Página inicial > Antiguidade > Platão (V-IV aC) > Platão - Fedro > Platão (Fedro:242b-259d) — Segundo discurso de Sócrates

FEDRO

Platão (Fedro:242b-259d) — Segundo discurso de Sócrates

SEGUNDA PARTE

quarta-feira 8 de dezembro de 2021, por Cardoso de Castro

      
    • Intermezzo: necessidade   de uma palinodia (241d-243e)
      • Sócrates para de falar, quer partir
      • o sinal divino o impede disto
      • necessidade de uma expiação
        • a falta de Sócrates
        • a palinodia
          • aquela de Stesichore
          • aquela de Sócrates
    • O segundo discurso de Sócrates (243e-257b)
      

Nunes

SÓCRATES: - Caro amigo! Quando quis atravessar o regato despertou em mim   o “daimónion  ” e manifestou-se o sinal costumeiro  . Ele sempre me impede de fazer o que desejo. Pareceu-me ouvir   uma voz que vinha cá de dentro e que não me permitia ir embora antes de oferecer   aos deuses uma expiação, como se eu houvesse cometido alguma impiedade. Sou   adivinho, mas não muito hábil; sou como os que não sabem bem ler e escrever  : só faço adivinhações para mim mesmo. Agora vejo com clareza   o meu pecado  . Meu amigo! A alma   tem o dom de profetizar. Já enquanto fazia o discurso senti certa perturbação. Para me exprimir como Ibico, tive medo de ganhar honra   aos olhos dos homens cometendo um pecado contra os deuses. Mas agora percebo qual é a minha culpa  .

FEDRO  : - Que queres dizer?

SÓCRATES: - Trouxeste-me um discurso horrível, caro Fedro, e me obrigaste a fazer outro discurso horrível.

FEDRO: - Como assim?

SÓCRATES: - Um discurso tolo e, em certo sentido, ímpio. Pode haver coisa mais horrível?

FEDRO: - Por certo que não, se é verdade o que dizes.

SÓCRATES: - Pois então já não crês que Eros   é filho   de Afrodite  , e como tal é deus  ?

FEDRO: - Sem dúvida. É o que diz a tradição.

SÓCRATES: - Mas tal fato não foi mencionado por Lísias nem no meu discurso, aquele que minha língua enfeitiçada pronunciou. Ora, se Eros é, como de fato é, um deus ou um ser divino, não poderá ser mau. Entretanto, os dois   discursos que se fizeram a seu respeito referiam-se a ele como se o fosse. Esses discursos pecaram contra Eros. Além disso, a sua tolice é cômica, pois, embora não tenham dito nada de verdadeiro nem de aproveitável, enchem-se de importância porque conseguiram iludir alguns ingênuos e ganhar os seus aplausos. Eis por que, meu Fedro, é necessário que eu me penitencie. Ora, à disposição   dos que pecaram contra a mitologia está uma antiga expiação que Homero   não conhecia, mas que Estesícoro conhecia. Este perdeu a luz   dos olhos por ter ofendido a Helena; mas, ao contrário de Homero, não ignorava a causa disso. Como amigo das Musas  , ele a conhecia, e imediatamente escreveu estes versos: “Não foi verdadeiro o teu discurso; tu jamais entraste num navio e tão pouco estiveste no castelo de Troia”. Depois de ter completado a sua palin  ódia, foi-lhe restituída a vista. Eu, porém, serei mais sábio do que eles neste ponto. Antes que venha a sofrer   pela ofensa feita a Eros tentarei fazer a minha palinódia, mas com a cabeça nua e não, como antes, embuçada.

FEDRO: - Nada poderias dizer que me fosse mais agradável, caro Sócrates  .

SÓCRATES: - Bem vês agora, Fedro, a impudência com que foram proferidos esses dois discursos, o de há pouco assim como o que leste  . Imagina que um homem   honesto, de costumes civilizados, que ame ou tenha amado outrora um rapaz, nos ouça afirmar que os amantes contendem com os seus amados por causa de ninharias, que os invejam ou prejudicam. Esse homem julgaria estar ouvindo indivíduos que se criaram entre marinheiros e nunca conheceram um nobre amor. Um homem assim jamais concordaria com as censuras que dirigimos a Eros. Não te parece?

FEDRO: - Por Zeus  , caro Sócrates! Talvez seja assim.

SÓCRATES: - Eu me envergonharia diante de tal homem. Além disso, tenho medo de Eros. Por este motivo, quero agora lavar com um discurso suave o ouvido cheio de água salgada. Aconselho também a Lísias que escreva tão cedo quanto possível um discurso declarando que, em igualdade de circunstâncias, antes se devem conceder favores ao que ama do que ao que não ama.

FEDRO: - Fica sossegado, que ele saberá disto. Se tu fizeres agora o elogio do amante, terei de obrigar Lísias a escrever um discurso no mesmo sentido.

SÓCRATES: - Confio nisso, enquanto permaneceres o que és.

FEDRO: - Então fala com toda a confiança!

SÓCRATES: - Mas onde está o rapaz para quem falei? Quero que ele ouça também isto, a fim de que não vá prestar favores inconsideradamente a alguém que não o ama.

FEDRO: - Esse rapaz está junto de ti sempre que o desejares.

Elogio do amor

SÓCRATES: - “Então imagina, encantador rapaz, que o discurso anterior   foi proferido por Fedro, filho do mirrinúsio Pítocles, e o que eu agora pronunciarei, por Estesícoro, filho do himereu Eufemo. O início deve ser: não foi verídico este discurso ao dizer que, apesar de se ter um amante, é prudente conceder mais favores ao nãoapaixonado, porque aquele é louco, enquanto que este possui discernimento  . Isto seria verdade se a loucura fosse apenas um mal; mas, na verdade, porém, obtemos grandes bens de uma loucura inspirada pelos deuses. A profetisa de Delfos   e as sacerdotisas de Dodona prestam grandes serviços às pessoas e aos estados da Grécia quando estão em delírio. Em seus momentos lúcidos praticam somente coisas sem importância, ou nada fazem. E seria supérfluo dizer que a Sibila e outros adivinhos, agindo sob a inspiração divina e predizendo o futuro, corrigiram muitas coisas, como todos sabem. E esse fato deve ser mencionado como prova de que também os antigos, inventores dos nomes das coisas, não consideravam a loucura como desprezível ou desonesta. Deram eles à arte de prever   o futuro o nome de “maniké”, “mania  ”, considerando-a como uma dádiva dos deuses, um bem. Os contemporâneos, que não entendem as belas palavras, introduziram, sem nenhum propósito nessa palavra, um “t”, transformando-a em “mantiké”, a arte divinatória. Ao contrário, a investigação do futuro, feita por homens que não são inspirados, que observam o voo   dos pássaros e outros sinais  , é a “oionoistike”, pois esses adivinhos procuraram atribuir ao pensamento   humano (oiêsis) a inteligência (nous) e o conhecimento (istoria). Os modernos, mudando o antigo “o” no enfático “ô”, deram a essa arte o nome de “oiônoistike”. Assim, o dom da profecia   supera em perfeição e em dignidade a arte dos augúrios, tanto no nome como na própria coisa - e assim também o delírio que provém dos deuses é mais nobre que a sabedoria   que vem dos homens. Assim nos garantiam os antigos. Quando as epidemias e os terríveis flagelos caíam sobre os povos como castigo   de pecados antigos, o delírio, tomando conta de alguns mortais   e inspirando-lhes as profecias, levou-os a descobrir remédios aos males e o refúgio contra a ira   divina nas preces e nas cerimônias expiatórias. Foi, pois, ao delírio que se deveram as purificações e os ritos   misteriosos que preservaram dos males atuais e vindouros o homem realmente inspirado, animado de espírito profético, revelando-lhe, ao mesmo tempo, o meio de se libertar desses males. Há ainda uma terceira espécie de delírio: é aquele inspirado pelas Musas. Quando ele atinge uma alma virgem e pura, transporta-a para um mundo novo e inspira-lhe odes e outros poemas que celebram as gestas dos antigos e que servem de ensinamentos às novas gerações. Mas quem se aproxima dos umbrais da arte poética, sem o delírio que é provocado pelas Musas, julgando que apenas pelo intelecto será bom poeta, sê-lo-á imperfeito, pois que a obra poética inteligente empalidece perante aquela nascida do delírio. Essas são as vantagens do delírio que derivam dos deuses. Não devemos pois temer nem nos deixar perturbar por um discurso no qual se afirma que se deve preferir ao apaixonado o sensato. É o primeiro que deve receber   os louros da vitória, pois o amor foi enviado ao amante e ao amado, não pela sua utilidade   material, mas, ao contrário - e é o que mostraremos -, esse delírio lhes foi incutido pelos deuses para sua felicidade  . Essa prova suscitará o desdém dos maus, mas persuadirá os sábios. Nessas condições, o que desde logo é necessário fazer é indagar qual é a verdade acerca da natureza da alma, observar   seus estados e obras, indagar se a sua natureza é divina ou humana.

Necessidade   de saber o que é a alma

Partiremos do seguinte princípio: Toda alma é imortal, pois aquilo que se move a si mesmo   é imortal. O que move uma coisa, mas é por outra movido, anula-se, uma vez terminado o movimento  . Somente o que a si mesmo se move, nunca saindo de si, jamais acabará de mover-se, e é, para as demais coisas movidas, fonte e início de movimento. O início é algo que não se formou, sendo evidente   que tudo o que se forma, forma-se de um princípio. Este princípio de nada proveio, pois que se proviesse de uma outra coisa não seria princípio. Sendo o princípio coisa que não se formou, deve ser também, evidentemente, coisa que não pode ser destruída. Se o principio pudesse se anular, nem ele mesmo poderia nascer de uma outra coisa, nem dele outra coisa, porque necessariamente tudo brota do princípio. Concluindo, pois, o principio do movimento é aquilo que a si mesmo se move. Não pode desaparecer nem se formar, do contrário o universo   e todas as gerações parariam e nunca mais poderiam ser movidos. Pois bem, o que a si próprio se move é imortal. Quem isso considerar como essência e caráter da alma, não terá escrúpulo nessa afirmação. Cada corpo movido de fora é inanimado. O corpo movido de dentro é animado, pois que o movimento é da natureza da alma. Se aquilo que a si mesmo se move não é outra coisa senão a alma, necessariamente a alma será algo que não se formou. E será imortal. Sobre a imortalidade, isso bastará. Mas quanto ao seu caráter, assim devemos explicá-lo:

O mito   da parelha alada

O caracterizá-la daria ensejo para divinos e longos discursos. Representá-la numa imagem já é coisa que se possa fazer num discurso humano de menores pretensões. A alma pode ser comparada com uma força natural   e ativa, constituída de um carro puxado por uma parelha alada e conduzido por um cocheiro  . Os cavalos e os cocheiros das almas divinas são bons e de boa raça  , mas os dos outros seres são mestiços. O cocheiro que nos governa rege uma parelha na qual um dos cavalos é belo e bom, de boa raça, enquanto o outro é de raça ruim e de natureza arrevesada. Assim, conduzir nosso carro é ofício difícil e penoso. Cabe ainda explicar a razão pela qual, entre os seres animados, uns são mortais e outros imortais. A alma universal   rege a matéria inanimada e manifesta-se no universo de múltiplas formas. Quando é perfeita e alada, paira nas esferas e governa a ordem   do cosmos. Mas quando perde as suas asas, decai através dos espaços infinitos até se consorciar a um sólido qualquer, e aí estabelece o seu pouso. Quando reveste a forma de um corpo terrestre, este começa, graças à força que lhe comunica a alma, a mover-se. É a este conjunto   de alma e de corpo que chamamos de ser vivo e mortal. Quanto à denominação de imortal, isto é algo que não podemos exprimir de uma maneira racional. Nós conjeturamos, sem disso termos experiência alguma nem a suficiente clareza, que um ser imortal seria a combinação de uma alma e de um corpo que se unem para toda a eternidade  . Mas isso depende de Deus. Expliquemos agora de que modo as almas perdem as asas. A tarefa da asa consiste em conduzir o que é pesado para as alturas, onde habita a raça dos deuses. A alma participa do divino mais do que qualquer outra coisa corpórea. O que é divino é belo, sábio e bom. Dessas qualidades as asas se alimentam e se desenvolvem, enquanto todas as qualidades contrárias, como o que é feio   e o que é mau, fazem-na diminuir e fenecer. Zeus, o grande condutor do céu, anda no seu carro alado a dar ordens e a cuidar de tudo. O exército dos deuses e dos demônios segue-o, distribuído em onze tribos. Héstia é a única entre os seres divinos que permanece em casa  . Cada um dos outros onze deuses é o guia   da sua tribo   ordenada. Há muitos e agradáveis espetáculos e caminhos no céu, por onde anda a grande família dos deuses, fazendo cada um deles o que lhe está afeito e seguindo-os aqueles que os podem seguir. Quando se dirigem para o banquete   que os espera, os carros sobem por um caminho   escarpado até o ponto mais elevado da abóbada celeste. Os carros dos deuses que se mantêm em equilíbrio, graças à docilidade dos corcéis, sobem sem dificuldade  . Os outros grimpam com dificuldade porque o cavalo de má raça inclina e puxa o carro para a terra  . Isso dá então grande trabalho   para a alma. As almas daqueles que chamamos imortais, logo que atingem a abóbada celeste aí se mantêm; movem-se em grandes círculos e podem então contemplar tudo o que fora dessa abóbada abarca o Universo.

O céu platônico

Nenhum poeta jamais cantou nem cantará a região que se situa acima dos céus. Vejamos, todavia, como ela é. Se devemos dizer sempre a verdade, quanto mais obrigados o seremos ao falarmos da própria verdade. A realidade sem forma, sem cor, impalpável só pode ser contemplada pela inteligência, que é o guia da alma. E é na Ideia Eterna que reside a ciência perfeita, aquela que abarca toda a verdade. O pensamento de um Deus nutre-se de inteligência e de ciências puras. O mesmo se dá com todas as almas que procuram nutrir-se do alimento que lhes convém. Quando a alma, depois da evolução pela qual passa, chega a conhecer as essências, esse conhecimento das verdades puras a mergulha na maior felicidade. Depois de haver contemplado   essas essências, volta a alma a seu ponto de partida. E, alguma longo da revolução pela qual passou, ela pôde contemplar a Justiça, e a Ciência - não estas que conhecemos, sujeitas às mudanças e que são contingentes aos objetos - mas a Ciência que tem por objeto o Ser   dos Seres. Quando assim contemplou as essências, quando se saciou a sua sede de conhecimento, a alma mergulha novamente na profundeza do céu e volta ao pouso. E após a volta da alma, o condutor leva os cavalos a manjedoura e dá-lhes ambrosia   e néctar. Essa é a vida dos deuses. A sorte das outras almas é porém esta: Elas tudo fazem para seguir os deuses, seu condutor ergue a cabeça para a região exterior e se deixam levar com a rotação. Mas, perturbadas pelos corcéis do carro, apenas vislumbram as realidades. Ora levantam, ora baixam a cabeça, e, pela resistência dos cavalos, veem algumas coisas mas não veem outras. Outras há ainda que, nostálgicas, seguem atabalhoadas acompanhando a rotação, incapazes de se levantar, empurrando-se e derrubando-se umas às outras, quando alguma pretende passar adiante. Há confusão e briga, e abundante suor. Muitas saem feridas, por culpa dos cocheiros. Muitas partem as penas de suas asas. Todas, após esforços inúteis, não conseguindo se elevar até a contemplação do Ser Absoluto, caem, e sua queda as condena à simples Opinião  . A razão que atrai as almas para o céu da Verdade é que somente aí poderiam elas encontrar o alimento capaz de nutri-las e de desenvolver-lhes as asas, alimento que conduz a alma para longe das baixas paixões. É uma lei de Adrástea: toda a alma que segue a de um deus, contempla algumas das Verdades: fica isenta de todos os males até nova viagem  , e, se o seu voo continuar vigoroso, ela ignorará eternamente o sofrimento. Mas, quando não pode seguir os deuses, quando devido a um erro   funesto ela se enche de alimento impuro, de vício e esquecimento  , torna-se pesada e precipita-se sem asas ao solo. Uma lei estabelece que, no primeiro nascimento terreno, a alma não entra no corpo de um animal  ; aquela que mais Verdades contemplou gerará um filósofo, um esteta ou um amante favorito das Musas; a alma de segundo grau irá formar um rei legislador, guerreiro ou dominador; a de terceiro grau formará um político, um economista ou financista; a do quarto, um atleta incansável ou um médico; a do quinto seguirá a vida de um profeta ou adepto dos mistérios; a do sexto terá a existência de uma poeta ou qualquer outros produtor de imitações; a do sétimo, a de um operário ou camponês; a do oitavo, a de um sofista   ou demagogo; a do nono, a de um tirano. Quem em todas estas situações, praticou a justiça moral, terá melhor sorte. Quem não a praticou cai em situação inferior  . Para o ponto de que saiu uma alma não voltará ela senão passados 10.000 anos, pois, antes disso, não recebe asas. Fazem exceção as almas dos filósofos sinceros e dos que amam os rapazes com amor filosófico. Saem alados no terceiro milênio, se por três vezes seguidas escolheram a vida do filósofo. Quanto às outras almas, terminada a primeira vida, passam por um julgamento. Umas vão para lugares de penitência, abaixo da terra, para sofrerem o castigo; outras sobem, por sentença, a um lugar do céu onde desfrutam as recompensas das virtudes que praticaram na vida terrestre. No milésimo ano, cada alma destas duas espécies tira a sorte e escolhe uma segunda vida, obtendo o que merece! Assim, uma alma humana pode entrar em corpo de animal, e a alma de um animal pode ir animar um corpo de homem, desde que já uma vez tenha sido homem.

A ideia e a reminiscência

A alma que não evoluiu e nunca contemplou a verdade não pode tomar a forma humana. A causa disso é a seguinte: a inteligência do homem deve se exercer de acordo com aquilo que se chama Ideia; isto é, elevar-se da multiplicidade das sensações à unidade   racional. Ora, esta faculdade nada mais é que a reminiscência das Verdades Eternas que ela contemplou quando acompanhou a alma divina nas suas evoluções. Por isso, convém que somente a alma do filósofo tenha asas: nele a memória, pela sua aptidão, permanece sempre fixada nessas Verdades, o que o torna semelhante a um deus. É apenas pelo bom uso dessas recordações que o homem se torna verdadeiramente perfeito, podendo receber em alto grau as consagrações dos mistérios. Um homem desses se desliga dos interesses humanos e dirige seu espírito para os objetos divinos; a multidão o considera louco, sem perceber que nele habita a divindade  . Depois de tudo o que dissemos, chegamos à quarta espécie de delírio: ocorre quando alguém neste mundo vê a beleza. Recorda-se este da beleza verdadeira, recebe asas e deseja voar para o alto; não o podendo, porém, volta seu olhar para o céu esquecendo os negócios terrenos e dando desse modo a saber que está delirante. De todos os entusiasmos este é o melhor e da mais pura origem; saudável para quem o possui e dele participa. Quem delira assim, ama o que é belo e chama-se amante. Como já disse, a alma humana, dada a sua própria natureza, contemplou o Ser verdadeiro. De outro modo nunca poderia animar um corpo humano. Mas as lembranças desta contemplação não despertam em todas as almas com a mesma facilidade. Uma apenas entreviu o Ser verdadeiro; outra, após a sua queda, movida pela iniquidade, esqueceu os mistérios sagrados que um dia contemplou. Portanto, são poucas as almas cuja recordação é bastante clara. Quando elas percebem um objeto que é semelhante a um outro de lá, assustam-se e têm a mesma incerteza daqueles que não conhecem bem um objeto porque não o percebem com nitidez. Pois bem: os arremedos humanos da justiça e da sabedoria, e todas as outras qualidades da alma, não têm fulgor nas suas imagens terrestres e, observando-as com sentidos fracos, somente poucos, e com dificuldade, reconhecem, nessas imagens, o modelo daquilo que representam. Mas a beleza era visível em todo o seu esplendor quando, na corte dos bem-aventurados, deparávamos com o espetáculo ridente em que uns seguiam a Zeus e alguns entre nós a outros deuses. Iniciados nos mistérios divinos, nos os celebrávamos puros e livres, isentos das imperfeições em que mergulhamos nos curso ulterior do nosso caminho. A integridade, a simplicidade, a imobilidade, a felicidade eram as visões que a iniciação revelava ao nosso olhar, imersas numa pura e clara luz. Não tínhamos mácula nem tampouco contato com esse sepulcro que é o nosso corpo ao qual estamos ligados como a ostra à sua concha. Perdoa-me ter sido tão longo... São lembranças dos passados esplendores que já não voltam! Quanto à beleza - como te disse -, ela brilhava entre todas aquelas Ideias Puras, apesar de nossa prisão terrenaa, seu brilho ainda ofusca todas as outras coisas. A visão é ainda o mais sutil   de todos as nossos sentidos. Não pode, contudo, perceber a sabedoria. Despertaria amores veementes se oferecesse uma imagem tão clara e nítida quanto as que podíamos contemplar para além do céu  . Somente a beleza tem esta ventura de ser a coisa mais perceptível e arrebatadora. Aquele que não foi iniciado ou que se corrompeu, não se eleva com ardor para o além, para a beleza em si mesma. Apenas conhece o que aqui se chama belo, e não adora aquilo que vê. Como um quadrúpede, dedica-se ao prazer sensual, tratando de unir-se sexualmente e de procriar filhos. Se for dado à intemperança, não terá medo nem vergonha   de se entregar aos prazeres contra a natureza. O que foi iniciado há pouco, e que outrora muito contemplou, ao ver um rosto divino ou um corpo que bem encarna a beleza, sente certa estranheza   e um pouco da antiga emoção e volta, pois, a olhar este belo corpo, adora-o como adoraria um deus. E, se não tivesse receio de ser considerado monomaníaco, ofereceria sacrifícios ao objeto do seu amor como a um deus. Quando contempla o seu amor, apodera-se do amante uma crise semelhante à febre: modificam-se-lhe as feições, o suor poreja em sua fronte e um calor estranho corre pelas suas veias. Logo que percebe, através dos olhos, a emanação   da beleza, sente esse doce calor que alimenta as asas da sua alma. Esse calor derrete os entraves da vitalidade, aquilo que, pelo endurecimento, impedia a germinação. O afluxo do alimento produz uma espécie de intumescência, um sopro de crescimento no corpo das asas. Esse ímpeto vai se espalhar por toda a alma. Esta, quando as asas começam a desenvolver-se, ferve, incha e sofre da mesma maneira como padecem as crianças que, ao lhe nascerem novos dentes  , sentem pruridos e irritação nas gengivas. Também a alma freme, padece e sente dores, ao lhe crescerem as asas. Quanto contempla a beleza de um belo objeto, e dele provêm corpúsculos que saem e se separam - o que gera a vaga de desejo (himeros  ), a alma encontra então o alívio para as dores e a alegria  . Mas, quando está separada do amado, fenece. E as aberturas pelas quais saem as asas também contraem e, fechando-se, impedem a saída da asa, que, presa no interior juntamente com a vaga do desejo a palpitar nas artérias, faz pressão em cada saída sem abrir caminho. Deste modo a alma toda, atormentada em seu próprio âmago, sofre e padece, e no seu frenesi não encontra mais repouso. Impelida pela paixão, ela se lança à procura da beleza. Quando a revê ou a encontra de novo, reabrem-se-lhe os poros  . A alma respira novamente e já então não sente o aguilhão da dor   e goza, nesse momento, da mais deliciosa volúpia. Por isso não a abandona voluntariamente. Nada tem mais valor para ela do que a beleza. Esquece mãe, irmãos e os amigos. Nem se preocupa com a fortuna   perdida, nem respeita as leis e os bons costumes; está disposta a ser escravizada pelo amado e ao seu lado dorme tão próximo quanto o permitirem os outros. Ela adora aquilo que ostenta beleza, pois nela encontrou o remédio às maiores doenças. Os homens, belo jovem a quem se dirige o meu discurso, chamam a tudo isso de amor mas, ao ouvir como os deuses o chamam, talvez te rias, devido à tua pouca idade. Creio que alguns Homéridas recitam dois versos sobre Eros: o segundo dos quais, embora não seja de prosódia muito elegante, é o seguinte: “Os mortais o chamam de Eros, o deus alado. Os imortais, de “Pteros”, por fornecer asas”. Pode-se aceitar ou não, mas a verdade é que isso explica a paixão dos amantes e sua causa. Um companheiro de Zeus é capaz de suportar mais facilmente a perturbação causada pelo deus alado. Os companheiros de Ares, com o qual fizeram a rotação, sendo atacados por Eros e crendo que pelo amado são injuriados, são tomados de fúria assassina e sacrificam-se a si próprios e aquilo que amam. E assim sucede a respeito de cada deus. Cada humano adora o deus de quem foi companheiro. Imita-o como pode enquanto não está pervertido e enquanto aqui vive, depois do primeiro nascimento. Assim, todos imitam o seu deus nas relações amorosas e nas outras. Cada um escolhe o seu amor de acordo com o respectivo caráter e passa a vê-lo como seu deus, eleva-lhe uma estátua no seu coração  , enfeita-o para adorá-lo e celebra os seus mistérios. Os companheiros de Zeus buscam alguém que tenha alma semelhante a Zeus. Avaliam se ele tem viés de filósofo e de chefe, e quando encontram o que desejavam, tudo fazem para nele desenvolver os dons desse deus. Se antes não viviam sob o signo desse deus, agora dedicam-se inteiramente a cultivar as qualidades do deus e muito trabalham para aperfeiçoá-las pelo ensino, com toda energia. Outros procuram descobrir em si o caráter do seu deus e, se o conseguem, a isso se entregam. Quando o conseguem apanhar pela lembrança, são tomados de entusiasmo   e põem-se a imitar, tanto quanto é possível ao homem, os hábitos e costumes divinos. Considerando o amado como causa desse fado, passam a amá-lo ainda mais. Se tiram o seu alimento de Zeus, como as Bacantes, eles o espalham sobre a alma do objeto amado e a fazem tanto quanto possível semelhante à do seu deus. Os seguidores de Hera   procuram alguém que possua qualidades régias e, encontrando-o, também em tudo se comportam como reis. Os seguidores de Apolo   e de cada um dos outros deuses também regulam seu procedimento conforme o deus a quem seguiram. Imitam-no, persuadem os amantes, convencendo-os e conformando-os ao costume   e exemplo dos seus deuses. Em vez de sentirem inveja   do amado, esses amantes fazem tudo para tornar os seus amados semelhantes a eles mesmos ou aos deuses que adoram. É desse zelo   que estão animados os verdadeiros amantes. Se conseguem que o amado divida com eles o mesmo interesse  , o mesmo amor, a sua vitória é, ao mesmo tempo, uma iniciação. O amado que se deixa conquistar por um amante que delira assim, entrega-se a uma nobre paixão que será, para ele, uma fonte de felicidades. É assim que tem lugar também desse modo.

As alternativas do amor

No princípio do mito dividi cada alma em três partes, sendo dois cavalos, e a terceira, o cocheiro. Assim devemos continuar. Dissemos que um dos cavalos é bom e o outro não. Esclareçamos agora qual é a virtude do bom e a maldade do outro. O cavalo bom tem o corpo harmonioso e bonito; pescoço altivo, focinho curvo, cor branca, olhos pretos; ama a honestidade   e é dotado de sobriedade   e pudor, amigo como é da opinião certa. Não deve ser fustigado e sim dirigido apenas pelo comando e pela palavra. O outro - o mau - é torto e disforme; segue o caminho sem firmeza; com o pescoço baixo, tem um focinho achatado e a sua cor é preta; seus olhos de coruja são estriados de sangue  ; é amigo da soberba   e da lascívia; tem as orelhas cobertas de pelos. Obedece apenas - a contragosto - ao chicote e ao açoite. Quando o cocheiro vê algo amável, essa visão lhe aquece a alma, enchendo-a de pruridos e desejos. O cavalo obediente ao guia, como sempre, obedece e a si mesmo se refreia. Mas o outro não respeita o freio nem o chicote do condutor. Aos corcovos, move-se à força, embaraçando ao mesmo tempo o guia e o outro cavalo; obriga-os por fim a entregarem-se à volúpia. Os dois a princípio resistem, ficam furiosos, como se fossem coagidos a praticar um ato mau e imoral, mas acabam por se deixar levar e concordam em fazer o que manda o mau cavalo. E eles se dirigem ao amado para gozar de sua presença, que brilha ofuscante como um relâmpago. Quando o cocheiro vê o ser amado, a lembrança o reconduz para a essência da beleza. Este a revê no santo pedestal, ao lado da sabedoria, e ele se assusta, teme, e necessariamente puxa o freio. E com tal violência o retrai que ambos os cavalos recuam; o bom, voluntariamente e sem resistência; o ruim, entretanto, a contragosto. Afastam-se ambos do amado. Enquanto um, pela vergonha, banha de suor a alma, o outro, passada a dor causada pelo freio e pela queda, arfa ruidosamente, enraivece-se e luta   com o condutor e o companheiro por terem abandonado o acordo por covardia e inépcia. Novamente, obriga-os a se aproximar, contra a vontade, não lhes concedendo muito repouso, e, depois de breve intervalo   de receio, ele os lembra do amado esquecido e os obriga - aos relinchos e empuxões - a tentarem novo assalto ao objeto amado. E quando deste se aproximam, o mau cavalo se precipita, estende a cauda, morde o freio puxandoo sem pudor. Mas o cocheiro, ainda mais impressionado que antes, logo se retrai, repuxando com mais força o freio do cavalo mau. Escorre-lhe o sangue da língua e das mandíbulas, apertadas que tem a um tempo as pernas e as ancas de encontro ao chão, pelos maus tratos do guia. Depois de sofrer tudo isso, o mau cavalo amansa e segue o governo do cocheiro. Agora, quando vê o belo, quase morre de medo. Só então a alma do amante segue, com receio e pudor aquele que ama. Entretanto, o jovem que se vê mimado e honrado como um deus pelo seu amante, tem desperta em si a necessidade de amar. Se antes, os seus amigos ou outras pessoas lhe denegriram esse sentimento  , afirmando ser vergonhoso tal consórcio amoroso, e se esses conselhos o afastaram do seu amante, o tempo que passa, a idade, a necessidade de amar e de ser amado, levam-no, de novo, aos braços do amante. Não é desígnio do fado que o malvado ame o malvado e que um homem virtuoso não possa ser amado pelo homem virtuoso. Quando o amado recebe o amante, que desfrutou da sua doçura e do seu convívio, compreende que o afeto de seus amigos e parentes em nada é comparável ao de um amante inspirado pelo delírio. Assim vivem, se veem e se tocam, ora nos estádios, ora em outros lugares. Assim nasce essa emanação que Júpiter, quando amara Ganímedes, chamou de desejo. Esse desejo se insinua no amante, e quando este se encontra cheio dele, transborda. Do mesmo modo que um zéfiro ou que um som refletido por um corpo sólido e polido, também as emanações da beleza, entrando pelos olhos através dos quais - como lhe é natural - atingem a alma, volta esta ao belo, estende as asas e, molhando-as, as torna capazes de gerar novas asas, inundando também de amor a alma do amado. Ele ama, mas sem saber o quê. Nem sabe, nem pode dizer o que aconteceu consigo; assim como um contaminado de oftalmia desconhece a origem   de seu mal, assim também o amado, no espelho   do amante, viu-se a si mesmo sem dar por isso. Na presença do amado a dor do amante se esvai, e o mesmo sucede com este na presença daquele. Quando o outro está longe, o amante sente tristeza, e da mesma forma esta sacode o amado, porque ele abriga o reflexo do amor - acreditando, contudo, que se trata de amizade, e não de amor. Embora com menor intensidade, deseja aproximar-se do outro, vê-lo, tocá-lo, acariciá-lo, deitar-se ao seu lado e, assim, não tardará a satisfazer o seu desejo. Enquanto está a seu lado, o corcel indócil do amante tem muitas coisas a dizer ao cocheiro. Como recompensa de tantos sofrimentos, ele apenas pede um instante   de prazer. O corcel do amado nada diz, mas, sentindo algo que ele não compreende, toma o amante nos braços e cobre-o dos mais ternos beijos. Não tem forças para recusar os favores que o amigo lhe pede. Mas o bom corcel e o cocheiro resistem, em nome do pudor e da razão. Se a melhor parte da alma sair vitoriosa e os conduzir a uma vida bem ordenada e filosófica, eles passarão o resto de sua vida felizes e em harmonia  , sob o comando da honestidade, reprimindo a parte da alma que é viciosa e libertando a outra que é virtuosa. E ao morrer recebem asas e ficam leves, pois venceram um dos três combates verdadeiramente olímpicos, o maior bem que a sabedoria humana ou a loucura divina podem proporcionar a um homem. Mas se se entregam a uma vida em comum   sem filosofia, e contudo honesta, poderá suceder que os dois corcéis rebeldes assumam o domínio num momento de embriaguez   ou de descuido. Os cavalos indomáveis dos dois amantes, dominando suas almas pela surpresa, os conduzirão ao mesmo fim. Eles se entregarão ao tipo de vida mais invejável aos olhos de vulgo, e se atirarão aos prazeres. Satisfeitos, gozarão ainda estes mesmos prazeres, mas raramente, porque esses mesmos prazeres não terão aprovação da alma. Terão uma afeição que os ligará, mas que será sempre menos forte   do que aquela que liga os que verdadeiramente amam. Acalmado o delírio, ainda pensam estar unidos pelos mais preciosos compromissos. Creem que seria sacrílego   desfazer essa união   e abrir seus corações ao ódio. Terminada a experiência terrena, impacientes para tomarem novas asas, as almas abandonam os seus corpos, encerrando com recompensa o seu delírio amoroso. A lei divina não permite, aliás, àqueles que iniciaram sua jornada cósmica juntos, que caiam nas trevas subterrâneas. Esses passam uma vida feliz e cheia de ventura numa eterna união e, ao receberem asas, recebem-nas juntos, em virtude do amor que os uniu na terra. São essas coisas divinas, rapaz, que te darão o amor daquele que ama com paixão. O amor que não tem paixão, daquele que apenas possui a sabedoria mortal e que se apega aos bens do mundo, só gera na alma do amado a prudência do escravo  , à qual o vulgo dá o nome de virtude mas que o fará vagar, privado da razão, na terra e sob a terra durante nove mil anos. É esta, ó Amor!, a mais bela e a melhor palinódia que te posso oferecer como expiação do meu crime. Se o meu discurso foi por demais poético, a culpa cabe a Fedro, que a isso me obrigou. Perdoa-me o meu primeiro discurso e recebe este com indulgência; lança sobre mim um olhar benevolente e amigo. Não esmoreças em mim essa arte de amar de que me fizeste o dom. Ao contrário, lembra-me sempre para que eu aprecie, cada vez mais, a beleza. Se Fedro e eu te ultrajamos grosseiramente, acusa disso Lísias, que gerou aquele discurso, e obriga-o a que se volte para a filosofia, que seu irmão Polemarco já segue, a fim de que seu amante, que me ouve, livre da incerteza que ora o assola, possa consagrar, sem preconceitos, toda sua vida ao amor que é orientado pela filosofia.

FEDRO: - Junto minha prece à tua, caro Sócrates, para que isso se realize. Quanto a teu discurso, ele me causa admiração, e tanto mais quanto sua beleza ultrapassa a do primeiro. Receio que Lísias se mostre impotente, caso queira escrever outro discurso para rivalizar com esse. Foi bem por causa disso, meu amigo, que um dos nossos políticos censurou a Lísias. Disse que ele escrevia demais, que era um “logógrafo”, um “escritor de discursos”. É bem possível até que Lísias, por amor próprio, desista de escrever.

SÓCRATES: - Que ideia singular, rapaz! Conheces muito mal o teu amigo se julgas que ele se incomoda de ser repreendido. Pensas também que esse crítico falou seriamente?

FEDRO: - Mostrava grande convicção, caro Sócrates. Além disso, sabes tão bem quanto eu que os homens mais poderosos e mais eminentes num Estado   receiam escrever discursos e deixá-los à posteridade: temem que as gerações seguintes os taxem de sofistas.

SÓCRATES: - Tu pareces entender muito pouco das vicissitudes devidas à vaidade; além disso não percebes que os nossos políticos mais orgulhosos são os que mais adoram fazer discursos e deixá-los à posteridade. Quando confiam sua eloquência ao papel, mostram tanta afeição aos seus elogiadores que os mencionam um por um.

FEDRO: - Que queres dizer? Não te entendo.

SÓCRATES: - Será novidade para ti que, nos escritos de um político, vem em primeiro lugar o nome daquele que o elogia?

FEDRO: - Como assim?

SÓCRATES: - Diz, por exemplo: “o conselho decretou” ou “o povo decretou”, e, por vezes, “o conselho e o povo decretaram”. Segue-se o nome de quem falou, e nesta altura o autor fala solenemente de si, louvando-se, ostentando sua sabedoria aos que são do seu partido, às vezes com grande abundância de palavras. Consideras um livro desse gênero algo diferente de um discurso escrito?

FEDRO: - Por certo que não.

SÓCRATES: - Ora, quando a coisa é aprovada, o autor sai do teatro   muito satisfeito, mas quando a proposta é rejeitada falta-lhe pretexto para publicar o seu discurso, e este parece indigno de registro, de modo que tanto ele como seus partidários se entristecem.

FEDRO: - Perfeitamente.

SÓCRATES: - E é claro que se entristecem não porque desprezem esse costume, mas porque o admiram.

FEDRO: - Sim, é claro.

SÓCRATES: - Pensa também nisto: quando um rei é bastante hábil, quando tem o poder de um Licurgo, de um Sólon ou de um Dario para se tornar o imortal autor de discursos políticos, não considera ele a si próprio, em vida, como semelhante a um deus? E os pósteros, lendo-lhe as obras, não têm a mesma opinião a seu respeito?

FEDRO: - Exatamente.

SÓCRATES: - Acreditas que um homem dessa espécie, sendo inimigo de Lísias, o censure simplesmente porque ele escreve discursos?

FEDRO: - Aceitando teu argumento  , isso não é provável; tal homem estaria repreendendo a si mesmo.

SÓCRATES: - Ora, é evidente para todos que a ocupação de escrever discursos, em si, não é coisa desonesta.

FEDRO: - Pois claro!

SÓCRATES: - Além disso, que é escrever bem e escrever mal? Meu querido

FEDRO: deveremos consultar Lísias e outros homens competentes sobre esta questão? Será necessário seu parecer para cada um que escreveu ou escreverá, quer sua atividade   literária se relacione à política, quer à vista particular, quer ele escreva ritmicamente como poeta, quer em prosa como qualquer outro?

FEDRO: - Me perguntas se devemos fazer isso? Mas teríamos uma razão para viver   se não fosse para esse prazer? É certo que tais prazeres não são de ordem dos que vêm precedidos de uma dor, indispensável ao prazer. Ora, esse é o caráter de todos os prazeres que estão ligados ao corpo, e por isso os chamam de servis.

SÓCRATES: - Creio que ainda temos tempo. Entretanto, parece-me que as cigarras, que no meio do dia costumam cantar e chiar acima de nossas cabeças, estão nos olhando. Se elas nos vissem a esta hora cochilando como homens comuns e sem assunto, como se o cansaço embotasse o nosso pensar, teriam o direito de rir de nós, e considerar-nos-iam como escravos que tivessem vindo visitá-las e procuraram este bonito lugar apenas para dormir   à hora da canícula, como as ovelhas junto a uma fonte. Vendo, porém, que conversamos e prosseguimos nossa viagem sem nos deixarmos cativar, pelo seu canto   de sereias  , talvez se admirem e nos deem, de bom grado, o presente honorífico que receberam como favor dos deuses, a fim de conferi-lo aos homens.

FEDRO: - Elas possuem tal coisa? Não me parece que já tenha ouvido falar nisso.

O mito das cigarras

SÓCRATES: - Para um homem tão amigo das Musas não convém ignorá-lo. Dizem que as cigarras foram homens outrora, homens que viveram antes de terem nascido as Musas. Quando estas vieram ao mundo e tiveram início as canções, alguns daqueles homens deixaram-se cativar de tal modo que, embevecidos nelas, esqueceram-se de comer e de beber, até que morreram sem mesmo se dar conta. Desses homens provém o gênero das cigarras, que recebeu das Musas o honroso privilégio de não precisar de alimento durante sua vida; sendo capazes de cantar, do nascimento à morte, sem comer nem beber. Vão elas ter com as Musas e lhes indicam os homens que aqui na terra lhes prestam culto. A Terpsícore dizem o nome dos que as honram dançando nos coros, e os tornam mais estimados por ela; a Erato apontam os que as exaltam com poesias amorosas, e assim a todas as outras, de acordo com a arte que presidem. À mais velha Musa, porém, a Calíope, e a Urânia, que nasceu depois dela, as cigarras dizem quais são os homens que se dedicam à filosofia e exercem a arte por elas protegida; pois essas duas cantam melodias mais belas do que todas as outras Musas; dirigem seus cantos ao céu e fazem discursos sobre as coisas divinas e sobre as humanas. Por esse motivo, ao meio-dia  , temos de conversar sobre o que quisermos, mas nunca dormir.

FEDRO: - Sim, sim, conversemos!

ARCIS

SÓCRATES. —Figúrate, mi querido joven, que el primer discurso era de Fedro, hijo de Pítocles de Mirriúnte, y que el que voy a pronunciar es de Estesícoro de Hímera, hijo de Eufemo. He aquí, cómo es preciso hablar. No, no hay nada de verdadero en el primer discurso; no, no hay que desdeñar a un amante apasionado y abandonarse al hombre sin amor, por la sola razón de estar el uno delirante y el otro en su sano juicio. Esto sería muy bueno, si fuese evidente que el delirio es un mal; pero es todo lo contrario; al delirio inspirado por los dioses es al que somos deudores de los más grandes bienes. Al delirio se debe que la profetisa de Delfos y las sacerdotisas de Dodona hayan hecho numerosos y señalados servicios a las repúblicas de la Grecia y a los particulares. Cuando han estado a sangre fría, poco o nada   se les debe. No quiero hablar de la Sibila, ni de todos aquellos, que habiendo recibido de los dioses el don de profecía, han inspirado a los hombres sabios pensamientos, anunciándoles el porvenir, porque sería extenderme inútilmente sobre una cosa que nadie ignora. Por otra parte, puedo invocar el testimonio de los antiguos, que han creado el lenguaje; no han mirado el delirio (μανία, manía) como indigno y deshonroso; porque no hubieran aplicado este nombre a la más noble de todas las artes, la que nos da a conocer el porvenir, y no la hubiera llamado μανική (maniké), y si le dieron este nombre fue porque pensaron que el delirio es un don magnífico cuando nos viene de los dioses. La actual generación, introduciendo indebidamente una t en esta palabra, han creado la de μαντική (mantiké). Por el contrario, la indagación del porvenir hecha por hombres sin inspiración, que observaban el vuelo de los pájaros y otros signos, se la llamó οἰονοϊστική, (oionoistiké), porque estos adivinos buscaban, con el auxilio del razonamiento, dar al pensamiento humano la inteligencia y el conocimiento; y los modernos, mudando la antigua ο en su enfática ω han llamado este arte οἰωνιστικὴ (oionistiké). Por lo tanto, todo lo que la profecía tiene de perfección y de dignidad sobre el arte augural, tanto respecto del nombre como respecto de la cosa, otro tanto el delirio, que viene de los dioses, es más noble que la sabiduría que viene de los hombres; y los antiguos nos lo atestiguan.

Cuando los pueblos han sido víctimas de epidemias y de otros terribles azotes en castigo de un antiguo crimen, el delirio, apoderándose de algunos mortales y llenándoles de espíritu profético, los obligaban a buscar un remedio a estos males, y un refugio contra la cólera divina con súplicas y ceremonias expiatorias. Al delirio se han debido las purificaciones y los ritos misteriosos que preservaron de los males presentes y futuros al hombre verdaderamente inspirado y animado de espíritu profético, descubriéndole los medios de salvarse.

Hay una tercera clase de delirio y de posesión, que es la inspirada por las musas; cuando se apodera de un alma inocente y virgen aún, la trasporta y le inspira odas y otros poemas que sirven para la enseñanza de las generaciones nuevas, celebrando las proezas de los antiguos héroes. Pero todo el que intente aproximarse al santuario de la poesía, sin estar agitado por este delirio que viene de las musas, o que crea que el arte solo basta para hacerle poeta, estará muy distante de la perfección; y la poesía de los sabios se verá siempre eclipsada por los cantos que respiran un éxtasis divino.

Tales son las ventajas maravillosas que procura a los mortales el delirio inspirado por los dioses, y podría citar otras muchas. Por lo que guardémonos de temerle, y no nos dejemos alucinar por ese tímido discurso, que pretende que se prefiera un amigo frío al amante agitado por la pasión. Para que nos diéramos por vencidos por sus razones, sería preciso que nos demostrara, que los dioses que inspiran el amor no quieren el mayor bien, ni para el amante, ni para el amado. Nosotros probaremos, por el contrario, que los dioses nos envían esta especie de delirio para nuestra mayor felicidad. Nuestras pruebas excitarán el desden de los falsos sabios, pero habrán de convencer a los sabios verdaderos.

Por lo pronto es preciso determinar exactamente la naturaleza del alma divina y humana por medio de la observación de sus facultades y propiedades.

Partiremos de este principio: toda alma es inmortal, porque todo lo que se mueve en movimiento continuo es inmortal. El ser que comunica el movimiento o el que lo recibe, en el momento en que cesa de ser movido, cesa de vivir; solo el ser que se mueve por sí mismo, sin poder dejar de ser el mismo, no cesa jamás de moverse; y aún más, es, para los otros seres que participan del movimiento, origen   y principio del movimiento mismo. Un principio no puede ser producido; porque todo lo que comienza a existir debe necesariamente ser producido por un principio, y el principio mismo no ser producido por nada, porque, si lo fuera, dejaría de ser principio. Pero si nunca ha comenzado a existir, no puede tampoco ser destruido. Porque si un principio pudiese ser destruido, no podría él mismo renacer de la nada, ni nada tampoco podría renacer de él, si como hemos dicho, todo es producido necesariamente por un principio. Así, el ser que se mueve por sí mismo, es el principio del movimiento, y no puede ni nacer ni perecer, porque de otra manera el cielo   entero y todos los seres, que han recibido la existencia, se postrarían en una profunda inmovilidad, y no existiría un principio que les volviera el movimiento, una vez destruido. Queda, pues, demostrado, que lo que se mueve por sí mismo es inmortal, y nadie temerá afirmar que el poder de moverse por sí mismo es la esencia del alma. En efecto, todo cuerpo que es movido por un impulso extraño, es inanimado; todo cuerpo que recibe el movimiento de un principio interior, es animado; tal es la naturaleza del alma. Si es cierto que lo que se mueve por sí mismo no es otra cosa que el alma, se sigue necesariamente, que el alma no tiene ni principio ni fin. Pero basta ya sobre su inmortalidad.

Ocupémonos ahora del alma en sí misma. Para decir lo que ella es sería preciso una ciencia divina y desarrollos sin fin. Para hacer comprender su naturaleza por una comparación, basta una ciencia humana y algunas palabras. Digamos, pues, que el alma se parece a las fuerzas combinadas de un tronco de caballos y un cochero; los corceles y los cocheros de las almas divinas son excelentes y de buena raza, pero, en los demás seres, su naturaleza está mezclada de bien y de mal. Por esta razón, en la especie humana, el cochero dirige dos corceles, el uno excelente y de buena raza, y el otro muy diferente del primero y de un origen también muy diferente; y un tronco semejante no puede dejar de ser penoso y difícil de guiar.

¿Pero cómo, entre los seres animados, unos son llamados mortales y otros inmortales? Esto es lo que conviene esclarecer. El alma universal rige la materia inanimada y hace su evolución en el universo, manifestándose bajo mil formas diversas. Cuando es perfecta y alada, campea en lo más alto de los cielos, y gobierna el orden universal. Pero cuando ha perdido sus alas, rueda en los espacios infinitos, hasta que se adhiere a alguna cosa sólida, y fija allí su estancia; y cuando ha revestido un cuerpo terrestre, que desde aquel acto, movido por la fuerza que le comunica, parece moverse por sí mismo, esta reunión de alma y cuerpo se llama un ser vivo, con el aditamento de ser mortal. En cuanto al nombre de inmortal, el razonamiento no puede definirlo, pero nosotros nos lo imaginamos; y sin haber visto jamás la sustancia, a la que este nombre conviene, y sin comprenderla suficientemente, conjeturamos que un ser inmortal es el formado por la reunión de un alma y de un cuerpo unidos de toda eternidad. Pero sea lo que Dios quiera, y dígase lo que se quiera, para nosotros basta que expliquemos, cómo las almas pierden sus alas. He aquí quizá la causa.

La virtud de las alas consiste en llevar lo que es pesado hacia las regiones superiores, donde habita la raza de los dioses, siendo ellas participantes de lo que es divino más que todas las cosas corporales: Es divino todo lo que es bello, bueno, verdadero, y todo lo que posee cualidades análogas, y también lo es lo que nutre y fortifica las alas del alma; y todas las cualidades contrarias como la fealdad, el mal, las ajan y echan a perder. El Señor omnipotente, que está en los cielos, Zeus, se adelanta el primero, conduciendo su carro alado, ordenando y vigilándolo todo. El ejército de los dioses y de los demonios le sigue, dividido en once tribus; porque de las doce divinidades supremas solo Hestía (Ἑστία) queda en el palacio celeste; las once restantes, en el orden que les está prescrito, conducen cada una la tribu que preside. ¡Qué encantador espectáculo nos ofrece la inmensidad del cielo, cuando los inmortales bienaventurados realizan sus revoluciones llenando cada uno las funciones que les están encomendadas! Detrás de ellos marchan los que quieren y pueden seguirles, porque en la corte celestial está desterrada la envidia. Cuando van al festín y banquete que les espera, avanzan por un camino escarpado hasta la cima más elevada de la bóveda de los cielos. Los carros de los dioses, mantenidos siempre en equilibrio por sus corceles dóciles al freno, suben sin esfuerzo; los otros caminan con dificultad, porque el corcel malo pesa sobre el carro inclinado y lo arrastra hacia la tierra si no ha sido sujetado por su cochero. Entonces es cuando el alma sufre una prueba y sostiene una terrible lucha. Las almas de los que se llaman inmortales, cuando han subido a lo más alto del cielo, se elevan por encima de la bóveda celeste y se fijan sobre su convexidad; entonces se ven arrastradas por un movimiento circular, y contemplan durante esta evolución lo que se halla fuera de esta bóveda, que abraza el universo.

Ninguno de los poetas de este mundo ha celebrado nunca la región que se extiende por encima del cielo; ninguno la celebrará jamás dignamente. He aquí, sin embargo, lo que es, porque no hay temor de publicar la verdad, sobre todo, cuando se trata de la verdad. La esencia sin color  , sin forma, impalpable, no puede contemplarse sino por la guía del alma, la inteligencia; en torno de la esencia está la estancia de la ciencia perfecta que abraza la verdad toda entera. El pensamiento de los dioses, que se alimenta de inteligencia y de ciencia sin mezcla, como el de toda alma ávida del alimento que le conviene, gusta ver la esencia divina   de la que hacía tiempo estaba separado, y se entrega con placer a la contemplación de la verdad, hasta el instante en que el movimiento circular la lleve al punto de su partida. Durante esta revolución, contempla la justicia en sí, la sabiduría en sí, no esta ciencia que está sujeta a cambio y que se muestra diferente según los distintos objetos, que nosotros, mortales, queremos llamar seres, sino la ciencia, que tiene por objeto el ser de los seres. Y cuando ha contemplado las esencias y está completamente saciado, se sume de nuevo en el cielo y entra en su estancia. Apenas ha llegado, el cochero conduce los corceles al establo, en donde les da ambrosía para comer y néctar para beber. Tal es la vida de los dioses.

Entre las otras almas, la que sigue a las almas divinas con paso más igual y que más las imita, levanta la cabeza de su cochero hasta las regiones superiores, y se ve arrastrada por el movimiento circular; pero, molestada por sus corceles, apenas puede entrever las esencias. Hay otras, que tan pronto suben, como bajan, y que arrastradas acá y allá por sus corceles, aperciben ciertas esencias y no pueden contemplarlas todas. En fin, otras almas siguen de lejos, aspirando como las primeras a elevarse hacia las regiones superiores, pero sus esfuerzos son impotentes; están como sumergidas y errantes en los espacios inferiores, y, luchando con ahínco por ganar terreno, se ven entorpecidas y completamente abatidas; entonces ya no hay más que confusión, combate y lucha desesperada; y por la poca maña de sus cocheros, muchas de estas almas se ven lisiadas, y otras ven caer una a una las plumas de sus alas; todas, después de esfuerzos inútiles e impotentes para elevarse hasta la contemplación del ser absoluto, desfallecen, y en su caída no les queda más alimento que las conjeturas de la opinión. Este tenaz empeño de las almas por elevarse a un punto desde donde puedan descubrir la llanura de la verdad, nace de que solo en esta llanura pueden encontrar un alimento capaz de nutrir la parte más noble de sí mismas, y de desarrollar las alas que llevan al alma lejos de las regiones inferiores. Es una ley de Adrasto, que toda alma que ha podido seguir al alma divina y contemplar con ella alguna de las esencias, esté exenta de todos los males hasta un nuevo viaje, y si su vuelo no se debilita, ignorará eternamente sus sufrimientos. Pero cuando no puede seguir a los dioses, cuando por un extravío funesto, llena del impuro alimento del vicio y del olvido, se entorpece y pierde sus alas, entonces cae en esta tierra; una ley quiere que en esta primera generación y aparición sobre la tierra no anime el cuerpo de ningún animal.

El alma que ha visto, lo mejor posible, las esencias y la verdad, deberá constituir un hombre, que se consagrará a la sabiduría, a la belleza, a las musas y al amor; la que ocupa el segundo lugar será un rey justo o guerrero o poderoso; la de tercer lugar, un político, un financiero, un negociante; la del cuarto, un atleta infatigable o un médico; la del quinto, un adivino o un iniciado; la del sexto, un poeta o un artista; la del séptimo, un obrero o un labrador; la del octavo, un sofista   o un demagogo; la del noveno, un tirano. En todos estos estados, a todo el que ha practicado la justicia, le espera después de su muerte un destino más alto; el que la ha violado cae en una condición inferior. El alma no puede volver a la estancia de donde ha partido, sino después de un destierro de diez mil años; porque no recobra sus alas antes, a menos que haya cultivado la filosofía con un corazón sincero o amado a los jóvenes con un amor filosófico. A la tercera revolución de mil años, si ha escogido tres veces seguidas este género de vida, recobra sus alas y vuela hacia los dioses en el momento en que la última, a los tres mil años, se ha realizado. Pero las otras almas, después de haber vivido su primera existencia, son objeto de un juicio: y una vez juzgadas, las unas descienden a las entrañas de la tierra para sufrir allí su castigo; otras, que han obtenido una sentencia favorable, se ven conducidas a un paraje del cielo, donde reciben las recompensas debidas a las virtudes que hayan practicado durante su vida terrestre. Después de mil años, las unas y las otras son llamadas para un nuevo arreglo de las condiciones que hayan de sufrir, y cada una puede escoger el género de vida que mejor le parezca. De esta manera el alma de un hombre puede animar una bestia salvaje, y el alma de una bestia animar un hombre, con tal de que este haya sido hombre en una existencia anterior. Porque el alma que no ha vislumbrado la verdad, no puede revestir la forma humana. En efecto, el hombre debe comprender lo general; es decir, elevarse de la multiplicidad de las sensaciones a la unidad racional. Esta facultad no es otra cosa que el recuerdo de lo que nuestra alma ha visto, cuando seguía al alma divina en sus evoluciones; cuando, echando una mirada desdeñosa sobre lo que nosotros llamamos seres, se elevaba a la contemplación del verdadero Ser. Por esta razón es justo que el pensamiento del filósofo tenga solo alas, pensamiento que se liga siempre cuanto es posible por el recuerdo a las esencias, a que Dios mismo debe su divinidad. El hombre que sabe servirse de estas reminiscencias está iniciado constantemente en los misterios de la infinita perfección, y solo se hace él mismo verdaderamente perfecto. Desprendido de los cuidados que agitan a los hombres, y curándose solo de las cosas divinas, el vulgo pretende sanarle de su locura y no ve que es un hombre inspirado.

A esto tiende todo este discurso sobre la cuarta especie de delirio. Cuando un hombre apercibe las bellezas de este mundo y recuerda la belleza verdadera, su alma toma alas y desea volar; pero sintiendo su impotencia, levanta, como el pájaro, sus miradas al cielo, desprecia las ocupaciones de este mundo, y se ve tratado como insensato. De todos los géneros de entusiasmo éste es el más magnífico en sus causas y en sus efectos para el que lo ha recibido en su corazón, y para aquel a quien ha sido comunicado; y el hombre que tiene este deseo y que se apasiona por la belleza, toma el nombre de amante. En efecto, como ya hemos dicho, toda alma humana ha debido necesariamente contemplar las esencias, pues de no ser así, no hubiera podido entrar en el cuerpo de un hombre. Pero los recuerdos de esta contemplación no se despiertan en todas las almas con la misma facilidad; una no ha hecho más que entrever las esencias; otra, después de su descenso a la tierra, ha tenido la desgracia de verse arrastrada hacia la injusticia por asociaciones funestas, y olvidar los misterios sagrados que en otro tiempo había contemplado. Un pequeño número   de almas son las únicas que conservan con alguna claridad este recuerdo. Estas almas, cuando aperciben alguna imagen de las cosas del cielo, se llenan de turbación y no pueden contenerse, pero no saben lo que experimentan, porque sus percepciones no son bastante claras. Y es que la justicia, la sabiduría y todos los bienes del alma, han perdido su brillantez en las imágenes que vemos en este mundo. Entorpecidos nosotros mismos con órganos groseros, apenas pueden algunos, aproximándose a estas imágenes, reconocer ni aun el modelo que ellas representan. Nos estuvo reservado contemplar la belleza del todo radiante, cuando, mezclados con el coro de los bienaventurados, marchábamos con las demás almas en la comitiva de Zeus y de los demás dioses, gozando allí del más seductor espectáculo; e iniciados en los misterios, que podemos llamar divinos, los celebrábamos exentos de la imperfección y de los males que en el porvenir nos esperaban, y éramos admitidos a contemplar estas esencias perfectas, simples, llenas de calma y de beatitud, y las visiones que irradiaban en el seno de la más pura luz; y, puros nosotros, nos veíamos libres de esta tumba que llamamos nuestro cuerpo, y que arrastramos con nosotros, como la ostra sufre la prisión que la envuelve.

Deben disimularse estos rodeos, debidos al recuerdo de una felicidad que no existe y que echamos de menos. En cuanto a la belleza, ella brilla, como ya he dicho, entre todas las demás esencias, y en nuestra estancia terrestre, donde lo eclipsa todo con su brillantez, la reconocemos por el más luminoso de nuestros sentidos. La vista es, en efecto, el más sutil de todos los órganos del cuerpo. No puede, sin embargo, percibir la sabiduría, porque sería increíble nuestro amor por ella, si su imagen y las imágenes de las otras esencias, dignas de nuestro amor, se ofreciesen a nuestra vista, tan distintas y tan vivas como son. Pero al presente solo la belleza tiene el privilegio de ser a la vez un objeto tan sorprendente como amable. El alma que no tiene un recuerdo reciente de los misterios divinos, o que se ha abandonado a las corrupciones de la tierra, tiene dificultad en elevarse de las cosas de este mundo hasta la perfecta belleza por la contemplación de los objetos terrestres, que llevan su nombre; antes bien, en vez de sentirse movida por el respeto hacia ella, se deja dominar por el atractivo del placer, y, como una bestia salvaje, violando el orden eterno, se abandona a un deseo brutal, y en su comercio grosero no teme, no se avergüenza de consumar un placer contra naturaleza. Pero el hombre, que ha sido perfectamente iniciado, que contempló en otro tiempo el mayor número de esencias, cuando ve un semblante que remeda la belleza celeste o un cuerpo que le recuerda por sus formas la esencia de la belleza, siente por lo pronto como un temblor, y experimenta los terrores religiosos de otro tiempo; y fijando después sus miradas en el objeto amable, le respeta como a un dios, y si no temiese ver tratado su entusiasmo de locura, inmolaría víctimas al objeto de su pasión, como a un ídolo  , como a un dios. A su vista, semejante a un hombre atacado de la fiebre, muda de semblante, el sudor inunda su frente, y un fuego desacostumbrado se infiltra en sus venas;[17] en el momento en que ha recibido por los ojos la emanación de la belleza siente este dulce calor que nutre las alas del alma; esta llama hace derretir la cubierta, cuya dureza las impedía hacía tiempo desarrollarse. La afluencia de este alimento hace que el miembro, raíz de las alas, cobre vigor, y las alas se esfuerzan por derramarse por toda el alma, porque primitivamente el alma era toda alada. En este estado, el alma entra en efervescencia e irritación; y esta alma, cuyas alas empiezan a desarrollarse, es como el niño, cuyas encías están irritadas y embotadas por los primeros dientes. Las alas, desarrollándose, le hacen experimentar un calor, una dentera, una irritación del mismo género. En presencia de un objeto bello recibe las partes de belleza que del mismo se desprenden y emanan, y que han hecho dar al deseo el nombre de ἵμερος (hímeros), experimenta un calor suave, se reconoce satisfecho y nada en la alegría. Pero cuando está separada del objeto amado, el fastidio la consume, los poros del alma por donde salen las alas se desecan, se cierran, de suerte que no tienen ya salida. Presa del deseo y encerradas en su prisión, las alas se agitan, como la sangre se agita en las venas; hacen empuje en todas direcciones, y el alma, aguijoneada por todas partes se pone furiosa y fuera de sí de tanto sufrir, mientras el recuerdo de la belleza la inunda de alegría. Estos dos sentimientos la dividen y la turban, y en la confusión a que la arrojan tan extrañas emociones, se angustia, y en su frenesí no puede, ni descansar de noche, ni gozar durante el día de alguna tranquilidad; y, antes bien, llevada por la pasión, se lanza a todas partes donde cree encontrar su querida belleza. Ha vuelto a verla; ha recibido de nuevo sus emanaciones; en el momento se vuelven a abrir los poros que estaban obstruidos, respira y no siente ya el aguijón del dolor, y gusta durante estos cortos instantes el placer más encantador. Asíes que el amante no quiere separarse de la persona que ama, porque nada le es más precioso que este objeto tan bello; madre, hermano, amigos, todo lo olvida; pierde su fortuna abandonada sin experimentar la menor sensación; deberes, atenciones que antes tenía complacencia en respetar, nada le importan; consiente ser esclavo y adormecerse, con tal de que se vea cerca del objeto de sus deseos; y si adora al que posee la belleza, es porque solo en él encuentra alivio a los tormentos que sufre.

A esta afección, precioso joven, los hombres la llaman amor; los dioses la dan un nombre tan singular, que quizá te haga sonreír. Algunos homéridas nos citan, según creo, dos versos de su poeta, que han conservado, uno de los cuales es muy injurioso al amor y verdaderamente poco conveniente.

«Los mortales le llaman Eros, el dios alado;

los inmortales le llaman el Pteros, el que da alas».

Se puede admitir o desechar la autoridad de estos dos versos; siempre es cierto que la causa y la naturaleza de la afección de los amantes son tales como yo las he descrito.

Si el hombre enamorado ha sido uno de los que antes siguieron a Zeus, tiene más fuerza para resistir al dios alado que ha venido a caer sobre él; los que han sido servidores de Marte y le han seguido en su revolución alrededor del cielo, cuando se ven invadidos por el amor, y se creen ultrajados por el objeto de su pasión, se ven arrastrados por un furor sangriento, que los lleva a inmolarse con su ídolo. Así es que cada cual honra al dios cuya comitiva seguía, y le imita en su vida tanto cuanto está en su poder, por lo menos, durante la primera generación y mientras no está corrompido; y esta imitación la lleva a cabo en sus intimidades amorosas y en todas las demás relaciones. Cada hombre escoge un amor según su carácter, le hace su dios, le levanta una estatua en su corazón, y se complace en engalanarla, como para rendirle adoración y celebrar sus misterios. Los servidores de Zeus buscan un alma de Zeus en aquel que adoran, examinan si gustan de la sabiduría y del mando, y cuando le han encontrado tal como lo desean y le han consagrado su amor, hacen los mayores esfuerzos por desarrollar en él tan nobles inclinaciones. Si no se han entregado desde luego por entero a las ocupaciones que corresponden a esto, se dedican, sin embargo, y trabajan en perfeccionarse mediante las enseñanzas de los demás y los esfuerzos propios. Intentan descubrir en sí mismos el carácter de su dios, y lo consiguen, porque se ven forzados a volver sin cesar sus miradas del lado de este dios; y cuando lo han conseguido por la reminiscencia, el entusiasmo los trasporta, y toman de él sus costumbres y sus hábitos, tanto, por lo menos, cuanto es posible al hombre participar de la naturaleza divina. Como atribuyen este cambio dichoso a la influencia del objeto amado, le aman más; y si Zeus es el origen divino de donde toman su inspiración, semejantes a las bacantes, la derraman sobre el objeto de su amor, y en cuanto pueden le hacen semejante a su dios. Los que han viajado en la comitiva de Hera buscan un alma regia, y desde que la han encontrado, obran para con ella de la misma manera. En fin, todos aquellos que han seguido a Apolo o a los otros dioses, arreglando su conducta sobre la base de la divinidad que han elegido, buscan un joven del mismo natural; y cuando lo poseen, imitando su divino modelo, se esfuerzan en persuadir a la persona amada a que haga otro tanto, y de esta manera lo amoldan a las costumbres de su dios, y lo comprometen a reproducir este tipo de perfección en cuanto les es posible. Lejos de concebir sentimientos de envidia y de baja malevolencia contra él, todos sus deseos, todos sus esfuerzos, tienden solo a hacerle semejante a ellos mismos y al dios al que rinden culto. Tal es el celo de que se ven animados los verdaderos amantes, y si consiguen buena acogida para su amor, su victoria es una iniciación; y la persona amada, que se deja subyugar por un amante que ama con delirio, se abandona a una pasión noble, que es para él un origen de felicidad. Su derrota tiene lugar de esta manera.

Hemos distinguido en cada alma tres partes diferentes por medio de la alegoría de los corceles y del cochero. Sigamos, pues, con la misma figura. Uno de los dos corceles, decíamos, es de buena raza, el otro es vicioso. Pero ¿de dónde nace la excelencia del uno y el vicio del otro? Esto es lo que no hemos dicho, y lo que vamos a explicar ahora. El primero tiene soberbia planta  , formas regulares y bien desenvueltas, cabeza erguida y acarnerada; es blanco con ojos negros; ama la gloria con sabio comedimiento; tiene pasión por el verdadero honor; obedece, sin que se le castigue, a las exhortaciones y a la voz del cochero. El segundo tiene los miembros contrahechos, toscos, desaplomados, la cabeza gruesa y aplastada, el cuello corto; es negro, y sus ojos verdes y ensangrentados; no respira sino furor y vanidad; sus oídos velludos están sordos a los gritos del cochero, y con dificultad obedece a la espuela y al látigo.

A la vista del objeto amado, cuando el cochero siente que el fuego del amor penetra su alma toda y que el aguijón del deseo irrita su corazón, el corcel dócil, dominado ahora y siempre por las leyes del pudor, se contiene, para no insultar al objeto amado; pero el otro corcel no atiende al látigo ni al aguijón, da botes, se alborota, y entorpeciendo a la vez a su guía y a su compañero, se precipita violentamente sobre el objeto amado para disfrutar en él de placeres sensuales. Por lo pronto, el guía y el compañero se resisten, se indignan contra esta violencia odiosa y culpable; pero al fin, cuando el mal no tiene límites, se dejan arrastrar, ceden al corcel furioso, y prometen consentirlo todo. Se aproximan al objeto bello, y contemplan esta aparición en todo su resplandor. A su vista, el recuerdo del cochero se fija en la esencia de la belleza; y se figura verla, como en otro tiempo, en la estancia de la pureza  , colocada al lado de la sabiduría. Esta visión le llena de un terror religioso, se echa atrás, y esto le obliga a tirar de las riendas con tanta violencia, que los dos corceles se encabritan al mismo tiempo, el uno de buena gana, porque no está acostumbrado a hacer resistencia, el otro de mala porque siempre tiende a la violencia y a la rebelión. Mientras reculan, el uno, lleno de pudor y de arrobamiento, inunda el alma toda de sudor; el otro, insensible ya a la impresión del freno y al dolor de su caída, apenas tomó aliento, prorrumpió en gritos de furor, vertiendo injurias contra su guía y su compañero, echándoles en cara el haber abandonado por cobardía y falta de corazón su puesto y tratándoles de perjuros. Los estrecha, a pesar de ellos, a volver a la carga, y, accediendo a sus súplicas, les concede algunos instantes de plazo. Terminada esta tregua, ellos fingen no haber pensado en esto; pero el corcel malo, recordándoles su compromiso, haciéndoles violencia y relinchando con furor, los arrastra y los fuerza a renovar sus tentativas para con el objeto amado. Apenas se aproximan, el corcel malo se echa, se estira, y, entregándose a movimientos libidinosos, muerde el freno y se atreve a todo con desvergüenza. Pero entonces el cochero experimenta más fuertemente aún la impresión de antes, se echa atrás, como el jinete que va a tocar la barrera, y tira con mayor fuerza de las riendas del corcel indómito, rompe sus dientes, magulla su lengua insolente, ensangrienta su boca, le obliga a sentar en tierra sus piernas y muslos y le hace pasar mil angustias. Cuando, a fuerza de sufrir, el corcel vicioso ha visto abatido su furor, baja la cabeza y sigue la dirección que desea el cochero, y al percibir el objeto bello se muere de terror. Entonces solamente es cuando el amante sigue con modestia y pudor al que ama.

Sin embargo, el joven que se ve servido y honrado al igual que un dios por un amante que no finge amor, sino que está sinceramente apasionado, siente despertarse en él la necesidad de amar. Si antes sus camaradas u otras personas han denigrado en su presencia este sentimiento, diciendo que es cosa fea tener una relación amorosa, y si semejantes discursos han hecho que rechazara a su amante, el tiempo trascurrido, la edad, la necesidad de amar y de ser amado le obligan bien pronto a recibirle en su intimidad. Porque no puede estar en los decretos del destino, que se amen   dos hombres malos, ni que dos hombres de bien no puedan amarse. Cuando la persona amada ha acogido al que ama y ha gozado de la dulzura de su conversación y de su sociedad, se ve como arrastrado por esta pasión, y comprende que la afección de todos sus amigos y de todos sus parientes no es nada, cotejada con la que le inspira su amante. Cuando han mantenido esta relación por algún tiempo y se han visto y han estado en contacto en los gimnasios o en otros puntos, la corriente de estas emanaciones que Zeus, enamorado de Ganímedes, llamó deseo, se dirige a oleadas hacia el amante, entra en su interior en parte, y cuando ha penetrado así, lo demás se manifiesta al exterior; y, como el aire o un sonido reflejado por un cuerpo liso o sólido, las emanaciones de la belleza vuelven al alma del bello joven por el canal de los ojos, y abriendo a las alas todas sus salidas las nutren y las desprenden y llenan de amor el alma de la persona amada. Ama, pues, pero no sabe qué; no comprende lo que experimenta, ni tampoco podría decirlo; se parece al hombre que por haber contemplado por mucho tiempo en otros ojos enfermos, sintiese que su vista se oscurecía; no conoce la causa de su turbación, y no se apercibe de que se ve en su amante como en un espejo. Cuando está en su presencia, siente en sí mismo que se aplacan sus dolores; cuando ausente, le echa de menos cuanto puede echarse; y siente una afección que es como la imagen del amor, y a la cual no da el nombre de amor, sino que la llama amistad. Sin embargo, desea como su amante, aunque con menos ardor, verle, tocarle, abrazarle y participar de su lecho, y sin duda no tardará en satisfacer este deseo. Mientras duermen en un mismo lecho, al corcel indócil le ocurre mucho que decir al cochero, y por premio de tantos sufrimientos pide un instante de placer. El corcel del joven amado no tiene nada que decir, pero experimentando algo que no comprende, estrecha a su amante entre sus brazos, y le prodiga los más expresivos besos, y mientras permanezcan tan inmediatos el uno al otro, no tendrá fuerza para rehusar los favores que su amante exija. Pero el otro corcel y el cochero lo resisten en nombre del pudor y de la razón.

Si la parte mejor del alma es la más fuerte y triunfa y los guía hacia una vida ordenada, siguiendo los preceptos de la sabiduría, pasan ellos sus días en este mundo felices y unidos. Dueños de sí mismos viven como hombres honrados, porque han subyugado lo que llevaba el vicio a su alma, y dado un vuelo libre a lo que engendra la virtud. Al morir, alados y aliviados de todo peso grosero, salen vencedores en uno de los tres combates que se pueden llamar verdaderamente olímpicos; y es tan grande este bien, que ni la sabiduría humana, ni el delirio que viene de los dioses, pueden proporcionar otro mejor al hombre. Si, por el contrario, han adoptado un género de vida más vulgar   y contrario a la filosofía, aunque sin violar las leyes del honor, en medio de la embriaguez, en un momento de olvido y de extravío, sucederá sin duda que los corceles indómitos de los dos amantes, sorprendiendo sus almas, los conducirán hacia un mismo fin; escogerán entonces el género de vida más lisonjero a los ojos del vulgo, y se precipitarán a gozar. Cuando se han saciado, aún gustan de los mismos placeres, pero no con profusión, porque no los aprueba decididamente el alma. Tienen el uno para el otro una afección verdadera, pero menos fuerte que la de los puros amantes, y cuando su delirio ha cesado, creen haberse dado las prendas más preciosas de una fe recíproca; y creerían cometer un sacrilegio si rompieran los lazos que les ligan, para abrir sus corazones al aborrecimiento. Al fin de su vida, sin alas aún, pero ya impacientes por tomarlas, sus almas abandonan sus cuerpos, de suerte que su delirio amoroso recibe una gran recompensa. Porque la ley divina no permite que los que han comenzado su viaje celeste, sean precipitados en las tinieblas subterráneas, sino que pasan una vida brillante y dichosa en eterna unión, y, cuando reciben alas, las obtienen juntos, a causa del amor que les ha unido sobre la tierra.

Tales son, mi querido joven, los maravillosos y divinos bienes que te procurará la afección de un amante; pero la amistad de un hombre sin amor, que solo cuenta con una sabiduría mortal, y que vive entregado por entero a los vanos cuidados del mundo, no puede producir, en el alma de la persona que ama más que una prudencia de esclavo, a la que el vulgo da el nombre de virtud, pero que le hará andar errante, privado de razón en la tierra y en las cavernas subterráneas durante nueve mil años.

Aquí tienes, ¡oh Amor!, la mejor y más bella palinodia que he podido cantarte en expiación de mi crimen. Si mi lenguaje ha sido demasiado poético, Fedro es el responsable de tales extravíos. Perdóname por mi primer discurso y recibe este con indulgencia; echa sobre mí una mirada de benevolencia y benignidad; no me arrebates; ni disminuyas en mí por cólera, este arte de amar, cuyo presente me has hecho tú mismo; concédeme que, ahora más que nunca, esté ciegamente apasionado por la belleza. Si Fedro y yo te hemos ultrajado al principio groseramente, no acuses más que a Lisias, origen de este discurso; haz que renuncie a esas composiciones frívolas, y llámale hacia la filosofía, que su hermano Polemarco ha abrazado ya, con el fin de que su amante, que me escucha, libre de la incertidumbre que ahora le atormenta, pueda consagrar, sin miras secretas, su vida entera al amor dirigido por la filosofía.

FEDRO. —Me uno a ti, mi querido Sócrates, para pedir a los dioses que sigan ambos tu consejo por ellos y por mí. Pero en verdad, yo no puedo menos de alabar tu discurso, cuya belleza me ha hecho olvidar el primero. Temo que Lisias parezca muy inferior, si intenta luchar contigo en un nuevo discurso. Por lo demás, ahora, recientemente, uno de nuestros hombres de estado le echaba en cara, en términos ofensivos, el escribir mucho, y en toda su diatriba le llamaba fabricante de discursos. Quizá el amor propio le impedirá responderte.

SÓCRATES. —Yaya una idea singular, mi querido joven; poco conoces a tu amigo, si crees que se asusta con tan poco ruido. ¿Has podido creer que el que así le criticaba hablaba seriamente?

FEDRO. —Las trazas eran de eso, Sócrates, y tú mismo sabes, que los hombres más poderosos y de mejor posición en nuestras ciudades se avergüenzan de componer discursos y de dejar escritos, temiendo pasar por sofistas a los ojos de la posteridad.

SÓCRATES. —No entiendes nada, mi querido Fedro, de los repliegues de la vanidad; y no ves que los más entonados de nuestros hombres de estado son los que más ansían componer discursos y dejar obras escritas. Desde el momento en que han dado a luz alguna cosa están tan deseosos de adquirir aura popular, que se apuran a inscribir en su publicación los nombres de sus admiradores.

FEDRO. —¿Qué es lo que dices?, yo no te comprendo.

SÓCRATES. —¿No comprendes que a la cabeza de los escritos de un hombre de estado aparecen siempre los nombres de los que les han prestado su aprobación?

FEDRO. —¿Cómo?

SÓCRATES. —El senado o el pueblo o ambos, en vista de la proposición de tal… han tenido a bien… Y aquí se nombra sí mismo, y hace su propio elogio. En seguida, para demostrar su ciencia a sus adoradores, hace de todo esto un largo comentario. Y, dime ¿No es éste un verdadero escrito?

FEDRO. —Convengo en ello.

SÓCRATES. —Si triunfa el escrito, el autor sale del teatro lleno de gozo; si se le desecha, queda privado del honor de que se le cuente entre los escritores y autores de discursos, y así se desconsuela y sus amigos se afligen con él.

FEDRO. —Sin duda.

SÓCRATES. —Es evidente que, lejos de desdeñar este oficio, le tienen en gran estimación.

FEDRO. —Convengo en ello.

SÓCRATES. —Pero qué, cuando un orador o un rey, revestido del poder de un Licurgo, de un Solón, de un Darío, se inmortaliza en un estado, como autor de discursos, ¿no se mira a sí mismo, como un semidiós durante su vida, y la posteridad no tiene de él la misma opinión, en consideración a sus escritos?

FEDRO. —Ciertamente.

SÓCRATES. —¿Crees tú, que ningún hombre de estado, cualesquiera que sean su carácter y su prevención contra Lisias, pretenda hacerle ruborizar por su título de escritor?

FEDRO. —No es probable, conforme a lo que dices, porque sería a mi parecer difamar su propia pasión.

SÓCRATES. —Por lo tanto, es evidente que nadie puede avergonzarse de componer discursos.

FEDRO. —Conforme.

SÓCRATES. —Pero, en mi opinión, lo vergonzoso no es el hablar y escribir bien, sino el hablar y escribir mal.

FEDRO. —Es claro.

SÓCRATES. —¿Pero en qué consiste el escribir bien o el escribir mal? ¿Deberemos, mi querido Fedro, interrogar sobre esto a Lisias o a alguno de los que han escrito o escribirán sobre un objeto político o sobre materias privadas en verso, como un poeta, o en prosa, como el común de los escritores?

FEDRO. —¿Es posible que me preguntes si debemos? ¿De qué serviría la vida, si no se gozase de los placeres de la inteligencia? Porque no son los goces, a los que precede el dolor como condición necesaria, los que dan precio a la vida; y esto es lo que pasa con casi todos los placeres del cuerpo, por lo que con razón se les ha llamado serviles.

SÓCRATES. —Creo que tenemos tiempo. Lo que me parece es que las cigarras, que cantan sobre nuestras cabezas, y conversan entre sí, como lo hacen siempre con este calor sofocante, nos observan. Si nos viesen en lugar de mantener una conversación, dormir la siesta como el vulgo, en esta hora del mediodía al arrullo de sus cantos, sin ocupar nuestro entendimiento, se reirían de nosotros, y harían bien; creerían ver esclavos que habían venido a dormir a esta soledad, como los ganados que sestean alrededor de una fuente. Si por el contrario, nos ven conversar y pasar cerca de ellas, como el sabio cerca de las sirenas, sin dejarnos sorprender, nos admirarán y quizá nos darán parte del beneficio que los dioses les han permitido conceder a los hombres.

FEDRO. —¿Qué beneficio es ese? Me parece que nunca he oído hablar de él.

SÓCRATES. —No parece bien que un amigo de las musas ignore estas cosas. Se dice que las cigarras eran hombres antes del nacimiento de las musas. Cuando éstas nacieron, y el canto con ellas, hubo hombres, que de tal manera se arrebataron al oír sus acentos, que la pasión de cantar les hizo olvidar la de comer y beber, y pasaron de la vida a la muerte, sin apercibirse de ello. De estos hombres nacieron las cigarras, y las musas les concedieron el privilegio de no tener necesidad de ningún alimento, sino que, desde que nacen hasta que mueren, cantan sin comer ni beber; y además de esto van a anunciar a las musas cuál es, entre los mortales, el que rinde homenaje a cada una de ellas. Así es que, haciendo conocer a Terpsícore los que la honran en los coros, hacen que esta divinidad sea más propicia a sus favorecidos. A Eratón dan cuenta de los nombres de los que cultivan la poesía erótica; y a las otras musas hacen conocer los que las conceden la especie de culto que conviene a los atributos de cada una; a Calíope, que es la de mayor edad, y a Urania, la de menor, dan a conocer a los que dedicados a la filosofía cultivan las artes que les están consagradas. Estas dos musas, que presiden a los movimientos de los cuerpos celestes y a los discursos de los dioses y de los hombres, son aquellas cuyos cantos son melodiosos. He aquí materia para hablar y no dormir en esta hora del día.

FEDRO. —Pues bien, hablemos.

Jowett

Soc. Does not your simplicity observe that I have got out of dithyrambics into heroics, when only uttering a censure on the lover ? And if I am to add the praises of the non-lover, what will become of me ? Do you not perceive that I am already overtaken by the Nymphs to whom you have mischievously exposed me ? And therefore will only add that the non-lover has all the advantages in which the lover is accused of being deficient. And now I will say no more ; there has been enough of both of them. Leaving the tale to its fate, I will cross the river and make the best of my way home, lest a worse thing be inflicted upon me by you.

Phaedr. Not yet, Socrates ; not until the heat of the day has passed ; do you not see that the hour is almost noon ? there is the midday sun standing still, as people say, in the meridian. Let us rather stay and talk over what has been said, and then return in the cool.

Soc. Your love of discourse, Phaedrus, is superhuman, simply marvellous, and I do not believe that there is any one of your contemporaries who has either made or in one way or another has compelled others to make an equal number of speeches. I would except Simmias the Theban, but all the rest are far behind you. And now, I do verily believe that you have been the cause of another.

Phaedr. That is good news. But what do you mean ?

Soc. I mean to say that as I was about to cross the stream the usual sign was given to me, — that sign which always forbids, but never bids, me to do anything which I am going to do ; and I thought that I heard a voice saying in my car that I had been guilty of impiety, and. that I must not go away until I had made an atonement. Now I am a diviner, though not a very good one, but I have enough religion for my own use, as you might say of a bad writer — his writing is good enough for him ; and I am beginning to see that I was in error. O my friend, how prophetic is the human soul ! At the time I had a sort of misgiving, and, like Ibycus, “I was troubled ; I feared that I might be buying honour from men at the price of sinning against the gods.” Now I recognize my error.

Phaedr. What error ?

Soc. That was a dreadful speech which you brought with you, and you made me utter one as bad.

Phaedr. How so ?

Soc. It was foolish, I say, — to a certain extent, impious ; can anything be more dreadful ?

Phaedr. Nothing, if the speech was really such as you describe.

Soc. Well, and is not Eros the son of Aphrodite, and a god ?

Phaedr. So men say.

Soc. But that was not acknowledged by Lysias in his speech, nor by you in that other speech which you by a charm drew from my lips. For if love be, as he surely is, a divinity, he cannot be evil. Yet this was the error of both the speeches. There was also a simplicity about them which was refreshing ; having no truth or honesty in them, nevertheless they pretended to be something, hoping to succeed in deceiving the manikins of earth and gain celebrity among them. Wherefore I must have a purgation. And I bethink me of an ancient purgation of mythological error which was devised, not by Homer, for he never had the wit to discover why he was blind, but by Stesichorus, who was a philosopher and knew the reason why ; and therefore, when he lost his eyes, for that was the penalty which was inflicted upon him for reviling the lovely Helen, he at once purged himself. And the purgation was a recantation, which began thus:

False is that word of mine — the truth is that thou didst not embark in ships, nor ever go to the walls of Troy ; and when he had completed his poem, which is called “the recantation,” immediately his sight returned to him. Now I will be wiser than either Stesichorus or Homer, in that I am going to make my recantation for reviling love before I suffer ; and this I will attempt, not as before, veiled and ashamed, but with forehead bold and bare.

Phaedr. Nothing could be more agreeable to me than to hear you say so.

Soc. Only think, my good Phaedrus, what an utter want of delicacy was shown in the two discourses ; I mean, in my own and in that which you recited out of the book. Would not any one who was himself of a noble and gentle nature, and who loved or ever had loved a nature like his own, when we tell of the petty causes of lovers  ’ jealousies, and of their exceeding animosities, and of the injuries which they do to their beloved, have imagined that our ideas of love were taken from some haunt of sailors to which good manners were unknown — he would certainly never have admitted the justice of our censure ?

Phaedr. I dare say not, Socrates.

Soc. Therefore, because I blush at the thought of this person, and also because I am afraid of Love himself, I desire to wash the brine out of my ears with water   from the spring ; and I would counsel Lysias not to delay, but to write another discourse, which shall prove that ceteris paribus the lover ought to be accepted rather than the non-lover.

Phaedr. Be assured that he shall. You shall speak the praises of the lover, and Lysias shall be compelled by me to write another discourse on the same theme.

Soc. You will be true to your nature in that, and therefore I believe you.

Phaedr. Speak, and fear not.

Soc. But where is the fair youth whom I was addressing before, and who ought to listen now ; lest, if he hear me not, he should accept a non-lover before he knows what he is doing ?

Phaedr. He is close at hand, and always at your service.

Soc. Know then, fair youth, that the former discourse was the word of Phaedrus, the son of Vain Man, who dwells in the city of Myrrhina (Myrrhinusius). And this which I am about to utter is the recantation of Stesichorus the son of Godly Man (Euphemus), who comes from the town of Desire (Himera), and is to the following effect :

“I told a lie when I said that the beloved ought to accept the non-lover when he might have the lover, because the one is sane, and the other mad. It might be so if madness were simply an evil ; but there is also a madness which is a divine gift, and the source of the chiefest blessings granted to men. For prophecy is a madness, and the prophetess at Delphi and the priestesses at Dodona when out of their senses have conferred great benefits on Hellas  , both in public and private life, but when in their senses few or none. And I might also tell you how the Sibyl and other inspired persons have given to many an one many an intimation of the future which has saved them from falling. But it would be tedious to speak of what every one knows.

There will be more reason in appealing to the ancient inventors of names, who would never have connected prophecy (mantike) which foretells the future and is the noblest of arts, with madness (manike), or called them both by the same name, if they had deemed madness to be a disgrace or dishonour ; — they must have thought that there was an inspired madness which was a noble thing ; for the two words, mantike and manike, are really the same, and the letter t is only a modern and tasteless insertion. And this is confirmed by the name which was given by them to the rational investigation of futurity, whether made by the help of birds   or of other signs — this, for as much as it is an art which supplies from the reasoning faculty mind   (nous) and information (istoria) to human thought (oiesis) they originally termed oionoistike, but the word has been lately altered and made sonorous by the modern introduction of the letter Omega   (oionoistike and oionistike), and in proportion prophecy (mantike) is more perfect and august than augury, both in name and fact, in the same proportion, as the ancients testify, is madness superior to a sane mind (sophrosune) for the one is only of human, but the other of divine origin. Again, where plagues and mightiest woes have bred in certain families, owing to some ancient blood-guiltiness, there madness has entered with holy prayers and rites, and by inspired utterances found   a way of deliverance for those who are in need ; and he who has part in this gift, and is truly possessed and duly out of his mind, is by the use of purifications and mysteries made whole and except from evil, future as well as present, and has a release from the calamity which was afflicting him. The third kind is the madness of those who are possessed by the Muses ; which taking hold of a delicate and virgin soul, and there inspiring frenzy, awakens lyrical and all other numbers ; with these adorning the myriad actions of ancient heroes for the instruction of posterity. But he who, having no touch of the Muses’ madness in his soul, comes to the door   and thinks that he will get into the temple by the help of art — he, I say, and his poetry are not admitted ; the sane man disappears and is nowhere when he enters into rivalry with the madman.

I might tell of many other noble deeds which have sprung from inspired madness. And therefore, let no one frighten or flutter us by saying that the temperate friend is to be chosen rather than the inspired, but let him further show that love is not sent by the gods for any good to lover or beloved ; if he can do so we will allow him to carry off the palm. And we, on our part, will prove in answer to him that the madness of love is the greatest of heaven’s blessings, and the proof shall be one which the wise will receive, and the witling disbelieve. But first of all, let us view the affections and actions of the soul divine and human, and try to ascertain the truth about them. The beginning of our proof is as follows :

The soul through all her being is immortal, for that which is ever in motion is immortal ; but that which moves another and is moved by another, in ceasing to move ceases also to live. Only the self-moving, never leaving self, never ceases to move, and is the fountain and beginning of motion to all that moves besides. Now, the beginning is unbegotten, for that which is begotten has a beginning ; but the beginning is begotten of nothing, for if it were begotten of something, then the begotten would not come from a beginning. But if unbegotten, it must also be indestructible ; for if beginning were destroyed, there could be no beginning out of anything, nor anything out of a beginning ; and all things must have a beginning. And therefore the self-moving is the beginning of motion ; and this can neither be destroyed nor begotten, else the whole heavens and all creation would collapse and stand still, and never again have motion or birth. But if the self-moving is proved to be immortal, he who affirms that self-motion is the very idea and essence of the soul will not be put to confusion. For the body which is moved from without is soulless ; but that which is moved from within has a soul, for such is the nature of the soul. But if this be true, must not the soul be the self-moving, and therefore of necessity unbegotten and immortal ? Enough of the soul’s immortality.

Of the nature of the soul, though her true form be ever a theme of large and more than mortal discourse, let me speak briefly, and in a figure. And let the figure be composite — a pair of winged horses and a charioteer. Now the winged horses and the charioteers of the gods are all of them noble and of noble descent, but those of other races are mixed ; the human charioteer drives his in a pair ; and one of them is noble and of noble breed, and the other is ignoble and of ignoble breed ; and the driving of them of necessity gives a great deal of trouble to him. I will endeavour to explain to you in what way the mortal differs from the immortal creature. The soul in her totality has the care of inanimate being everywhere, and traverses the whole heaven in divers forms appearing — when perfect and fully winged she soars upward, and orders the whole world ; whereas the imperfect soul, losing her wings and drooping in her flight at last settles on the solid ground — there, finding a home, she receives an earthly frame which appears to be self-moved, but is really moved by her power ; and this composition of soul and body is called a living and mortal creature. For immortal no such union can be reasonably believed to be ; although fancy, not having seen nor surely known the nature of God, may imagine an immortal creature having both a body and also a soul which are united throughout all time. Let that, however, be as God wills, and be spoken of acceptably to him. And now let us ask the reason why the soul loses her wings !

The wing is the corporeal element which is most akin to the divine, and which by nature tends to soar aloft and carry that which gravitates downwards into the upper region, which is the habitation of the gods. The divine is beauty, wisdom, goodness, and the like ; and by these the wing of the soul is nourished, and grows apace ; but when fed upon evil and foulness and the opposite of good, wastes and falls away. Zeus, the mighty lord, holding the reins of a winged chariot  , leads the way in heaven, ordering all and taking care of all ; and there follows him the array of gods and demigods, marshalled in eleven bands ; Hestia   alone abides at home in the house of heaven ; of the rest they who are reckoned among the princely twelve march in their appointed order. They see many blessed sights in the inner heaven, and there are many ways to and fro, along which the blessed gods are passing, every one doing his own work ; he may follow who will and can, for jealousy has no place in the celestial choir. But when they go to banquet and festival, then they move up the steep to the top of the vault of heaven. The chariots of the gods in even poise, obeying the rein, glide rapidly ; but the others labour, for the vicious steed goes heavily, weighing down the charioteer to the earth when his steed has not been thoroughly trained : — and this is the hour of agony and extremest conflict for the soul. For the immortals, when they are at the end of their course, go forth and stand upon the outside of heaven, and the revolution of the spheres carries them round, and they behold the things beyond. But of the heaven which is above the heavens, what earthly poet ever did or ever will sing worthily ? It is such as I will describe ; for I must dare to speak the truth, when truth is my theme. There abides the very being with which true knowledge is concerned ; the colourless, formless, intangible essence, visible only to mind, the pilot of the soul. The divine intelligence, being nurtured upon mind and pure knowledge, and the intelligence of every soul which is capable of receiving the food proper to it, rejoices at beholding reality, and once more gazing upon truth, is replenished and made glad, until the revolution of the worlds brings her round again to the same place. In the revolution she beholds justice, and temperance, and knowledge absolute, not in the form of generation or of relation, which men call existence, but knowledge absolute in existence absolute ; and beholding the other true existences in like manner, and feasting upon them, she passes down into the interior of the heavens and returns home ; and there the charioteer putting up his horses at the stall, gives them ambrosia to eat and nectar to drink.

Such is the life of the gods ; but of other souls, that which follows God best and is likest to him lifts the head of the charioteer into the outer world, and is carried round in the revolution, troubled indeed by the steeds, and with difficulty beholding true being ; while another only rises and falls, and sees, and again fails to see by reason of the unruliness of the steeds. The rest of the souls are also longing after the upper world and they all follow, but not being strong enough they are carried round below the surface, plunging, treading on one another, each striving to be first ; and there is confusion and perspiration and the extremity of effort ; and many of them are lamed or have their wings broken through the ill-driving of the charioteers ; and all of them after a fruitless toil, not having attained to the mysteries of true being, go away, and feed upon opinion. The reason why the souls exhibit this exceeding eagerness to behold the plain of truth is that pasturage is found there, which is suited to the highest part of the soul ; and the wing on which the soul soars is nourished with this. And there is a law of Destiny, that the soul which attains any vision of truth in company with a god is preserved from harm until the next period, and if attaining always is always unharmed. But when she is unable to follow, and fails to behold the truth, and through some ill-hap sinks beneath the double load of forgetfulness and vice, and her wings fall from her and she drops to the ground, then the law ordains that this soul shall at her first birth pass, not into any other animal, but only into man ; and the soul which has seen most of truth shall come to the birth as a philosopher, or artist, or some musical and loving nature ; that which has seen truth in the second degree shall be some righteous king or warrior chief ; the soul which is of the third class shall be a politician, or economist, or trader ; the fourth shall be lover of gymnastic toils, or a physician ; the fifth shall lead the life of a prophet or hierophant ; to the sixth the character of poet or some other imitative artist will be assigned ; to the seventh the life of an artisan or husbandman ; to the eighth that of a sophist or demagogue ; to the ninth that of a tyrant — all these are states of probation, in which he who does righteously improves, and he who does unrighteously, improves, and he who does unrighteously, deteriorates his lot.

Ten thousand years must elapse before the soul of each one can return to the place from whence she came, for she cannot grow her wings in less ; only the soul of a philosopher, guileless and true, or the soul of a lover, who is not devoid of philosophy, may acquire wings in the third of the recurring periods of a thousand years ; he is distinguished from the ordinary good man who gains wings in three thousand years : — and they who choose this life three times in succession have wings given them, and go away at the end of three thousand years. But the others receive judgment when they have completed their first life, and after the judgment they go, some of them to the houses of correction which are under the earth, and are punished ; others to some place in heaven whither they are lightly borne by justice, and there they live in a manner worthy of the life which they led here when in the form of men. And at the end of the first thousand years the good souls and also the evil souls both come to draw lots and choose their second life, and they may take any which they please. The soul of a man may pass into the life of a beast, or from the beast return again into the man. But the soul which has never seen the truth will not pass into the human form. For a man must have intelligence of universals, and be able to proceed from the many particulars of sense to one conception of reason ; — this is the recollection of those things which our soul once saw while following God — when regardless of that which we now call being she raised her head up towards the true being. And therefore the mind of the philosopher alone has wings ; and this is just, for he is always, according to the measure of his abilities, clinging in recollection to those things in which God abides, and in beholding which He is what He is. And he who employs aright these memories is ever being initiated into perfect mysteries and alone becomes truly perfect. But, as he forgets earthly interests and is rapt in the divine, the vulgar deem him mad, and rebuke him ; they do not see that he is inspired.

Thus far I have been speaking of the fourth and last kind of madness, which is imputed to him who, when he sees the beauty of earth, is transported with the recollection of the true beauty ; he would like to fly away, but he cannot ; he is like a bird fluttering and looking upward and careless of the world below ; and he is therefore thought to be mad. And I have shown this of all inspirations to be the noblest and highest and the offspring of the highest to him who has or shares in it, and that he who loves the beautiful is called a lover because he partakes of it. For, as has been already said, every soul of man has in the way of nature beheld true being ; this was the condition of her passing into the form of man. But all souls do not easily recall the things of the other world ; they may have seen them for a short time only, or they may have been unfortunate in their earthly lot, and, having had their hearts turned to unrighteousness through some corrupting influence, they may have lost the memory of the holy things which once they saw. Few only retain an adequate remembrance of them ; and they, when they behold here any image of that other world, are rapt in amazement ; but they are ignorant of what this rapture means, because they do not clearly perceive. For there is no light of justice or temperance or any of the higher ideas which are precious to souls in the earthly copies of them : they are seen through a glass dimly ; and there are few who, going to the images, behold in them the realities, and these only with difficulty. There was a time when with the rest of the happy band they saw beauty shining in brightness — we philosophers following in the train of Zeus, others in company with other gods ; and then we beheld the beatific vision and were initiated into a mystery which may be truly called most blessed, celebrated by us in our state of innocence, before we had any experience of evils to come, when we were admitted to the sight of apparitions innocent and simple and calm and happy, which we beheld shining impure light, pure ourselves and not yet enshrined in that living tomb which we carry about, now that we are imprisoned in the body, like an oyster in his shell. Let me linger over the memory of scenes which have passed away.

But of beauty, I repeat again that we saw her there shining in company with the celestial forms ; and coming to earth we find her here too, shining in clearness through the clearest aperture of sense. For sight is the most piercing of our bodily senses ; though not by that is wisdom seen ; her loveliness would have been transporting if there had been a visible image of her, and the other ideas, if they had visible counterparts, would be equally lovely. But this is the privilege of beauty, that being the loveliest she is also the most palpable to sight. Now he who is not newly initiated or who has become corrupted, does not easily rise out of this world to the sight of true beauty in the other ; he looks only at her earthly namesake, and instead of being awed at the sight of her, he is given over to pleasure, and like a brutish beast he rushes on to enjoy and beget ; he consorts with wantonness, and is not afraid or ashamed of pursuing pleasure in violation of nature. But he whose initiation is recent, and who has been the spectator of many glories in the other world, is amazed when he sees any one having a godlike   face or form, which is the expression of divine beauty ; and at first a shudder runs through him, and again the old awe steals over him ; then looking upon the face of his beloved as of a god he reverences him, and if he were not afraid of being thought a downright madman, he would sacrifice to his beloved as to the image of a god ; then while he gazes on him there is a sort of reaction, and the shudder passes into an unusual heat and perspiration ; for, as he receives the effluence of beauty through the eyes, the wing moistens and he warms. And as he warms, the parts out of which the wing grew, and which had been hitherto closed and rigid, and had prevented the wing from shooting forth, are melted, and as nourishment streams upon him, the lower end of the wings begins to swell and grow from the root upwards ; and the growth extends under the whole soul — for once the whole was winged.

During this process the whole soul is all in a state of ebullition and effervescence, — which may be compared to the irritation and uneasiness in the gums at the time of cutting teeth, — bubbles up, and has a feeling of uneasiness and tickling ; but when in like manner the soul is beginning to grow wings, the beauty of the beloved meets her eye and she receives the sensible warm motion of particles which flow towards her, therefore called emotion (imeros), and is refreshed and warmed by them, and then she ceases from her pain with joy. But when she is parted from her beloved and her moisture fails, then the orifices of the passage out of which the wing shoots dry up and close, and intercept the germ of the wing ; which, being shut up with the emotion, throbbing as with the pulsations of an artery, pricks the aperture which is nearest, until at length the entire soul is pierced and maddened and pained, and at the recollection of beauty is again delighted. And from both of them together the soul is oppressed at the strangeness of her condition, and is in a great strait and excitement, and in her madness can neither sleep by night nor abide in her place by day. And wherever she thinks that she will behold the beautiful one, thither in her desire she runs. And when she has seen him, and bathed herself in the waters of beauty, her constraint is loosened, and she is refreshed, and has no more pangs and pains ; and this is the sweetest of all pleasures at the time, and is the reason why the soul of the lover will never forsake his beautiful one, whom he esteems above all ; he has forgotten mother and brethren and companions, and he thinks nothing of the neglect and loss of his property ; the rules and proprieties of life, on which he formerly prided himself, he now despises, and is ready to sleep like a servant, wherever he is allowed, as near as he can to his desired one, who is the object of his worship, and the physician who can alone assuage the greatness of his pain. And this state, my dear imaginary youth to whom I am talking, is by men called love, and among the gods has a name at which you, in your simplicity, may be inclined to mock ; there are two lines in the apocryphal writings of Homer in which the name occurs. One of them is rather outrageous, and not altogether metrical. They are as follows :

Mortals call him fluttering love,

But the immortals call him winged one,

Because the growing of wings is a necessity to him.

You may believe this, but not unless you like. At any rate the loves of lovers and their causes are such as I have described.

Now the lover who is taken to be the attendant of Zeus is better able to bear the winged god, and can endure a heavier burden ; but the attendants and companions of Ares, when under the influence of love, if they fancy that they have been at all wronged, are ready to kill   and put an end to themselves and their beloved. And he who follows in the train of any other god, while he is unspoiled and the impression lasts, honours and imitates him, as far as he is able ; and after the manner of his god he behaves in his intercourse with his beloved and with the rest of the world during the first period of his earthly existence. Every one chooses his love from the ranks of beauty according to his character, and this he makes his god, and fashions and adorns as a sort of image which he is to fall down and worship. The followers of Zeus desire that their beloved should have a soul like him ; and therefore they seek out some one of a philosophical and imperial nature, and when they have found him and loved him, they do all they can to confirm such a nature in him, and if they have no experience of such a disposition hitherto, they learn of any one who can teach them, and themselves follow in the same way. And they have the less difficulty in finding the nature of their own god in themselves, because they have been compelled to gaze intensely on him ; their recollection clings to him, and they become possessed of him, and receive from him their character and disposition, so far as man can participate in God. The qualities of their god they attribute to the beloved, wherefore they love him all the more, and if, like the Bacchic Nymphs, they draw inspiration from Zeus, they pour out their own fountain upon him, wanting to make him as like as possible to their own god. But those who are the followers of Here seek a royal love, and when they have found him they do just the same with him ; and in like manner the followers of Apollo, and of every other god walking in the ways of their god, seek a love who is to be made like him whom they serve, and when they have found him, they themselves imitate their god, and persuade their love to do the same, and educate him into the manner and nature of the god as far as they each can ; for no feelings of envy or jealousy are entertained by them towards their beloved, but they do their utmost to create in him the greatest likeness of themselves and of the god whom they honour. Thus fair and blissful to the beloved is the desire of the inspired lover, and the initiation of which I speak into the mysteries of true love, if he be captured by the lover and their purpose is effected. Now the beloved is taken captive in the following manner : —

As I said at the beginning of this tale, I divided each soul into three — two horses and a charioteer ; and one of the horses was good and the other bad : the division may remain, but I have not yet explained in what the goodness or badness of either consists, and to that I will proceed. The right-hand horse is upright and cleanly made ; he has a lofty neck and an aquiline nose ; his colour is white, and his eyes dark ; he is a lover of honour and modesty and temperance, and the follower of true glory ; he needs no touch of the whip, but is guided by word and admonition only. The other is a crooked lumbering animal, put together anyhow ; he has a short thick neck ; he is flat-faced and of a dark colour, with grey eyes and blood-red complexion ; the mate of insolence and pride, shag-eared and deaf, hardly yielding to whip and spur. Now when the charioteer beholds the vision of love, and has his whole soul warmed through sense, and is full of the prickings and ticklings of desire, the obedient steed, then as always under the government of shame, refrains from leaping on the beloved ; but the other, heedless of the pricks and of the blows of the whip, plunges and runs away, giving all manner of trouble to his companion and the charioteer, whom he forces to approach the beloved and to remember the joys of love. They at first indignantly oppose him and will not be urged on to do terrible and unlawful deeds ; but at last, when he persists in plaguing them, they yield and agree to do as he bids them.

And now they are at the spot and behold the flashing beauty of the beloved ; which when the charioteer sees, his memory is carried to the true beauty, whom he beholds in company with Modesty like an image placed upon a holy pedestal. He sees her, but he is afraid and falls backwards in adoration, and by his fall is compelled to pull back the reins with such violence as to bring both the steeds on their haunches, the one willing and unresisting, the unruly one very unwilling ; and when they have gone back a little, the one is overcome with shame and wonder, and his whole soul is bathed in perspiration ; the other, when the pain is over which the bridle and the fall   had given him, having with difficulty taken breath, is full of wrath and reproaches, which he heaps upon the charioteer and his fellow-steed, for want of courage and manhood, declaring that they have been false to their agreement and guilty of desertion. Again they refuse, and again he urges them on, and will scarce yield to their prayer that he would wait until another time. When the appointed hour comes, they make as if they had forgotten, and he reminds them, fighting and neighing and dragging them on, until at length he, on the same thoughts intent, forces them to draw near again. And when they are near he stoops his head and puts up his tail, and takes the bit in his teeth. and pulls shamelessly. Then the charioteer is worse off than ever ; he falls back like a racer at the barrier, and with a still more violent wrench drags the bit out of the teeth of the wild steed and covers his abusive tongue and jaws with blood, and forces his legs and haunches to the ground and punishes him sorely. And when this has happened several times and the villain has ceased from his wanton way, he is tamed and humbled, and follows the will of the charioteer, and when he sees the beautiful one he is ready to die of fear. And from that time forward the soul of the lover follows the beloved in modesty and holy fear.

And so the beloved who, like a god, has received every true and loyal service from his lover, not in pretence but in reality, being also himself of a nature friendly to his admirer, if in former days he has blushed to own his passion and turned away his lover, because his youthful companions or others slanderously told him that he would be disgraced, now as years advance, at the appointed age and time, is led to receive him into communion. For fate which has ordained that there shall be no friendship among the evil has also ordained that there shall ever be friendship among the good. And the beloved when he has received him into communion and intimacy, is quite amazed at the good-will of the lover ; he recognises that the inspired friend is worth all other friends or kinsmen ; they have nothing of friendship in them worthy to be compared with his. And when his feeling continues and he is nearer to him and embraces him, in gymnastic exercises and at other times of meeting, then the fountain of that stream, which Zeus when he was in love with Ganymede named Desire, overflows upon the lover, and some enters into his soul, and some when he is filled flows out again ; and as a breeze or an echo rebounds from the smooth rocks and returns whence it came, so does the stream of beauty, passing through the eyes which are the windows of the soul, come back to the beautiful one ; there arriving and quickening the passages of the wings, watering. them and inclining them to grow, and filling the soul of the beloved also with love. And thus he loves, but he knows not what ; he does not understand and cannot explain his own state ; he appears to have caught the infection of blindness from another ; the lover is his mirror in whom he is beholding himself, but he is not aware of this. When he is with the lover, both cease from their pain, but when he is away then he longs as he is longed for, and has love’s image, love for love (Anteros) lodging in his breast, which he calls and believes to be not love but friendship only, and his desire is as the desire of the other, but weaker ; he wants to see him, touch him, kiss him, embrace him, and probably not long afterwards his desire is accomplished. When they meet, the wanton steed of the lover has a word to say to the charioteer ; he would like to have a little pleasure in return for many pains, but the wanton steed of the beloved says not a word, for he is bursting with passion which he understands not ; — he throws his arms round the lover and embraces him as his dearest friend ; and, when they are side by side, he is not in it state in which he can refuse the lover anything, if he ask him ; although his fellow-steed and the charioteer oppose him with the arguments of shame and reason.

After this their happiness depends upon their self-control ; if the better elements of the mind which lead to order and philosophy prevail, then they pass their life here in happiness and harmony — masters of themselves and orderly — enslaving the vicious and emancipating the virtuous elements of the soul ; and when the end comes, they are light and winged for flight, having conquered in one of the three heavenly or truly Olympian victories ; nor can human discipline or divine inspiration confer any greater blessing on man than this. If, on the other hand, they leave philosophy and lead the lower life of ambition, then probably, after wine   or in some other careless hour, the two wanton animals take the two souls when off their guard and bring them together, and they accomplish that desire of their hearts which to the many is bliss ; and this having once enjoyed they continue to enjoy, yet rarely because they have not the approval of the whole soul. They too are dear, but not so dear to one another as the others, either at the time of their love or afterwards. They consider that they have given and taken from each other the most sacred pledges, and they may not break them and fall into enmity. At last they pass out of the body, unwinged, but eager to soar, and thus obtain no mean reward of love and madness. For those who have once begun the heavenward pilgrimage may not go down again to darkness and the journey beneath the earth, but they live in light always ; happy companions in their pilgrimage, and when the time comes at which they receive their wings they have the same plumage because of their love.

Thus great are the heavenly blessings which the friendship of a lover will confer upon you, my youth. Whereas the attachment of the non-lover, which is alloyed with a worldly prudence and has worldly and niggardly ways of doling out benefits, will breed in your soul those vulgar qualities which the populace applaud, will send you bowling round the earth during a period of nine thousand years, and leave, you a fool in the world below.

And thus, dear Eros, I have made and paid my recantation, as well and as fairly as I could ; more especially in the matter of the poetical figures which I was compelled to use, because Phaedrus would have them. And now forgive the past and accept the present, and be gracious and merciful to me, and do not in thine anger deprive me of sight, or take from me the art of love which thou hast given me, but grant that I may be yet more esteemed in the eyes of the fair. And if Phaedrus or I myself said anything rude in our first speeches, blame Lysias, who is the father of the brat, and let us have no more of his progeny ; bid him study philosophy, like his brother Polemarchus ; and then his lover Phaedrus will no longer halt between two opinions, but will dedicate himself wholly to love and to philosophical discourses.

Phaedr. I join in the prayer, Socrates, and say with you, if this be for my good, may your words come to pass. But why did you make your second oration so much finer than the first ? I wonder why. And I begin to be afraid that I shall lose conceit of Lysias, and that he will appear tame in comparison, even if he be willing to put another as fine and as long as yours into the field, which I doubt. For quite lately one of your politicians was abusing him on this very account ; and called him a “speech writer” again and again. So that a feeling of pride may probably induce him to give up writing speeches.

Soc. What a very amusing notion ! But I think, my young man, that you are much mistaken in your friend if you imagine that he is frightened at a little noise ; and possibly, you think that his assailant was in earnest ?

Phaedr. I thought, Socrates, that he was. And you are aware that the greatest and most influential statesmen are ashamed of writing speeches and leaving them in a written form, lest they should be called Sophists by posterity.

Soc. You seem to be unconscious, Phaedrus, that the “sweet elbow” of the proverb is really the long arm of the Nile. And you appear to be equally unaware of the fact that this sweet elbow of theirs is also a long arm. For there is nothing of which our great politicians are so fond as of writing speeches and bequeathing them to posterity. And they add their admirers’ names at the top of the writing, out of gratitude to them.

Phaedr. What do you mean ? I do not understand.

Soc. Why, do you not know that when a politician writes, he begins with the names of his approvers ?

Phaedr. How so ?

Soc. Why, he begins in this manner : “Be it enacted by the senate, the people, or both, on the motion of a certain person,” who is our author ; and so putting on a serious face, he proceeds to display his own wisdom to his admirers in what is often a long and tedious composition. Now what is that sort of thing but a regular piece of authorship ?

Phaedr. True.

Soc. And if the law is finally approved, then the author leaves the theatre in high delight ; but if the law is rejected and he is done out of his speech-making, and not thought good enough to write, then he and his party are in mourning.

Phaedr. Very true.

Soc. So far are they from despising, or rather so highly do they value the practice of writing.

Phaedr. No doubt.

Soc. And when the king or orator has the power, as Lycurgus or Solon or Darius had, of attaining an immortality or authorship in a state, is he not thought by posterity, when they see his compositions, and does he not think himself, while he is yet alive, to be a god ?

Phaedr. Very true.

Soc. Then do you think that any one of this class, however ill-disposed, would reproach Lysias with being an author ?

Phaedr. Not upon your view ; for according to you he would be casting a slur upon his own favourite pursuit.

Soc. Any one may see that there is no disgrace in the mere fact of writing.

Phaedr. Certainly not.

Soc. The disgrace begins when a man writes not well, but badly.

Phaedr. Clearly.

Soc. And what is well and what is badly — need we ask Lysias, or any other poet or orator, who ever wrote or will write either a political or any other work, in metre or out of metre, poet or prose writer, to teach us this ?

Phaedr. Need we ? For what should a man live if not for the pleasures of discourse ? Surely not for the sake of bodily pleasures, which almost always have previous pain as a condition of them, and therefore are rightly called slavish.

Soc. There is time enough. And I believe that the grasshoppers chirruping after their manner in the heat of the sun   over our heads are talking to one another and looking down at us. What would they say if they saw that we, like the many, are not conversing, but slumbering at mid-day, lulled by their voices, too indolent to think ? Would they not have a right to laugh at us ? They might imagine that we were slaves, who, coming to rest at a place of resort of theirs, like sheep lie asleep at noon around the well. But if they see us discoursing, and like Odysseus   sailing past them, deaf to their siren voices, they may perhaps, out of respect, give us of the gifts which they receive from the gods that they may impart them to men.

Phaedr. What gifts do you mean ? I never heard of any.

Soc. A lover of music like yourself ought surely to have heard the story of the grasshoppers, who are said to have been human beings in an age before the Muses. And when the Muses came and song appeared they were ravished with delight ; and singing always, never thought of eating and drinking, until at last in their forgetfulness they died. And now they live again in the grasshoppers ; and this is the return which the Muses make to them — they neither hunger, nor thirst, but from the hour of their birth are always singing, and never eating or drinking ; and when they die they go and inform the Muses in heaven who honours them on earth. They win the love of Terpsichore for the dancers by their report of them ; of Erato for the lovers, and of the other Muses for those who do them honour, according to the several ways of honouring them of Calliope the eldest Muse and of Urania who is next to her, for the philosophers, of whose music the grasshoppers make report to them ; for these are the Muses who are chiefly concerned with heaven and thought, divine as well as human, and they have the sweetest utterance. For many reasons, then, we ought always to talk and not to sleep at mid-day.

Phaedr. Let us talk.


Ver online : FEDRO (Gredos)