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Da essência da informática

de Castro (SEI): aplicação da informática — dis-ponibilidade para exploração

Técnica e informática a partir do pensamento de M. Heidegger

terça-feira 19 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro

      

DE CASTRO  , Murilo Cardoso. Sobre a essência da informática. Técnica e Informática a partir do pensamento   de M. Heidegger  . Tese (Doutorado em Filosofia) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p. 189. 2005. (revisado)

      

Evidentemente existem aplicações e aplicações das tecnologias da informação. Existem aquelas mais comuns em que ela sintetiza a ilusão de se estar datilografando um texto com uma máquina de escrever  , como no uso de programas ditos de “processamento de texto”. E, existem aquelas que vão mais longe nesta síntese, dando, por exemplo, a ilusão de visualização completa de uma área da superfície terrestre, dada por uma imagem de satélite, e permitindo a análise de tudo que se apresenta nesta imagem através de inúmeras funções de detecção e identificação, orientando e discriminando o que se apresenta sobre esta visualização.

Na primeira, substitui-se o instrumento de escrita, de um simples papel e lápis, ou de uma máquina de escrever, por um computador. A troca do instrumento de escrita não afeta em nada a liberdade de criação de um discurso escrito. Entretanto, pelo armazenamento digital do texto, ganha-se o poder de tratamento e processamento do texto de diferentes maneiras  , além da capacidade de transmissão e disseminação. O texto digital passado   pelas dis-posições e dis-positivos neste dar-se da informática, está pronto para exploração, segundo as mais diferentes formas de análise de discurso que a razão tenha concebido e a informática tenha implementado como programa de computador.

Na segunda aplicação, dada a maior funcionalidade do programa de computador, implementando a racionalidade de tratamento de imagens de satélite, pouco resta de liberdade ao utilizador, à medida que a tecnologia da informação na base deste dar-se e propor-se da informática está pronta a conduzir e até mesmo determinar todo este dar-se e propor-se. O utilizador é quase um mero acessório periférico do dis-positivo de representação respondendo a cada momento os comandos que este determina para seu uso.

Cabe lembrar que, nesta aplicação, as imagens de satélite já foram obtidas em formato digital, após sua captura e tratamento por outros conjuntos de dis-posições e dis-positivos que garantem sua futura exploração, como imagens da Terra  . A dis-ponibilidade para exploração caracteriza-se assim como típica de qualquer dar-se e propor-se da informática, pois é imanente a natureza da tecnologia da informação.

O desencobrimento já se deu, em sua propriedade, todas as vezes que o homem   se sente chamado a acontecer em modos próprios de desencobrimento. Por isso, des-vendando o real, vigente com seu modo de estar no desencobrimento, o homem não faz senão responder ao apelo do desencobrimento, mesmo que seja para contradizê-lo. Quando, portanto, nas pesquisas e investigações, o homem corre atrás da natureza, considerando-a um setor de sua representação, ele já se encontra comprometido com uma forma de desencobrimento. Trata-se da forma de desencobrimento da técnica que o desafia a explorar a natureza, tomando-a por objeto de pesquisa até que o objeto desapareça no não-objeto da dis-ponibilidade. (Heidegger, 1954/2002, pág. 22)


Ver online : O que é informática e sua essência. Pensando a "questão da informática" com M. Heidegger


HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 1954/2002