QIAN (Yang Puro) ☰ |
KUN (Yin Puro) ☷ |
ZHEN (Trovão) ☳ |
SUN (Vento ) ☴ |
DUI (Lago) ☱ |
GEN (Montanha ) ☶ |
LI (Fogo ) ☲ |
KAN (Água) ☵ |
Um Gua (Trigrama ) poderia ser tentativamente definido como o emblema da singularização cristalizada de uma Força emanente do Infinito e que age no sentido de ocasionar as mutações. Seriam marcos permanentes causadores da impermanência.
Da interação básica das duas únicas Essências puras na emblemática dos trigramas, QIAN e KUN, nascem as forças primitivas que impelem as mutações: o Gua Zhen (Trovão) representa a essência de um início de movimento criatório [1] e encontra sua correspondência mutatória em Sun (Gua do Vento), a Dispersão, a passagem da semente da criação para Kan, a Água, o emblema da força da Umidade, que, combinando-se com Li (trigrama do Fogo = Calor) vai ocasionar outra mutação (a germinação); finalmente, Gen (Gua da Montanha) é a essência do crescimento e da desintegração — no seio das formações rochosas há a formação dos minérios e a eros ão transforma a pedra em areia — e sua contrapartida é Dui, emblema da Alegria , Gua do Lago, onde a lama enriquecida pela água proporciona um ambiente vivificante [2].
Na Unidade inicial do Taiji , Qian, emblema de Yang, está na extremidade superior da Viga-Mestra; Yin, representado por Kun, na extremidade inferior — as outras forças dispõe-se entre um e outro seguindo um ritmo natural de mutações. Esse arranjo dos trigramas corresponde ao que os chineses chamam de Sequência da Primitiva Ordem (Céu Anterior — Xian Tian): Qian e Kun determinam a direção, isto é, o eixo Sul -Norte é produto dos trigramas representativos de Yang e Yin plenos. Na sequência do Céu-Anterior os trigramas funcionam por correlação: Yang completa Yin porque com ele se mistura. Não há conflito, apenas harmonia de forças.
Na passagem para o plano do tempo, entretanto, ocorre uma mutação que tira cada trigrama de sua posição inicial: não mais agindo em pares mas individualmente, para indicar uma progressão temporal no mundo dos fenômenos manifestos, há um deslocamento do trigrama Fogo (Li) para a extremidade superior do Taiji e de Kan (a Água), para a extremidade inferior. Esse deslocamento é indispensável, a fim de que possa existir o ciclo temporal dos fenômenos: o Sul equivale ao Fogo e ao Verão; o Norte, à Água e ao Inverno. 90 graus à direita de Fogo vai colocar-se Zhen, trigrama do Trovão em emblema, como vimos, da Primavera, início temporal do ritmo criatório da Natureza. A 90 graus à esquerda de Fogo coloca-se Lago, essência de Outono, época em que as colheitas amadurecem, isto é, o grão tem a sua alegria de ter germinado e atingido plena realização . Vento (Sun) está, no ciclo temporal, entre Zhen (Primavera) e Li (Verão). Sua natureza é a dispersão: ele é a essência do movimento que leva a criação originada na Primavera ao contacto com o calor do Verão. Kun (o Yin em sua magnitude receptiva) acolhe o ímpeto do Calor do Verão e transporta o movimento criatório à plena realização de Dui, o Lago. Em seguida inicia-se o período de Qian no ciclo temporal: a criação está realizada; é quando ela atinge o apogeu (Qian) que começa a batalha entre Positivo e Negativo (a noite começa ao meio-dia , quando não há mais possibilidade de crescer mas só de decair). Portanto, após o ápice de Yang (Qian), há a decadência do Inverno (Kan = Água), o período abissal do ciclo temporal: o Norte, antiga posição de Kun na disposição do Céu Anterior.
O movimento criatório iniciado em Zhen (Trovão = Primavera) vai desintegrar-se completamente em Gen (Montanha). Entretanto, essa própria desintegração é um Reinicio. Gen liga o Inverno à nova germinação da Primavera.
A sequência descrita é chamada de Céu Posterior (Hou Tian), também designada Disposição do Mundo Interior (interior, porque cada ser criado a traz dentro de si: a criação, que atravessa ciclos e termina na destruição, pertence necessariamente ao domínio temporal).
Assim, as mutações ocorrem sob dois aspectos: na sequência do Céu Anterior não existe o fator tempo: os trigramas representam as metamorfoses das forças primitivas entre elas próprias; no Céu Posterior, o trabalho das essências ecoa no universo dos fenômenos: nesse plano situa-se o mundo e seus seres. A Unidade original, entretanto, que se expandiu na Tríade, nunca é abandonada. Centelha do Absoluto, o Ser dele guarda a Essência, que se traduz pelo termo Xing — Natureza de Base. Xing é a manifestação vertical que parte do Dao e realiza a individualidade através de DE — a Eficácia Realizadora do Dao.
Para o homem , Xing é expressão de SHEN , substância de sua personalidade, a partícula infinita que lhe irradia o Dao, se aloja no mais profundo de seu inconsciente e voltará a incorporar-se à Matriz após a dissolução do indivíduo . Entretanto, a Unidade manifesta-se também de outra maneira no ser criado: desenvolve-se num sentido horizontal, isto é, temporal, que corresponde ao deslocamento dos trigramas na sequência do Céu Posterior. A manifestação temporal do Ser Absoluto (You) no indivíduo é definida pela palavra Ming, que é comum traduzir por Destino. Portanto, o indivíduo criado, resposta (Ying), eco da Verdade (Zhen) do Dao, reflete em si próprio a bipolarização que ocorreu em sua Matriz: Xing (Natureza humana) é seu lado positivo — Yang — Ming (Destino temporal humano) é o seu lado negativo — Yin, aquele que o poderá levar à dor e ao sofrimento.
"É-nos expressamente ensinado que, no instante do nascimento, Xing e Ming se separam: é a repetição do processo da manifestação universal , onde Taiji, a Viga-Mestra, se polariza em Céu (Yang) e Terra (Yin)" [3].
Fora do plano temporal, Yin-Yang completam-se espontaneamente, porque cada Essência ocupa sua posição natural: Qian, no zênite da linha reta vertical e Kun, no nadir (Sequência do Céu Anterior).
Na passagem para o plano de essências geradoras dos fenômenos do mundo, quando nova bipolarização ocorre, YIN MUDA-SE EM TEMPO E YANG PERMANECE COMO CENTELHA ABSOLUTA, INFINITA (respectivamente, Ming Xing). Mas a vocação do ser é desfazer a bipolarização através da Harmonia dos próprios polos. Entretanto, no mundo dos fenômenos, a Viga-Mestra (Taiji) é apenas eco da Verdade: as essências funcionam por movimento giratório no sentido horário e não mais por conjunção direta do eixo do círculo. E, além disso, para que o trigrama Li (Fogo) ficasse no vértice da linha (a fim de assumir o papel do Verão, identificado com o ponto cardeal Sul) Qian e Kun foram deslocados da posição inicial. Trata-se de um ponto capital no que diz respeito à questão dos trigramas, pois Li é composto de uma linha Yin entre duas Yang: é Qian com a intrusão de uma linha Yin (ver gráfico).
Por sua vez, Kan (Água), que representa o Norte, o Inverno, isto é, o Yin (Kun) compõe-se de uma linha Yang entre duas Yin: é o trigrama Kun imperfeito, com a intromissão de Yang (ver gráfico).
Nesse deslocamento de essências reside todo o conflito do ser criado: a passagem para o plano temporal equivale a uma verdadeira revolução na posição inicial das essências. O indivíduo só poderá realizar a Harmonia (o Três) resultante da inter-relação entre os opostos (o Dois), se restabelecer antes a pureza original das Essências. O deslocamento da linha Yang (positiva) para o seio de Kan (Água) colocado na antiga posição de Kun (Yin puro) e a mudança da linha Yin (negativa) para o interior de Li, colocado esse na posição que pertence naturalmente a Qian (Yang puro) geram todos os conflitos resultantes da vida, as indecisões e as dúvidas da efêmera condição temporal.