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Hildegard de Bingen / Hildegard von Bingen / Hildegard of Bingen / Hildegarda / Hildegarde

  

Hildegard von Bingen / Hildegardis Bingensis (1098-1179)

OBRA NA INTERNET: LIBRARY GENESIS; SCIVIAS ou les trois livres des visions et révélations


Segundo Bernard Gorceix  , o sucesso eclesiástico da abadessa, sua intervenção vigorosa nos debates religiosos, os cátaros! — e políticos — a cisma! — bastariam a um biógrafo. Nesta segunda metade do século XII, Hildegarde de Bingen é uma grande figura da Cristandade; ela é para o Império alemão o que Bernardo é para a França. E, no entanto, é menos pelo papel histórico que por uma transbordante atividade literária que ela é conhecida, sobretudo. Uma grande figura, mas também uma grande obra.

Esta obra não nos surpreende somente por sua amplitude: os autores do tempo são prolixos. Os escritos de Hildegarde ocupam um tomo, o 197, da Patrologia Latina de Migne. A edição extremamente cuidadosa, pela casa Otto Müller de Salzbourg, de uma tradução rigorosa em alemão moderno da obra completa compreende sete volumes que, na maior parte, têm mais de 300 páginas. A variedade dos temas nos surpreende no entanto. Podemos distinguir três conjuntos. Temos o conjunto epistolar. A ele cabe adicionar um grande número de textos poéticos, e de cânticos: a edição das Lieder, que data de 1969, ocupa trezentas páginas. Tão importantes são também duas obras que constituem uma verdadeira enciclopédia dos conhecimentos do tempo, na Alemanha, em matéria de ciências naturais por um lado, de medicina por outro. Os dois textos datam dos anos 50 do século XII: o primeiro (Causae et curae) trata, como o título indica, das causas e do tratamento das doenças. O segundo intitulado Physica, se preocupa com o ser interior das diferentes naturezas da criação. Nove livros são consagrados respectivamente às plantas, aos elementos, às árvores, às pedras, aos peixes, aos pássaros, aos animais, aos répteis, enfim à origem dos metais. Todos os comentadores ficaram surpresos com a extraordinária riqueza da documentação e pela precisão da observação. E no entanto: tanto o conjunto epistolar e poético quanto os tratados «científicos» são ofuscados diante do terceiro conjunto da obra. O tríptico visionário enquadra e estrutura não somente toda a produção literária da abadessa, mas também toda sua existência.

«Tríptico visionário», é a expressão correta que Bernard Gorceix prefere em lugar de «trilogia visionária». Certamente trilogia corresponde muito bem à composição e ao equilíbrio rigoroso das três obras principais da beneditina renana, que se seguem, por trinta anos (1141-1170), nos quais temas idênticos, vislumbrados firmemente desde a primeira síntese, são progressivamente, ao longo de experiências e de meditações sucessivas, afinados, substanciados, exaltados. Um tríptico supõe uma distribuição diferente dos espaços: se compõe de duas abas e de uma painel central. Mas «tríptico» dá conta melhor desta verdadeira arquitetura imaginária que lentamente se esboça em três obras: a primeira, composta entre 1141-1150, conhecida sobretudo sob o nome latino Scivias   («Conheçais as vias» — do Senhor, entenda-se); a segunda, escrita entre 1158-1163, o Livro dos méritos (Liber vitae meritorum); o terceiro, começado em 1163, e conhecido sob muitos títulos: O Livro das obras divinas   (Liber de operatione dei).