O conhecimento de si é o começo da sabedoria . “Conhece-te a ti mesmo !” (γνῶθι σαυτóν) é o ensinamento de vida atribuído a um dos Sete Sábios, talvez até um preceito de origem divina para a auto-realização . Estava inscrito na entrada do templo de Apolo em Delfos , o “umbigo do mundo”, o ponto em que duas águias libertadas por Júpiter nas extremidades da terra , e direcionadas para o seu centro , haviam se encontrado.
Ao mesmo tempo é a máxima em que se fundamenta a lição de vida que a filosofia desde sempre pretendeu transmitir: “Todos os homens têm a possibilidade de conhecer a si mesmos”, já afirma Heráclito (fr. 116). Mas é sobretudo Sócrates quem faz da arte de conhecer a si mesmo o eixo de toda a sabedoria filosófica, como testemunha Platão no Alcibíades Maior, em que o princípio délfico é retomado e transformado na regra áurea do cuidado de si. Não por acaso, na tradição iconográfica a sabedoria será muitas vezes representada como uma figura feminina que segura na mão o precioso instrumento em que é possível olhar-se e conhecer-se: o espelho .
No entanto, o conhecimento de si é também o erro de Narciso . O vaidoso dobrar-se sobre si, de quem, apaixonado pela própria beleza, vê unicamente a si mesmo e não consegue entrar em relação com a realidade. Nesse sentido, conhecer apenas a si mesmo significa permanecer prisioneiro da própria imagem.
Através dos séculos [1], o motivo do conhecimento de si, em seu duplo valor , chega até a era moderna, em que é retomado e desenvolvido especialmente pela filosofia moral. Até Goethe [2], que se mostra cético sobre a origem divina do lema délfico, por estar convencido de seu caráter enganoso:
Erkenne dich! — Was soll das heißen?Es heißt: sei nur! und sei auch nicht!Es ist eben ein Spruch der lieben Weisen,Der sich in Kürze widerspricht.Erkenne dich! Was hab’ich da für Lohn?Erkenne ich mich, so muß ich gleich davon.Als wenn ich auf den Maskenball kämeUnd gleich die Larve vom Angesicht nähme. [3]