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Clement of Alexaandria

Lilla (Clemente:C1) – Visão de Clemente sobre a origem e o valor da filosofia grega

A Study in Christian Platonism and Gnosticism

sábado 22 de outubro de 2022, por Cardoso de Castro

      

Resumo do Capítulo I Clement’s Views on the Origin and Value of Greek Philosophy

      

Em um período no qual a maioria dos cristãos demonstravam uma hostilidade aberta para cultura grega, na medida que a viam como produto direto do diabo   e como a fonte   das heresias, particularmente do Gnosticismo  , Clemente foi o primeiro que corajosamente assumiu a tarefa de defender as realizações do pensamento   grego contra os ataques de alguns membros da comunidade cristã à qual pertencia.

Ele estava perfeitamente consciente do fato que a religião na qual firmemente acreditava não poderia se tornar uma ciência, ou assumir a forma de um sistema filosófico, sem levar em conta os melhores produtos do pensamento grego.

Esta constatação é de muitos estudiosos de Clemente de Alexandria  ; existe uma vasta literatura sobre Clemente, onde este tema é tratado. Quem não quiser ler o Stromateis pode ler nestes estudos sobre Clemente, sua crença:

  • na origem divina da filosofia grega
  • no papel providencial que Deus   concedeu à filosofia grega, mesmo se não se admite que tenha sido diretamente enviada por Ele
  • na correspondência entre ela e a lei judaica  , na medida que ambas como duas alianças paralelas, deviam preparar, no plano de Deus, os gregos e os judeus respectivamente para a recepção da mais perfeita mensagem cristã, a "verdadeira filosofia"
  • que a filosofia grega continha elementos   de verdade
  • que a filosofia grega foi "roubada" pelos gregos do Antigo Testamento  
  • que, embora a filosofia grega seja inferior   à perfeição da fé cristã, no entanto, é muito útil para os cristãos, que poderiam nela achar a melhor defesa contra os ataques de seus inimigos e um excelente treinamento provendo suas almas com a melhor preparação para o estudo das doutrinas cristãs.

Dada estas posições comumente reconhecidas na obra de Clemente, resta alguns problemas sem solução satisfatória:

  • Porque Clemente sustenta visões tão diferentes sobre a origem a filosofia grega, que, a primeira vista, parecem conflitar uma com a outra? Sobre que fontes ele depende? Pode a determinação destas fontes nos permitir reconstruir a unidade   substancial e coerência em seu pensamento?

As soluções a estas questões, adotadas por Clemente, são substancialmente:

  • Os filósofos gregos descobriram algumas doutrinas e alcançaram um certo grau de conhecimento de alguns elementos de verdade, seja por eles mesmos ou por meio da inspiração divina;
  • Fica claro que os gregos foram capazes de apreender alguma ideia de Deus devido a uma espécie de “concepção natural  ”, physike ennoia  , ou “intelecto comum”, koinos   nous, que todos os homens possuem.
  • Os filósofos gregos poderiam descobrir algumas doutrinas verdadeiras não apenas por meio de sua razão, mas também por meio de uma divina inspiração, que também provém do Logos  ; em outras palavras, não apenas Deus na criação proveu o homem   com um princípio divino que representa sua razão mas, na história da humanidade, também inspirou alguns poucos eleitos; Clemente não hesita em representar Pitagoras, seus discípulos, e Platão), como profetas inspirados que alcançaram um conhecimento parcial da verdade; Clemente vê um paralelismo entre o Antigo Testamento e a filosofia grega; Para Clemente os filósofos gregos , como os profetas, são homens divinamente inspirados, na medida que também são preenchidos com pneuma   vindo do divino Logos.
  • Para descrever como esta inspiração se dá, Clemente recorre à imagem do chuveiro: Deus inspirou os filósofos espargindo partículas do Logos em suas mentes.
  • Essas ideias de Clemente já faziam parte do da filosofia judaico-alexandrina daquela época e do pensamento de Justino.
  • Em Philon   estas ideias assumem um formato ainda mais claro e estão bem conectadas com a questão da origem da filosofia; Philon mantém abertamente que a filosofia é a fonte de todas as coisas boas, e faz uso da mesma imagem do chuveiro.
  • Existem outras similaridades entre Philon e Clemente: Logos é a fonte da sabedoria  ; uso da imagem da efluência de um córrego de sua fonte, como o Logos brotando de Deus; a doutrina   da origem divina da razão humana; a interpretação das passagens do Gênesis a respeito da criação do primeiro homem; o nous humano é algo divino; a razão humana é uma imagem ou imitação do Logos divino, que é ele mesmo a imagem de Deus.
  • Roubaram as doutrinas que clamam como próprias do Antigo Testamento e assim dependem de Moisés;
  • A filosofia, originalmente uma possessão de Deus foi roubada por poderes inferiores ou anjos  , que transmitiram ao homem.

Porque ele sustenta o tópico do "roubo dos gregos"? É sua insistência devida somente a seu amor por erudição? Não poderia encontrar uma explicação no veemente ataque   que um platonista não cristão do século II lançou contra a cristandade, e que forçou Clemente a tomar a defesa de sua própria religião? E, talvez mais importante: em desenvolvendo sua polêmica, Clemente se vale de ideias que são características de seu oponente?

Como pode a atitude de Clemente para com escolas filosóficas individuais ser explicada? Depende de sua fé cristã, que o permite julgar o que é certo e o que é errado em diferentes sistemas filosóficos? Não seria devido a educação filosófica que ele recebeu antes de se tornar cristão, e que desempenha tão importante papel mesmo depois de sua conversão ?

Porque ele as vezes parece falar como um "eclético"? Pode seu "ecleticismo" ser visto simplesmente com "cristão"? Pode ser reconhecido em uma doutrina na qual uma de suas explicações da origem da filosofia grega está baseada? Não é também um produto de sua formação cultural?

É possível estabelecer um tipo de paralelismo entre as função que, de acordo com Clemente, a filosofia grega realizou na história da humanidade e o papel que ainda desempenha na formação do cristão perfeito que deve alcançar a gnosis  ? Em outras palavras: é a relação entre filosofia grega e cristandade, na história, análoga à relação entre o estudo da filosofia por um lado, e a interpretação da Escritura e gnosis de outro?


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