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shakti / śakti

  

Sânscrito, substantivo feminino. De SHAK-, ser capaz de, poder.

Zimmer

Um conceito típico do sistema tântrico é o da shakti: a mulher como "energia" (shakti) projetada do homem (compare com a metáfora bíblica de Eva como costela de Adão). Homem e mulher, deus e deusa, são as manifestações polares (passiva e ativa, respectivamente) de um princípio único transcendente e, como tal, um em essência, ainda que duplo na aparência. O homem é identificado com a eternidade, a mulher com o tempo, e o abraço dos dois com o mistério da criação.

O culto da shakti, a deusa, desempenha um papel de enorme importância no hinduísmo moderno, em contraste com a ênfase patriarcal da tradição védica, estritamente ariana; e sugere que o Tantra pode ter tido suas raízes em solo dravídico, isto é, não-ariano. Digno de nota é o fato de que Shiva, o deus universal e consorte da deusa (que para ela guarda a mesma relação que a eternidade com respeito ao tempo) é também o Senhor Supremo do yoga, que é uma disciplina não-védica. A casta, além disso, não é um pré-requisito para a iniciação tântrica (cf. supra, loc. cit). Zimmer   sugere que a tradição tântrica representa uma síntese criativa das filosofias arianas e nativas da Índia. O tantrismo exerceu uma prodigiosa influência sobre o budismo Mahâyâna; e ainda, sua profunda penetração psicológica e arrojadas técnicas espirituais conferem um interesse peculiar para o psicanalista moderno.

Vicenza

Na tradição védica, a Shakti representa o lado feminino de Deus, o aspecto passivo do Princípio. Ela é para Brahma sua "Vontade Produtora", sua "Toda Potência" que se pode dizer constituída de uma natureza "não agente" vis a vis do Princípio, se mantendo como passiva a respeito da Manifestação. O "Poder Produtivo" do Ser pode ser visualizado sob vários aspectos complementares, enquanto poder criador (Kriya-Shakti), poder de Conhecimento (Jnana-Shakti) e poder de desejo (Ichcha-Shakti), e isto de maneira quase indefinida apesar da imensa extensão dos atributos próprios do Ser manifestado. No entanto, se a Shakti é vista de uma maneira que a separa de seu Princípio, ela se torna a "Grande Ilusão" (Maha-Moha), aquela que se designa sob o nome de Maya ao nível inferior e cósmico. Segundo as escrituras, cada figura da Trimurti possui sua própria Shakti, ou seu atributo feminino, assim Lakshmi é a Shakti de Vishnu, Sarasvati é aquela de Brahma e Parvati, que se denomina também Durga ("Aquela que se se aproxima dificilmente) acompanha o deus Shiva. É chocante constatar, como nos faz ver Guénon com pertinência, que estas três Shaktis se encontram na tradição esotérica ocidental sob a forma dos três pilares do Templo, na Maçonaria, enquanto Sabedoria (Sarasvati), Força (Parvati) e Beleza (Lakshmi). [Vicenza, Dictionnaire de René Guénon]

Ananda Coomaraswamy

"Poderes", em sânscrito, shaci, shakti, svadha, vibhuti, kshatra, etc. "É a manifestação de seus (dos Devas) poderes que têm vários nomes". [EXEMPLARISMO VÉDICO]

François Chenique

O aspecto feminino do Princípio Supremo (ou a Perfeição Passiva) é evidentemente a razão última da Substância Universal. Mas antes disto ser, esta Perfeição Passiva é a razão de ser da Pessoa Divina, eis porque ela é verdadeiramente a Mãe de Deus. A Impersonalidade Divina, fecunda em sua Não-Dualidade, “engendra” a Personalidade Divina, ou o Ser Divino que se polariza em Essência e Substância , esta última sendo a Mãe Universal de toda a Manifestação. Mas se a Mãe de Deus, aspecto feminino da Deidade, engendra a Divindade, e se a Substância Universal “produz” a Manifestação Universal um processo análogo preside à Manifestação do Princípio Criador (visualizado então como Verbo Divino no seio da Manifestação Universal.

Ratié

Le terme śakti est ICI traduit par « pouvoir » plutôt que par « énergie ». Cette dernière traduction est pourtant devenue courante en français depuis la publication des œuvres de L. Silburn  . Il est vrai que par certains aspects (par exemple celui de la « vibration subtile » ou spanda), la notion sivaïte de śakti rappelle le concept dynamique d’énergie ; ici, elle n’en est pas moins constamment rapportée aux notions de souveraineté (aiśvarya) et de Seigneur (Īśvara), et Abhinavagupta   élabore explicitement une analogie avec le pouvoir du roi (voir par exemple ĪPVV  , vol. III, p. 181-182 et ĪPV  , vol. II, p. 130) : c’est avant tout en référence au modèle politique de la puissance royale que la notion de śakti est développée dans les kārikā et leurs commentaires.


O termo śakti é AQUI traduzido por « poder » em vez de por « energia ». Esta última tradução no entanto tornou-se corrente em francês após a publicação das obras de L. Silburn. É verdade que por certos aspectos (por exemplo aquele da « vibração sutil » ou spanda), a noção xivaíta de śakti lembra o conceito dinâmico de energia; aqui, ela não é nada menos que constantemente relacionada às noções de soberania (aiśvarya) e de Senhor (Īśvara), e Abhinavagupta elabora explicitamente uma analogia com o poder do rei (ver por exemplo ĪPVV, vol. III, p. 181-182 e ĪPV, vol. II, p. 130): é antes tudo em referência ao modelo político de poder real que a noção de śakti é desenvolvida nos kārikā e seus comentários. [tr. Antonio Carneiro  ]

Notions philosophiques

Noção importante no pensamento indiano, onde vários sistemas metafísicos reconhecem shakti, que é a capacidade de produzir um efeito, como uma das categorias da realidade. Esta noção está igualmente presente nas teorias medicais e alquímicas e desempenha um papel na gramática da língua, onde shakti designa o "poder de expressão" da palavra. O poder de agir (ato) pertence por definição a um agente: o "possuidor do poder" (shaktimant).

O papel da shakti é especialmente grande nas seitas e doutrinas marcadas pelo tantrismo onde é concebida como pólo feminino de uma divindade sexualmente polarizada, da qual forma o aspecto dinâmico, ativo. Enquanto para o Vedanta de Sankara   a shakti, idêntica à maya, só cria ilusão, seu poder nas cosmogonias tântricas é real e infinito: ela cria, sustenta, anima, e depois reabsorve o universo que só existe em e por ela e para quem ela confere sua realidade. Nesta atividade, ela permanece no entanto, em seu nível mais alto, indissoluvelmente unida ao princípio masculino — o shaktimant —, do qual ela é "também inseparável como o vento é do ar".

As cosmogonias tântricas adicionam geralmente onze categorias tattva às vinte e cinco do Samkhya, shakti aí é o segundo tattva na ordem da emanação. É o momento onde a energia criativa, que também é felicidade (ananda), predomina na divindade que faz aparecer o mundo. shakti é a Deusa (esposa de Shiva, ou aquela de Vishnu), pela qual o deus cria o mundo e aí age. A importância da Deusa, seu lugar dominante em certas ceitas de caráter shivaita, lha outorga o qualificativo shakta. Fala-se também as vezes a seu respeito de shaktismo, noção discutível, a princípio.

As escolas ou seitas shivaitas ou vishnuitas desenvolveram o conceito de shakti distinguindo nele aspectos formando as etapas sucessivas da aparição da manifestação na divindade. A energia seria assim a princípio pura consciência (chit) e felicidade (ananda) dinâmica, mas quiescente. Então nela aparece um desejo ou vontade, uma intenção emanadora, onde ela toma consciência dela mesma (pratyavamarsa) e da super-abundância daquilo que ela guarda em germe e para o qual ele se volta. Depois, ela se representa o que vai criar: ela é a energia de conhecimento (jnani-shakti), plano onde a divindade toma claramente consciência do que faz nascer em seu seio e que ela conduzirá efetivamente à existência nela mesma se tornando energia de atividade (kriya-shakti). Este processo de manifestação do universo se desdobra no seio mesmo da divindade, no plano arquetípico, pois o mundo não tem efetivamente nascimento a não ser a um nível mais baixo, pelo jogo, lá ainda, do desdobramento — que é uma progressiva materialização, logo decadência — da energia.

Nestas escolas a graça divina (anugraha) é igualmente considerada como um aspecto da energia. Ela é, por isto, frequentemente denominada shakti-pata, "descida da energia".

No Shivaismo dualista como não-dualista, a quíntupla atividade (pancakrtya) da divindade: criação (srishti), conservação (sthiti) e reabsorção (samhara) cósmicas, depois o obscurecimento (tirodhana) e graça (anugraha), é considerada como obra da energia divina. Estas cinco funções são atribuídas de maneira análoga à shakti de Vishnu no Pancaratra, que é vishnuita. Este distingue dois aspectos da energia criadora: kriya-shakti, a energia da atividade que é a vontade de ser cósmica de Vishnu, única, causa instrumental do mundo, e bhuta-shakti, a energia do devir, causa material do mundo, que como ele é múltipla.

Nas metafísicas da palavra (Vak), os quatro aspectos da energia são postos em correspondência como os quatro níveis da palavra.

Existe na Escola shivaita Krama uma concepção de "Roda da energia" (shakti-cakra), assim nomeada porque a energia divina é pensada neste sistema como se desdobrando (depois revindo à fonte) pelo jogo das doze energia, que são deusas, as Kali, cujo movimento fulgurante e turbilhonante a partir do "meio" central da divindade absoluta é comparado a uma roda cósmica. [NP  ]

Julius Evola

El hecho de que resurja, en el movimiento complejo al que llamamos el tantrismo, la figura y el símbolo de una diosa o mujer divina, la Sakti, con sus diferentes epifanías (especialmente Kali y Durga), y que sea colocada en el primer plano, dándosele una importancia decisiva. Esta diosa puede presentarse sola, como princesa soberana y suprema del universo, o manifestarse bajo la forma de las múltiples Sakti, las divinidades femeninas que acompañan no sólo a las divinidades hindúes masculinas autónomas en el periodo precedente, sino también a las figuras de Buda o de los bodhisattva del budismo tardío. Así, con mil variantes, se afirma el tema de las parejas divinas, en las que el elemento femenino, sáktico, está tan subrayado que se convierte prácticamente en el elemento principal de ciertas corrientes.

Ahora bien, en realidad, esta corriente tiene fuentes arcaicas de origen   extranjero y nos remite a un fondo de espiritualidad autóctono que ofrece analogías visibles con las del mundo mediterráneo protohistórico, el pelágico y prehelénico, pues, por ejemplo, las diosas negras hindúes (como Kali y Durga) y las diosas paleomediterráneas (Deméter Melaina, Cibeles, la Diana de Éfeso y la de Táuride, y hasta las vírgenes negras cristianas y la santa Melania, su prolongación) nos remiten a un prototipo único. Precisamente en este sustrato, que pertenece a las poblaciones dravidianas de la India, y en parte a capas y ciclos de civilizaciones todavía más antiguas, como las que hemos conocido gracias a las excavaciones de Mohenjo-Daro y de Harappa (alrededor del año 3000 antes de Cristo), el culto de una gran diosa o madre universal (la Magna Mater) se ha constituido en un tema central y se ha revestido de una importancia que ignora totalmente la tradición ario-védica, con su espiritualidad de tendencia esencialmente viril y patriarcal. Es precisamente este culto el que, habiendo permanecido subyacente durante el periodo de la conquista y la colonización de los arios (indoeuropeos), emerge de nuevo en el tantrismo, en la variedad múltiple de las divinidades hindúes y tibetanas de tipo sáktico, entrañando, por una parte, una recuperación de lo que había quedado latente en las capas populares, y, por otra, la aparición de un tema determinante dentro de la visión tántrica del mundo.

Metafísicamente, la pareja divina corresponde a los dos aspectos esenciales de todo principio cósmico, el Dios masculino que representa el aspecto inmutable, y la divinidad femenina que representa, por el contrario, la energía, el poder que actúa en la manifestación (la vida opuesta al ser) y, con ello, en un cierto sentido, el aspecto inmanente. Por tanto, podemos considerar la aparición del saktismo en el antiguo mundo indo-ario, en el periodo del que hablamos, como el signo barométrico de un cambio del punto de vista. Se trata de un interés orientado hacia los aspectos inmanentes y activos de los principios del mundo, y no hacia la trascendencia pura.

Además, el nombre de la diosa Sakti, según su raíz sak (ser capaz de hacer, tener la fuerza de hacer, de actuar), quiere decir poder. De ello se deduce, en el plano especulativo, que una concepción del mundo que ve en la Sakti a la princesa suprema es también una concepción del mundo en tanto que poder. Sobre todo, el tantrismo de la escuela de Cachemira, al asociar esta concepción con las especulaciones tradicionales, retomando sobre esta base la teoría de los principios cósmicos, o tattva, que pertenecen al Samkhya y a otros darsana, ha trazado una síntesis metafísica de un alto interés, de la que nos ocuparemos a su tiempo, y que está por debajo de todo el sistema de las disciplinas y el yoga tántricos. Aquí, la Sakti ha perdido casi totalmente sus caracteres maternales y matriarcales originales, se ha revestido con los rasgos metafísicos del Principio Primero y tiene, pues, lazos estrechos con las doctrinas de los Upanishads   y del budismo Mahayana, al tiempo que éstos reciben un particular acento activista y enérgico. [EvolaYP]