11. Assim como não podes saber exatamente as causas e curas das aflições corporais sem grande experiência e habilidade médicas, assim não podes saber daquelas aflições psíquicas sem um grande treinamento e prática espirituais. O diagnóstico das doenças corporais é um negócio complicado e somente uns poucos são realmente versados nisto; mas o disgnóstico das doenças psíquicas é muito mais complicado. a alma é superior ao corpo, e correspondentemente suas aflições são maiores e mais duras que aquelas do corpo, que é visível para todos.
12. As virtudes principais e primárias foram co-criadas com o homem como parte de sua natureza. Delas os rios de todas as outras virtudes são alimentados como das quatro fontes, e eles banham a cidade de Deus , que é o coração purificado e resfrescado pelas lágrimas. Se mantiveres estas quatro virtudes principais impregnáveis pelos espíritos de malícia , ou se elas caem mas as levantais de novo através dos labores de arrependimento, construirás para ti mesmo um palácio real no qual o Rei de Tudo pode fazer Sua morada (cf. Jo 14:2), prodigamente concedendo Seus sutis dons àqueles que assim prepararam o solo.
13. A vida é curta, o tempo a vir é longo, e pouca a extensão da presente existência. O homem, este grande mas insignificante ser, a quem o escasso presente foi destinado, é fraco. O tempo é escasso, o homem fraco, mas a peleja estabelecida diante dele, com seu prêmio, é grande, mesmo se está cheio de espinhos e põe nos vida trivial em risco.
14. Deus não deseja os trabalhos daqueles bem avançados no caminho espiritual passando sem teste, mas os quer muito bem provados. Consequentemente Ele lança-os ao fogo da tentação e retira por certo tempo a graça que os dá, permitindo a tranquilidade de seus pensamentos a ser perturbado por enquanto pelos espíritos de malícia. A sua maneira Ele vê que caminho a alma se voltará, e se favorizará seu próprio Criador e Benfeito ou os sentidos deste mundo e a atração do prazer. Dependendo de sua proclividade Ele irá ou aumentar Sua graça neles a medida que avançam no amor a Ele, ou incitá-los com tentação e tribulação se cedem em pensamentos e ações mundanos, continuando isto até que venham a odiar o torvelinho instável das coisas visíveis e com lágrimas lavem a amargura de seus prazeres.
15. Quando a paz de teus pensamentos é perturbada pelos espíritos de malícia, então aqueles caçadores — os demônios amantes da carne — de pronto assaltarão com as flechas do desejo teu intelecto que corre rapidamente para as alturas (cf. Ef 6,16). Como resultado seu movimento ascendente é reduzido e ele sucumbe a impulsos corruptos e inapropriados; a carne licenciosamente começa a revoltar-se contra o espírito, através de incentivo e incitação buscando levar o intelecto para o poço do prazer. E se o Senhor das hostes não encurtar aqueles dias e conceder a Seus servos a força de perseverar, «nenhuma carne seria salva» (Cf. Mt 24,22).
16. O altamente experiente e astuto demônio da incastidade é para alguns uma fossa, para outros flagelo e verga da justiça, para outros um teste ou provação da alma. Ele é uma fossa para aqueles recém engajados na luta espiritual, que ainda suportam o jugo ascético folgada e negligentemente; um flagelo para aqueles que avançaram até o meio do caminho da virtude mas então relaxaram seus esforços; um teste ou provação para aqueles que nas asas do intelecto já entraram a esfera da contemplação e que agora aspiram a mais perfeita forma de apatheia - impassibilidade. Cada categoria é assim divinamente guiada no caminho que lhe adequa melhor.
17. O demônio da incastidade é uma fossa para aqueles que vivem a vida ascética levianamente. Acende seus membros com desejo sensual e sugere maneiras de fazer a vontade da carne mesmo sem intercurso com outra carne, algo que é vergonhoso mesmo falar ou pensar (cf. Ef 5,12). Tais pessoas enganam a carne (cf. Judas 8) e devoram os frutos do prazer amargo, se cegando e merecidamente tombando dos mais altos reinos. Se desejam cura , a encontram no fervor do arrependimento e na compunção lacrimosa que dela flui. Isto os fará fugir do mal e limpará suas almas de sua impureza, os fazendo herdeiros da misericórdia de Deus. Em sua sabedoria Salomão refere-se a isto de modo críptico quando disse, «A cura põe um fim às grandes ofensas» (cf. Ecle. 10,4, LXX ).
18. Este demônio é de direito um bom flagelador para aqueles que através da prática das virtudes alcançaram o primeiro grau da apatheia e estão agora progredindo para o que encontra-se além disto e é mais perfeito. Pois quando por conta da negligência relaxam a tensão de sua prática ascética e desviam, embora pouco, em direção a desguardada preocupação com o mundo sensível , ansiando por envolver-se nos negócios humanos, então, como um resultado da grande bondade de Deus para com eles, este demônio age como flagelador: começa a assaltar aqueles que desviam desta maneira com pensamentos coloridos de desejo carnal. Incapazes disto suportar, rapidamente revertem para sua fortaleza de prática ascética intensa e atenção, desempenhando com ainda maior vontade e mesmo mais esforçadamente as tarefas que os salvarão. Em Sua magnanimidade, Deus não deseja que a alma que alcançou este estágio volte-se completamente para o mundo dos sentidos; pelo contrário, quer que ela progrida continuamente e abrace zelosamente ainda mais obras perfeitas, de modo que nenhuma praga se aproximará de sua morada (cf. Sal 91,10, LXX).
19. Através da economia de Deus, este mesmo demônio é um teste, um espinho e uma provação que, tendo alcançado o primeiro, aspira ao segundo grau da apatheia. Enquanto o demônio os perturba, lembram a fraqueza de sua natureza e não se tornam presunçosos por causa da «abundância das revelações» (2Co 12,7) que receberam através da contemplação. Ao invés, atentamente conscientes da lei que combate a lei do intelecto (cf. Rom 7,23), repudiam mesmo a desapaixonada relembrança do pecado , pois o relembrando re-experimentam o engodo que engendra e assim deixa o olho do intelecto relaxar das alturas da contemplação.
20. Só aqueles que através do Espírito foram privilegiados para receber a morte vivificante do Senhor (Cf. 2Co 4,10) em seus membros e pensamentos podem manter seu intelecto imperturbado, mesmo pela desapaixonada memória do pecado. Sua carne está morta para o pecado, enquanto através da retidão que está em Cristo Jesus enriqueceram seu espírito com vida (cf. Rom 8,10). Aqueles que através de sua consciência de sabedoria receberam o intelecto do Cristo experimentarão a imperturbada morte vivificante que vem do conhecimento de Deus.