Jesus disse: Os céus passarão e a terra , em vossa presença; e o vivente saído do Vivente, não conhecerá nem morte, nem temor. Por isso disse Jesus: O que se encontra a si mesmo , o mundo não é digno dele. (Roberto Pla )
Bíblia
- E todo o exército dos céus se dissolver á, e o céu se enrolará como um livro; e todo o seu exército desvanecerá, como desvanece a folha da vide e da figueira. (Is 34,4)
- ...e qual um manto os enrolarás, e como roupa se mudarão; mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão. (Heb 1,12)
- E o céu recolheu-se como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares. (Ap 6,14)
- Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão. (Mt 24,35)
- Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. (Mc 13,31)
- Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão. (Lc 21,33)
Hermenêutica Roberto Pla
Que os céus e a terra não são eternos e terão fim é sabido, pois além de lógica seu término, posto que foram criados, o diz Jesus e se repete em muitos escritos testamentários.
Mas o logion acrescenta: “em vossa presença”, e com isso revela que o “passar” dos céus e da terra não só é uma dissolução universal , simultânea para todos que estejam no final dos tempos, mas também a consumação das coisas criadas que cada homem deverá presenciar em si mesmo, em sua consciência, quando venha a transformar-se no Vivente.
O Vivente é o que tem Vida eterna como propriedade. Jesus, Cristo oculto e pré-existente, é o Vivente e a fonte do Vivente. Tal como ocorre com o espírito do homem, que quando é ungido no SE - Espírito se faz uno no SE - Espírito; assim também, quem nascer do alto - renasce do Alto, nasce como Vivente que sai do Vivente, uno na Glória infinita do Filho do homem.
Quem ser do mundo - encontrou o mundo, e essa é a consciente - consciência natural do homem, tem diante de si a realidade do mundo; mas o que se encontra a si mesmo, já não se dá conta do “outro”, de que havia encontrado o mundo e que, em verdade , já não existe, porque passou.
De igual maneira, o que nasce como Vivente descobre que a única realidade é o tesouro inesgotável que é “uno” com o Pai.
Então o mundo se dissolve, para ele, deixa de ser. Os céus e a terra fogem da “presença” como névoa que se levanta ao amanhecer; e nada resta deles, como se nunca tivessem sido.
Resta o Vivente só, eterno, isento de medo, em realidade incomparável e suprema de ser sempre e para sempre na unidade de si mesmo.
“E todo o exército dos céus se dissolver á, e o céu se enrolará como um livro; e todo o seu exército desvanecerá, como desvanece a folha da videira e da figueira. ... Mas tu és sempre o mesmo e teus anos não terão fim.” (Isa 34:4)
De certo, o mundo não é digno dele, do Vivente.
JEAN-YVES LELOUP
- Para alguns comentadores este logion 111 seria o último por tratar de fim do mundo e parousia e do gnothi seauton - conhecimento de si que nos guarda livres, "sem temor", diante daquilo que acontece ou deve acontecer.
- Apocalipse quer dizer Revelação, e portanto trata do dia da Revelação ou do des-encobrimento - Desvelamento daquilo que É.
- Todos temos momentos de apocalipse, portanto trata-se do fim de um mundo, aquele de nossas representações e de nossas construções mentais.
- Os homens adormecidos vivem cada um em "seu" mundo. Os despertar - Despertos vivem juntos no mesmo mundo.
- O dia do Apocalipse é também o dia da parousia. A parousia em grego quer dizer "presença", não sendo reservado ao retorno do Cristo no final dos tempos.
- A gnosis , enquanto conhecimento de si, é o que vai permitir a Realização do Apocalipse e da parousia.
- Amados, agora somos filhos de Deus (gnosis), e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar (parousia), seremos semelhantes a ele; porque assim como é (apocalipse), o veremos. E todo o que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro. (1Jo 3,2-3)
EMILE GILLABERT - Evocação das profecias de Enoque e de Daniel que atormentavam os espíritos da época. Os manuscritos de Qumram são reveladores da importância que os essênios davam a estas profecias. Os fariseus também vivem a psicose do "final dos tempos".
- A atitude do gnostike - gnóstico, que ele denomina aqui "O Vivente saído do Vivente", é de tranquilidade : "ele não verá nem morte nem medo". Àquele que se encontra a si mesmo: "o mundo não é digno dele" (Logion 56).
- Como o mundo, fabricação do mental que Jesus qualifica de cadáver, poderia ser digno do Vivente saído do Vivente?
- Vide Logion 11
HENRI-CHARLES PUECH - "Se encontrar a si mesmo"
- Conhecer que pertence em si, por uma espécie de predestinação natural, ao Reino , onde, intemporalmente, o fim e o princípio de seu ser se reúnem, coincidem, fazem um.
- Se conhecer e se reconhecer, se reencontrar em sua condição própria de "vivente saído do Vivente", assim assegurado de "não ver a morte".