Um terceiro elemento vai enfim servir-nos para "situar" nosso problema. Já indiquei que deveríamos entender o termo técnica em determinado sentido. Certos autores, porém, talvez para não sair dos hábitos tradicionais da língua, preferem conservar seu sentido corrente, e procurar outro termo para designar os fenômenos que observamos em nosso tempo.
Para A. Toynbee , a história se divide em três períodos , e nós estaríamos encerrando o período técnico para entrar no da organização. Estamos inteiramente de acordo com A. Toynbee em que não é mais a técnica mecânica que caracteriza nosso tempo. Por mais importante e impressionante que seja, não é mais do que um fenômeno acessório ao lado de fatos muito mais decisivos embora menos espetaculosos. Trata-se dessa imensa organização, em todos os domínios, cuja observação levou Burnham a escrever seu Managerial Revolution.
Não estou de acordo, porém, com A. Toynbee no que se refere à escolha dessas denominações, e à separação que estabelece entre a idade técnica e a idade da organização. Estabelecendo tal distinção, continua a utilizar o conceito sumário da técnica, já denunciado, que confunde a técnica com a máquina. Restringe, consequentemente, o domínio da técnica ao que foi no passado , sem considerar o que é no presente.
Em realidade, o que A. Toynbee chama de organização, ou J. Burnham de manageríal action, é a técnica aplicada à vida social, econômica ou administrativa. Que há de mais técnico, com efeito, que a definição da organização: "A organização é o processo que consiste em atribuir tarefas a indivíduos ou grupos a fim de atingir, de modo eficiente e econômico, pela coordenação e combinação de todas suas atividades, objetivos determinados" (Sheldon)? Isso conduz à estandartização e à racionalização da vida econômica ou administrativa, como é demonstrado perfeitamente por Mas: "Estandartizar é resolver antecipadamente todos os problemas que pode apresentar o funcionamento de uma organização. . . É ainda não entregar-se à própria inspiração, ao próprio engenho, nem mesmo à própria inteligência, para achar a solução no momento em que a dificuldade se apresentar, mas é, de certo modo, evocar a dificuldade, resolvê-la antecipadamente... A partir daí, a estandartização cria a impersonalidade no sentido que a organização se apoia mais em métodos e consignas do que em indivíduos..." Encontramos assim, exatamente, todos os caracteres de uma técnica. A organização não passa de uma técnica. E, no mesmo sentido, Vincent tem razão em escrever: "Aproximar-se da combinação ótima dos fatores, ou da dimensão ótima, é... realizar um progresso técnico na forma de uma organização melhor".
Poderão, sem dúvida, dizer-me: "Que importam as discussões sobre palavras se, no fundo, estais de acordo com Toynbee?" Essas discussões sobre palavras, são, no entanto, de grande importância. Eis porque: a atitude de Toynbee leva a separar idades e fenômenos que devem permanecer unidos. Ele nos faz crer que a organização é coisa diversa da técnica, que o homem , de certo modo, descobriu um novo domínio da ação, novos métodos, e que é preciso estudar a organização como um fenômeno novo, embora não seja nada disso; enquanto é preciso, ao contrário, insistir na continuidade do processo técnico. É exatamente o mesmo fenômeno que assume um aspecto novo (eu diria: seu verdadeiro aspecto) e se desenvolve em escala mundial, na escala universal da atividade .
Quais são as consequências desse fato? Os mesmos problemas suscitados pela técnica mecânica serão levados à potência x, ainda incalculável, em virtude da aplicação da técnica à administração e a todos os domínios da vida. Ao passo que em A. Toynbee a noção de organização, que sucede à da técnica, é de certo modo seu contrapeso, seu remédio (e é uma visão consoladora da história), parece-me que devemos, exatamente, considerar o contrário como verdadeiro e julgar que esse desenvolvimento aumenta os próprios problemas técnicos, dando uma solução parcial aos antigos problemas, embora prosseguindo deliberadamente na mesma orientação que os havia suscitado. Procede-se assim de acordo com o célebre método que consiste em fazer um buraco para tapar o que está ao lado.
Uma segunda consequência: se assistimos apenas a uma extensão do domínio da técnica, compreende-se o que dizíamos a respeito da mecanização. Ao passo que A. Toynbee nos apresenta com a organização um fenômeno do qual ainda não veríamos os efeitos, podemos ao contrário estar seguros de que esses efeitos consistem em uma assimilação , pela técnica, de todas as coisas à máquina, que o ideal é uma mecanização de tudo aquilo que a técnica encontra. Vemos, assim, que há certa gravidade nessa oposição aparentemente verbal. A idade técnica na realidade prossegue, e não podemos nem mesmo dizer que estejamos em seu pleno desabrochamento. É, ao contrário, previsível que algumas conquistas decisivas estejam por fazer - o homem entre outras - e não se vê o que poderia impedir a técnica de apoderar-se delas. Pois, se não se trata de um fato novo, podemos estar suficientemente esclarecidos, desde já, sobre o que comporta e significa esse fenômeno.