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Schopenhauer (SFM:46-48) – imperativo categórico sem fundamento

terça-feira 14 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro

  

Pois quase todos os kantianos se enganaram quanto ao fato de que Kant   estabelece o imperativo categórico como um fato de consciência: mas então ele estaria fundado antropologicamente, pela experiência, apesar de interna, e portanto empiricamente. Ora, isto contraria frontalmente o pensamento de Kant e é repetidamente por ele recusado. A propósito, ele diz: “não se pode descobrir empiricamente, se há, em geral, algum imperativo categórico como tal” (p. 48); e, também, “a possibilidade do imperativo categórico tem de ser investigada totalmente ‘a priori’, pois aqui não temos a nosso favor o fato de que a sua realidade seja dada na experiência” (p. 49). Mas já seu primeiro aluno, Reinhold, cometeu aquele erro quando disse em suas Contribuições para uma visão geral da filosofia no começo do século XIX, caderno 2: “Kant tomou a lei moral como um fato imediatamente certo, como um fato originário da consciência moral.” Mas, se Kant tivesse querido fundamentar empiricamente o imperativo categórico como fato da consciência, ele não teria deixado de, pelo menos, indicá-lo como tal. Isto porém não se encontra em nenhum lugar. Segundo meu entendimento, o primeiro aparecimento do imperativo categórico acontece na Crítica da razão pura (p. 802 da primeira edição), onde ele surge “ex nunc” [de repente] sem ser anunciado, ligando-se à frase precedente só por meio de um “por isso” totalmente injustificado. Só é formalmente introduzido, pela primeira vez, na Fundamentação da metafísica dos costumes (tomada aqui por nós em especial consideração) e, de fato, por vias apriorísticas, por meio de uma dedução a partir de conceitos. Apesar disso, uma “fórmula ‘concordiae’ do Criticismo” que se encontra no quinto caderno do mencionado escrito de época de Reinhold, de tanta importância para a filosofia crítica, estabelece à p. 122 até mesmo a seguinte frase: “diferenciamos a consciência moral da experiência, com a qual a mesma está ligada na consciência humana, como um fato originário, além do qual nenhum saber pode ir, e entendemos tal consciência como sendo a consciência imediata do dever, isto é, da necessidade de admitir a legalidade da vontade, independente do prazer e do desprazer, como a mola e o fio de prumo das ações voluntárias”. Aí temos um dito a ser considerado que também diz alguma coisa! (Schiller [Os filósofos]). Mas, falando sério, a que petição de princípio despudorada vemos chegar aqui a lei moral de Kant! Se isto fosse verdadeiro, então a ética teria certamente um fundamento de incomparável solidez e nenhum concurso seria necessário para encorajar a procura dele. Mas seria também o maior espanto ter-se descoberto tão tarde um tal fato de consciência, já que se buscou, ao longo de séculos, zelosa e esforçadamente, uma fundamentação para a moral.


Ver online : SOBRE Ο FUNDAMENTO DA MORAL [FM]