha distinguido todo lo que estaba a la izquierda, y no se rehizo para dar una nueva división sino después de haberse encontrado con un desgraciado amor, que él mismo ha llenado de injurias bien merecidas; el otro ha tomado a la derecha, y se ha encontrado con otro amor, que tiene el mismo nombre, pero cuyo principio es divino; y tomándolo por materia de sus elogios, lo ha alabado como origen   de los mayores bienes.

FEDRO. —Dices verdad.

SÓCRATES. —Yo, mi querido Fedro, gusto mucho de esta manera de descomponer y componer de nuevo por su orden las ideas;[26] es el medio de aprender a hablar y a pensar. Cuando creo hallar un hombre capaz de abarcar a la vez el conjunto y los detalles de un objeto, sigo sus pasos como si fueran los de un dios.[27] Los que tienen este talento, sabe Dios si tengo o no razón para darles este nombre, pero en fin, yo les llamo dialécticos.

Jowett

Soc. Shall we discuss the rules of writing and speech as we were proposing ?

Phaedr. Very good.

Soc. In good speaking should not the mind   of the speaker know the truth of the matter about which he is going to speak ?

Phaedr. And yet, Socrates, I have heard that he who would be an orator has nothing to do with true justice, but only with that which is likely to be approved by the many who sit in judgment ; nor with the truly good or honourable, but only with opinion about them, and that from opinion comes persuasion, and not from the truth.

Soc. The words of the wise are not to be set aside ; for there is probably something in them ; and therefore the meaning of this saying is not hastily to be dismissed.

Phaedr. Very true.

Soc. Let us put the matter thus : — Suppose that I persuaded you to buy a horse and go to the wars. Neither of us knew what a horse was like, but I knew that you believed a horse to be of tame animals the one which has the longest ears.

Phaedr. That would be ridiculous.

Soc. There is something more ridiculous coming : — Suppose, further, that in sober earnest I, having persuaded you of this, went and composed a speech in honour of an ass, whom I entitled a horse beginning : “A noble animal and a most useful possession, especially in war, and you may get on his back and fight, and he will carry baggage or anything.”

Phaedr. How ridiculous !

Soc. Ridiculous ! Yes ; but is not even a ridiculous friend better than a cunning enemy ?

Phaedr. Certainly.

Soc. And when the orator instead of putting an ass in the place of a horse puts good for evil being himself as ignorant of their true nature as the city on which he imposes is ignorant ; and having studied the notions of the multitude, falsely persuades them not about “the shadow of an ass,” which he confounds with a horse, but about good which he confounds with evily — what will be the harvest which rhetoric will be likely to gather after the sowing of that seed ?

Phaedr. The reverse of good.

Soc. But perhaps rhetoric has been getting too roughly handled by us, and she might answer : What amazing nonsense you are talking ! As if I forced any man to learn to speak in ignorance of the truth ! Whatever my advice may be worth, I should have told him to arrive at the truth first, and then come to me. At the same time I boldly assert that mere knowledge of the truth will not give you the art of persuasion.

Phaedr. There is reason in the lady’s defence of herself.

Soc. Quite true ; if only the other arguments which remain to be brought up bear her witness that she is an art at all. But I seem to hear them arraying themselves on the opposite side, declaring that she speaks falsely, and that rhetoric is a mere routine and trick, not an art. Lo ! a Spartan appears, and says that there never is nor ever will be a real art of speaking which is divorced from the truth.

Phaedr. And what are these arguments, Socrates ? Bring them out that we may examine them.

Soc. Come out, fair children, and convince Phaedrus, who is the father of similar beauties, that he will never be able to speak about anything as he ought to speak unless he have a knowledge of philosophy. And let Phaedrus answer you.

Phaedr. Put the question.

Soc. Is not rhetoric, taken generally, a universal   art of enchanting the mind by arguments ; which is practised not only in courts and public assemblies, but in private houses also, having to do with all matters, great as well as small, good and bad alike, and is in all equally right, and equally to be esteemed — that is what you have heard ?

Phaedr. Nay, not exactly that ; I should say rather that I have heard the art confined to speaking and writing in lawsuits, and to speaking in public assemblies — not extended farther.

Soc. Then I suppose that you have only heard of the rhetoric of Nestor and Odysseus  , which they composed in their leisure hours when at Troy, and never of the rhetoric of Palamedes ?

Phaedr. No more than of Nestor and Odysseus, unless Gorgias is your Nestor, and Thrasymachus or Theodorus your Odysseus.

Soc. Perhaps that is my meaning. But let us leave them. And do you tell me, instead, what are plaintiff and defendant doing in a law court — are they not contending ?

Phaedr. Exactly so.

Soc. About the just and unjust — that is the matter in dispute ?

Phaedr. Yes.

Soc. And a professor of the art will make the same thing appear to the same persons to be at one time just, at another time, if he is so inclined, to be unjust ?

Phaedr. Exactly.

Soc. And when he speaks in the assembly, he will make the same things seem good to the city at one time, and at another time the reverse of good ?

Phaedr. That is true.

Soc. Have we not heard of the Eleatic Palamedes (Zeno  ), who has an art of speaking by which he makes the same things appear to his hearers like and unlike, one and many, at rest and in motion ?

Phaedr. Very true.

Soc. The art of disputation, then, is not confined to the courts and the assembly, but is one and the same in every use of language ; this is the art, if there be such an art, which is able to find a likeness of everything to which a likeness can be found, and draws into the light   of day the likenesses and disguises which are used by others ?

Phaedr. How do you mean ?

Soc. Let me put the matter thus : When will there be more chance of deception — when the difference is large or small ?

Phaedr. When the difference is small.

Soc. And you will be less likely to be discovered in passing by degrees into the other extreme than when you go all at once ?

Phaedr. Of course.

Soc. He, then, who would. deceive others, and not be deceived, must exactly know the real likenesses and differences of things ?

Phaedr. He must.

Soc. And if he is ignorant of the true nature of any subject, how can he detect the greater or less degree of likeness in other things to that of which by the hypothesis   he is ignorant ?

Phaedr. He cannot.

Soc. And when men are deceived and their notions are at variance with realities, it is clear that the error slips in through resemblances ?

Phaedr. Yes, that is the way.

Soc. Then he who would be a master of the art must understand the real nature of everything ; or he will never know either how to make the gradual departure from truth into the opposite of truth which is effected by the help of resemblances, or how to avoid it ?

Phaedr. He will not.

Soc. He then, who being ignorant of the truth aims at appearances, will only attain an art of rhetoric which is ridiculous and is not an art at all ?

Phaedr. That may be expected.

Soc. Shall I propose that we look for examples of art and want of art, according to our notion of them, in the speech of Lysias which you have in your hand, and in my own speech ?

Phaedr. Nothing could be better ; and indeed I think that our previous argument has been too abstract and wanting in illustrations.

Soc. Yes ; and the two speeches happen   to afford a very good example of the way in which the speaker who knows the truth may, without any serious purpose, steal away the hearts of his hearers. This piece of good-fortune I attribute to the local deities ; and perhaps, the prophets of the Muses who are singing over our heads may have imparted their inspiration to me. For I do not imagine that I have any rhetorical art of my own.

Phaedr. Granted ; if you will only please to get on.

Soc. Suppose that you read me the first words of Lysias’ speech.

Phaedr. “You know how matters stand with me, and how, as I conceive, they might be arranged for our common interest ; and I maintain that I ought not to fail in my suit, because I am not your lover. For lovers   repent — ”

Soc. Enough : — Now, shall I point out the rhetorical error of those words ?

Phaedr. Yes.

Soc. Every one is aware that about some things we are agreed, whereas about other things we differ.

Phaedr. I think that I understand you ; but will you explain yourself ?

Soc. When any one speaks of iron and silver, is not the same thing present in the minds of all ?

Phaedr. Certainly.

Soc. But when any one speaks of justice and goodness we part company and are at odds with one another and with ourselves ?

Phaedr. Precisely.

Soc. Then in some things we agree, but not in others ?

Phaedr. That is true.

Soc. In which are we more likely to be deceived, and in which has rhetoric the greater power ?

Phaedr. Clearly, in the uncertain class.

Soc. Then the rhetorician ought to make a regular division, and acquire a distinct notion of both classes, as well of that in which the many err, as of that in which they do not err ?

Phaedr. He who made such a distinction would have an excellent principle.

Soc. Yes ; and in the next place he must have a keen eye for the observation of particulars in speaking, and not make a mistake about the class to which they are to be referred.

Phaedr. Certainly.

Soc. Now to which class does love belong — to the debatable or to the undisputed class ?

Phaedr. To the debatable, clearly ; for if not, do you think that love would have allowed you to say as you did, that he is an evil both to the lover and the beloved, and also the greatest possible good ?

Soc. Capital. But will you tell me whether I defined love at the beginning of my speech ? for, having been in an ecstasy, I cannot well remember.

Phaedr. Yes, indeed ; that you did, and no mistake.

Soc. Then I perceive that the Nymphs of Achelous and Pan the son of Hermes, who inspired me, were far better rhetoricians than Lysias the son of Cephalus. Alas ! how inferior   to them he is ! But perhaps I am mistaken ; and Lysias at the commencement of his lover’s speech did insist on our supposing love to be something or other which he fancied him to be, and according to this model he fashioned and framed the remainder of his discourse. Suppose we read his beginning over again :

Phaedr. If you please ; but you will not find what you want.

Soc. Read, that I may have his exact words.

Phaedr. “You know how matters stand with and how, as I conceive, they might be arranged for our common interest ; and I maintain I ought not to fail in my suit because I am not your lover, for lovers repent of the kindnesses which they have shown, when their love is over.”

Soc. Here he appears to have done just the reverse of what he ought ; for he has begun at the end, and is swimming on his back through the flood to the place of starting. His address to the fair youth begins where the lover would have ended. Am I not right, sweet Phaedrus ?

Phaedr. Yes, indeed, Socrates ; he does begin at the end.

Soc. Then as to the other topics — are they not thrown down anyhow ? Is there any principle in them ? Why should the next topic follow next in order, or any other topic ? I cannot help fancying in my ignorance that he wrote off boldly just what came into his head, but I dare say that you would recognize a rhetorical necessity in the succession of the several parts of the composition ?

Phaedr. You have too good an opinion of me if you think that I have any such insight into his principles of composition.

Soc. At any rate, you will allow that every discourse ought to be a living creature, having a body of its own and a head and feet ; there should be a middle, beginning, and end, adapted to one another and to the whole ?

Phaedr. Certainly.

Soc. Can this be said of the discourse of Lysias ? See whether you can find any more connexion in his words than in the epitaph which is said by some to have been inscribed on the grave of Midas the Phrygian.

Phaedr. What is there remarkable in the epitaph ?

Soc. It is as follows : —

I am a maiden of bronze and lie on the tomb of Midas ;

So long as water flows and tall trees grow,

So long here on this spot by his sad tomb abiding,

I shall declare to passers-by that Midas sleeps below.

Now in this rhyme whether a line comes first or comes last, as you will perceive, makes no difference.

Phaedr. You are making fun of that oration of ours.

Soc. Well, I will say no more about your friend’s speech lest I should give offence to you ; although I think that it might furnish many other examples of what a man ought rather to avoid. But I will proceed to the other speech, which, as I think, is also suggestive to students of rhetoric.

Phaedr. In what way ?

Soc. The two speeches, as you may remember, were unlike — I the one argued that the lover and the other that the non-lover ought to be accepted.

Phaedr. And right manfully.

Soc. You should rather say “madly” ; and madness was the argument of them, for, as I said, “love is a madness.”

Phaedr. Yes.

Soc. And of madness there were two kinds ; one produced by human infirmity, the other was a divine release of the soul from the yoke of custom and convention.

Phaedr. True.

Soc. The divine madness was subdivided into four kinds, prophetic, initiatory, poetic, erotic, having four gods presiding over them ; the first was the inspiration of Apollo, the second that of Dionysus  , the third that of the Muses, the fourth that of Aphrodite and Eros. In the description of the last kind of madness, which was also said to be the best, we spoke of the affection of love in a figure, into which we introduced a tolerably credible and possibly true though partly erring myth, which was also a hymn in honour of Love, who is your lord and also mine, Phaedrus, and the guardian of fair children, and to him we sung the hymn in measured and solemn strain.

Phaedr. I know that I had great pleasure in listening to you.

Soc. Let us take this instance and note how the transition was made from blame to praise.

Phaedr. What do you mean ?

Soc. I mean to say that the composition was mostly playful. Yet in these chance fancies of the hour were involved two principles of which we should be too glad to have a clearer description if art could give us one.

Phaedr. What are they ?

Soc. First, the comprehension of scattered particulars in one idea ; as in our definition of love, which whether true or false certainly gave clearness and consistency to the discourse, the speaker should define his several notions and so make his meaning clear.

Phaedr. What is the other principle, Socrates ?

Soc. The second principle is that of division into species according to the natural   formation, where the joint is, not breaking any part as a bad carver might. Just as our two discourses, alike assumed, first of all, a single form of unreason ; and then, as the body which from being one becomes double and may be divided into a left side and right side, each having parts right and left of the same name — after this manner the speaker proceeded to divide the parts of the left side and did not desist until he found in them an evil or left-handed love which he justly reviled ; and the other discourse leading us to the madness which lay on the right side, found another love, also having the same name, but divine, which the speaker held up before us and applauded and affirmed to be the author of the greatest benefits.

Phaedr. Most true.

Soc. I am myself a great lover of these processes of division and generalization ; they help me to speak and to think. And if I find any man who is able to see “a One and Many” in nature, him I follow, and “walk in his footsteps as if he were a god.” And those who have this art, I have hitherto been in the habit of calling dialecticians ; but God knows whether the name is right or not.


Ver online : PLATÃO