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HIPERLOGOS
HT: Hipertexto e Hermenêutica
HIPERTEXTO
terça-feira 22 de março de 2022, por
O hipertexto é a técnica que eleva o texto a algo além do que ele se apresenta. Por sua aplicação é de se supor que teríamos alcançado algo “maior” que o próprio texto. O texto, por sua vez, é a forma escrita de um discurso. E este a forma dada pela linguagem ao pensar .
Colocadas estas noções, as questões que se colocam são:
Questão I - elevando o texto a algo superior a si mesmo , estamos também promovendo alguma transformação no pensar original de seu autor, que através da linguagem, do discurso, da escrita, chegou à forma daquele texto?
Questão II - esta transformação, este “ir além” da forma do texto se dá por uma justa interpretação do texto original ou responde às determinações da técnica hipertextual, podendo resultar em uma deformação, ou um “ir aquém” do pensar do autor do texto original?
Questão III - ao aplicar uma transformação na ponta final da cadeia “pensar-linguagem-discurso-escrita-texto”, ou seja, ao exercer uma co-autoria do discurso, na edição final do texto impresso em hipertexto digital, quais as possibilidades e limites da conjunção autor>discurso(textual)>co-autor>discurso(hipertextual), nesta transformação?
Estas questões orientam nossa proposta de reflexão sobre a aplicação de uma técnica mestre na constituição da atual rede de comunicação mundial, a Internet. Esta reflexão é urgente dada à velocidade que as atividades humanas estão sendo “informatizadas”. A rede Internet como uma “teia” (web em inglês) parece apreender tudo que toca. Especialmente no meio acadêmico é hoje em dia lugar comum o uso intensivo da Internet para a pesquisa e educação. Mesmo em algumas disciplinas das ciências humanas, que rechaçam de certo modo a técnica, já se nota um interesse pelas possibilidades de uso da Internet, como veremos ao longo deste trabalho .
Por conseguinte, elaborar um justo entendimento sobre a Internet e seus recursos, nada mais é do que buscar os limites cognitivos desse novo espaço social e dessa nova "linguagem universal " que regula as comunicações humanas. Trata-se também de aferir o "saber" onde este também se apresenta nos dias de hoje, e onde se apresentará cada vez mais, e talvez somente lá, nos dias vindouros.
Ao invés de enveredarmos pela crítica frequente à Modernidade e seus produtos técnicos, partimos da efetiva presença da técnica na vida contemporânea e preferimos estudar sua correta aplicação. A carência de princípios e metodologias não exclusivamente tecnológicas na apropriação da técnica é a deficiência maior que assola sua aplicação e uso corretos.
A contribuição da filosofia hermenêutica pode ser a resposta necessária à justa condução do processo de desconstrução/reconstrução de discursos textuais em discursos hipertextuais. Urge este debate sobre os princípios e orientações metodológicas não tecnológicas, nesta transposição do "meio textual" para o "meio digital" ou "virtual". Esperamos oferecer elementos iniciais para a futura formalização de diretrizes e métodos de passagem entre "meios" tão distintos em sua natureza e propriedade.
QUESTÃO I
A primeira questão que nos interessa pode formulada do seguinte modo:
- Literalmente hipertexto significaria elevar ou potencializar o texto a algo superior a si mesmo. Por exemplo, ao elevar um número à sua potência, o número resultante contém o número original repetidas vezes. Da mesma maneira, a passagem do texto ao hipertexto, multiplicaria aquilo que o discurso textual apresenta em termos de seu "con-texto", de suas "extra-conexões" com outros discursos, de suas "intra-conexões" e de seu próprio "dizer" textual; entendendo, é claro, que esta elevação à potência, de um texto original, amplie as possibilidades de entendimento de um leitor.
- A questão que se coloca é se neste processo de "hipertextualização", ou seja, na desconstrução/reconstrução do texto como hipertexto, o pensar original do autor do texto é preservado dentro dos limites já impostos por sua forma textual original; reconhecendo que esta já sofreu as metamorfoses que se deram pela passagem do pensar através da linguagem, do discurso, da escrita, até a sua forma textual.
Nesta reflexão vamos nos ater de preferência a esta questão, concentrando assim no último passo: a passagem do discurso textual ao discurso hipertextual. Esperamos aportar uma contribuição efetiva ao debate necessário e premente sobre os limites da Internet na disseminação direta de discursos textuais, de qualquer natureza: filosófico, científico ou literário. Mesmo não investigando a fundo o debate acerca das transformações do discurso, do pensar até o texto escrito, não deixaremos de reunir e apresentar as principais posições neste debate.
A abordagem dessa questão vai se dar levando em consideração os seguintes aspectos relevantes:
- A técnica hipertextual apresenta um discurso textual sob a forma de blocos de texto interligados entre si. Estes blocos de texto são provenientes do próprio texto original ou de um acervo ilimitado de conceitos, pensamentos, comentários, críticas, etc., enfim o chamado "aparato crítico" que cerca um discurso textual que tenha se consagrado.
- Os blocos de texto são interligados por termos-chaves, ícones inseridos no texto, marca ções sobre frases ou trechos, ou seja, uma série indefinida de remissões possíveis entre o texto original e seu aparato crítico.
- A desconstrução do discurso textual original visando sua construção como discurso hipertextual é um esforço intelectual que requer, além da competência técnica sobre a tecnologia em uso, o hipertexto, um grande domínio sobre o discurso textual e seu aparato crítico, e certamente sobre a área de conhecimento onde se insere este discurso.
- Não há ainda uma metodologia na literatura técnica sobre a aplicação da tecnologia do hipertexto, ou pelo menos nada que se assemelhe a uma metodologia de desconstrução/reconstrução de discursos textuais em discursos hipertextuais.
- A hermenêutica enquanto interpretação de um discurso se apresenta como capaz de oferecer os princípios justos para configuração inicial dos elementos de uma metodologia de desconstrução/reconstrução de discursos textuais em discursos hipertextuais.
- A metodologia a ser constituída com base na hermenêutica deve contemplar não apenas aspectos de interpretação do discurso textual e seu aparato crítico como levar em consideração as possibilidades da tecnologia de hipertexto.
QUESTÃO II
Ao examinarmos os discursos hipertextuais oferecidos pela Internet constatamos que são em grande parte apenas reproduções digitais de discursos textuais. Não há ainda, com raras exceções, discursos hipertextuais, apenas aplicações muito simples e até inadequadas da tecnologia de hipertexto.
O problema se agrava na ausência de uma metodologia de desconstrução/reconstrução de discursos textuais em discursos hipertextuais. Na avidez de transpor para Internet o acervo textual de discursos de diferentes origens e espécies, vários profissionais de informática, ou mesmo apenas especialistas na tecnologia de hipertexto têm assumido indevidamente este trabalho. A conclusão é que atualmente a passagem de textos impressos para Internet vem se dando única e exclusivamente sob a regência da tecnologia, gerando na maioria dos casos "hipotextos" e não hipertextos.
Deste modo, é imperativo iniciar uma discussão metodológica que permita minimamente orientar este imenso trabalho em curso, de transposição do meio textual-impresso para o meio digital-hipertextual. Quanto mais, dada a importância da Internet como pretensa "base de conhecimento" da humanidade e sua penetração crescente nas diferentes sociedades e culturas.
Isto posto, a segunda questão avança sobre a primeira, pressupondo uma "metodologia hermenêutica" na desconstrução/reconstrução de discursos textuais em discursos hipertextuais. O que nos interessa agora é analisar mecanismos e os possíveis parâmetros requeridos para uma avaliação de uma metodologia desta natureza.
Os seguintes aspectos ligados à questão ser ão abordados:
- O texto impresso deve passar por uma série de "tratamentos" até sua alcançar uma versão digital fidedigna ao original. Primeiramente, um original de qualidade deve ser processado por um scanner, que captura imagens das páginas do texto impresso. Estas imagens são então "lidas" por um programa que as interpreta de acordo com a língua do texto, gerando um arquivo no formato digital de um programa de processamento de texto como por exemplo, o Word. O texto digital deve então ser lido na tela e comparado com o original, para correção de eventuais erros no processo de "digitalização". O mesmo processo deve ser realizado com o "aparato crítico" do discurso textual, formando assim um acervo digital correspondente a um discurso textual.
- A partir daí dispomos de uma base sobre a qual é possível aplicar os princípios da hermenêutica elaborados segundo uma metodologia que deve permitir desconstruir o discurso textual original e realizar sua reconstrução como discurso hipertextual. Este é um processo chave cuja consecução depende não apenas de aspectos metodológicos e técnicos, como também de preceitos gerais e específicos do campo de conhecimento onde se insere o discurso textual, que efetivamente orientem esta empreitada.
- Para concluir, é imprescindível a composição de um mecanismo e de um conjunto de parâmetros que possa assegurar a justa avaliação do processo, indicando eventuais ganhos e perdas na transformação do discurso textual em discurso hipertextual.
QUESTÃO III
Finalmente chegamos a hipótese de limites na hipertextualização, enquanto processo acoplado à cadeia tradicional que vai do pensar ao texto. Ou seja, chegamos ao necessário confronto com as possibilidades da desconstrução/reconstrução do discurso textual em discurso hipertextual.
Como mencionando anteriormente, na carência de uma metodologia de interpretação que conduza este processo, temos o risco de um predomínio da técnica sobre o resultado do processo. Este risco é tanto maior quanto menor for a autoridade daquele que aplica a tecnologia de hipertexto sobre o discurso, seu aparato crítico e sua área de conhecimento. A simples competência técnica do "autor" do discurso hipertextual na tecnologia de hipertexto não assegura a justa desconstrução/reconstrução do discurso de textual para hipertextual.
Não é preciso apenas garantir a transparência do pensar do autor original do discurso textual, assim como do aparato crítico que o acompanha. Faz-se necessário garantir também a possível "potencialização" do discurso textual pela aplicação da tecnologia do hipertexto, sem distorções. Caso contrário, o resultado é inadequado e injustificável.
A nova "mídia" sobre a qual o discurso hipertextual se assenta, tem características muito distintas do texto veiculado em papel impresso. Estas características devem ser reconhecidas e devidamente apropriadas pelo "autor" do discurso hipertextual, sem no entanto distorcer o pensar original que passa pelo discurso original e seu aparato crítico.
O discurso hipertextual não deve ser uma reprodução do discurso textual, mas o mesmo discurso veiculado de modo totalmente distinto, segundo as novas propriedades da mídia oferecida pelo computador, enquanto nova tecnologia de informação e comunicação. Não se pode esperar que o "leitor" do discurso hipertextual se posicione com as mesmas expectativas diante desta nova mídia e muito menos se comporte do mesmo modo. Enquanto o chamado "livro eletrônico" é apenas um versão digital do discurso textual, com sérios obstáculos dificultando sua aceitação, o discurso hipertextual é algo totalmente distinto, com grande potencial de uso se efetivamente potencializar o discurso textual original.
Esta última hipótese vai contemplar os seguintes aspectos:
• as diferenças entre as mídias tradicionais e atuais do discurso, e as considerações necessárias na passagem de uma mídia para outra;
• as possibilidades e os limites da tecnologia de hipertexto e os riscos de sua adoção desregulada;
• as exigências sobre o "autor" do discurso hipertextual e as habilidades e competências requeridas;
• o posicionamento e o comportamento esperados do "leitor" do discurso hipertextual;
• as garantias necessárias para que a regência da desconstrução/reconstrução do discurso textual em discurso hipertextual seja humana e não apenas tecnológica.
ABORDAGEM
- Apresentação de definições de termos e noções básicos, juntamente com a necessária crítica: texto, linguagem, hermenêutica, discurso, hipertexto, etc, etc; partir da conceituação de “Noções Filosóficas” desenvolvendo a definição ali apresentada, entremeando de citações de diferentes autores (VOCABULÁRIOS);
- Articular as noções chaves da questão proposta, em suas três formulações:
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- em relação a primeira:
- a técnica do hipertexto “eleva” o texto ? ela configura o texto como algo maior do originalmente se apresentava ? a simples desconstrução do texto original em blocos de sub-textos encadeados entre si representa uma potencialização do texto original ? o jogo de texto e contexto, possibilitado pela aplicação de hiperlinks no texto original potencializa a interpretação do texto original?
- Através de um texto, temos acesso ao “pensar original de seu autor” ? de que modos ? Pela análise do discurso? Pela semântica, ou seja, como superação de uma teoria dos significados de palavras isoladas ? Pela hermenêutica ? a questão da transformação metafórica na formulação do pensar em texto ? o texto é sempre uma metáfora de um pensar original? “Tradutore traittore” ? as dificuldades aportadas pela tradução criam a impossibilidade da compreensão do pensamento original ? o que é o pensar original ? a linguagem está na expressão ou é a expressão ?
- A cadeia de pensar até texto é uma estrutura lógica de apresentar um processo “imediato”? Formas de pensar, de linguagem, de discurso, de escrita, de texto, indicam “trans-formações” ou “metamorfoses de uma mesma forma”? Esta “forma primal ” seria ainda mantida na aplicação da técnica hipertextual sobre a “forma do texto”? Fenomenologia da Comunicação? Intersubjetividade?
- Em relação a segunda:
- O que é técnica ? O que é a hermenêutica ? O regimento da técnica x o regimento da hermenêutica no processo de “trans-formação” da forma do texto em “hiper-texto”? determinismo tecnológico ? grau de liberdade no uso da técnica ? a técnica condutora ou conduzida ?
- a hermenêutica enquanto técnica, método, também não implica em um “determinismo” sobre o processo de interpretação? O que seria uma “justa” hermenêutica ? sentido da qualificação “justa” ? verdade? Representação ?
- deformação implica forma que se perde, que por sua vez implica em reconhecimento da forma primal ? apreensão da forma primal ?
- Em relação a terceira:
- identidade do pensar do autor do hipertexto com o pensar do autor do texto? a hermenêutica como acesso ao pensar original ? o hipertexto como técnica capaz de reproduzir a interpretação dada pela hermenêutica do pensar original ? as limitações da hermenêutica ? as limitações do hipertexto ? hermenêutica como fundamento da técnica de hiper-textualização ?
- em relação a primeira:
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- Analisar casos de aplicação da técnica hipertextual, na constituição de hiper-documentos que se apresentam dentro de uma “justa hermenêutica” do texto original de seu autor.
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- Validade do estudo de caso como prova de eficiência hermenêutica na aplicação do Hipertexto ?
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- Conclusão e perspectivas
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- Resumo do que foi apresentado
- Investigação do Romantismo alemão, e sua "linguagem dos fragmentos" como precursor da atual forma hipertextual.
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Ver online : HIPERTEXTO