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RELATOS BÍBLICOS DA CRIAÇÃO

Nothomb (Criação:65-71) – Gênese 1,26

A Liberdade

terça-feira 25 de outubro de 2022, por Cardoso de Castro

      

Para sua primeira aparição no texto, a palavra ‘DM como quando de sua primeira aparição no segundo relato   (cronologicamente anterior   ao nosso) é excepcionalmente desprovida do artigo que caracteriza o Homem   Criado por Deus  , H’DM e isto evidentemente não é por acidente. Mas tudo isso passa desapercebido em nossas bíblias.

      
Gen 1,26 E «Deus  » pensou: Faremos nós (fazer) um homem   a nossa imagem, nos assemelhando quase e que dominem sobre os peixes do mar e sobre os pássaros do céu e sobre o gado e sobre toda a terra   e sobre todos os répteis rastejando na terra?

Louis Segond traduz «Façamos o homem, etc. » enquanto nos versículos precedentes «paralelos» (quer dizer exprimindo como aqui a intenção do Criador) ele respeita a indeterminação do hebreu   e traduz «animais  », etc, Para sua primeira aparição no texto, a palavra ‘DM como quando de sua primeira aparição no segundo relato   (cronologicamente anterior   ao nosso) é excepcionalmente desprovida do artigo que caracteriza o Homem Criado por Deus, H’DM e isto evidentemente não é por acidente. Mas tudo isso passa desapercebido em nossas bíblias. O leitor de Segond se interrogará talvez sobre o plural «Façamos» mas ignorará o plural, uma pouco mais adiante, que o hebreu impõe ao verbo «dominar» que Segond traduz «que ele domine». Ora estes dois   empregos, subitamente, do plural, em meu entendimento se respondem. Gramaticalmente este plural, ou um deles, pode ser a princípio um «duelo» mas não importa. O problema, discretamente sugere nesta reflexão prestada a «Deus» é aquele de Um e do Múltiplo, que se põe a respeito da semelhança   que o Criado visa ente   «um homem» e ele. A palavra ‘LHYM (pronunciada «Elohim  ») que traduzo por «Deus» é o nome de término plural mas do qual todos os verbos do qual é sujeito   estão no singular (inclusive aquele do início do versículo). Pode-se pensar   então em um plural de intensidade ou de majestade mas eis que a primeira vez que «Deus» considerou falar dele, fala no plural, sujeito, verbo e sufixos pronominais no plural da primeira pessoa. O Midrash aí viu uma alusão a uma mítica «corte celeste» que «Deus» consulta e associa a disposição   de seus projetos, e o Cristianismo à Trindade  . Quanto ao plural de YRDW, que é a terceira pessoa do plural do incompleto de RDH, que quer dizer «dominar» os exegetas, quando o notaram, o interpretaram como uma prova que seu sujeito «adam  » é um nome coletivo, «o homem» de Segond designando o homem em geral, senão já a humanidade, da mesma maneira que em Gen 1,20 o «fervilhamento» sujeito de um verbo no plural. Mas a diferença   é que este «fervilhamento» é aquele dos animais que vão ser Criados em Gen 1,21 expressamente «segundo sua espécie» o que não não será de todo o caso deste «adam».

De fato este «adam» não existirá jamais. É uma hipótese que «Deus» formula para melhor destacá-lo. Ou melhor ainda, os redatores deste relato atribuem a este estado   o personagem que põem em cena sob o nome de Elohim e apresentam como o Criador. E do qual citam a nossa intenção, no discurso direto, palavras até pensamentos, que ninguém pôde entender nem notar no «princípio» e no curso dos Seis dias, em todo caso até a Criação efetiva do Homem, no versículo seguinte. E no entanto elas merecem toda nossa atenção. Elas não foram inventadas arbitrariamente, como testemunham a força e a coerência que se depreendem quando se as analisa em detalhe. Se não se é forçado a crer que elas foram «ditadas» do alto aos redatores deste relato, como o Corão a Maomé  , elas tentam sem dúvida alguma exprimir a profunda intuição   que tinham estes autores — inspirados? — sobre a natureza do Homem, e logo originalmente sobre a nossa — e de nos comunicar. Aí compreendido por procedimentos retóricos...

Até nosso versículo Deus é mostrado a uma certa distância de sua obra, que efetua diretamente ou indiretamente, sujeito do verbo «Criar» ou «fazer» (ou «separa», «chamar», etc.) mas sempre na terceira pessoa do singular. Aqui parece subitamente sair de sua reserva e se implicar em seu último projeto, em a expondo na primeira pessoa. Do plural. Porque? É sem dúvida que depois de ter construído mentalmente o Homem, dia após dia, trata-se agora da o fazer   existir. A seus próprios olhos. De lhe fazer tomar consciência a ele mesmo do tempo sem limites e da extensão de sua liberdade teórica. É o risco considerável que Deus, antes de assumi-lo, parece querer ainda medir e avaliar. Sim, este plural insólito não nos lembra somente, en passant, que Deus como o vento   é inapreensível, que não se deve guardá-lo em um gênero   nem em um sexo, no Uno nem no múltiplo, mas serve sobretudo a nos sugerir que neste caso várias opiniões, várias «pessoas» se confrontam nele e deliberam antes de pôr em jogo   toda a Criação pela existência em seu seio, e em seu ápice, um ser infinitamente mais livre que os animais, logo imprevisível. De fato, para os autores deste relato, estou persuadido, Deus não hesita de todo sobre os traços principais que dará a este ser e que enumera. Ele o quer «a sua imagem» «lhe assemelhando quase» (literalmente como nossa semelhança), a proposição hebraica empregada tendo, mais que «como» em francês, este valor   de comparação aproximativa) e embora singular «que eles dominam» (no plural pra lhe assemelhar) sobre todos os animais, sobre toda a terra. Dominação não física mas como a sua sem impedimento  . Também Deus não anuncia «Façamos o homem» como traduz Segond. Sua frase é interrogativa e a questão que coloca, que faz questão de colocar, de maneira retórica não porta   sobre a oportunidade   ou a natureza do ser inteiramente livre que deseja suscitar mas sobre o verbo que tomará empregará na ação de suscitá-lo. Sobre o verbo CSSH, «fazer» que abre a frase, posto explicitamente para ser explicitamente rejeitado. Deus se contentará de «fazer», de «fazer fazer» como «fez fazer» justo antes, no início deste mesmo «sexto dia», os «animais terrestres». De «fazer fazer» com todas estas qualidades requeridas um tal ser «a sua imagem» pela simples Evolução Criadora, sobre seu lançamento, sem um novo «salto» qualitativo? A resposta   não é somente: não, evidentemente não. Ela é: não, três vezes não, como aparecer  á no versículo seguinte.


Ver online : PAUL NOTHOMB