18. O mesmo Abade Macário, estando no Egito , encontrou um homem que, acompanhado de jumento, roubava as coisas de que se servia o Abade. Este, então, como um estranho, colocou-se ao lado do ladrão; com ele pôs-se a carregar o jumento, e, com muita calma , despediu-se dele, dizendo «Nada trouxemos para este mundo; é evidente que também nada podemos levar (1Tm 6,7). O Senhor deu; como Ele quis, assim se fez. Bendito seja o Senhor em tudo» (Jó 1,21).
19. Alguns perguntaram ao Abade Macário: «Como devemos orar?» Respondeu o ancião: «Não é preciso falar muito, mas estender as mãos e dizer: «Senhor, como queres e como sabes, compadece-te», ou, se estiveres tentado: «Senhor, vem em meu socorro». Ele mesmo sabe o que convém, e usa de eleos - misericórdia conosco».
20. Disse o Abade Macário: «Se se tornarem a mesma coisa para ti o desprezo e o louvor, a pobreza e a riqueza , a carência e a abundância, não morreras. Pois é impossível que aquele que crê como deve e age com piedade, caia na impureza das paixões e no erro dos demônios».
21. Contavam o seguinte: «Dois irmãos na Cétia cairam em falta, e o Abade Macário, da cidade, os excomungou. Alguns foram então procurar o Abade Macário o Grande, Egípcio, e lhe referiram o que acontecera. Este respondeu: «Não são os irmãos que estão excomungados, mas Macário está excomungado». Macário, o Egípcio, amava o outro Macário. Ora este ouviu que fora excomungado por aquele ancião, e fugiu para o pântano. Aconteceu então que o Abade Macário o Grande, saindo, o encontrou todo mordido pelos mosquitos; disse-lhe: «Tu excomungaste os irmãos, e eis que eles tiveram que se retirar para a aldeia. Eu, porém, te excomunguei, e tu, como uma bela virgem, fugiste para cá como para a câmara interior. Ora eu chamei os irmãos, interroguei-os, e eles afirmaram que nada disso aconteceu. Cuida, pois, irmão , de que também tu não tenhas sido iludido pelos demônios (pois nada viste); antes, prostra-te pedindo perdão por tua culpa ». O outro respondeu: «Se queres, dá-me uma penitência». Vendo, pois, o ancião a tapeinophrosyne - humildade dele, disse: «Vai, e jejua três semanas, comendo uma vez por semana». Com efeito, esta era a tarefa do Abade Macário o Grande em todo tempo: jejuar a semana inteira».
22. O Abade Moisés disse ao Abade Macário na Cétia: «Quero viver em paz , mas os irmãos não me deixam». Respondeu-lhe o Abade Macário; «Vejo que a tua natureza é delicada e que não podes repelir um irmão; mas, se queres viver em tranquilidade, retira-te para o deserto a dentro em Petra , e lá encontrarás descanso». Aquele fez assim, e conseguiu repouso.
23. Um irmão chegou-se ao Abade Macário o Egípcio e pediu-lhe: «Abade, dize-me uma palavra pela qual eu seja salvo». Respondeu o ancião: «Vai para junto do túmulo e insulta os mortos». Ora o irmão se foi, injuriou e apedrejou; a seguir, voltou referindo o feito ao ancião. Este perguntou: «Nada te disseram?» Aquele respondeu: «Nada». O ancião continuou: «Volta lá amanhã e dize louvores a esses mortos». O irmão voltou, pois, e pronunciou louvores aos mortos, chamando-os Apóstolos, Santos e Justos. A seguir, regressou à cela do ancião e referiu: «Disse louvores». O Abade perguntou: «Nada te responderam?» O irmão negou «Nada». Aquele retomou: «Sabes quanto lhes disseste de injuriosos, sem que eles te tenham respondido, e quanto lhes disseste de injurioso, sem que eles te tenham respondido, e quanto lhes disseste de glorioso sem que te tenham falado; assim também tu, se queres ser salvo, torna-te morto; como os mortos, não consideres nem as injurias dos homens nem os seus louvores. Assim poderás ser salvo».
24. Quando uma vez o Abade Macário passava com irmãos por uma região do Egito, ouviu um menino que dizia a sua mãe: «Mãe, certo homem rico gosta de mim , e eu o odeio, ao passo que um pobre me odeia e eu o amo». Ao ouvir isto, o Abade Macário admirou-se. Perguntaram-lhe então os irmãos: «Que significa essa palavra, Pai, pois que te admiraste?» Respondeu-lhes o ancião: «Em verdade, Nosso Senhor é rico e nos ama, enquanto nós não o queremos ouvir. Ao contrário, nosso inimigo , o demônio, é pobre e nos odeia, enquanto nós amamos a sua impureza».
25. O Abade Poimém, com muitas lágrimas, pediu ao Abade Macário: «Dize-me uma palavra pela qual eu seja salvo». Respondeu o ancião: «O que procuras, já desapareceu dentre os monges».
2ô. Certa vez o Abade Macário foi ter com o Abade Antão e conversou com ele. Quando voltava para a Cétia, acorreram-lhe ao encontro os Padres. Estando todos em colóquio, disse o ancião: «Referi ao Abade Antão que não temos oblação em nossa região». Os Padres, porém, puseram-se a falar de outros assuntos, e não perguntaram a Macário qual fora a resposta do Abade Antão, nem aquele a referiu. Com efeito, um dos Padres dizia o seguinte: «Quando os Padres veem que os irmãos se esquecem de interrogar a respeito de coisas edificantes, julgam-se obrigados a encetar eles mesmos uma conversa edificante; se, porém, os irmãos não correspondem, não continuam tal assunto, para que não pareçam falar sem ter sido interrogados nem a sua conversa seja tida como ociosa».
27. O Abade Isaías pediu ao Abade Macário: «Dize-me uma palavra». O ancião respondeu:
«Foge dos homens». O Abade Isaías continuou: «Que é fugir dos homens?» O ancião explicou: «É ficares sentado em tua cela e chorares os teus pecados».
28. O Abade Pafnúcio, o discípulo do Abade Macário, contou: «Roguei a meu Pai: ‘Dize-me uma palavra’. E ele respondeu: ‘Não faças mal a alguém, nem condenes quem quer que seja. Observa isto, e serás salvo’».
29. Disse o Abade Macário: «Não durmas na cela de um irmão que tem má fama».
30. Certa vez alguns irmãos foram ter com o Abade Macário na Cétia; não encontraram na cela dele senão água putrefeita. Disseram-lhe então: «Abade, vem para a aldeia, e nós te restauraremos as forças». O ancião respondeu: «Conheceis, irmãos, a padaria de um tal na aldeia?» Responderam-lhe: «Sim». Continuou o ancião: «Também eu a conheço. E conheceis o terreno de tal homem situado no lugar em que bate o rio?» Responderam-lhe: «Sim;>. E o ancião concluiu: «Também eu o conheço. Por conseguinte, quando quero, não preciso de vós, mas vou buscar para meu uso (o que quero)».
31. A respeito do Abade Macário contavam que, se um irmão o ia procurar com medo, como a célebre e santo ancião, ele nada dizia. Se, porém, um irmão lhe falava como que desprezando-o: «Abade, então quando eras condutor de camelos p roubavas sal para o vender, não te espancavam os guardas?», se alguém o interpelava assim, ele respondia com alegria a tudo que perguntasse.
32. Do Abade Macáno o Grande diziam que se tornou, como está escrito, Deus sobre a terra , pois, assim como Deus recobre o mundo, também o Abade Macário recobria as falhas, que ele via como se não visse, e que ele ouvia como se não ouvisse.