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Stethatos Capítulos Gnósticos 31-40

terça-feira 29 de março de 2022

      

31. Quando através da prática das virtudes alcançamos um conhecimento espiritual das coisas criadas teremos alcançado o primeiro estágio no caminho   da deificação. Alcançamos o segundo estágio quando — iniciados através da contemplação das essências espirituais das coisas criadas — percebemos os mistérios ocultos de Deus  . Alcançamos o terceiro estágio quando somos unidos e inter-fusionados com a luz   primordial. É então que alcançamos a meta de toda atividade   contemplativa e ascética.

32. Por meio destes três estágios todos os intelectos são levados, de uma maneira que está de acordo com sua própria natureza, à unidade   com eles mesmo e com Ele que verdadeiramente é. Eles podem então iluminar seus intelectos-companheiros, os iniciando nas realidades divinas, através da sabedoria   celestial os aperfeiçoando como espíritos já purificados, e os unindo com eles mesmos e com o Uno  .

33. A deificação nesta vida presente   é o rito verdadeiramente sagrado   e espiritual no qual o Logos   de sabedoria inefável faz dEle mesmo uma oferta sagrada e dá a Si mesmo  , tanto quanto possível, àqueles que se prepararam a si mesmos. Deus, como compete Sua bondade, concedeu esta deificação sobre os seres dotados com inteligência de modo que possam alcançar a união de fé. Aqueles que como um resultado de sua pureza   e seu conhecimento das coisas divinas participam nesta dignidade   são assimilados a Deus, «conformados à imagem de seu Filho  » (Rom 8,29) através de sua concentração espiritual e exaltada sobre o divino  . Assim se tornam como deuses para outros homens na terra  . Estes outros por sua vez, aperfeiçoados em virtude pela purificação através de sua inteligência divina e através de sua interação com Deus, participam de acordo com sua proficiência e o grau de sua puruficação na mesma deificação como seus irmãos e comungam com eles no Deus da unidade. Neste caminho todos eles, reunidos na união do amor, estão incessantemente unidos com o Deus uno; e Deus, a fonte   de todos os trabalhos santos e totalmente livres de qualquer acusação   por causa   de Seu trabalho   da criação, e permanece no meio de deuses (cf. Sal. 82,1, LXX  ), Deus por natureza entre deuses por adoção.

34. Não podes ser assimilado a Deus e participar em Suas bençãos   inefáveis — na medida que isto é possível — a menos que te desprendas da loucura que se interpõe e a desfiguração do pecado  , através de lágrimas fervorosas e através da prática dos mandamentos sagrados de Cristo  . Se queres espiritualmente saborear a doçura e o deleite das coisas espirituais deves renunciar de toda a mundana experiência dos sentidos, e em tua aspiração pelas bençãos armazenada para os santos deve devotar a ti mesmo à contemplação da realidade interior dos seres criados.

35. Assimilação   a Deus, conferida sobre nós através da intensa purificação e o profundo amor a Deus, pode ser mantida somente através de uma aspiração incessante para Ele da parte do intelecto   contemplativo  , Tal aspiração nasce dentro da alma   através da persistente quietude   produzida pela aquisição das virtudes, pela oração espiritual sem distração e incessante, pelo total autocontrole  , e pela leitura intensiva das Escrituras  .

36. Devemos nos esforçar não somente para levar os poderes da alma a um estado   de paz  , mas também para adquirir um anseio   pela serenidade espiritual. Pois através da pacificação de nossos pensamentos toda aspiração pelo que é bom é fortalecida, enquanto o orvalho divino enviado pelo céu cura   e revivifica o coração   ferido pelo fogo   celestial aceso pelo Espírito.

37. Uma vez que uma alma profundamente ferida pelo divino anseio experimentou o bálsamo dos dons noéticos de Deus, não pode permanecer estática ou fixada em si mesma, mas aspirará elevar-se   cada vez mais alto em direção ao céu. O mais alto que eleva-se através do Espírito e o mais longe que penetra nas profundezas de Deus, mais é consumida pelo fogo do desejo; e explora em toda sua imensidade os mistérios ainda mais profundos de Deus, ansiosa em alcançar a luz bendita onde todo intelecto é arrebatado de si mesmo e onde — sua meta alcançada — repousa em alegrias do coração.

38. Quando vens a participar no Espírito Santo e reconheces Sua presença através de uma certa energia inefável e uma fragrância dentro de ti mesmo — esta fragrância mesmo espalhando-se sobre a superfície de teu corpo — não pode mais estar contente em permanecer dentro dos limites do mundo criado. Ao contrário, tendo experimentado a nobre conversão trabalhada pela «mão direita do Altíssimo» (Sal 77,10, LXX), esqueces alimento e sono, transcendes as necessidades corporais, ignoras o repouso físico e, depois de gastar o dia todo em tormenta ascética, ainda estás inconsciente do estresse ou dureza, da fome, sede, sono, ou de qualquer outra necessidade   física. Pois com alegria   inexpressável o amor de Deus é derramado invisivelmente em seu coração (cf. Rom 5,5). Envolta a totalidade   da noite em uma iluminação de fogo, completas o trabalho espiritual através do corpo e festejas sobre os frutos imortais do paraíso noético. Foi neste paraíso que São Paulo  , também, foi pego quando ouviu as palavras inexpressáveis que a ninguém é permitido ouvir   (cf. 2Co 12,4) se ainda apegado ao mundo dos sentidos das coisas visíveis.

39. Uma vez o corpo tenha sido queimado na fornalha da prática ascética e temperado pelas águas das lágrimas, não mais é atormentado por durezas, pois está agora isento dos trabalhos exteriores e aparta-se da grande tortura que demandam. Imerso no silêncio e serenidade da paz interior, se torna cheio de uma novo poder, um novo vigor, uma nova força espiritual. Quando a alma trabalha de mãos dadas com tal corpo — este, quer dizer, cujo estado transcende a necessidade de disciplina corporal — ele muda seus trabalhos físicos em luta   espiritual. Prontamente começa a desempenhar trabalho espiritual, e guarda em si mesmo os frutos imortais do paraíso noético, onde os rios da intelecção semelhante a Deus tem sua fonte, e onde eleva-se a árvore do conhecimento divino (cf. Gen 2,9), suportando os frutos do conhecimento, alegria, paz, generosidade, bondade e amor inefável (cf. Gal 5,22). Trabalhando assiduamente desta maneira e guardando o que é colhido, a alma sai do corpo e entra na escuridão da teologia mística. Deixa tudo para trás, não se mantendo por nada pertencente ao mundo visível; e unida com Deus, cessa tormenta e dor  .

40. Aqueles engajados na luta espiritual confrontam a questão do que em nós é o mais nobre: o visível ou o inteligível? Se é o visível, nada mais há em nós a ser preferido ou desejado do que o que é corruptível, nem é a alma mais nobre do que o corpo. Se é o inteligível então devemos reconhecer   que «Deus é espírito, e aqueles que O adoram devem adorá-lO em espírito e em verdade» (Jo 4,24). Assim uma vez a alma esteja firmemente estabelecida no trabalho espiritual, liberada do pesadume   do corpo e tornada inteiramente espiritual através da união com o que é superior a ela, então a disciplina corporal é supérflua.


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