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Fernando Pessoa e a filosofia hermética

Pessoa: ENSAIO SOBRE A INICIAÇÃO

Org. do espólio de Yvette Centeno

sexta-feira 1º de agosto de 2014, por Cardoso de Castro

      

Tradução do original em inglês de Maria Helena Rodrigues de Carvalho

      

Há muitas Cabalas, e é difícil acreditar que não possamos atingir a união   com Deus  , seja o que for que se entenda por isso, a não ser   que estejamos familiarizados com o alfabeto hebraico  .

Há Erros do Caminho  , Erros da Estalagem e Erros da Caverna  . São Erros do Caminho aqueles em que o próprio caminho é tomado pela sua finalidade. Erros da Estalagem são aqueles em que metade do caminho é tomado pelo todo. São Erros da Caverna aqueles em que a caverna, que é a base do Castelo, é tomada pelo próprio Castelo, (é tomada pela entrada do Castelo).

Estes erros são comuns a todos os caminhos e o da Gnose não está mais isento deles do que os caminhos místicos e mágicos.

Posso passar sem o ascetismo, mas não sem a verdade, nem creio que Deus se me não manifeste a não ser que eu fique sentado, imóvel  , durante cinco   horas, ou que seja capaz de respirar naturalmente por qualquer das narinas à escolha  .

O facto, porém, é que, qualquer que seja o caminho que tomemos, não o devemos fazer antes de termos percorrido os graus preparatórios, os graus de neófito. O Misticismo   procura transcender o intelecto   (pela intuição  ), a Magia   aspira a transcender o intelecto pelo poder; a Gnose, a transcender o intelecto por um intelecto superior. Mas para transcender uma coisa devidamente, é preciso primeiro passar por essa coisa. A vantagem   do caminho gnóstico é que há menos tentação de alcançar o intelecto superior sem passar pelo inferior   — uma vez que ambos são intelecto e há uma diferença   de quantidade entre um e outro — do que nas vias mística e mágica, onde há uma diferença de qualidade  , não de quantidade, entre emoção e intelecto, entre a vontade e o intelecto.

(Esp. 54A-51)